MEHMET – ALI, Antigo Pachá do Egito (Primeira Conversa)

https://www.youtube.com/watch?v=WR8ZR94D9lA&t=4207s

Mehmet-Ali, ou Maomé Ali, 1769 a 1849, foi vice-rei do Egito de 1805 a 1848, na condição de Governador do Império Otomano em nome do sultão.

Considerado como o fundador do Egito moderno, introduziu grandes reformas no país, entre elas: a construção de canais de irrigação para melhor distribuição das águas do Rio Nilo, construção de prédios, instituição de novas leis, impostos, a modernização do exército , etc.. Ele conseguiu considerável autonomia frente ao Império Otomano e também ampliou consideravelmente suas fronteiras. Mais sobre a vida de Mehmet-Ali clique aqui.

Pachá Mehmet-Ali

O Pachá Mehmet-Ali havia morrido há cerca de 10 anos antes dessa evocação, atendo ao pedido de Kardec e seus colegas. Ele disse que viera para os instruir. Eles pediram provas que ele era realmente o Espírito desencarnado do Pachá, no que ele contestou dizendo que o Espirito se revela pela suas palavras, sempre.

Ele disse que estava perto da medium Ermance Dufaux. Ele se “acomodou” em uma cadeira vazia. Ninguém o via.

O Pachá se dizia infeliz (ele usou o termo que estava desgraçado), que estava na condição de errante, que não se lembrava nitidamente de sua existência anterior como Mehmet-Ali…

10. ─ Recordais-vos daquilo que fostes na existência anterior a esta?

─ Eu era um pobre na Terra. Invejei as grandezas terrenas e subi para sofrer.

11. ─ Se puderdes renascer na Terra, que condição escolhereis de preferência?

─ A obscura: os deveres são menores.

12. ─ Que pensais agora da posição que ocupastes ultimamente na Terra?

─ Pura vaidade! Quis conduzir os homens. Sabia eu conduzir-me a mim mesmo?

14. ─ A opinião pública aprecia aquilo que fizestes pela civilização do Egito e por isso vos coloca entre os grandes príncipes. Ficais satisfeito com isso?

─ Que me importa? A opinião dos homens é o vento do deserto que levanta o pó

15. ─ Vedes com prazer os vossos descendentes seguindo o mesmo caminho? Os seus esforços vos interessam?

─ Sim, porque eles têm por objetivo o bem comum.

16. ─ Entretanto sois acusado de atos de grande crueldade. Agora os lamentais?

─ Eu os expio.

17. ─ Vedes aqueles a quem mandastes massacrar?

─ Sim.

18. ─ Que sentimento experimentam eles a vosso respeito?

─ Ódio e piedade.

Revista Espírita abril/1858

O Espírito segue dando suas opiniões a respeito das religiões muçulmana e cristã. Na visão desse Espírito, a primeira ainda era muito materialista, ao passo que a segunda era mais elevada. Diz, inclusive, que considerava que Maomé desvirtuou sua missão, pois quis reinar.

Na opinião de Mehmet-ali, a poligamia era um dos laços que ainda retêm os povos na barbárie; diz, também, entender que a escravidão da mulher não era justificável; diz que a escravidão apenas embrutece o homem; 

Diz ele que a Doutrina Espírita era a Doutrina dos sacerdotes do antigo Egito, que eles recebiam manifestações, tinham a mesma fonte que as recebidas por Moisés, pois eles foram iniciados por eles. Ele continuou dizendo que Moisés queria revelar, enquanto os Sacerdotes Egípcios queriam apenas ocultá-las. Ainda falando sobre as religiões, acrescentou dizendo que todas as religiões-mães estão ligadas entre si por laços quase invisíveis. Elas procedem de uma mesma fonte, sendo irmãs.

Esse Espírito tinha lembranças de outras existências bastante longínquas, dizendo ter vivido no tempo dos faraós por três vezes: como sacerdote(na época de Sesóstris, segundo sua lembrança), como mendigo e como príncipe, sendo a primeira aproximadamente 1900 anos antes de Cristo. Ele dissera que progrediu lentamente.

48. ─ É porque fostes sacerdote naqueles tempos que nos pudestes falar com conhecimento de causa da antiga religião dos Egípcios?

─ Sim, mas não sou suficientemente perfeito para tudo saber. Outros leem o passado como num livro aberto.

Revista Espírita abril/1858

E, então, aparentemente o Pachá se esquiva às últimas perguntas de Kardec, uma sobre o motivo da construção das pirâmides e outra que não chega a ser mencionada.

Essa evocação expressa muito o pesar do Espirito que fez uma encarnação não muito proveitosa para sua elevação moral.




Palestras familiares de além-túmulo: Bernard Palissy (9 de março de 1858)

Por intermédio de evocações anteriores, soube-se que Bernard Palissy, um célebre oleiro do século XVI, habita o planeta Júpiter. Quando evocado, Allan kardec, como era de seu costume, fez-lhe perguntas cujas respostas foram, para mais praticidade de leitura, condensadas em texto do foi dito sobre esse planeta, em várias ocasiões, por outros Espíritos e através de diferentes médiuns. Vejamos o diálogo por tópicos:

Visão geral do Espírito de Bernard Palissy

Bernard Palissy ainda demorou a deixar a superfície do planeta. Confessou ter estado sob o aspecto de uma mulher amorosa e dedicada, em uma missão que durou trinta anos. Disse que era obscuro citar o nome da mulher.

O Espírito traçou, pela mão do Sr. Victorien Sardou, os admiráveis desenhos sobre o planeta Júpiter com o fim de nos inspirar o desejo de nos tornarmos melhores. Disse não se importar com as obras materiais dos esboços, mas, sim, com o sofrimento que o elevou.

Finalmente, argumentou que vem com frequência a esta Terra que habitou várias vezes. Sobre o seu estado físico e moral, estabeleceu uma comparação entre ela e Júpiter dizendo que veio ao nosso globo apenas como Espírito e que ele não tem mais sensações materiais.

Estado físico do globo

A temperatura de Júpiter não pode ser comparada a uma de nossas latitudes, pois ela é suave e temperada; é sempre igual, enquanto a nossa varia.

O Sol aparece aos habitantes de Júpiter em tamanho muito pequeno e, consequentemente, fornece muito pouca luz. Assim, Júpiter é cercado de uma espécie de luz espiritual, em relação com a essência de seus habitantes. A luz grosseira de nosso Sol não foi feita para eles. A atmosfera de Júpiter não é formada dos mesmos elementos que a atmosfera terrestre, pois os homens não são os mesmos. Suas necessidades mudaram.

Lá existe água e mares. A água é mais etérea que a nossa.

Não há vulcões. O globo não é atormentado como o nosso. Lá a Natureza não teve suas grandes crises. É a morada dos bem-aventurados. Nele, a matéria quase não existe. As plantas têm analogia com as nossas, mas são mais belas.

Júpiter com sua lua Europa à esquerda: novidades na atmosfera do planeta recente foto do telescópio Hubble captada em 2020.

Estado físico dos habitantes

A conformação do corpo dos seus habitantes tem relação, sendo considerada a mesma. Sua estatura, comparada com a dos habitantes da Terra, é de seres grandes e bem proporcionados. Maiores que os nossos maiores homens. O corpo do homem é como o molde de seu espírito: belo, onde ele é bom. O envoltório é digno dele: não é mais uma prisão. A densidade específica do corpo humano permite ao homem transportar-se de um a outro ponto, sem ficar, como aqui, preso ao solo.

Lá os os corpos inertes são opacos, diáfanos e translúcidos. Uns têm tal propriedade, outros têm outra, conforme a sua finalidade.

Em relação aos corpos humanos, o corpo envolve o Espírito sem ocultá-lo, como um tênue véu lançado sobre uma estátua. Nos mundos inferiores, o envoltório grosseiro oculta o Espírito aos seus semelhantes, mas os bons nada mais têm a ocultar: cada um pode ler no coração dos outros. Sendo o corpo dos habitantes de Júpiter menos denso que os nossos, é formado de matéria compacta e condensada ou vaporosa que é compacta para eles, mas não para nós. Ela é menos condensada e impenetrável.

Lá existe diferença de sexo. Sexo há por toda parte onde existe a matéria.

A base da alimentação dos habitantes é puramente vegetal, pois o homem é o protetor dos animais. Parte de sua alimentação é extraída do meio ambiente, cujas emanações eles aspiram.

Comparada com a nossa, a duração da vida é mais longa. Eles vivem mais ou menos cinco séculos. Na infância, o homem conserva sua superioridade: a infância não comprime a inteligência nem a velhice a extingue.

Os homens não são sujeitos a doenças.

A vida não está dividida entre o sono e a vigília, mas entre a ação e o repouso.

Sobre as várias ocupações dos homens que lá os eles têm, foi dito que muito teria a falar. Sua principal ocupação é o encorajamento dos Espíritos que habitam os mundos inferiores, a fim de que perseverem no bom caminho. Não havendo entre eles infortúnios a serem aliviados, vão procurá-los onde esses existem: são os bons Espíritos que vos amparam e vos atraem para o bom caminho.

Lá as artes são consideradas inúteis. Para eles, as nossas artes são brinquedos que distraem as nossas dores.

Não existem lá o tédio e o desgosto da vida. O desgosto da vida origina-se no desprezo de si mesmo.

Os habitantes não têm, como nós, uma linguagem articulada. Há entre eles a comunicação pelo pensamento. A segunda vista é, como nos informaram, uma faculdade normal e permanece entre eles. O Espírito não conhece entraves. Nada lhe é oculto. Eles se comunicam sempre e mais facilmente que nós com os outros Espíritos. Não existe mais a matéria entre eles e nós.

O conhecimento do futuro depende do grau de perfeição do Espírito: isso tem menos inconvenientes para eles do que para nós; é-lhes mesmo necessário, até certo ponto, para a realização das missões de que são incumbidos, mas dizer que conhecem o futuro sem restrições seria nivelá-los a Deus. A predição do futuro é por mérito.

A morte não inspira o mesmo horror e pavor que entre nós, pois entre eles já não existe o mal. Só o mau se apavora ante o seu último instante. Ele teme o seu juiz. Os habitantes de Júpiter depois da morte crescem sempre em perfeição, sem passar por mais provas. Não há em Júpiter Espíritos que se submetam a provas a fim de cumprir uma missão, pois só o amor do bem os leva ao sofrimento. Eles não podem falhar em sua missão porque são bons. Só existe fraqueza onde há defeitos.

Perguntado se poderia nomear alguns dos Espíritos habitantes de Júpiter que tenham desempenhado uma grande missão na Terra, foi enumerado São Luís. Não quis nomear outros, pois há missões desconhecidas, cujo objetivo é a felicidade de um só. Por vezes são as maiores e as mais dolorosas.

Júpiter é muito maior do que a Terra e consideravelmente menos denso: seu volume corresponde a 1.321 vezes o da Terra.

Dos Animais

O corpo dos animais é mais material que o dos homens, pois o homem é o rei, o deus planetário. Os animais não se estraçalham mutuamente. Vivem todos submetidos ao homem e se amam entre si. Não há porém animais que escapam à ação do homem, assim como os insetos, os peixes e os pássaros. Todos lhe são úteis.

Os animais são os operários e os capatazes que executam os trabalhos materiais, constroem as habitações etc. O homem não mais se rebaixa para servir ao semelhante. Os animais servidores estão ligados a uma família particular, sob o estado de submissão, sem remuneração.

As faculdades dos animais são desenvolvidas por si mesmos. Sua linguagem é mais precisa e caracterizada que a dos animais terrenos.

Estado moral dos habitantes

As habitações de que ele deu uma mostra nos teus desenhos estão reunidas em cidades como aqui. Aqueles que se amam se reúnem. Só as paixões estabelecem a solidão em torno do homem. Disse que, se o homem ainda mau procura o seu semelhante, que é para ele um instrumento de dor, o homem puro e virtuoso não deve fugir de seu irmão.

Os Espíritos são de diversos graus, mas da mesma ordem. Perguntado se poderia reportar-se especialmente à escala espírita que demos no segundo número da Revista e que nos dissesse a que ordem pertencem os Espíritos encarnados em Júpiter, disse que são todos bons, todos superiores. Por vezes, o bem desce até o mal; entretanto, o mal jamais se mistura com o bem.

Os habitantes formam diferentes povos como aqui na Terra, mas todos unidos entre si pelos laços do amor. As guerras são desconhecidas.

Argumentou que o homem poderá chegar, na Terra, a um tal grau de perfeição que a guerra seja desnecessária. A guerra desaparecerá com o egoísmo dos povos e à medida que melhor seja compreendida a fraternidade.

Os povos são governados por chefes. A autoridade dos chefes está em seu grau superior de perfeição. A superioridade e a inferioridade dos Espíritos em Júpiter, de vez que todos são bons, é medida pela maior ou menor soma de conhecimentos e de experiência; depuram-se à medida que se esclarecem.

Diferente Terra, lá não existem povos mais ou menos avançados que outros, mas entre os povos há diversos graus. Se o povo mais adiantado da Terra fosse transportado para Júpiter, ocuparia a função que os macacos possuem entre nós.

Os povos se regem por leis e não há leis penais, pois não há mais crimes. Quem faz as leis é Deus.

Não há ricos e pobres e nem homens que vivem na abundância e no supérfluo e outros a quem falta o necessário, pois todos são irmãos. Se um possuísse mais do que o outro, com esse repartiria; não seria feliz quando seu irmão fosse necessitado. A ninguém falta o necessário; ninguém tem o supérfluo. Por outras palavras, a fortuna de cada um está em relação com a sua condição. Aquele que tem menos não é infeliz em relação àquele que tem mais. Ele não pode sentir-se infeliz, se não é invejoso nem ciumento. A inveja e o ciúme produzem mais infelizes que a miséria.

Não quis responder em que consiste a riqueza em Júpiter, mas confirmou que existem desigualdades sociais nas leis da sociedade. Uns são mais adiantados que outros na perfeição. Os superiores têm sobre os outros uma espécie de autoridade, como um pai sobre os filhos.

As faculdades do homem são desenvolvidas pela educação. Pode o homem adquirir bastante perfeição na Terra para merecer passar imediatamente a Júpiter, mas na Terra o homem é submetido a imperfeições a fim de estar em relação com os seus semelhantes. Quando um Espírito deixa a Terra e deve reencarnar-se em Júpiter, fica errante durante algum tempo, até encontrar o corpo a que se deve unir para que se tenha livrado das imperfeições terrenas.

Não há várias religiões, pois todos professam o bem e todos adoram um só Deus. Não há templos e um culto, visto que, por templo há o coração do homem; por culto, o bem que ele faz.




Evocação de Espíritos na Abissínia

O Império Etíope, também conhecido como Abissínia, foi um império que ocupou os presentes territórios da Etiópia e da Eritreia, existindo desde aproximadamente o ano de 1270 (início da dinastia salomónica) até 1974, quando a monarquia foi deposta por um golpe de estado. Portanto, ainda existia na época de Allan Kardec.

Kardec abre o artigo citando uma narração de James Bruce (1730 – 1794), um explorador e escritor escocês, em sua obra Voyage aux sources du Nil, em que diz estar estarrecido com as práticas de bruxaria e evocação do diabo praticadas pelo rei de Gingiro, pequeno reinado na parte meridional de Abissínia.

Kardec assinala que, tivesse Bruce conhecido o Espiritismo, veria que não havia ali nada de absurdo (no que tange às evocações). Além disso, seria um povo que, com certeza, guardou grande número de tradições judaicas e algumas ideias rudimentares do Cristianismo em que, por falta de conhecimento, sorveram a ideia do diabo, não entendendo que eram para Espíritos inferiores que faziam seus sacrifícios.

Dois embaixadores que Socínios, ao rei da Abissínia, enviou ao papa, por volta de 1625, e que tiveram de atravessar o Gingiro. Foi, então, necessário que fosse pedido ao rei uma audiência para que a caravana atravessasse seu território. Aconteceu de o rei estar em cerimonial e determinou que o embaixador e seu acompanhante esperassem oito dias para a audiência com ele. Findo o prazo, a comitiva foi recebida.

A área central em laranja corresponde ao território abissiniano.

O que Kardec cogita é que a tão pouca distância ainda havia degradação e ignorância em se fazer tudo mediante consultas a Espíritos estando tão perto dos principais centros intelectuais. Mescla essa ideia com a temperatura local que, sendo quente, poderia ser potencializada em climas frios. Compara os etíopes, que abrangem quase toda a Abissínia, com os gingiranos que nem adoram o diabo, nem pretendem ter com ele qualquer comunicação; bem como não sacrificam homens em seus altares; enfim, entre eles nenhum traço se encontrava dessa revoltante atrocidade.

Nosso codificador continua a censura ao afirmar que o rei de Gingiro sacrificava ao diabo, naquela época de comércio escravo, os pobres coitados que teriam o destino de serem degredados, dado à proximidade daquele reino com o mar, pois, afastados da costa, sua segurança era garantida.

Como vimos, o Sr. Bruce é o narrador da história e, se ele tivesse visto aquilo que hoje testemunhamos, nada de assombroso acharia na prática das evocações usadas em Gingiro. Ele só viu nelas uma crença supersticiosa, enquanto nós encontramos a sua causa no fato de manifestações falsamente interpretadas, que puderam produzir-se lá como em outros lugares documentados.

Para terminar o artigo, ao sacrificar seres humanos, Kardec conclui, com total confiança à luz do Espiritismo, que não podiam atrair ao seu meio Espíritos superiores. Atribui-se à credulidade o fato de os povos bárbaros cultuarem a um poder maléfico os fenômenos que não podiam explicar, pois tratava-se de um povo bastante atrasado moral e espiritualmente.




O Período Psicológico

Kardec traz à reflexão o fato de que o Espiritismo entrava, passados os momentos iniciais de manifestações puramente materiais, no Período Psicológico.

Discorda, todavia, que a Ciência humana estaria encerrada: muito longe disso, ainda teria muito a se desenvolver, no futuro.  

Para melhor entender o artigo, precisamos entender o significado de Psicologia no contexto de Allan Kardec e no contexto atual.

A Psicologia atual

A Psicologia, nos dias atuais, de característica terapêutica materialista, tem 3 vertentes:

Behaviorismo
Tem como objeto de estudo o comportamento. Essa teoria psicológica defende que a psicologia humana ou animal pode ser objetivamente estudada por meio de observação de suas ações, ou seja, observando o comportamento.  Os Behavioristas acreditam que todos os comportamentos são resultados de experiência e condicionamentos.

Psicologia da forma (Gestalt)
É uma doutrina da psicologia baseada na ideia da compreensão da totalidade para que haja a percepção das partes.  A proposta deste modelo é associar praticas cognitivas com as emoções e sentimentos do paciente, para que ele possa enxergar novos meios de encarar as situações difíceis da vida.

Psicologia analítica (Psicanálise)
Psicologia analítica, também conhecida como psicologia junguiana ou psicologia complexa, é um ramo de conhecimento e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung. Ela enfatiza a importância da psique, do inconsciente, dos arquétipos e do processo de individuação.

A Psicologia no contexto de Kardec

No contexto de Kardec, a Psicologia não tinha a característica terapêutica materialista de hoje: ela era uma ciência moral, espiritualista, inserida no contexto do Espiritualismo Racional, e seu principal objetivo era investigar e analisar as leis naturais que regem a natureza humana, inclusive de forma experimental.

Nesse contexto, a Psicologia compreendia o ser humano como um ser constituído de corpo e de alma. A alma, que sobreviveria ao corpo, era a causa primária da psique, não sendo esta um efeito apenas material de química e estímulos.

Antes de Allan Kardec, ou antes do Espiritualismo Racional, a filosofia tradicional tratou da alma de forma especulativa, por meio de sistemas criados por pensadores como Platão, Aristóteles, Leibniz e Kant. O advento da psicologia experimental abriu novo caminho: o das ciências filosóficas, que o Espiritismo vem complementar. Nas palavras de Allan Kardec:

O Espiritismo, a seu turno, vem dar a sua teoria. Ele se apoia na psicologia experimental; ele estuda a alma, não só durante a vida, mas após a morte; ele a observa em estado de isolamento; ele a vê agir em liberdade, ao passo que a filosofia ordinária só a vê em união com o corpo, submetida aos entraves da matéria, razão pela qual muitas vezes confunde causa e efeito

 Allan Kardec – R.E. – Maio de 1864

A psicologia é a ciência que estuda os processos mentais (sentimentos, pensamentos, razão) e o comportamento humano. Deriva-se das palavras gregas: psiquê, que significa “alma” e logia, que significa “estudo de”.

E de que forma o Espiritismo estuda a alma? Através dos fenômenos espíritas que, contudo, não são mais estudados apenas pelo entretenimento ou pela curiosidade, mas, justamente, com o fim de investigar as leis naturais que regem a natureza humana!

E por que tudo isso acabou?

O fim do período psicológico, ou, antes, o crepúsculo das Ciências Filosóficas, segundo Paulo Henrique de Figueiredo, se deu por conta da união do poder da Igreja com o Estado Ditatorial, que eram hostis ao esclarecimento da sociedade e contra a doutrina liberal defendida pelo Espiritualismo Racional.

Importa dizer: o liberalismo nesse contexto não diz respeito a uma liberdade desenfreada, fruto do egoísmo, mas sim a uma liberdade conduzida pela razão e iluminada pela consciência.

Aliado a isso, um forte movimento materialista começa a se levantar na Alemanha, por volta de 1860, e acaba por invadir a França, onde destitui as Ciências Morais da cátedra oficial.

E no Brasil? O Espiritualismo Racional, que formou a primeira escola filosófica estabelecida no país e que chegou a ser implantado na estrutura curricular de ensino, também se deparou com

 […] condições adversas que os primeiros indivíduos conscientes da teoria original enfrentaram quando pretenderam criar um movimento espírita brasileiro. Uma Igreja combativa, lutando para manter seus privilégios e o poder que se esvaía desde o Segundo Império. E uma corrente científica materialista, embalada pelos pensamentos retrógrados de Comte e dos fisiologistas alemães, como Vogt, Moleschott, Virchow e Büchner. A corrente espiritualista racional, bravamente defendida pela liderança de Gonçalves de Magalhães e Porto-Alegre, que se tornaram divulgadores do magnetismo animal e depois do Espiritismo, apesar de contagiar professores e estudantes de seu tempo, logo foi silenciada e esquecida. Em realidade, não foi possível estabelecer em nossas terras o cenário favorável que Kardec encontrou na França

Paulo Henrique de Figueiredo – Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

O resultado disso tudo é o que vemos hoje: uma sociedade totalmente materialista, voltada aos prazeres da carne e esquecida da espiritualidade, amedrontada ante a vida e desesperada ante o túmulo!

O que esperar para o futuro?

Apenas o melhor, porque, da mesma forma que o Espiritualismo Racional nasceu em oposição ao materialismo da época, vivemos agora um fervilhar de iniciativas como a nossa e ainda melhores, que, com certeza, produzirão, em alguns anos, frutos importantíssimos para esta época de mudanças que atravessamos!

Lembra Kardec, com o que encerramos o artigo:

Esses excessos, entretanto, têm a sua utilidade, a sua razão de ser. Eles assustam a sociedade, e o bem sai sempre do mal; é preciso o excesso do mal para fazer sentir a necessidade do melhor, sem isto o homem não sairia de sua inércia

(KARDEC, [RE] 1868, p. 201)




O Sr. Home II

revista espírita março 1858

O Sr Home já havia sido citado por Allan Kardec na edição da Revista Espírita do mês de fevereiro. Kardec parece manter uma afeição grande pela mediunidade e características pessoais do Sr. Home. Nele, vemos um homem dotado de uma faculdade surpreendente. É um jovem de 24 anos, estatura mediana, louro e cuja fisionomia melancólica nada tem de excêntrica; é de compleição muito delicada, de costumes simples e meigos, de caráter afável e benevolente, sobre o qual o contato das grandezas nem lançou arrogância nem ostentação. Dotado de excessiva modéstia, jamais faz alarde de sua maravilhosa faculdade.

Leia a Revista Espírita que aborda o primeiro artigo sobre o Sr. Home clicando AQUI!

O Sr. Home é um médium de diversas faculdades com destaque para as de fenômenos físicos e manifestações inteligentes que, por não ser escrevente, as respostas dos Espíritos são dadas por batidas vibradas.

O que chama a atenção do Sr. Home a despeito de sua mediunidade é que nele a faculdade está desenvolvida de modo excepcional. Sob a influência do Sr. Home fazem-se ouvir os ruídos mais retumbantes e todo o mobiliário de uma sala pode ser revirado e os móveis amontoados uns sobre os outros. Além disso, ele próprio gravita sem se aperceber do fato.

Outro dom notável de todas as suas manifestações produzidas é o das aparições, razão por que nelas mais Kardec insistiu rm comentar, à vista das graves consequências daí decorrentes e da luz que elas lançam sobre uma porção de outros fatos. O mesmo se dá com os sons produzidos no ar; instrumentos de música que tocam sozinhos, etc.

Kardec arremata o artigo falando que a religião nos ensina a existência da alma e a sua imortalidade; o Espiritismo dá-nos a sua prova viva e palpável, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos e que a Doutrina Espírita nos mostra a felicidade na prática das virtudes evangélicas; ela lembra ao homem os seus deveres para com Deus, para com a Sociedade e para consigo mesmo. 

Em nova investida, Kardec conclui que:

“Ajudar na sua propagação (do Espiritismo) é desferir um golpe mortal na chaga do cepticismo que nos invade como um mal contagioso. Honra, pois, aos que empregam nessa obra os bens com que Deus os favoreceu na Terra!”




Confissões de Luis XI

Durante o ano de 1858, Ermance Dufaux recebeu algumas autobiografias mediúnicas. Entre elas, os autores foram os reis franceses Luís XI e Carlos VIII. Allan Kardec elogiou o trabalho da Srta. Dufaux e transcreveu trechos das “Confissões de Luís XI” na Revista Espírita. Nesse mesmo ano, Kardec divulgou três mensagens psicografadas pela jovem sensitiva.

Esta comunicação especificamente não parece ter muita relevância para nós, neste momento. São fatos históricos, utilizados para evidenciar a autenticidade do Espírito comunicante. Destacamos que Luís XI não é São Luís, o Espírito que sempre se comunicava como um dos “mentores” dos estudos de Kardec.

Além deles, ela recebeu autobiografia mediúnica de Joana D’arc, ja mencionada na edição da RE de janeiro de 1858

Para quem quer saber mais sobre a Srta. Ermance Dufaux, clique aqui

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Finalidade de Certas Evocações

Nesse artigo, Kardec demonstra a utilidade da evocação dos Espíritos de todos os gêneros, desde os Espíritos com intuito sério e construtivo até os que cometeram crimes hediondos, pois, “para conhecer os costumes de um povo, é preciso estudá-lo em todos os graus da escala”.

Sendo assim, há sempre o impasse, pois Espíritos superiores tem muito a ensinar, mas nossa distância com relação a eles é bastante grande. Os Espíritos mais “burgueses”, ou seja, Espíritos como nós, mais comuns, presos ainda às preocupações cotidianas, apresentam muitos ensinamentos importantes, por nos tornar capazes de nos vermos em suas próprias ações e seus efeitos. Todos nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, cuja teoria nos ensinam os Espíritos superiores.

Outra vantagem de algumas evocações é constatar a identidade dos Espíritos de modo mais preciso. Quando um Espírito se apresenta sob um grande nome do passado, só é possível crer sob palavra e julgar seu conteúdo sobre o que se conhece. Se o conteúdo atende aos critérios necessários, julgamo-lo Espírito superior, e isso basta. O nome não importa realmente.

Contudo, quando um Espírito de menor evolução se apresenta e dá detalhes que comprovem sua identidade, teremos, aí, grandes exemplos muito “palatáveis”: “é o romance dos costumes da vida espírita sem a ficção”.

Discutimos, também, sobre as nossas vivencias pessoais a respeito de evocações de familiares e amigos.

Particularmente, temos sempre que tomar muito cuidado quanto ao conteúdo do Espírito comunicante, pois ele pode não ser quem diz quem é. Algumas comunicações trazem algum consolo a nós.

A seguir, 3 evocações de 3 Espíritos diferentes: o primeiro é o Assassino Lemaire ( cerca de um mês após desencarne); A Rainha de Oude ( cerca de um mês após desencarne) e Dr. Xavier ( evocação depois de muitos meses após desencarne).




Dr. Xavier

O Dr. Xavier foi um médico de grande talento e que havia se ocupado muito do magnetismo, sobre o qual havia deixado um manuscrito que supunha que viesse revolucionar a Ciência. Antes de morrer havia lido O Livro dos Espíritos e desejado um contato com Allan Kardec, o que não pôde realizar. Meses após sua morte, ocorreu sua evocação, à pedido da família, sendo esta realizada na presença de Kardec. Ele tomou o cuidado de excluir, nesta publicação, as perguntas e respostas de caráter particular.

Observação: a comunicação contém acertos e erros, por parte do Espírito. Kardec apresenta ambos, pois quer nos levar a constatar e a refletir sobre o fato de que o Espírito não se torna sábio ao desencarnar.

nosso comentário

Depois de evocado, Dr. Xavier respondeu às indagações sobre a Doutrina Espirita, sobre o começo da vida, sobre a união do Espirito ao novo corpo, assim como a desunião do Espirito no fim da vida do corpórea.

Dr. Xavier disse que a Doutrina Espirita é uma grande obra, sendo que o seu pior inimigo são as religiões, crenças dos homens. (N. da Autora: Tão atual… Podemos observar que não mudou muita coisa desde então… )

Quando Dr. Xaier foi perguntado sobre o corpo conservar por alguns instantes a vida orgânica após a separação da alma, ele disse que o corpo sente o que lhe provocou a morte somente por alguns instantes.

Na hora da separacão, ele disse:

Perg. 21 – Como se opera a separação entre a alma e o corpo na hora da morte do corpo?

Resp. Dr. – Como um fluido que escapa de um vaso qualquer. 

Perg. 22 – Há uma linha de demarcação realmente nítida entre a vida e a morte?

Resp. Dr. – Esses dois estados se tocam e se confundem; assim, o Espírito se desprende pouco a pouco de seus laços; ele os desenlaça, não os arrebenta.

Perg. 23 – Esse desprendimento da alma opera-se mais prontamente em uns do que em outros?

Resp. Dr. – Sim: nos que em vida já se elevaram acima da matéria, porque, então, sua alma pertence mais ao mundo dos Espíritos do que ao mundo terrestre.

Perg. 23 – Em que momento se opera a união entre a alma e o corpo na criança?

Resp. Dr. – Quando a criança respira; como se recebesse a alma com o ar exterior.

RE março 1858, Dr. Xavier

Observação (Allan Kardec) – Essa opinião é consequência do dogma católico. Com efeito, ensina a Igreja que a alma não pode ser salva senão pelo batismo; ora, como a morte natural intrauterina é muito frequente, em que se tornaria essa alma, privada, segundo ela, desse único meio de salvação, se existisse no corpo antes do nascimento? Para ser coerente, seria preciso que o batismo fosse realizado, se não de fato, pelo menos de intenção, desde o momento da concepção.

Nossa observação – A teoria dada por esse Espírito sobre o instante da união entre a alma e o corpo não é absolutamente exata. A união começa desde a concepção, isto é, a partir do momento em que o Espírito, sem estar encarnado, liga-se ao corpo por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. A encarnação só se completa quando a criança respira.

Segue a conversa com o Espírito de Dr. Xavier sobre a vida intrauterina, sobre o aborto espontâneo e o provocado, sobre como o acontece ao Espirito nessas situações, enfim, sobre a união da alma e do corpo. Este entendimento completo e muito bem explicado está no Livro dos Espiritos, de Allan Kardec, cap VII – Da volta do Espírito a Vida Corporal, União da alma e do Corpo, da questão 344 a 360.

Além das passagens citadas do Livro dos Espíritos, sugerimos consultar o O Céu e o Inferno, Allan Kardec, Segunda Parte: Exemplos, capítulo I. O passamento, Editora Feal onde há uma extensa explicação sobre o que discutimos na LIVE.




A Rainha de Oude

A Rainha de Oude foi evocada. Ela foi uma Rainha Indiana( seu nome era Malika Kishwar) que havia visitado a Inglaterra. Na sua viagem de volta a India, acabou por adoecer e morrer em Paris, no ano de 1858. Mais detalhes aqui Rainha de Oude Daqui para frente vamos chamá-la de rainha.

A rainha se apresentou muito perturbada, sentindo dificuldade de entender o que se passava com ela. Pela sua conversa, pudemos perceber a sua soberba e orgulho. Foram feitas várias perguntas quanto a sua opinião da sua vida terrena, das condições da mulher, da vida dos indianos, sobre Maomé, Deus, Jesus, mas ela disse que era muito poderosa para se ocupar com Deus.

Ela disse que sentia saudade da vida, que esperava que seus súditos viessem lhe sevir. Ela falou mais de uma vez que era sempre rainha, mesmo em outras existencias. Ela era extremamente arrogante.

A rainha, além de perturbada, parecia bem incomodada com as perguntas, o que foi questionada. Ela disse que foi forçada a vir:

Perg. 22 ─ Por que acudistes tão prontamente ao nosso apelo?

Resp. Rainha: – Nao queria fazê-lo, mas forçaram-me. Acaso julgarás que me dignaria responder-te? Quem és tu ao meu lado?

Perg. 23 – E quem vos forçou a vir?

Resp. Rainha: – Eu mesma não sei… posto que nao deve existir ninguém maior do que eu.

A Rainha de Oude, RE março/1858

A conversa cessou assim que teve a intervenção do Espírito de Sao Luis:

Perg. 32 ─ Pedimos apenas a bondade de responder ainda a duas ou três perguntas.

Resp. São Luis – ─ Deixai-a, pobre transviada! Tende piedade de sua cegueira. Que ela vos sirva de exemplo! Não sabeis quanto sofre o seu orgulho.

Pensávamos encontrar nesse Espírito, se não a filosofia, pelo menos um mais verdadeiro sentimento da realidade e ideias mais sadias sobre as vaidades e grandezas terrenas. Longe disto, nela as ideias terrenas conservavam toda a sua força: é o orgulho, que nada perde de suas ilusões.

Esta descrição de evocação se encontra também no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Segunda parte, cap. VII – Espíritos Endurecidos.




O Assassino Lemaire

Neste artigo, Kardec relata o caso de um assassino chamado Lemaire. Ele foi invocado depois de sua execução ocorrida em 31 de dezembro de 1857 em Paris.

Lemaire era um jovem de 23 – 24 anos. Foi diversas vezes preso por roubo seguido de assassinatos mais de uma vez. Fugiu da prisão, foi retido novamente. Ele era temido pela sociedade. Aqui tem artigo em francês sobre sua vida.

Quando invocado por Kardec, através da Srta. Raquel, imediatamente se manifestou para os questionamentos. Em suas palavras, observou-se o nítido arrependimento de seus atos. Além disso, estava envergonhado.

Lemaire contou que encontrava suas vítimas que assassinou e sentia remorso. Sua dor moral era insuportável,

– Elas têm ódio e desejo de vingança?

Não. Suas preces atraem para mim a expiação. Não podeis avaliar que horrível suplício é tudo dever àquele a quem se odeia.

Na RE, Assassino Lemaire, pergunta 20.

Ainda acrescentou, através de respostas de seus invocadores, o seguinte:

 ─ Como pensas resgatar os crimes?

─ Por novas provas, mas me parece que a Eternidade está entre mim e elas.

pergunta 32

Ele estava muito perturbado, o que deve ter provocado neles vontade de poder dar algum tipo de conforto ao Espírito de Lemaire.

Esta evocação também está descrita no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Segunda Parte, cap. VI – Criminosos arrependidos.