Para alcançar o domínio sobre os outros, muitas vezes emprega-se a estratégia de fazer com que eles acreditem que o erro ou a falha reside em não obedecer, merecendo, por isso, punição. Ao mesmo tempo, é propagada a ilusão de que obedecer trará recompensas. Essa é a armadilha da maldade, conhecida como heteronomia. Aqueles que se submetem são então controlados por meio de condicionamentos, e é aí que reside a verdadeira violência do mal.
A maldade age por meio da violência e da mentira. Ela proclama: “Você deve obedecer! Se não obedecer, receberá punição!” Em seguida, ela afirma: “Essa é a única maneira de lidar com aqueles que se recusam a obedecer.” Isso é uma inversão de valores.
O mal se manifesta na falsa ideia que distorce a lei divina, buscando a satisfação dos interesses e da alegria pessoal às custas da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, não devemos nos deixar enganar pelo pensamento de que somos superiores por termos conhecimento. E sabe o erro daquele que sabe? A indiferença! Ter valores e não usar os valores para o bem.
Nesse sentido, o nosso dever que já sabe se intensifica! A responsabilidade daqueles que possuem conhecimento vai além de simplesmente ajudar os menos instruídos; eles devem também servir. Reflita: O dever de quem sabe é servir aos mais simples!
Não devemos pensar em tirar proveito de nosso conhecimento, mas sim em cooperar. Devemos empregar nossos esforços para disseminar este conhecimento e fazer com que muitos o compreendam. O futuro do mundo reside na cooperação, não na competição.
Qualquer novo valor, como da COOPERAÇÃO ao invés da competição, deve ser compartilhado pelo mundo para que todos possam se beneficiar.
Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.
A verdade sobre a lei de Causa e Efeito: um axioma científico
A lei de Causa e Efeito, na verdade, não é uma lei: é um axioma científico((Evidência cuja comprovação é dispensável por ser óbvia; princípio evidente por si mesmo; Expressão que contém um sentido moral ou geral; provérbio, máxima ou sentença.)): todo efeito tem uma causa. É assim que se teoriza, pelo método de observação racional, por exemplo, o Big Bang e a Matéria Escura: observando-se certos efeitos, remonta-se à causa. Não tem absolutamente nada a ver com a ideia de “lei do retorno” que, de fato, não existe.
No campo da moral, se uma pessoa sofre, isso tem uma causa, decerto. Qual é a causa? O Movimento Espírita generalizou, baseando-se na adulteração de O Céu e o Inferno, e passou a dizer: é a punição por erros de vidas passadas. Mas, em verdade, se esquece que a causa do sofrimento pode ser as ações presentes, os efeitos da própria vida material que nos impões vicissitudes naturais e, além disso, a escolha do Espírito em passar por uma provação para mero aprendizado ou, ainda, por missão, ajudando outros com sua passagem.
Ainda que a causa do presente sofrimento sejam erros de vidas passadas, é necessário entender o seguinte: a pessoa pode estar sofrendo, ainda, os efeitos dos seus apegos íntimos. Ela pode, por exemplo, ter desenvolvido a imperfeição do egoísmo em vida passada e, nessa, continuando seus atos egoístas, sofre por seus efeitos naturais (aliás, diga-se de passagem: ela pode, hoje, estar sendo menos egoísta que na vida anterior, o que já é um progresso). Pode, também, estar sofrendo, nesta vida, provações por ela escolhidas, visando o exercício do desapego, por ter entendido que o seu apego a afastou do bem e da felicidade, desejando então voltar a ser feliz, útil, enfim: voltar ao bem.
Essa é a verdadeira moral espírita, que foi contrariada e distorcida pela adulteração de O Céu e o Inferno. Nada a ver com “lei do retorno” ou carma. Nada a ver com um Deus punitivo. O original de O Céu e o Inferno, com notas de rodapé importantíssimas, você pode baixar aqui: https://bit.ly/3vVYQhu
O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?
Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.
No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:
“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”
Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:
Conselhos sobre A Gênese
22 de fevereiro de 1868. Médium M. Desliens.
Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.
Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?
Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.
Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.
Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si. Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.
Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.
Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?
Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.
Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:
Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?
Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:
Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:
– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?
Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:
– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.
Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:
– Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.
Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.
FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.
Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:
Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.
Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição
Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.
Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:
Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.
Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).
Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições
O mal não é errar, depois pedir perdão e ser obediente ao bem.
O mal está em agir segundo o interesse pessoal acima do coletivo. Para isso, o outro deve servi-lo, perdendo a tranquilidade e a felicidade, o que o egoísta não quer para si mesmo. Para submeter o outro, é preciso que ele aja não pelo dever que coopera, mas pela submissão que o torna uma espécie de escravo.
Deus castiga? Não! O que é o castigo?
O castigo, segundo a lei divina ou natural, consiste no sofrimento constante daquele que erra conscientemente, agindo movido por interesses pessoais, utilizando mentira e violência como meios para atingir seus objetivos.
Esse conceito não é totalmente diferente do que aprendemos? O castigo é algo que acontece no mundo? Não, o castigo é o sofrimento moral da pessoa e, se ela não mudar, não encontrará a felicidade.
Nenhuma pessoa egoísta é feliz, pois ela sabe, intimamente, que não está fazendo o bem. Mas por que alguém seria egoísta, sabendo que está errado, sofrendo por isso e ainda assim continuando na mesma conduta egoísta?
Por meio do Espiritismo, desvendamos as raízes do egoísmo e do orgulho. O Espiritismo não confronta pessoas ou ideias; ele enfrenta o egoísmo e o orgulho como conceitos que prejudicam o progresso espiritual.
O Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual em razão do grau de suas imperfeições, sendo-lhe então concedida a vida corporal como meio de reparação. É por isso que o Espírito nela reencontra, ou as pessoas que ofendeu, ou situações semelhantes àquelas em que praticou o mal, ou ainda situações opostas às que viveu, por exemplo, enfrentando a miséria se foi um rico mau, ou uma condição humilhante se foi orgulhoso. Não se trata de um duplo castigo, mas o mesmo a que se dá sequência na Terra, como complemento, com vistas a facilitar seu adiantamento para um trabalho efetivo. Do próprio Espírito depende fazê-lo proveitoso. Não lhe vale mais voltar à Terra, com a possibilidade de ganhar o Céu, do que ser condenado sem remissão ao deixá-la? Essa liberdade que lhe é concedida é uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça de Deus, que deseja que o homem deva tudo aos próprios esforços, sendo assim o artífice de seu futuro. Se é infeliz, se o é por um tempo maior ou menor, que não se queixe senão a si mesmo – o caminho do progresso lhe está sempre aberto.
Allan Kardec. O Céu e o Inferno: Ou a justiça divina segundo o Espiritismo, editora Feal (p. 78). Edição do Kindle.
No entanto, é crucial entender completamente o que o egoísmo implica para poder combatê-lo efetivamente. Reconhecer os próprios erros e sentir a consciência pesada é o primeiro passo para a mudança. Caso contrário, o indivíduo continuará a sofrer.
A falsa ideia de que Deus é o causador do nosso sofrimento está equivocada. Na verdade, somos juízes e prisioneiros de nós mesmos e nossos próprios pensamentos. O Espiritismo nos ensina isso. Sabendo disso, você optará por permanecer preso ou se libertar? Ser escravo ou livre? A escolha é sua.
Ninguém é obrigado a agir para o bem. A liberdade é fundamental para o agir no bem. Deus não coloca ninguém para vigiar ninguém. Quando você fizer o bem, você o fará com todo o seu esforço. No momento em que você age com o pensamento íntegro, os outros espíritos se aproximam para fazer o mesmo: a rede de bondade é criada.
Se você está agindo com segundas intenções, os outros espíritos percebem e você se isola por escolha própria. Esse é o mecanismo!
Alguém realmente está nos vigiando no mundo espiritual? Não! Há algum lugar circunscrito para ser castigado? Não! Isso é falso! Emmanuel menciona o umbral? Sim, ele menciona, mas são espíritos iludidos que lá se reúnem. Os espíritos bons veem os maus espíritos como doentes a serem curados e não como adversários a serem combatidos. A luta entre bem e mal é uma falsa ideia!
Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.
“Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”? – Uma análise crítica
“Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”? – Uma análise crítica é uma produção de Leonardo Marmo Moreira e Jorge Hessen. O texto abaixo foi extraído integralmente do prefácio da obra, no intuito de salvaguardar um estudo tão importante como esse, replicando-o em nosso site. O texto completo, que deu base a esse artigo, está disponível em PDF, aqui.
PREFÁCIO
Jorge Hessen
Nas minhas sondagens históricas encontrei confrades que me afiançaram na sede da FEB que Chico Xavier jamais advertiu a tal “tenda de Ismael” (sede da FEB no DF) sobre as possíveis e alegadas interpolações ideológicas em “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. Desconhecemos maiores detalhamentos dos bastidores desse intercâmbio entre o médium e velhos ex-diretores da FEB.
Encontrei aqueles que atestam a anuência do Chico sobre a inserção de Roustaing no capítulo 22 de “Brasil coração do mundo pátria do evangelho” demonstrando supostas correspondências entre o Chico e o Wantuil de Freitas, contidas na obra “Testemunhos de Chico Xavier”. Todavia, descobrimos que foram repassadas para a autora da obra Suely Caldas Schubert (que não tem trajetória roustanguista) apenas algumas fontes secundárias, fragmentos datilografados das cartas e intencionalmente selecionadas e elaboradas pelos docetistas Zeus Wantuil e Francisco Thiesen.
Foi forjada uma autenticidade da inserção do Roustaing no livro “sagrado” do (im)”Pacto áureo”, quando antigos ex-diretores da FEB visitaram o Chico Xavier a fim de que médium mineiro pudesse “autenticar” o livro ou a página do capítulo 22 de “Brasil coração do mundo pátria do evangelho” para corroborar a autenticidade da psicografia original (que foi inexplicavelmente incinerada pela FEB), porém Chico “autenticou” o capitulo 22 com a “robusta” confirmação: “Com um abraço do servidor menor Chico Xavier”. Ou seja, não confirmou nada! Chico sabia que a obra fora corrompida.
O golpe do (im)“Pacto Áureo” foi uma agenda com dezoito itens, sendo que no primeiro constava: “Cabe aos espíritas do Brasil colocarem em prática a exposição contida no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Aqui abrimos um parêntese por entendermos que neste dispositivo houve uma proposição passível de consequência indesejável, considerando o foco da unidade entre os espíritas. Ora, o mais razoável seria constar no primeiro item que os espíritas colocassem em prática a exposição contida no Evangelho Segundo o Espiritismo, de maneira a acelerar e consolidar a marcha evolutiva do Evangelho.
Há os que dizem que a adoção do livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”, pode ter dois pretextos, o primeiro porque um grupo dos que discutiram a questão queria adotar “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, o segundo porque os “partidários” da CEPA (Confederação Espírita Pan-Americana) não aceitavam e nem aceitam o Evangelho Segundo O Espiritismo, nesse caso ,portanto, o livro de Humberto de Campos estaria na linha de equilíbrio e colocava o Brasil uma posição central da expansão do Evangelho.
Será mesmo? Foi isso que os levou a assinar sem discussão o pacto do qual Herculano Pires batizou de “bula papalina”? Ou será que o excesso de misticismo criara sentimento de culpa e os pactuantes passaram a admitir infalibilidade no presidente da FEB? Ou será que a presença autocrática de Wantuil (que foi uma espécie de “único dono” da FEB) teria entorpecido a consciência dos signatários ? Ou será que careciam todos os pactuantes de maior amadurecimento doutrinário? Uma coisa, porém, temos certeza absoluta: se Herculano Pires, Deolindo Amorim, Júlio Abreu Filho tivessem participado da “encantada” reunião febiana de 1949 outro teria sido o rumo das definições doutrinárias para o Brasil.
Pois é! Volvamos aos signatários do Pacto que concluíram sem melhor DEBATE e maturação de que o livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”continha dados interessantes e demonstrava qual seria a missão do Espiritismo no Brasil. Porém os pactuantes não se preocuparam com os detalhamentos ufanistas e controversos do livro, talvez aí o “X” da questão.
Não levantamos este ponto para contestar os conteúdos originais da obra (os que não foram supostamente alterados pelos docetistas febiano). É muito óbvio que é difícil provar fisicamente a adulteração porque a psicografia original foi incinerada pela FEB. Urge ressaltar aqui que amamos a literatura de Humberto de Campos (sem as inserções febianas, lógico!), e tem mais, urge apartar bem as coisas, pois a ingênua entronização de Roustaing pelo suposto “autor espiritual” contraria o pensamento de Kardec contido no Cap. XV da obra A Gênese.
A questão é que o suposto “Humberto de Campos” evoca “as tradições do mundo espiritual”, conforme o próprio autor espiritual assevera na Introdução do livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. Obviamente esse argumento de “tradições de além” não esclarece, e sequer abona, as ingerências da obra. E isso fica claro se compararmos o livro “Brasil, coração.do mundo…” com “Crônicas de Além-Túmulo” e “Boa Nova” de autoria do mesmo Espírito, nos quais Humberto de Campos utiliza de algumas informações obtidas das chamadas “tradições do mundo espiritual”, mas sem cometer os vários lapsos presentes em “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. A propósito da obra “Crônicas de Além-Túmulo” no capítulo 21 intitulado “O Grande Missionário”, publicado antes de “Brasil, coração do mundo…”, são citados como colaboradores de Allan Kardec somente os missionários Camille Flammarion, Léon Denis e Gabriel Delanne, sem nenhuma menção a Roustaing. Isso indica provável interpolação maliciosa na obra “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”.
Este é o meu parecer.
Brasília, 10 de abril de 2018
Jorge Hessen
Abaixo-assinado: A FEB não representa o Espiritismo!
A Federação Espírita Brasileira (FEB) assumiu um caráter muito distante e, em muitos pontos, diametralmente oposto aos princípios fundamentais do Espiritismo, tão bem demonstrados pelos estudos extenuados de Allan Kardec, que a eles entregou seu tempo, seus recursos, sua saúde e, ao final, sua vida. A FEB recomenda a não evocação, quando ela é ferramenta indispensável para a Doutrina; desaconselha as reuniões particulares, quando os próprios Espíritos superiores as incentivaram, sempre; publica tudo sem a necessária análise doutrinária, produzindo obras contrárias mesmas ao Espiritismo e chegando ao ponto de causar vexame à Doutrina, etc.
Orientado pela FEB, a maior parte do Movimento Espírita, desconhecendo a origem roustainguista (ou rustenista) dessa instituição, entrou por um caminho absurdamente distorcido. Uma rápida leitura de “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, de Wilson Garcia, para entendermos a razão de toda essa distorção: pessoas oriundas do Grupo Sayão, um grupo declaradamente roustainguista, dominou a FEB desde o final do século XIX, inserindo nela e, por conseguinte, no Movimento Espírita Brasileiro, suas características contrárias ao método e à organização necessários para a continuidade do desenvolvimento da ciência espírita, como podemos verificar especialmente nos seguintes artigos da Revista Espírita: ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO, de dezembro de 1861, e CONSTITUIÇÃO TRANSITÓRIA DO ESPIRITISMO, dezembro de 1868.
Em sua essência filosófica e moral, o Espiritismo brasileiro também está muito distante da verdadeira face do Espiritismo Consolador, como podemos compreender através da leitura de “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”.
Não bastasse tudo isso, agora temos evidências diversas de adulterações significativas em obras psicografadas por Chico Xavier, alterando completamente, em alguns pontos, o sentido original do texto. Além disso, temos a grande incógnita chamada “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, cuja psicografia original foi incinerada pela FEB e que, não por acaso, insere diversos absurdos contra a Doutrina, afirmando Roustaing como um grande trabalhador do Espiritismo, junto a Kardec, e o “Anjo” Ismael, Espírito que originalmente mistificava no Grupo Sayão, como um grande dirigente espiritual da pátria brasileira.
Por essas e muitas outras, nós, abaixo assinado, declaramos, para fins de registro, que não nos sentimos representados pela FEB e pelo Movimento Espírita Brasileiro, destacando, assim, o necessário retorno às origens do Espiritismo, devidamente contextualizado pelo entendimento complementar do Espiritualismo Racional e do Magnetismo Animal, de modo a prepararmos o terreno para a futura retomada do Espiritismo como ele realmente é, com a retomada de seu desenvolvimento através da colaboração entre os pequenos grupos, sem instituições acima deles, conforme demonstrado necessário por Kardec, nos artigos anteriormente citados.
O Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec inaugura este esforço meramente para fins de registro, sem nenhuma intenção de disputa ou de proibições, desejando logo ver o Espiritismo sendo entendido e reconhecido como Ciência Filosófica de consequências morais, com seus método e organização restabelecidos e afastado da característica de religião a ele imputada pela FEB, coisa que ele nunca foi (Sessão anual comemorativa dos mortos, RE68).
Várias vezes em suas obras, Kardec cita A obediência passiva e a fé cega. Agora reflitamos por qual motivo eles são os princípios da Falsa Ideia.
Os falsos profetas, para conquistar pela obediência passiva, precisavam impedir que as massas aprendessem pelo próprio esforço sem a experiência de erro e acerto para aprender. Eles, os profetas falsos, condenavam o erro, como se o erro fosse a causa do mal do mundo.
Porém, todos sabemos que só é possível aprender quando se tenta. Da tentativa, produz-se erro e acerto. A partir daí, avaliamos e percebemos a melhor maneira de agir. E Deus não condena o erro, pois o erro faz parte do aprender. Pense bem: muito diferente errar inconscientemente do que persistir no erro conscientemente.
“Para elevar-se, deve o homem ser provado. Impedir sua ação e pôr um entrave em seu livre-arbítrio seria ir contra Deus e neste caso as provas tornar-se-iam inúteis, porque os Espíritos não cometeriam faltas. O Espírito foi criado simples e ignorante. Para chegar às esferas felizes, é necessário que ele progrida e que se eleve em conhecimento e sabedoria, e é somente na adversidade que ele adquire um coração elevado e melhor compreende a grandeza de Deus.”
Allan Kardec. Revista Espírita — Jornal de Estudos Psicológicos — 1858 – Novembro
Ao mesmo tempo, quando alguém faz algo, seja no trabalho ou no cotidiano, tem que saber o que está fazendo e quais são os resultados do que está fazendo. Então, esse alguém pode estar fazendo o mal sem saber ou mesmo participando do mal sem consciência do mal. Portanto, o ideal seria nunca realizar uma atividade sem entender.
O bem é procurar agir com a consciência, compreendendo.
A falsa ideia, através dos dois princípios de obediência passiva e fé cega, leva a crer que o erro é o mal. Consequentemente, o erro gera medo. Será melhor obedecer sem entender e ter fé?
Desde tempos remotos, os sacerdotes que determinam o comportamento das pessoas, pois eles mesmos afirmam que Deus os escolheu para determinar Sua Lei. Os sacerdotes criaram o falso ensinamento de que o acerto está em obedecer a Deus para receber as recompensas divinas e se salvar. Eles propagam também que o erro representa o agir inspirado pelo diabo, que atenta o homem para se apossar dele. Kardec mostra este entendimento em A Genese:
A religião era, nesse tempo, um freio poderoso para governar. Os povos se curvavam voluntariamente diante dos poderes invisíveis, em nome dos quais eram subjugados e cujos governantes diziam possuir seu domínio, quando não se faziam passar por equivalentes a esses poderes. Para dar mais força à religião, era necessário apresentá-la como absoluta, infalível e imutável, sem os quais ela teria perdido a ascendência sobre esses seres quase primitivos, apenas iniciados para a racionalidade. Ela não poderia ser discutida, assim como as ordens de um soberano. Disso resultou o princípio da fé cega e da obediência passiva, que tinha, na origem, sua razão de ser e sua utilidade. A veneração aos livros sagrados, quase sempre considerados como tendo descido do céu, ou inspirados pela divindade, proibiam qualquer exame65.
Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (Portuguese Edition) . cap IV, item 2. Edição do Kindle.((A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo: https://amzn.to/3RM91hF ))
Qual é a tese dos sacerdotes: se você fizer o que mandamos, você fará o que Deus mandou, então fará o certo e você será salvo. Se você fizer diferente usando sua própria razão e consciência, você não vai fazer igual a Deus, então você fará errado. A consequência é que a pessoa vai deixar de pensar. Somente obedecerá. Para os sacerdotes, o mal é não obedecer. O bem é obedecer.
Quem desobedece ou não se arrepende, será entregue ao diabo, sofrendo castigos, vicissitudes, dores. Por meio dessa ideia falsa, os sacerdotes condicionaram as massas a acreditar sem raciocinar — Fé Cega — alegando que a razão não compreende a vontade divina. Obedecendo sem compreender — Obediência Passiva.
Quais são os instrumentos para tornar a pessoa submissa? Acreditar sem raciocinar!Obedecer sem compreender! Qualquer entendimento que parta desses dois princípios, é a Falsa Ideia!
Em qualquer área de atuação acontece a fé cega e a obediência passiva: ciência, filosofia, religião, no trabalho, no lar, nos relacionamentos. Na idade média, usava-se o dogma religioso para balizar as ações. Hoje se usa o dogma materialista. Dessa forma, é como se fosse a idade média da ciência!
Se a pessoa acredita que o seu trabalho não é nem pode ser espiritualizado, é excluído do meio. A exclusão é o mesmo instrumento que a igreja fazia, com condenação, excomunhão, perseguição, etc. Está certo que a condenação da igreja levava a morte, mas hoje a exclusão pela sociedade é praticamente morrer, ficando marginalizado. Existem os graduados no ensino superior( ou mesmo no ensino técnico) que tendem a acreditar no materialismo; os outros são os excluídos. E acontece a luta do superior contra inferior. O Espiritualismo é o diabo da ciência! E o Materialismo é o deus da ciência!
Por fim, atualmente, pela falsa ideia, os que pensam diferente, sejam de outros países ou outras religiões, são inimigos, são controlados pelo diabo, e devem ser combatidos e destruídos. Os que obedecem são protegidos pelo deus bom. Assim, criam o exclusivismo e a guerra. É um exclusivismo MATERIALISTA!
O Espiritismo não é exclusivista. O Espiritismo é uma ideia. E é por essa ideia que ele vai transformar o mundo.
Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.
O canal Mesa Girante e as adulterações em O Céu e o Inferno
Recentemente o canal Mesa Girante, no Youtube, produziu um vídeo onde aborda outro vídeo, de Paulo Henrique de Figueiredo, falando sobre a obra “Nem Céu, Nem Inferno”, de cerca de 3 anos atrás. A obra trata do fato jurídico ((São fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.)) da adulteração de O Céu e o Inferno e do contexto da trama de traição ao redor de Kardec.
Nesse vídeo, o autor do canal Mesa Girante trata de, debochadamente, tentar invalidar a importância da obra por supostas precipitações de Paulo Henrique ao tratar do tema, no vídeo. Pergunto-me por que é que ele, o dono do canal Mesa Girante, não se dedicou primeiramente a ler essa obra, o que teria enriquecido demais o debate? Por que é que ele se concentrou apenas naquilo que lhe pareceu incongruente, pelas falas de Paulo Henrique, sem dar atenção aos demais pontos de relevância da obra? Digo isso porque eu mesmo o procurei, através dos comentários, para demonstrar que a adulteração de O Céu e o Inferno é o produto inquestionável dos dogmas roustainguistas, além do fato jurídico.
No dia seguinte, eu produzi um vídeo, sob efeito de uma irritação pela maneira como o tema foi abordado, com tom de deboche e sem nenhuma intenção de cooperação, e sim de competição, já que não foi procurar Paulo Henrique para conversar sobre as divergências de entendimentos. Esse vídeo, que eu produzi, eu resolvi apagar, pois acabei tratando com afetação um tema onde não deve haver absolutamente nada disso. Em lugar desse vídeo, gravei um novo, onde falo sobre o foco central da adulteração, como você pode ver ao final deste artigo.
Acontece, porém, que, assim que gravei, chegou ao meu conhecimento uma live com Lucas Sampaio, co-autor do livro Nem Céu, Nem Inferno, onde ele explica em detalhes todas as questões envolvidas nesse tema da adulteração. O conteúdo é muito explicativo por si só, de maneira que reproduzo abaixo o mesmo vídeo e aproveito para tecer comentários sobre seu conteúdo.
Comentários sobre a live do Lucas Sampaio
É fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.
Kardec estava, sim, fazendo revisões nessas obras, preparando novas edições. Isso está registrado em cartas. Contudo, menos de um mês depois da carta onde cita o trabalho de tradução para o alemão, existe uma carta de Kardec para um amigo seu, dizendo que, por problemas de saúde, ele precisou suspender todas as atividades que não fossem estritamente necessárias.
Os Espíritos, evocados por Kardec, dizem que ele não deveria suprimir nada nas novas edições. Foi feito justamente o contrário nas edições publicadas após sua morte, com a supressão de pontos importantes nas obras.
A psicografia original, onde os Espíritos diziam a Kardec para não suprimir nada nas novas edições, foi adulterada por Leymarrie em Obras Póstumas, retirando justamente esse conselho, para dar credibilidade à 5a edição de A Gênese. Isso se deu após a denúncia de Henry Sausse.
Os negacionistas dos fatos jurídicos e das evidências de adulteração chegam a usar depoimentos de pessoas ligadas a Leymarie para sustentar suas teses.
É importantíssimo ler a obra O Legado de Allan Kardec, que traz diversas evidências sobre os fatos acerca da adulteração de A Gênese.
Fala-se em registros contábeis da Sociedade, assinados pela esposa de Kardec, três anos após sua morte, onde estariam registrados os custos de impressão de O Céu e o Inferno a fevereiro de 1869. Faz sentido fazer contabilidade de algo passado à criação da Sociedade Anônima (empresa)? Faz sentido confiar em documentos da Sociedade Anônima, a mesma que deu o golpe post-mortem em Kardec? Como veremos a seguir, os documentos oficiais mostram que a obra não foi impressa naquela data.
Foi encontrada, nos registros legais da Biblioteca Nacional, a declaração de impressor n. 8.584 com pedido de autorização do tipógrafo Rouge registrado em 9/7/1869 para imprimir 2.000 exemplares da mesma quarta edição de O Céu e o Inferno, conforme a página 294 do documento F/18(II)/128, mais de três meses após a desencarnação de Allan Kardec.
Na Revista Espírita de junho de 1869, foi publicado, pela Sociedade Anônima, o artigo de título “À venda em 1° de junho de 1869”, tratando da edição que ficou pronta somente em 19 do mês seguinte. E o aviso ainda explica:
Quarta edição de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo, contendo numerosos exemplos sobre a situação dos Espíritos no mundo espiritual e na Terra; 1 vol. in-12, preço: 3 fr. 50.
Observação – A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, passou por modificações significativas. Alguns capítulos em particular foram inteiramente reformulados e consideravelmente aumentados.
(SOCIEDADE ANÔNIMA, [RE] 1869, jul., p. 224)
Tudo indica que Amelie, com mais de 70 anos, em luto, foi enganada pela Sociedade Anônima, e confiou no que diziam ou apresentavam a ela. Berthe Froppo menciona que ela acreditava que a S.A. iria vender os livro de Kardec a preços populares (e fizeram o contrário). A doce Gabi, como a chamava Kardec, entregou tudo, crendo que o melhor seria feito, pois não tinha um espírito de liderança. Foi afastada de qualquer papel de decisão da S.A. Foi, em suma, ludibriada. Não se opôs às novas edições, pois sabia que seu marido trabalhava sobre elas. Escolheu entregar à S.A. toda a obra de Kardec, pois pensava, seguindo os propósitos de Kardec, que o Espiritismo deveria ser de todos, e não mais centralizado em ninguém. Era a promessa da Sociedade, finalmente não cumprida.
Existe uma falta de vontade (e aqui eu reitero: inclusive pelo CSI do Espiritismo e do dono do canal Mesa Girante) em fazer um estudo cuidadoso e aplicado, inclusive comparativo. Não: fica-se girando apenas na superfície das afirmações e das negações simplórias, numa sanha de negar o que vemos estar óbvio aos nossos olhos.
As teses de negação não respeitam o fato jurídico; não se importam com os planos de Kardec para o futuro do Espiritismo; não se importam com os vários golpes sofridos por Kardec e pelo Espiritismo; não se importam com o golpe à unidade de método e de organização, necessárias à continuidade doutrinária; não fazem análises doutrinárias sobre o conteúdo anterior e as alterações; não se importam com o fato de a Sociedade Anônima haver incendiado um grande número de manuscritos de Kardec, após sua morte; não falam do verdadeiro complô sendo formado ao redor de Kardec, por Roustaing e seus seguidores; não trazem à luz os incontáveis fatos e evidências dos interesses contrários ao bem, por pessoas ao redor de Kardec.
Não, e nem podem, pois dar atenção ao fato dos descalabros sofridos por Kardec e pelo Espiritismo seria alimentar os argumentos da adulteração, o que não seria do interesse deles. Pelo contrário: esforçam-se por colocar dúvida injustificável sobre pessoas como Berthe Froppo, amiga íntima do casal Kardec, que fez algumas graves denúncias contra Leymarie e a sociedade anônima! Não, para eles o testemunho de Froppo não vale, mas valem as alegações do adulterador, Leymarie, e sua esposa, além dos demais envolvidos, por interesse, em seus negócios espíritas!
O prefácio de A Gênese e a introdução do capítulo 8º de O Céu e o Inferno (3a edição) tratam justamente do método do Espiritismo, que o protege de se transformar em um sistema pessoal, o que incomodava sobremaneira Roustaing e Pezzani, seu amigo pessoal, que tinham suas próprias concepções do que deveria ser o Espiritismo. Será acaso que tanto um como outro foram removidos nas novas edições?
Os trechos removidos na adulteração de A Gênese denunciam exatamente como pensam e agem os inimigos da verdadeira ideia.
Cada um dos 25 itens do capítulo VIII de O Céu e o Inferno tinham fundamentação no restante da obra. Na 4a edição, adulterada, muitos itens perderam essa correspondência, conforme se demonstra em O Céu e o Inferno, da editora FEAL (clique aqui para baixar gratuitamente).
Live com Lucas Sampaio sobre as Adulterações nas obras de Kardec
Vídeo do meu canal falando sobre o vídeo do canal Mesa Girante
Nosso Lar e a Doutrina Espírita
Como pode Nosso Lar? Como seria possível, frente ao conhecimento doutrinário trazidos à luz com tanto cuidado, com metodologia adequada, colhido sobre o estudo de uma multidão de Espíritos, de todos os graus evolutivos, a se comunicarem por toda a parte? Não faz sentido.
Segundo diz o Espírito de André Luiz, o próprio Governador da “cidade astral” assevera:
Somos, em “Nosso Lar”, mais de um milhão de criaturas devotadas aos desígnios superiores e ao melhoramento moral de nós mesmos.
Como conciliar, porém, a ideia de milhões de “criaturas”, devotadas aos desígnios superiores, mas ainda tão absurdamente apegadas ao materialismo terrestre? Não faz sentido. Não objetamos a ideia de que os Espíritos inferiores, apegados ao materialismo, ao deixarem o corpo, mantenham-se apegados a falsas necessidades e a falsas ideias da personalidade terrestre. Na verdade, isso está fartamente demonstrado pela Doutrina Espírita. Aqui, porém — em tese — falamos de Espíritos devotados os desígnios superiores.
Pergunto: como podemos admitir uma organização hierárquica de Espíritos supostamente superiores devotando-se à sistematização e ao cultivo das falsas ideias? Bônus-hora? Afinal, a Doutrina Espírita não nos ensina que a caridade é um dever moral, que se pratica sem aguardar retorno? Em Nosso Lar, pelo que conta André Luiz, o Espírito de Narcisa trabalhava por obrigação, para conquistar o direito de reencarnar:
Preciso encontrar alguns espíritos amados, na Terra, para serviços de elevação em conjunto. Por muito tempo, em razão de meus desvios passados, roguei, em vão, a possibilidade necessária aos meus fins. Vivia perturbada, aflita. Aconselharam-me, porém, recorrer à Ministra Veneranda, e nossa benfeitora da Regeneração prometeu que endossaria meus propósitos no Ministério do Auxílio, mas exigiu dez anos consecutivos de trabalho aqui, para que eu possa corrigir certos desequilíbrios do sentimento. No primeiro instante, quis recusar, considerando demasiada a exigência; depois, reconheci que ela estava com a razão. Afinal, o conselho não visava interesses dela e sim o meu próprio benefício. E ganhei muito aceitando-lhe o parecer . Sinto-me mais equilibrada e mais humana e creio viverei com dignidade espiritual minha futura experiência na Terra.
Ora, além de um Espírito superior se interpondo ao livre-arbítrio desse Espírito, exigiu, contra a vontade deste, o cumprimento de uma “sentença”, para que depois ela pudesse reencarnar. Fico me perguntando onde estaria Nosso Lar ou qualquer outra colônia espiritual, que não se interpôs à escolha de Espíritos como o do Assassino Lemaire (Revista Espírita, março de 1858) que julgou ser forte o suficiente para se desafiar em um gênero de provas ante à qual sucumbiu. E quanto ao Espírito de Charles Dupont (O Espírito de Castelnaudary, RE60), que, tendo vivido anteriormente entre selvagens, em outro mundo, escolheu encarnar na Terra, onde, sem ter domínio ainda sobre seus instintos e suas emoções, acabou por matar seu irmão e sua esposa?
Não, não é possível. Nosso Lar, com suas grandes muralhas, reproduz fielmente as falsas ideias terrenas, onde os não “eleitos” são mantidos para fora dos muros. Nosso Lar, com sua plêiade de milhões de Espíritos “devotados aos desígnios superiores”, seria o retrato do egoísmo distraído pelo materialismo pujante.
Quanta diferença com as comunicações frequentemente apresentadas por Kardec de Espíritos superiores! Não há apego à materialidade em suas descrições: suas ocupações são trabalhar pelo Espaço infinito, atuando na Criação:
O que são os vossos palácios e os vossos salões dourados ante as moradas aéreas, o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?
Como os vossos concertos mais melodiosos são tristes e ruidosos, ante esta harmonia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras da alma? Como as vossas grandes alegrias são tristes e insípidas ante a inefável sensação de felicidade que incessantemente satura o nosso ser à maneira de um eflúvio benfazejo, sem nenhuma mescla de inquietação, nenhuma preocupação, nenhum sofrimento! Aqui tudo respira amor e confiança e sinceridade. Por toda parte corações amantes, por toda parte vemos amigos, nada de invejosos e ciumentos. Esse é o mundo em que me encontro, meu amigo, e todos vós o atingireis infalivelmente seguindo o caminho certo.
Entretanto, uma felicidade uniforme logo aborreceria. Não penses que a nossa felicidade esteja livre de vicissitudes. Não se trata de um concerto perpétuo, nem de uma festa sem fim, nem de beatífica contemplação através da eternidade. Não. É o movimento, a vida, a atividade. As ocupações, embora isentas de fadigas, apresentam incessante variedade de aspectos e de emoções, pelos mil incidentes que as continham. Cada qual tem a sua missão a cumprir, seus protegidos a assistir, amigos da Terra a visitar, processos da Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar. Há um vaivém, não de uma rua para outra, mas de um mundo para outro. As criaturas se reúnem, se separam para novamente se juntarem; encontram-se aqui e ali, conversam sobre o que fazem, felicitam-se pelos sucessos obtidos; entendem-se, assistem-se mutuamente nos casos difíceis. Enfim, asseguro-te que ninguém dispõe de um segundo de tempo para se enfadar.
Espírito de Condessa Paula, O Céu e o Inferno
Basta a leitura atenta para perceber que esse Espírito usa figurativamente o termo “moradas aéreas”. Que beleza, que cenário completamente diferente daquele mundo de apego material e falsas necessidades fisiológicas apresentados por André Luiz em sua primeira obra, cuja disparidade lógica com a Doutrina e o bom-senso não podemos explicar até que a metodologia de Kardec, com o uso das evocações, seja recuperada.
Pela mudança de mentalidade, deixaremos o apego ao materialismo para sermos úteis, atuando, conforme nossas possibilidades, no Bem, na Criação Divina. Podemos aprender e ensinar, sempre. Desapegados, no mundo dos Espíritos, não nos ligamos a coisas, nem a formas. Basta-nos a própria criação divina universal: os Universos a percorrer, os processos da Natureza a participar, os planetas a visitar, as almas a socorrer e as com quem aprender. Mas a ideia de Nosso Lar é de um local em que precisamos trabalhar para ganhar “dinheiro espiritual” para, então, podermos comprar uma casinha, onde poderemos ter “utilidades”, como uma cama confortável, uma bonita mesa com cadeiras de mogno espiritual, onde poderemos nos sentar confortavelmente para tomar uma sopinha fluídica (sic). Desculpem o sarcasmo.
Tal como se dá na Terra, a propriedade aqui é relativa. Nossas aquisições são feitas à base de horas de trabalho. O bônus-hora, no fundo, é o nosso dinheiro. Quaisquer utilidades são adquiridas com esses cupons, obtidos por nós mesmos, a custa de esforço e dedicação.
Nosso Lar
Ora, para que uma moradia, se o Espaço infinito nos serve de Lar? Para que uma casa, se o Espírito não sente nenhuma necessidade material? Para que proteção, se não sente medo, nem dor? Para que sopinha ou água, se o Espírito não sente sede? Pra quê “aeróbus“, oh, meu Deus, se o Espírito se transporta pelo pensamento — mesmo os menos elevados?
Não, os Espíritos não precisam de nada disso, e apenas os Espíritos ainda muito perturbados, muito apegados às ideias terrenas, confundem-se ao corpo que deixaram e creem necessitar de descanso, repasto, proteção, etc.
39. Poderíeis dizer-nos quais são as vossas ocupações?
– R. Tenho-as como vós; trato primeiro de me instruir e, por isso, misturo-me às sociedades melhores do que eu; como lazer faço o bem, e minha vida se passa na esperança de alcançar maior felicidade. Não temos nenhuma necessidade material a satisfazer e, por conseguinte, toda a nossa atividade se dirige para o nosso progresso moral.
Espírito da Sra Reynaud, RE59
Há sensações que têm por fonte o próprio estado dos nossos órgãos. Ora, as necessidades inerentes ao corpo não se podem verificar desde que não exista mais corpo. Assim, pois, o Espírito não experimenta fadiga, nem necessidade de repouso ou de alimentação, porque não tem nenhuma perda a reparar. Ele não é acometido por nenhuma de nossas enfermidades. As necessidades do corpo determinam necessidades sociais, que para eles não existem. Assim não mais existem as preocupações dos negócios, as discórdias, as mil e umas tribulações do mundo e os tormentos a que nos entregamos para suprirmos as nossas necessidades ou as superfluidades da vida. Eles têm pena do esforço que fazemos por causa de futilidades. Entretanto, quanto mais felizes são os Espíritos elevados, tanto mais sofrem os inferiores, mas esses sofrimentos se constituem principalmente de angústias que embora nada tenham de físico, nem por isso são menos pungentes.
KARDEC, ibidem.
O caso aqui não é de acusar Chico de falta de cuidado. Chico era a ferramenta de comunicação, como um lápis na mão de um escritor. Não, haveríamos de ter questionado o Espírito que se comunicava, de posse do conhecimento de todos os problemas e todos os cuidados que giram ao redor da mediunidade e da comunicação dos Espíritos. Não foi o que fizemos: simplesmente aceitando, colocando na conta de Chico Xavier o peso da responsabilidade por comunicações que nós deveríamos ter avaliado.
O Espírito da Condessa Paula e as Moradas Aéreas
Muita gente usa o caso desse Espírito, da Condessa Paula, apresentado em O Céu e o Inferno, para dar base às suas teorias de “cidades astrais”.
O que são os vossos palácios e os vossos salões dourados ante as moradas aéreas, o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?
Como os vossos concertos mais melodiosos são tristes e ruidosos, ante esta harmonia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras da alma? Como as vossas grandes alegrias são tristes e insípidas ante a inefável sensação de felicidade que incessantemente satura o nosso ser à maneira de um eflúvio benfazejo, sem nenhuma mescla de inquietação, nenhuma preocupação, nenhum sofrimento! Aqui tudo respira amor e confiança e sinceridade. Por toda parte corações amantes, por toda parte vemos amigos, nada de invejosos e ciumentos. Esse é o mundo em que me encontro, meu amigo, e todos vós o atingireis infalivelmente seguindo o caminho certo.
Infelizmente, muitos param nas leituras dos pontos que lhes interessam. Quando o Espírito fala em “moradas aéreas”, pronto, isso já é suficiente para afirmarem que ela falava das cidades espirituais! A que ponto levam os vieses adotados com pressa…
Logo em seguida à citação de “moradas aéreas”, ele continua:
[…] o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?
Esse Espíritos está falando do Espaço! Não está falando de cidades astrais, mas do Espaço! “Moradas aéres” é uma linguagem figurada para dizer do Espaço, “acima” de nós!
Ela continua:
Entretanto uma felicidade uniforme logo aborreceria. Não penses que a nossa felicidade esteja livre de vicissitudes. Não se trata de um concerto perpétuo, nem de uma festa sem fim, nem de beatífica contemplação através da eternidade. Não. É o movimento, a vida, a atividade. As ocupações, embora isentas de fadigas, apresentam incessante variedade de aspectos e de emoções, pelos mil incidentes que as continham. Cada qual tem a sua missão a cumprir, seus protegidos a assistir, amigos da Terra a visitar, processos da Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar. Há um vaivém, não de uma rua para outra, mas de um mundo para outro. As criaturas se reúnem, se separam para novamente se juntarem; encontram-se aqui e ali, conversam sobre o que fazem, felicitam-se pelos sucessos obtidos; entendem-se, assistem-se mutuamente nos casos difíceis. Enfim, asseguro-te que ninguém dispõe de um segundo de tempo para se enfadar.
O que existe “do lado de lá”, para os Espíritos desapegados, é a atuação na criação divina! É o trânsito pelo Espaço infinito, onde se reúnem, aqui e ali, com outros Espíritos, para atuar nos processos da Natureza, no consolo às almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas! É isso, e não uma vida limitada por paredes e falsas necessidades fisiológicas!