Isolamento dos corpos pesados

O movimento imprimido aos corpos inertes pela vontade é hoje de tal modo conhecido que seria quase pueril relatar fatos do gênero.

Kardec inicia assim esse artigo, dizendo algo mais ou menos assim: “que as mesas podem ser elevadas do chão pela força psíquica, isso já é fato conhecido”. Hoje nos parece muito estranho pensar dessa forma. Por quê?

O fenômeno já era amplamente aceito – e estudado

Precisamos compreender que o Espiritismo surgiu em meio ao movimento chamado Espiritualismo Racional, adotado, na França, principalmente, como oposição ao movimento materialista e às velhas religiões escravizadoras do pensamento. Segundo FIGUEIREDO, 2019, o Movimento, “caracteriza- se pela adoção de metodologia científica, buscando fazer com o ser humano o que se conquistou com sucesso ao estudar a matéria: a compreensão das leis naturais que o fundamentam. Ou seja, substituiu a fé cega por uma fé racional, exigência dos novos tempos”¹. 

Naquela época e naquele contexto, as ciências morais estudavam tudo o que nascesse da ação humana, e isso incluía o estudo dos fenômenos psicológicos¹ do magnetismo e do sonambulismo, dentre tantos outros. Pois bem: o Espiritismo, tendo nascido em momento tão favorável, se desenrolou facilmente e, justamente por isso, conquistou rapidamente incontáveis adeptos, dentre os quais muitos, talvez a maioria, eram pessoas cultas, sérias e dedicadas às ciências. Tudo isso para trazer o relevante entendimento de que o Espiritualismo Racional já se ocupava, antes do nascimento do Espiritismo, dos fenômenos “supranormais”, como chama Bozzano, dentre os quais a magnetização de um objeto pesado, como uma mesa, que então se movia e se levantava, contra as leis conhecidas da Física, era fato conhecido e estudado.

As ciências psicológicas tratam das leis naturais que regem a natureza humana. E essas leis são de duas espécies, as experimentais ou empíricas, exprimindo os resultados da experiência do espírito humano tal como ele é, e as outras são ideais, representando o fim para o qual devemos encaminhar nossas faculdades por meio da evolução, ou tal qual elas deveriam ser. O estudo do ser humano em seu estado real é a psicologia experimental propriamente dita. (FIGUEIREDO, 2019)

Kardec, o Sr Fortier e as mesas girantes

Aliás, neste momento, interrompemos para voltar a Kardec, que conta sobre seu contato com o Sr. Fortier, conhecido magnetizador:

Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei um dia o Senhor Fortier a quem eu conhecia desde muito e que me disse: Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade. – ‘É, com efeito, muito singular, respondi; mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam’. Os relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em Marselha, e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

Kardec, A., Obras Póstumas, Rio: FEB, 1964. p. 237

Nota-se que Kardec aceitava tranquilamente os fenômenos em questão, sendo que a mesa girante não foi seu primeiro contato com o magnetismo. Contudo, pouco tempo depois, um novo episódio vai marcar para sempre sua história com o Espiritismo nascente: 

Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde. – Isto agora, repliquei-lhe, é outra questão. Só acreditarei quando o ver e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé.” [grifos nossos]

ibidem

Voltando ao artigo em questão…

Tudo que foi acima exposto nos serve para possamos compreender, racionalmente, a lógica que levava Kardec a aceitar tão tranquilamente isolamento (e o movimento) dos corpos pesados. Segue ele fazendo análise parecida com aquela feita ante ao relato do sr Fortier, quando dissera que as mesas respondiam inteligentemente: se há inteligência, há uma causa inteligente. Onde, pois, estará essa causa?

É importante destacar, conforme Kardec demonstra no artigo, que precisamos ter muita calma para analisar tais fatos e seus relatos, a fim de que a imaginação sobreexcitada não faça o fenômeno parecer “passe de mágica”: para se chegar ao levantamento de um corpo pesado, são necessárias muita concentração e diversas investidas, com as quais o fenômeno parece ganhar cada vez mais força, não acontecendo num estalar de dedos.

Também é digno de nota que Kardec menciona que os fatos obtidos “em casa do Sr. B…” se deram repetidamente, mesmo sem o contato das mãos e na presença de diversas testemunhas, inclusive daquelas “muito pouco simpáticas” e que não deixariam de levantar suspeita se tivessem motivo para tal. O mesmo tipo de fenômeno também ocorria facilmente em diversas outras casas.

Recomendações de Leitura

Para aprofundar o estudo, recomendamos, além das obras “Fenômenos de Transporte” e “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”, de Ernesto Bozzano, o estudo de O Livro dos Médiuns, onde, nos capítulos I, II, III, IV e V da Segunda  Parte, uma extensa abordagem teórica sobre o assunto é realizada.

Também recomendamos o livro “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo“, por Paulo Henrique de Figueiredo


  1. É por isso que a Revista Espírita recebe o nome “Jornal de Estudos Psicológicos”, em perfeita concordância com o entendimento das ciências morais no contexto histórico e social de Allan Kardec.
  2. FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, 2019, editora FEAL



A Caridade verdadeira, segundo o Espiritismo

Caridade: termo tão usado em toda parte, mas, ainda, tão mal compreendida. Que seria a Caridade verdadeira, segundo o Espiritismo?

Para nós, espíritas, ela aparece em todo canto, em toda literatura. Kardec a tornou base necessária para toda e qualquer felicidade, dizendo: “fora da caridade não há salvação”. A afirmativa, é claro, nasceu de uma certa oposição ao dogmatismo religioso, que tentava apregoar que a salvação estava em cada seita, de forma exclusivista e mesmo egoísta, mas não deixa de ser verdade, pois, sem caridade, não há amor ao próximo.

Contudo, o termo caridade tomou, hoje, conotação de assistencialismo, quase que exclusivamente, tornando-se sinônimo de doação material. Mas, para que realmente possamos entendemo-la dentro do contexto espírita, precisamos voltar ao contexto de Allan Kardec, na França de meados de 1850:

É importante destacar que o termo caridade utilizado por Kardec, para o Espiritualismo Racional, naquele tempo (divergindo da definição atual do termo, que se aproxima do assistencialismo), representava agir pelo dever, ou seja, de forma livre, consciente, intencional, independentemente de castigos e recompensas, com a plena compreensão da lei moral. A caridade é um princípio que orienta o agir integral do ser, e não uma atividade complementar, como se fosse um comportamento acessório […].

Paulo Henrique de Figueiredo – O Legado de Allan Kardec

Vemos, assim, que a caridade, bem entendida, deve constituir o ser, o modo de proceder, e não apenas se constituir de ações isoladas que, muitas vezes, falam mais pela necessidade de se fazer visto como “pessoa caridosa”, situação na qual não há real caridade, mas apenas ego e vaidade. Mais que isso, a caridade não se resume à doação material. Na verdade, eu diria, ela é, na maioria das vezes, oposta à doação material, visto que quem doa materialmente, seja dinheiro, seja comida, sejam coisas, muitas vezes o faz como uma forma de alívio de consciência.

O caro leitor que me perdoe, pois o intuito realmente não é julgar ninguém em suas ações. O próprio Cristo exemplificou, na “parábola do óbulo da viúva”, que a intenção real, ou, se quisermos, a fé, é quem fala mais alto. Muitas pessoas doam dinheiro ou outros recursos querendo realmente fazer o bem e, claro, isso conta muito. Mas quantas vezes nós nos limitamos a fazer uma doação material, sem mesmo refletir sobre o que estamos fazendo e sobre a situação real daquela pessoa que nos pede, num ato [enganoso], quase sempre, de desobrigação de ir além, ou apenas para nos sentirmos bem?

Pensemos: quantas pessoas utilizam doações para, revendendo recursos, obter dinheiro para obter entorpecentes? Quantas pessoas, dispondo de recursos fáceis, se lançam nos piores vícios e desregramentos, cavando mais e mais o próprio buraco em que se afundam? Será que doar a essas pessoas, regularmente, está realmente ajudando em suas situações? Será, realmente, que se os ricos simplesmente doassem suas fortunas, a miséria humana acabaria?

Não digo, de forma alguma, que não devemos doar recursos materiais; mas pensemos além, analisando cada situação e buscando ser fraternos com o irmão que nos busca, nos importando realmente com a situação dessa pessoa. Muitas vezes, uma simples pergunta do tipo “por que está na rua, irmão? O que está passando?” pode abrir caminho para uma relação muito mais frutífera que, não esqueçamos, beneficia os dois lados.

O indivíduo que realmente deseja fazer o bem, não faz a caridade uma vez por mês ou por semana: ele é caridoso, o tempo todo. E ser caridoso consiste em colocar o outro à frente de nossas próprias vontades e necessidades. Quantas vezes, pessoas passando pelos mais difíceis momentos de suas vidas, encontram forças para fazer a caridade de um dar sorriso a quem chora ainda mais? Minha avó, por exemplo, passando por uma grave e dolorida doença, encontrava forças para ser doce e afável, sorrindo a todos que vinham visitá-la em seus últimos dias da última encarnação. Não será isso um gênero de caridade – talvez dos maiores que existem?

Quando pensarmos, portanto, em caridade, precisamos pensar necessariamente em uma coisa: ir além. Se doamos algo material, que isso seja apenas a porta para criar um vínculo e uma abertura para aprofundar a relação com o irmão que pode estar em grande sofrimento. Mas, sobretudo, não esqueçamos que a maior caridade que podemos fazer ao próximo é lhe levar amor, fé e consolação, sobretudo através do exemplo de quem vivencia o que fala e não apenas como quem joga palavras ao vento.

É, portanto, um gênero de caridade com a humanidade nos esforçarmos em nosso próprio adiantamento moral, buscando modificarmo-nos à luz daquilo que nos consola e, em nosso caso, estudando dedicadamente O Espiritismo, doutrina que, muitas vezes na vida, nos salvou de escolhas ruins ou nos conduziu a melhores caminhos. Aprendamos a espalhá-lo sem chocar, isto é, sem iniciar as conversas falando em reencarnação e obsessão, mas, sim, apresentando a filosofia tão consoladora encontrada nessa Doutrina.

Sairemos, então, portão afora, e encontraremos por todos os lados pessoas precisando, desesperadamente, de algo que as console, que as ajude a tirar o pensamento de desistência de suas cabeças, que as auxilie a passar pelas provas da vida com fé inabalável e com firmeza decidida. São pessoas quase sempre difíceis, pelo momento de crise que vivem, e não seria caridade maior nos esforçarmos por ajudá-la, de forma persistente e fraterna, mesmo sabendo que, muitas vezes, viveremos dificuldades nesse contato inicialmente difícil?

Acreditem, irmãos: fazemos caridade muito maior deixando para trás nossas imperfeições e espalhando consolações e conhecimentos que podem mudar, para sempre, o rumo de um Espírito, do que apenas doando uma “coisa”, que ele vai usar e descartar, enquanto nós viramos nossas costas e seguimos nossa vida, sem vontade de ir além. Afinal, de que adianta doar um saco de arroz para alguém que pede no portão enquanto não somos caridosos, sequer, com os membros de nossa própria família ou com nossos subordinados no trabalho?

Encerro deixando a mensagem de “Um Espírito Protetor”, apresentada no capítulo XIII de O Evangelho Segundo o Espiritismo:

Meus amigos, a muitos dentre vós tenho ouvido dizer: Como hei de fazer caridade, se amiúde nem mesmo do necessário disponho?

Amigos, de mil maneiras se faz a caridade. Podeis fazê-la por pensamentos, por palavras e por ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados, que morreram sem se acharem sequer em condições de ver a luz. Uma prece feita de coração os alivia. Por palavras, dando aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos, dizendo aos que o desespero, as privações azedaram o ânimo e levaram a blasfemar do nome do Altíssimo: “Eu era como sois; sofria, sentia-me desgraçado, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora, sou feliz.” Aos velhos que vos disserem: “É inútil; estou no fim da minha jornada; morrerei como vivi”, dizei: “Deus usa de justiça igual para com todos nós; lembrai-vos dos obreiros da última hora.” Às crianças já viciadas pelas companhias de que se cercaram e que vão pelo mundo, prestes a sucumbir às más tentações, dizei: “Deus vos vê, meus caros pequenos”, e não vos canseis de lhes repetir essas brandas palavras. Elas acabarão por lhes germinar nas inteligências infantis e, em vez de vagabundos, fareis deles homens. Também isso é caridade.

Dizem, outros dentre vós: “Ora! somos tão numerosos na Terra, que Deus não nos pode ver a todos.” Escutai bem isto, meus amigos: Quando estais no cume da montanha, não abrangeis com o olhar os bilhões de grãos de areia que a cobrem? Pois bem: do mesmo modo vos vê Deus. Ele vos deixa usar do vosso livre-arbítrio, como vós deixais que esses grãos de areia se movam ao sabor do vento que os dispersa. Apenas, Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a, que somente bons conselhos ela vos dará. Às vezes, conseguis entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então, se cala. Mas, ficai certos de que a pobre escorraçada se fará ouvir, logo que lhe deixardes aperceber-se da sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a e com freqüência vos achareis consolados com o conselho que dela houverdes recebido.

Meus amigos, a cada regimento novo o general entrega um estandarte. Eu vos dou por divisa esta máxima do Cristo: “Amai-vos uns aos outros.” Observai esse preceito, reuni-vos todos em torno dessa bandeira e tereis ventura e consolação. – Um Espírito protetor. (Lião, 1860.)




Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Eu quero:

O Legado de Allan Kardec

O nome dado a este grupo — Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec — foi inspirado na obra homônima, de Simoni Privato, que, realizando uma pesquisa de campo, colheu inúmeras provas e evidências do desvio feito, após a morte do Professor, no Espiritismo e na sua obra, A Gênese.

Por ser um trabalho tão bem fundamentado e dedicado, a ela nossos agradecimentos e nossa homenagem, através desta iniciativa.

Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade.

Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ao demais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade.

Para que ela mudasse, fora necessário que a universalidade dos Espíritos mudasse de opinião e viesse um dia dizer o contrário do que dissera. […] É também o que fará que prevaleça sobre todos os sistemas pessoais, cujas raízes não se encontram por toda parte, como com ela se dá.

Allan Kardec – A Gênese

Obras originais (não adulteradas) de Kardec para download: O Céu e o Inferno e A Gênese


Recomendações de Estudos

Autonomia, a Verdadeira Ideia Espírita — Paulo Henrique de Figueiredo

O Bem e o Mal, Castigos e Recompensas, Sombra e Luz

Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

allan kardec e a revoluçãomoral da humanidade

Estudo do Livro “O céu e o Inferno” – A Moral Espírita

Estudo: Espiritualismo Racional e Espiritismo

A força do Espiritismo – Live no canal Zilda Gama

Indicações de Leitura (Livros)




O Legado de Allan Kardec

O nome dado a este grupo – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec – foi inspirado na obra homônima, de Simoni Privato, que, realizando uma pesquisa de campo, colheu inúmeras provas e evidências do desvio feito, após a morte do Professor, no Espiritismo e na sua obra, A Gênese.

Por ter sido um trabalho tão bem fundamentado e dedicado, a ela nossos agradecimentos e nossa homenagem, através desta iniciativa.

Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade.

Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ao demais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade.

Allan Kardec – A Gênese




Propósitos do Grupo

Allan Kardec – ou Hippolyte Leon Denizard Rivail – foi o grande pesquisador, cientista, professor e filósofo que, com extremo devotamento, se entregou ao estudo do que hoje conhecemos por Espiritismo, ou Doutrina Espírita.

Formado nas bases da pedagogia do amor e da fraternidade de Pestalozzi, que tinha como princípio a investigação das causas e a dedução de seus efeitos, Kardec foi um de seus discípulos mais valorosos, tendo levado grandes contribuições à educação francesa do início do século XIX.

Ao se deparar com os fenômenos inexplicáveis mas irrecusáveis que se multiplicavam pela França (e pelo mundo) em meados desse século, viu sua razão confrontada por algo que, para ele, parecia ser “conto da carochina”. Contudo, acostumado a não proferir sentenças sem delas inteirar-se, lançou-se a estudar com profundidade aquilo que, rapidamente, percebeu ser uma nova ciência que se apresentava ao seu alcance. Rapidamente, compreendeu sua extensão tão profunda, capaz de mudar os rumos de toda a humanidade, conjuntando filosofia e ciência, dando margem à explicação daquilo que falta nas religiões transcendentais, explicando-as e complementando-as.

Nasce uma nova ciência

Kardec entendeu que se tratava de um conhecimento que dava respostas às maiores questões da humanidade, a começar pela existência de um mundo dos Espíritos e a possibilidade de nossa interação com ele e, da filosofia daí nascida, recuperando o Evangelho de Jesus na tarefa de demonstrar que estava unicamente em cada ser a capacidade de se levantar dos próprios tropeços, se melhorando. Mais que isso, essa ciência demonstrava que, “a cada um segundo suas obras”, o ser humano, ou, antes, o ser espiritual, imortal e transcendente de incontáveis reencarnações, precisava aprender a ressignificar erro, pecado, culpa e reparação, retirando o grande peso colocado pelas religiões passadas de um Deus vingativo, cheio de ira e, por vezes perverso.

Não; Deus não culpa, porque sabe que faz parte de nosso progresso o erro. Não devemos nos retrair ante ao erro realizado pelo desconhecimento, mas, sim, aprender com o erro, isto é, analisarmos onde erramos, as consequências de nossos erros e, então, trabalhar para corrigir as tendências e desvios que nos levam a errar.

Aqui há algo muito importante que merece explicação. O Espiritismo se desenvolveu, na parte humana da ciência, sobre o Espiritualismo Racional, um movimento científico que abarcava as ciências morais na França e que partia do princípio de que o ser humano era uma alma encarnada, de onde ser originariam a vontade e a razão. Era, contudo, um estudo metafísico, enquanto o Espiritismo era um estudo prático, uma ciência de observação. Entender o Espiritualismo Racional e as ciências morais é de fundamental importância, pois, sabemos hoje, a maioria dos estudiosos espíritas daquela época eram espiritualistas racionais.

Fundamental por quê? Porque, nesse contexto, o Espiritismo, conforme a Doutrina ensinada pelos Espíritos e os fundamentos do E.R. apresenta uma moral fundamentalmente autônoma — tudo, relativo à minha própria evolução, depende das minhas próprias vontade e inteligência — enquanto as religiões apresentam uma moral fundamentalmente heterônima — tudo depende de eu desejar aceitar ou não o que as religiões me mandam fazer, tomando, para isso, o poder do próprio Deus e os conceitos de pecado e punição.

Por isso, recomendamos que todos estudem o livro Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo, ou acompanharem os vários vídeos, no YouTube, com essa temática.

O Método Científico de Allan Kardec

Kardec compreendeu que a força, ou melhor dizendo, a solidez da Doutrina dos Espíritos estava nos seguintes princípios: (1) a deliberação por um novo aprendizado partia de cima para baixo, isto é, do plano espiritual superior, responsável pelos nossos rumos, para a humanidade e (2) já que qualquer gênero de Espírito, dos mais diversos níveis evolutivos, poderiam nos comunicar ensinamentos válidos ou falsos, o estudo desses conteúdos deveria obedecer sempre uma metodologia que pudesse eliminar, ao máximo, a possibilidade de engano ou falseamento desses ensinamentos. Kardec, em meio ao século do positivismo científico, compreendeu que isso somente poderia se dar através da metodologia científica, adotando os seguintes critérios:

  1. Concordância universal do ensinamento, ou seja, um mesmo ensinamento, para ser válido, teria que ser obtido em diversas partes do mundo, através de diferentes médiuns, e teria que concordar em seu fundo. Fazendo assim, Kardec eliminou em grande parte a possibilidade de erro ou de contaminação de ideias vindas apenas por um médium ou grupo de médiuns de um mesmo conjunto
  2. Razão e lógica: um conteúdo, mesmo concordante universalmente, teria que passar no crivo da lógica e da razão, além de atender aos critérios já positivados pela ciência, isto é, já reconhecidamente provados e fundamentados pelas análises científicas.

Cabe ressaltar aqui que ciência não é apenas aquilo que se faz em um laboratório. Ciência, por definição, é o conjunto de conhecimentos a respeito de um determinado assunto, obtidos através da observação metodológica de causas e efeitos.

O esfriamento do Movimento Espírita

Infelizmente, todo esse estudo ficou parado no tempo, sendo realizado, após a morte de Kardec, apenas por alguns poucos estudiosos, em meio a um movimento espírita já esfriado na Europa. A grande questão é: por que esse esfriamento? À época de Allan Kardec, a França contava, segundo um senso realizado pela própria Igreja Católica, com pelo menos 50% da população se declarando espírita ou adepta ao Espiritismo. Na Europa, os números se multiplicavam e a Doutrina se alastrava como chama em pólvora. Contudo, logo após a morte do professor Rivail, o movimento espírita sofreu enorme baque, minguando rapidamente.

Eis que, muito recentemente, através dos caminhos abertos pela Espiritualidade, novas verdades documentais surgiram, evidenciando o que realmente aconteceu e o porquê de o Espiritismo ter tomado os rumos que tomou. Essas verdades encontram-se muito bem apresentadas e fundamentadas nas obras “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, e “Nem céu nem inferno: As leis da alma segundo o Espiritismo”, de Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo, dos quais recomendamos fortemente a leitura. Também recomendamos a leitura da obra “Muita Luz”, de Berthe Fropo, facilmente encontrada em PDF na Internet e disponibilizada também em nossos arquivos.

Os planos de Kardec para a continuidade do Espiritismo

Explicarei resumidamente aquilo que podemos compreender na leitura das obras recomendadas como base para este grupo:

Allan Kardec sabia que não duraria para sempre. Mas foi sobretudo após seu grave problema de saúde em 1865, quando, extenuado de tanto trabalho e dedicação à causa espírita, quase deixou este mundo, que passou a se preocupar com mais intesidade sobre os rumos do Espiritismo após sua partida. Começou, então, a traçar novos planos para a continuidade dos estudos da Doutrina dos Espíritos, formulando uma nova fase, onde ele sairia da posição de figura centralizadora, até então necessária, entrando em cena a organização de diversos grupos de estudo, espalhados por toda a parte, que cuidariam de continuar estudando as comunicações e os fenômenos espíritas, analisando-os e submetendo-os à apreciação de um comité central que deveria se reunir, sempre que necessário, para, com a concordância da maioria, sob a verificação de novos ensinamentos que atendessem aos critérios metodológicos estabelecidos anteriores, aceitar ou não um novo conteúdo como parte da Doutrina Espírita.

É importante notar que essa comitê não constituía um órgão de hierarquia superior, mas apenas uma reunião de representantes, que pudesse analisar a validade de tais ensinamentos obtidos por toda parte. O conhecimento, portanto, não vinha de cima para baixo (no plano terrestre) mas, sim, de baixo para cima, sendo necessário apenas uma etapa final de verificação. Kardec assim planejou para que pudesse ser eliminado, ao máximo possível, a interferência negativa das opiniões, dos preconceitos, dos interesses e das vaidades individuais que, com certeza, viriam.

Convém lembrar que o próprio Kardec, apesar de figura centralizadora dos estudos, também não agia de forma a colocar sua opinião pessoal, mas sim o contrário: analisava, sob a metodologia necessária, os ensinamentos obtidos de várias partes e, ante à evidência, prontamente abandonava qualquer concepção prévia contrária ao assunto. Isso, aliás, ocorreu várias vezes.

O Espiritismo sofre o grande “baque

Acontece que essas interferências pessoais vieram antes do esperado. Exatamente no dia em que o professor Rivail se preparava para colocar em prática seus planos tão bem elaborados, desencarnou. Era hora de, como sempre, a Espiritualidade dar lugar à necessária ação humana em nome do progresso. Essa ação, contudo, foi retardatária.

Pessoas muito próximas a Kardec se permitiram corromper pela vaidade e pelos interesses pessoais e, infelizmente, ante à inação dos demais espíritas, deram espaço a outras pessoas e, com certeza, falanges de Espíritos que lutavam contra a luz do Espiritismo.

Sorrateira e astuciosamente, esses espíritos encarnados e desencarnados se infiltraram no movimento espírita parisiense, passando a introduzir conteúdos e temas provenientes de apenas um suposto Espírito, através de apenas um médium, conteúdos esses que, muitas vezes, iam mesmo contra aquilo que já se encontrava muito bem fundamentado pelos ensinamentos dos Espíritos. Chegaram ao ponto de promover adulterações em duas obras de Allan Kardec – O Céu e o Inferno e A Gênese – adulterações essas que foram espalhadas e que, hoje, se encontram presentes na vasta maioria das publicações conhecidas mundo afora.

Do que cuidaram essas adulterações? De atacar o ponto principal do Espiritismo, que é a grande questão da autonomia do Espírito, ou seja, a consciência de que está apenas em cada um de nós a capacidade de erro, pecado, culpa, castigo e perdão. Era a libertação do pensamento ainda apegado às velhas questões de pecado, castigo e pagamento de dívidas. É a essência da reforma íntima, apagada pelas adulterações que atravessaram mais de um século e meio.

Não bastasse isso – a abolição total da metodologia de Kardec, já que ela necessariamente desmentiria essas personalidades e esses pensamentos que se infiltraram no movimento espírita parisiense – foram também queimados ou colocados no esquecimento milhares de manuscritos de Allan Kardec. Os queimados talvez jamais saibamos o que continham. Os esquecidos, contudo, graças ao bom Deus, foram encontrados e alicerçaram, sem sombra de dúvidas, grande parte desses estudos que demonstraram a verdade desse passado então desconhecido.

Fundamentalismo?

O grande propósito aqui, porém, não consiste em ficar discutindo se houve adulterações ou não, embora os fatos apontem clara e indubitavelmente para essa constatação. Também não consiste, esperamos que já tenha ficado claro, em promover uma espécie de culto de adoração a Allan Kardec, embora a história nos mostre, também clara e indubitavelmente, o quão probo, leal à causa, consciencioso, lúcido, razoável, perspicaz e mesmo caridoso esse Espírito foi e ainda o é. Consiste, sim, em recuperar seu exemplo, se aprofundar em seus estudos e se basear em seu trabalho, tão bem executado, para que possamos um dia avançar novamente nos estudos junto à espiritualidade, quando novamente chegar a hora.

Fundação do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Fundamos, então, rogando a ajuda da espiritualidade amiga, este modesto grupo, chamado “Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec”, com o propósito não apenas de continuar falando do passado, mas, sim, de recuperar esse passado, entendendo muito bem a essência da Doutrina Espírita, que vai muito além de apenas obter psicografias de parentes falecidos ou passes no Centro Espírita, mas que serve, como serviu desde o começo, para o propósito maior da iluminação da humanidade, que, como à época de Kardec e, hoje, talvez muito mais, tanto carece do entendimento simples e consolador que mostra os propósitos de estarmos aqui e as razões de nossas dores e amarguras, libertando as consciências da retração ante à culpa ou ao castigo e dando-lhes todas as ferramentas necessárias para a retomada de sua jornada evolutiva, mostrando que, sim, Deus é todo amor e compreensão e que, para corrigir o passado de erros e culpas, basta a nós a vontade de atacarmos, com firmeza, as nossas inclinações mais íntimas para aquilo que apenas nos traz tristeza e infelicidade, nascido do orgulho e do egoísmo, chagas maiores da humanidade.

Não iniciamos este grupo, no momento, com o propósito de nos colocar em contato mediúnico com a espiritualidade, até porque ainda não nos encontramos organizados para tanto. Iniciamo-lo, contudo, como um pequeno esforço de fazer a nossa parte, sabendo que, quando nos colocamos à disposição, com o firme propósito de nos mantermos lúcidos pelo estudo e humildes pela reforma íntima sob o Evangelho, a própria espiritualidade nos abrirá os caminhos necessários. Estejamos, contudo, muito conscientes e vigilantes ante às investidas contrárias que virão, talvez de muitas partes. Façamos, portanto, deste grupo, uma pequena fortaleza baseada nos princípios da moral de Jesus e do Espiritismo, abraçando a todos que humildemente queiram se aproximar e aprender, mas não permitindo que dele façam parte aqueles que desejem apenas inserir a polêmica vazia ou a crítica que não se rende à evidência dos fatos.

Produziremos, neste grupo, os materiais necessários, provindos de nossos estudos, que constituirão documentos gratuitos e publicamente acessíveis a quem os queira estudar, através dos mais diversos meios que, hoje, a Internet nos garantem.

Aos demais corações que, de bom grado, se interessem em integrar nosso grupo ou mesmo de replicar esta iniciativa, nos colocamos totalmente à disposição para apoio e esclarecimentos, mas relembramos sempre que é de suma importância não atropelar o próprio caminhar dessa iniciativa pela ansiedade em iniciar trabalhos mediúnicos sem, antes, contar com uma base sólida de estudos e harmonia, tanto com relação ao grupo quanto em relação ao próprio indivíduo.

Que os bons Espíritos nos iluminem, e que nós queiramos nos iluminar às suas luzes.

Paulo Degering Rosa Junior

Sorocaba, 21 de agosto de 2021




O Duplo Conceito do Bem e do Mal

Este artigo O Duplo Conceito do Bem e do Mal é continuação do artigo A Verdade que Liberta

Pixabay GoldenVionist

O duplo conceito do bem e o mal é uma ideia falsa: fazer o que é certo considera-se agir no bem, enquanto errar é visto como agir no mal. Consequentemente, cada falha cometida pela pessoa acompanha uma auto condenação, como se cometesse um ato maligno. Na realidade, é natural cometer erros ao realizarmos qualquer atividade que ainda não dominamos em nossas vidas; isso não é maldade, mas simplesmente um erro.

Assim, através dessa mentalidade falsa, a pessoa acredita que é melhor evitar os erros. Mas como pode evitar erros? “Faça o que estou mandando” é o falam tanto os líderes religiosos quanto os acadêmicos, que exigem obediência cega. Na academia, frequentemente se ouve: “Faça o que estou dizendo.” “Você é incapaz, eu sei o que é melhor!” “Aprenda comigo e repita minhas palavras!” (HETERONOMIA). Porém, decorar e impor não leva ao aprendizado, pois cada indivíduo tem sua própria maneira de aprender, de compreender; uns mais rápidos, outros menos; as habilidades diferem de indivíduo para indivíduo; quem disse haver apenas uma maneira certa?

O verdadeiro progresso reside em cada um compreender as razões pelas quais as coisas não funcionam. Logo, é impossível alcançar algo sem tentar. Infelizmente, nós nos condicionamos a temer o erro como um pecado, paralisando as pessoas, impedindo-as de tentar e, consequentemente, de evoluir. Essa noção é absurda; é uma falsa ideia!

Allan Kardec estabeleceu que o Espiritismo é uma Ciência Filosófica, uma classificação na Academia do século XIX. Naquela época, as Ciências dividiam-se entre Ciências Naturais e Ciências Filosóficas, estas últimas incluía os espiritualistas. Nessa época, discutia-se todas essas ideias filosóficas. Surpreendentemente, ao revisitar os textos acadêmicos daquele século, descobrimos o espiritualismo científico, que, junto ao Espiritismo, tem o potencial de construir um novo mundo.

No livro “O Céu e o Inferno”, o Espiritismo explica que o duplo conceito do bem e do mal não estão personificados em Deus e no Diabo, nem se resumem à exclusiva divisão entre os salvos e os condenados. Todavia, essa falsa dicotomia desvia a humanidade do caminho correto.

Não há uma batalha entre o bem e o mal; qualquer afirmação contrária é enganosa, pois o Mal é uma ilusão que se dissipa quando compreendido(AUTONOMIA). A compreensão é a ferramenta do Bem.

Toda a criação existe em função da lei divina, os ministros de Deus organizam os mundos, a vida e as humanidades segundo o caminho do bem. Mas o espírito humano precisa agir no bem pela compreensão da verdade, de forma livre e desinteressada, ou seja, precisa superar a falsa ideia por seu esforço, conquistando a fé sustentada pela razão: a fé racional!

Pixabay by Congerdesign – O Bem

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

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Obediência Passiva e Fé Cega — Os dois Princípios da Falsa Ideia

Continuação do artigo A Mentalidade Verdadeira e a Falsa Ideia.

Várias vezes em suas obras, Kardec cita A obediência passiva e a fé cega. Agora reflitamos por qual motivo eles são os princípios da Falsa Ideia.

Os falsos profetas, para conquistar pela obediência passiva, precisavam impedir que as massas aprendessem pelo próprio esforço sem a experiência de erro e acerto para aprender. Eles, os profetas falsos, condenavam o erro, como se o erro fosse a causa do mal do mundo.

Porém, todos sabemos que só é possível aprender quando se tenta. Da tentativa, produz-se erro e acerto. A partir daí, avaliamos e percebemos a melhor maneira de agir. E Deus não condena o erro, pois o erro faz parte do aprender. Pense bem: muito diferente errar inconscientemente do que persistir no erro conscientemente.

“Para elevar-se, deve o homem ser provado. Impedir sua ação e pôr um entrave em seu livre-arbítrio seria ir contra Deus e neste caso as provas tornar-se-iam inúteis, porque os Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante. Para chegar às esferas felizes, é necessário que ele progrida e que se eleve em conhecimento e sabedoria, e é somente na adversidade que ele adquire um coração elevado e melhor compreende a grandeza de Deus.”

Allan Kardec. Revista Espírita — Jornal de Estudos Psicológicos — 1858 – Novembro

Ao mesmo tempo, quando alguém faz algo, seja no trabalho ou no cotidiano, tem que saber o que está fazendo e quais são os resultados do que está fazendo. Então, esse alguém pode estar fazendo o mal sem saber ou mesmo participando do mal sem consciência do mal. Portanto, o ideal seria nunca realizar uma atividade sem entender.

A falsa ideia, através dos dois princípios de obediência passiva e fé cega, leva a crer que o erro é o mal. Consequentemente, o erro gera medo. Será melhor obedecer sem entender e ter fé?

Desde tempos remotos, os sacerdotes que determinam o comportamento das pessoas, pois eles mesmos afirmam que Deus os escolheu para determinar Sua Lei. Os sacerdotes criaram o falso ensinamento de que o acerto está em obedecer a Deus para receber as recompensas divinas e se salvar. Eles propagam também que o erro representa o agir inspirado pelo diabo, que atenta o homem para se apossar dele. Kardec mostra este entendimento em A Genese:

A religião era, nesse tempo, um freio poderoso para governar. Os povos se curvavam voluntariamente diante dos poderes invisíveis, em nome dos quais eram subjugados e cujos governantes diziam possuir seu domínio, quando não se faziam passar por equivalentes a esses poderes. Para dar mais força à religião, era necessário apresentá-la como absoluta, infalível e imutável, sem os quais ela teria perdido a ascendência sobre esses seres quase primitivos, apenas iniciados para a racionalidade. Ela não poderia ser discutida, assim como as ordens de um soberano. Disso resultou o princípio da fé cega e da obediência passiva, que tinha, na origem, sua razão de ser e sua utilidade. A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame65.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (Portuguese Edition) . cap IV, item 2. Edição do Kindle.((A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo: https://amzn.to/3RM91hF ))

Quem desobedece ou não se arrepende, será entregue ao diabo, sofrendo castigos, vicissitudes, dores. Por meio dessa ideia falsa, os sacerdotes condicionaram as massas a acreditar sem raciocinar — Fé Cega — alegando que a razão não compreende a vontade divina. Obedecendo sem compreender — Obediência Passiva.

Em qualquer área de atuação acontece a fé cega e a obediência passiva: ciência, filosofia, religião, no trabalho, no lar, nos relacionamentos. Na idade média, usava-se o dogma religioso para balizar as ações. Hoje se usa o dogma materialista. Dessa forma, é como se fosse a idade média da ciência!

Se a pessoa acredita que o seu trabalho não é nem pode ser espiritualizado, é excluído do meio. A exclusão é o mesmo instrumento que a igreja fazia, com condenação, excomunhão, perseguição, etc. Está certo que a condenação da igreja levava a morte, mas hoje a exclusão pela sociedade é praticamente morrer, ficando marginalizado. Existem os graduados no ensino superior( ou mesmo no ensino técnico) que tendem a acreditar no materialismo; os outros são os excluídos. E acontece a luta do superior contra inferior. O Espiritualismo é o diabo da ciência! E o Materialismo é o deus da ciência!

Por fim, atualmente, pela falsa ideia, os que pensam diferente, sejam de outros países ou outras religiões, são inimigos, são controlados pelo diabo, e devem ser combatidos e destruídos. Os que obedecem são protegidos pelo deus bom. Assim, criam o exclusivismo e a guerra. É um exclusivismo MATERIALISTA!

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em A Verdade sobre o Mal e o Castigo