História de Joana D’Arc ditada por ela própria à Senhorita Ermance Dufaux

Aqui Kardec cita o caso de Joana D’Arc, sem se aprofundar nele. Teria ela própria transmitido uma mensagem à senhorita Dufaux, contando a história da heroína de forma mais aprofundada, destacando ter sido médium e explicando sua jornada. Kardec diz que voltará a esse caso, em outra ocasião, mas é interessante citar que ele aceitou tal conteúdo verificando que a médium em questão contava com apenas 14 anos quando o recebeu e que, mesmo sendo de família educada, muito dificilmente teria encontrado nas bibliotecas tais detalhes tão pouco conhecidos sobre a personagem em questão.

Interessante destacar que a senhorita Dufaux teve uma participação importante na própria Revista Espírita, onde, segundo Canuto de Abreu, ela cooperou para a transmissão de valiosas orientações para esse periódico:

No final de 1857, Kardec teve a idéia de publicar um periódico espírita e quis ouvir a opinião dos guias espirituais. Ermance foi a médium escolhida e, através dela, um Espírito deu várias e ótimas orientações ao Mestre de Lion. O órgão ganhou o nome de “Revista Espírita” e foi lançado em Janeiro do ano seguinte.

Também foi o Sr. Dufaux, pai de Ermance, quem muito cooperou na fundação da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, quando conseguiu em apenas 15 dias a autorização para as reuniões da Sociedade (as leis em vigência não permitiam a livre reunião em locais fechados, sendo o próprio Kardec muitas vezes seguido por “policiais”, a fim de verificarem e reportarem seus encontros e reuniões).

Também foi ela grande cooperadora na revisão de O Livro dos Espíritos, na 2a edição da obra.




Reconhecimento da existência dos Espíritos e de suas manifestações

Nesta abordagem um tanto mais extensa, Kardec chama a atenção para o fato de que o as manifestações espirituais encontram-se evidentemente reconhecidas mesmo dentro da Igreja Católica Romana, da qual ele cita grande artigo, publicado à época, na Civiltà Cattolica, de Roma. Muito interessante notar o tom do artigo, onde, por vezes, parece mesmo que estamos lendo um texto do próprio Kardec, dada a lucidez e a honestidade da análise sobre os fatos em questão.

Convém lembrar do caso da obra “Manuscrito do Purgatório”, onde uma Irmã, dentro do contexto da Igreja Católica, recebeu e publicou diversas psicografias de outros irmãos, de dentro do mesmo contexto, já falecidos. A obra é iniciada por uma longa introdução, cheia de poréns e entretantos, visando explicar o acontecido como algo permitido por Deus apenas naquela situação muito estrita, mas que vale a pena uma análise ao menos superficial.




Visões

Aqui Kardec aborda dois casos de visões espirituais. Apesar de sabermos das manifestações espirituais visuais, aqui nenhum deles parece se tratar disso, mas, antes, de fenômenos de dupla vista, sonambulismo ou êxtase, como no último caso, onde o próprio Espírito do encarnado se transporta para outro local, vivendo outras experiências que, depois, vêm a se confirmar. 

“Como os sonhos nada mais são que um estado de sonambulismo natural incompleto, designaremos as visões que ocorrem nesse estado sob o nome de visões sonambúlicas, para distingui-las das que se dão em estado de vigília e que chamaremos de visões pela dupla vista.”

A seguir, separamos um trecho que visa causar uma certa provocação e que abre campo para uma necessária reflexão:

“Quando as visões têm por objeto os seres do mundo incorpóreo, poder-se-ia, aparentemente com alguma razão, qualificá-las de alucinação, porque nada lhes pode demonstrar a exatidão.”

Em outras palavras: será que podemos confiar tanto assim nas “visões” mediúnicas de outros planos e mundos? É preciso, como lembra Kardec, tomar sempre muito cuidado, não acreditando por acreditar naquilo que qualquer um diga.

Cabe fazer uma breve abordagem sobre os extáticos, lembrando que tal mediunidade sonambúlica, que hoje se confunde entre as chamadas “viagens astrais”, carece de conhecimento e vigilância da parte do próprio médium. Frente às maravilhas com as visões, nesse caso específico, poder se afastar de tal forma de seu corpo carnal, fazendo sua ligação com ele tão tênue que chegue, mesmo, a se romper, sob sua vontade de abandoná-lo. Lembrando sempre que “Não é a partida do Espírito a causa da morte do corpo, mas é a morte deste que causa a partida do Espírito.”




Os médiuns julgados

Aqui Kardec aborda um caso ocorrido no qual uma instituição determinou o pagamento de um prêmio àquele que pudesse comprovar alguns fenômenos espíritas, ao que nenhum dos inscritos conseguiu atender, embora, fora dali, muitos deles obtivessem tais fenômenos facilmente, tal como se deu, lembra Kardec, dez anos antes, com alguns sonâmbulos magnetizados, na França, os quais, em outras circunstâncias, “liam livros fechados e decifravam toda uma carta, sentados sobre ela ou colocando-a bem dobrada e fechada sobre o ventre”. 

Já vimos isso recentemente, também. Importante compreender, com essa abordagem, que a espiritualidade não está a nosso mando e não está interessada em tais shows, sobretudo quando se visa, através disso, obter ganhos materiais de qualquer gênero. Aliás, é interessante notar como isso repulsa tanto o Espírito superior quanto o inferior, o que dá margem para uma grande discussão a respeito dos médiuns que se lançam, por exemplo, a ler a sorte.

Também nos traz à lembrança os diversos casos polêmicos nos quais diversos “espíritas” já se envolveram, como aconteceu ao próprio Leymarie, naquilo que ficou conhecido como “O Processo dos Espíritas”, fato que causou grande vergonha ao Movimento Espírita de então, e o conhecido caso da polêmica materialização espiritual, da qual Chico Xavier participou. Não podemos julgar se são caros de pura leviandade ou não, mas são casos bastante complicados, que não desmentem a possibilidade e mesmo a veracidade de tais fenômenos, mas que servem para nos chamar a atenção para alguns pontos:

  1. O Espiritismo conquista muito mais adeptos por sua filosofia consoladora e esclarecedora do que através de fenômenos, ante os quais, aquele que seja decididamente cético, não se tornará menos convencido;
  2. Seres humanos são falíveis, na maioria das vezes mais por invigilância do que por maldade. Não podemos endeusar ninguém, sobretudo quando lembramos que médiuns são, em geral, Espíritos bastante faltosos no passado, que recebem a mediunidade como grata oportunidade de correção de seus desvios;
  3. Os Espíritos não nos atendem quando nós queremos, mas quando eles o querem;
  4. Os Espíritos não se prestam a responder coisas triviais e que estão ao nosso alcance e tampouco se prestam a provar aquilo que é facilmente verificável pela nossa inteligência, tanto quanto um homem de grande conhecimento não se presta a responder às questões já respondidas, às quais muitos não se lançam a pesquisar por pura preguiça.

Escribas e fariseus disseram a Jesus: “Mestre, muito gostaríamos que nos fizésseis ver algum prodígio.” Respondeu Jesus: “Esta geração má e adúltera pede um prodígio, mas não lhe será dado outro senão o de Jonas.”

(Mateus, 12: 38 e 39.)




Evocações particulares

Nesse item, Kardec aborda algumas evocações particulares com a finalidade de promover uma análise com ganho geral.

Sobre isso, aliás, fico me questionando sobre até que ponto devemos realmente desaconselhar que as pessoas busquem tais evocações para obterem alguma consolação a respeito de seus familiares falecidos ou mesmo para buscarem algum aconselhamento pessoal, dado que em minha própria família isso tantas vezes aconteceu de forma espontânea. Não estaria eu me contradizendo? Será que um médium que se preste a tal fim, de forma séria e desinteressada, não cumpre também um papel importante?

Entendemos, porém, que aqui, como em tudo, cabe a grande pergunta: qual a utilidade e a finalidade? Passados mais de 160 anos do “início” do Espiritismo, nós já compreendemos muito bem como é a vida após a morte, a continuidade das nossas imperfeições e virtudes, a necessidade de o encarnado seguir em frente sua vida, sem ficar lamentando sobre os entes desencarnados e, assim, não vemos a necessidade ir até um médium buscar psicografia de cada ente desencarnado. Precisamos realmente avançar sobre esse ponto, buscando cultivar as comunicações com os Espíritos com propósitos mais profundos, o que não exclui, a meu ver, a possibilidade de buscar apoio e, quem sabe, um aconselhamento sobre assuntos sérios e importantes, como o próprio Kardec fazia.

No primeiro caso abordado, fica clara uma comunicação bastante consoladora, pela filha falecida, mas também a verificação de três fatos:

  • Os Espíritos ficam felizes em poder nos auxiliar naquilo que é permitido;
  • Os Espíritos não podem nos informar sobre tudo. Precisamos nos esforçar por seguir com nossas pernas e, assim, termos nosso próprio mérito, que nos estrutura;
  • Suportar as provas com resignação e confiança em Deus, mas de forma ativa, nos permite um grande aproveitamento e, assim, uma grande felicidade no porvir (e mesmo durante a prova);

No segundo caso, “uma conversão”, vemos um caso notório de um pai e um filho que compartilhavam de um pensamento materialista ou, por assim dizer, negacionista da espiritualidade e de Deus. Acontece que, após a morte do pai, o filho teve contato com O Livro dos Espíritos e, tendo o lido, buscou um médium, com intensa curiosidade. Ele queria obter uma comunicação de seu pai, 4 meses após sua morte, a fim de acabar com suas dúvidas (nota-se que o Livro Dos Espíritos causou grande impacto nele).

O pai lhe traz informações pessoais, que confirmam sua legitimidade. Na conversa que se trava, mostra para o filho que a vida realmente continua após o túmulo. Destaco, porém, um trecho que nos chamou a atenção:

15. — Seremos punidos ou recompensados de acordo com nossos atos?

— Se você fizer o mal, sofrerá.

16. — Serei recompensado se fizer o bem?

— Avançará em seu caminho.

Importante relembrar que Kardec buscava a concordância universal e que sempre fazia anotações e considerações a respeito das opiniões contrárias àquilo que já estava estabelecido pelo ensinamento dos Espíritos. 

O trecho em questão denota que faz parte das idéias de Kardec, posto que está expressa pelo pensamento do Espírito comunicante, a compreensão de que ninguém é punido ou recompensado externamente. “Se você fizer o mal, sofrerá”, denota esse entendimento profundo da Doutrina Espírita: o sofrimento nasce como consequência direta de nossas ações, ao passo que a recompensa pelo bom proceder é o avanço em nossos caminhos. Não há pagamento de dívidas, não há julgamentos, punições ou mesmo recompensas externas. 

Isto é mais um ponto que corrobora com a afirmação (factual) de que o item “Código Penal da Vida Futura”, presente no capítulo VII a partir da 4a edição do O Céu e O Inferno, sabidamente adulterada, está em total desacordo com o pensamento do codificador, sobretudo no que tange ao apresentado no item 9º:

Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.




Duendes

Aqui Kardec apenas aborda a questão de que a intervenção de seres incorpóreos, tidos como duendes, diabretes e outros, sempre permeou a humanidade e, em si, não deixa de ser uma verdade. Acontece que, antes do Espiritismo, que a explicou, era tomada como superstição, fruto da imaginação, ou então cercada de superstição.

Aliás, interessante notar como mesmo dentro do Espiritismo essas intervenções são muitas vezes tomadas com conto da carochinha e, por isso, desacreditadas, sem antes serem analisadas.

Por outro lado, é interessante abordar como, há mais de 160 anos, Kardec já buscava explicar, à luz dos ensinamentos dos Espíritos e da razão, esses fatos antes cercados de superstições. Infelizmente, ainda hoje essa superstição ou esse misticismo persistem no meio espiritualista, onde, em algumas religiões, ainda se utlizam de termos e crenças limitantes, mesmo, como é o caso dos chamados “Tranca-Rua”, “Zé Pilantra”, etc, que não passam de Espíritos, da forma simples e pura como eles mesmos já nos ensinaram.




Manifestações Físicas

Aqui tem algo que despertou minha atenção. Há um propósito muito mais profundo, na Revista, que não havíamos compreendido ainda: nela, Kardec, além de buscar a divulgação do Espiritismo às massas, busca também a concordância universal dos ensinamentos!

Bem sabemos que Kardec se utilizou de alguns poucos médiuns, psicógrafos automáticos, para a formulação principalmente das duas primeiras obras. Como, então, ele podia julgar se aquilo que os Espíritos respondiam teria concordância universal, além da concordância com a razão e a lógica? Além das cartas que ele enviava e recebia de vários lugares, com questionamentos e respostas dos Espíritos, também através da Revista Espírita ele encontrava grande fonte desses relatos. 

Assim como Ernesto Bozzano (que. na verdade, seguiu seus passos), Allan Kardec colhia relatos de todas as partes, analisando-os em sua essência e, nos casos mais interessantes, buscava verificar suas procedências, a seriedade dos envolvidos, o desinteresse, etc e, assim, confrontava os conteúdos e fatos dali obtidos com os ensinamentos que lhe eram ou foram transmitidos por meios mais diretos!

Agora falando deste capítulo especificamente, Kardec está abordando conceitos que, mais tarde, serão confirmados em O Livro dos Médiuns, como é o caso da constatação de que os fenômenos físicos são sempre executados por Espíritos Inferiores, como ele evidencia na resposta “Quem faz dançarem os macacos pelas ruas? Serão os homens superiores?” que Espíritos deram a tal questionamento. Isso quer dizer: assim como, naquele tempo, as pessoas que faziam macacos dançarem nas ruas, para ganharem dinheiro, eram pessoas de gênero mais embrutecido, iliteratos, talvez levianas, mas não necessariamento maldosas, assim também acontecia com os Espíritos que faziam as mesas “dançarem”.

Temos, aliás, uma forte evidência disso nos diversos casos de comunicações por pancadas e, principalmente, no caso das Irmãs Fox, onde a maior preocupação do Espírito que alí se comunicava era dar conhecimento de que ele havia sido assassinado naquela localidade, revelando seus despojos escondidos e o autor do crime cometido. Era, portanto, uma comunicação séria, mas não uma comunicação elevada ou sábia.

Kardec destaca que os ensinamentos obtidos através dos relatos na publicação “Le Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans” são muito concordantes com os ensinamentos obtidos também pode ele, dados pelos Espíritos Superiores: o de que um médium sério, bem desenvolvido e equilibrado oferece um ascendente moral sobre esses Espíritos, agindo em favor de atenuar suas manifestações e mesmo de os auxiliarem a encontrarem melhores reflexões.




Respostas dos Espíritos a algumas perguntas

Aqui Kardec faz uma abordagem sobre algumas respostas dos Espíritos a respeito de algumas questões básicas, pertinentes naquele momento. O propósito era demonstrar ao público a clareza, a profundidade e a exatidão dessas respostas, creio. Tomo, desse capítulo, alguns pontos:

  • O Espírito é alguma coisa, que ainda não podemos compreender de completo. Nos falta, ainda, a capacidade de depreender que um ser possa se manifestar sem uma aparência visual ou sem os efeitos que atingem nossos sentidos materiais. Contudo, já compreendemos que o Espírito é a essência, o ser real que, para interagir com a matéria, precisa de um intermediário, chamado de perispírito.
  • O Espírito liberto da matéria não encontra nela nenhum obstáculo nem influência, isto é, pode atravessar objetos e até mesmo o fogo, sem nada sofrer.
  • Apenas os Espíritos inferiores se ocupam de ruídos, movimentos de objetos, etc. Contudo, os Espíritos superiores por vezes se utilizam desses espíritos para atingir um fim útil, como chamar a atenção. Este é um ponto que vai se firmar e se definir claramente em O Livro dos Médiuns, mais à frente.
  • A prova de que um conteúdo vem dos Espíritos, e não apenas da mente do médium ou dos demais presentes, está em que, em grande parte das vezes, o conteúdo transmitido vai contra o pensamento dos encarnados reunidos.
  • Todos os Espíritos são capazes de dar manifestações inteligentes.
  • Nem todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que se lhes fazem, o que, contudo, não os impede de a elas responderem. Disto parte a necessidade de sempre buscar julgar os conteúdos espirituais sob a luz da razão e da concordância.

Além disso, surgiu a grande questão: poderia o próprio Deus entrar em contato diretamente conosco? Bem, nos baseando na forma como o próprio Kardec se expressava, que consideramos bastante justa e ponderada, não temos a consideração de dizer se Deus, ou mesmo Jesus, que é um Espírito de altíssima hierarquia, podem ou não realizar milagres ou tomar ações diretamente. O que o Espiritismo faz é mostrar que existem explicações racionais e mesmo bastante naturais para os fatos ditos milagrosos, deles não se ocupando além disso.

Minha consideração: Deus é Deus, e poderia fazer de tudo; contudo deixa à sua obra e às suas criaturas as tarefas necessárias à sua própria evolução, assim como um bom pai permite que o filho se encarregue ele mesmo de explorar um brinquedo ou de desenvolver uma tarefa em conjunto com outras criancinhas. Aliás, Jesus é justamente o maior exemplo disso, não como uma criancinha, mas como o filho mais velho, que já aprendeu muito, e que vem, em nome do Pai, ensinar aos outros irmãos.




Vários modos de comunicação

Os Espíritos se comunicam de várias formas. As primeiras delas se deram através dos fenômenos da tiptologia e da sematologia que são, respectivamente, as comunicações através de pancadas (por exemplo, 1 batida para sim e 2 para não) e aquelas através do movimento de objetos (por exemplo: o Espírito move uma mesa ou um lápis na direção da letra ou da palavra que deseja comunicar).

Esses, contudo, foram métodos muito rudimentares e mesmo extremamente cansativos para ambos os lados. Além disso, se prestaram muito mais a chamar a atenção para o fato das inteligências espirituais agindo por trás dos fênomenos do que para a transmissão de ensinamentos superiores, poste que se dão a tais fenômenos apenas Espíritos inferiores – embora possam estar “a serviço” de outros Espíritos mais elevados.

O uso do lápis amarrado à cestinha também foi uma forma de sematologia, mas, mais propriamente, é chamado por Kardec, pelo menos nesse momento, de escrita indireta. Muito rapidamente, porém, e a conselho dos próprios Espíritos, esse método foi substituído pela psicografia, onde o próprio médium segura o lápis ou a pena e cede o controle de sua mão ao Espírito comunicante.

A capacidade e a profundidade dessa escrita, obtida pela psicografia, depende muito da capacidade do próprio médium e do Espírito comunicante – em outras palavras, da sinergia entre eles. Alguns obtém longos manuscritos de ordem elevada; outros obtém escritas impossíveis de serem lidas senão pelos próprios médiuns, como se uma espécie de intuição os guiasse.

Também é importante lembrar que a psicografia pode ser mais intuitiva ou mais mecânica. Quando ela é mais mecânica, as mãos do médium podem ser agitadas, controladas, sem que este saiba sequer o que está escrevendo. É o contrário do que acontece no primeiro caso, onde a comunicação vem através da intuição.

Outro gênero de comunicação é o da palavra – aquilo que hoje nós conhecemos como psicofonia. O Espírito toma controle das cordas vocais do Encarnado e transmite sua comunicação. Às vezes, essas comunicações, porém, acontecem sem intermediação corpórea, quais são os casos de vozes que ouvimos no ar ou em nossos pensamentos, como explicaremos a seguir.

É interessante notar que a Revista Espírita nasceu antes de O Livro dos Médiuns, tendo, ela, alguns propósitos muito bem definidos e importantes: o primeiro deles, era propagar ao máximo possível o Espiritismo dentre as massas; o segundo seria o de poder obter relatos de todas as fontes, verificando os conteúdos de forma metodológica e buscando a tão necessária concordância universal. Muitos conteúdos tratados na Revista, de forma séria e sob tal metodologia, foram posteriormente reproduzidos e aprofundados em outras obras, como na citada.

Nesse contexto e nesse momento, Kardec utiliza um termo que nunca mais utilizou – daí a importância do entendimento acima: espiritologia, havendo, então, dois tipos desse fenômeno – o da espiritologia direta e o da espiritologia mediata. Seriam, respectivamente, os casos de comunicações verbais diretas, onde os Espíritos aparecem em estado de vigília, e os casos de comunicações onde palavras e frases soam em nossos pensamentos ou mesmo em nossos ouvidos.

Este é, enfim, um dos primeiros passos, quiça um esboço, de algo muito mais grandioso e profundo que, em pouco tempo, ganharia forma em O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores. Voltaremos a esse assunto futuramente, mas você, caro leitor, pode aprofunda-lo, como a tantos outros, no estudo dessa obra tão necessária e recomendada.




Diferentes Formas de Manifestação

Kardec sempre abordou em O Livro dos Espíritos as Naturezas das Manifestações. Elas podem ser:

Manifestações Frívolas – que emanam de Espíritos levianos, zombeteiros, travessos, maliciosos. São pensamentos que não adicionam nada;

Manifestações Grosseiras – que emanam de Espíritos inferiores para chocar as pessoas. São bem complicadas. Justamente por isso as reuniões não são feitas abertas ao publico;

Manifestações Sérias – não necessariamente são sábias, por não ser um Espírito de maior evolução, mas são sérias pelo assunto importante ao parente, um familiar, um amigo. Trivialidade, às vezes;

Manifestações Sábias, que emanam de Espíritos superiores. São comunicações que  acrescentam algum tipo de ensinamento.

Kardec dizia que cabe a cada um de nós, com estudo, poder identificar, analisar e julgar a manifestação. Importante lembrar que, no nosso entendimento,  não devemos reprimir qualquer tipo de manifestação seja de qual natureza for, pois sempre há um propósito.

Destacamos que Kardec disse: “se é preciso experiência para julgar os homens, mais ainda para julgar os Espíritos”.

Vemos que as comunicações grosseiras são comuns, principalmente, para quem está começando o estudo mediúnico. Em reuniões, é comum o Espírito manifestante usar de xingamentos, falar coisas complicadas, pensamentos baixos, pensamentos maliciosos, sexuais, etc. Há de se ter certa maturidade do grupo, pois pode ter conteúdo bem “pesado”, tanto psicofonico quanto escrito. Muitas vezes o médium fica confuso ao pensar  que o problema é com ele, por ele ter trazido aquela manifestação grosseira. Ele está em treinamento mediúnico então “a sua casa” ainda está aberta para todo tipo de manifestação. É comum  aparecerem espíritos grosseiros. Ele está lá, mas um médium educado sabe diferenciar. O que muda teoricamente é a intenção. Isso tudo exige muita disciplina e treino.

O maior medo do grupo mediúnico é a mistificação. Muitos dos Espíritos se apresentam disfarçados, com palavras bonitas, linguagem evangelizada, etc. para atrair a confiança do médium, mas na realidade são Espíritos apresentando teorias ilógicas, sem fundamentos, prejudiciais às pessoas. O conteúdo é impressionante, aparentemente elevado e bonito. O médium fica fascinado nessa manifestação falsa e muitas vezes, por vaidade e orgulho, fica cego aos sinais. É o que mais tira o médium da seara do bem. Há de se ter discernimento para perceber que não é uma mensagem séria, muito menos sábia – e um dos maiores indícios disso é quando o Espírito se apresenta de forma pomposa ou com grandes nomes históricos. O médium ou o evocador que tenha se empenhado no estudo principalmente do Livro dos Espíritos e o Livro dos Médiuns, contudo, mais facilmente consegue fazer essa distinção.

Quando o grupo mediúnico detecta esse tipo de manifestação grosseira,  devem  se ter muita habilidade para conversar com o médium fascinado, pois há o perigo do médium deixar o grupo. Muitos médiuns se “doem” por acreditar em mensagens desse tipo, deixando-se levar. O médium tem que entender que ele é apenas intermediário, e aceitar o entendimento dos outros membros daquela grupo. Tudo é um aprendizado.

Normalmente,  na conversa após a reunião mediúnica, o médium, humildemente,  deve perguntar como foi sua comunicação, como ele pode melhorar para servir a espiritualidade, ser  melhor entendido, etc. É muito importante que a casa ou o grupo espírita, já que houve o interesse dela se formar com aquele grupo,  busque constantemente cultivar a EVANGELIZAÇÃO de cada um de seus membros, posto que o médium, quando mais buscar sua reforma íntima, menos se deixará aberto por suas imperfeições.