Espiritismo e Saúde Mental
Hoje, 10 de outubro, é Dia Internacional da Saúde Mental. E, como assunto de tal importância, não poderíamos deixá-lo passar em branco.
Iniciamos afirmando que, por ser de extrema importância, os menores sinais de inquietação e desequilíbrio, sejam eles de estresse descontrolado, melancolia/depressividade e outros transtornos, deveriam sempre motivar a busca por um acompanhamento psicológico profissional. Muitas de nossas inquietações partem não só de aspectos profundamente enraizados dentro de nós, mas também, muitas vezes, de desequilíbrios orgânicos. Somos Espíritos encarnados em um corpo, sendo que estes estão sujeitos às vicissitudes da matéria.
Isto colocado, avancemos para o aspecto espiritual de nossa saúde mental. Para nós, espíritas e, de forma global, para todo espiritualista, o cérebro não é apenas um reflexo químico e orgânico, mas é, antes, o órgão de expressão do Espírito, embora abafado em sua face real. Assim sendo, o Espírito – ou a alma – é quem preside à vontade, às escolhas e, numa palavra, ao livre-arbítrio.
Reconhecendo-nos, portanto, numa espécie de dualidade entre Espírito e matéria, compreendemos que todo tratamento que aborde a mente deveria abordar o indivíduo de forma holística, ou seja, integral, integrando corpo e Espírito. É claro que um bom acompanhamento psicológico profissional muito fará nesse sentido, mas não podemos negar que, ao abarcar a esfera espiritual existente, o tratamento sempre trará muito mais proveito nesse sentido.
O que estamos aqui tentando fazer é demonstrar que, em se tratando de saúde mental, não podemos ver tudo apenas pelo aspecto espiritual – sobretudo a respeito das prováveis obsessões espirituais – mas também pelo aspecto orgânico e fisiológico da questão. Por exemplo: podemos pensar que uma pessoa que vive estressada e que tenha eventos de descontrole emocional esteja sendo vítima de uma obsessão espiritual, quando, porém, ela apenas tem sintomas de pré-diabetes, o que lhe causa hipoglicemia, que leva a tais descontroles.
Não podemos, portanto, como espíritas, no acolhimento de quem e onde quer que seja tratar tudo como se fosse “problema espiritual”, o que seria muita irresponsabilidade. É sempre importante investigar o que se passa com o indivíduo, buscando saber se está fazendo acompanhamento psicológico, se está se tratando e, se não estiver, buscar encaminhar o irmão para tal tratamento.
Por outro lado, é importante destacar, sim, que o Espiritismo apresenta uma faceta importantíssima nesse aspecto, à medida que esclarece o indivíduo sobre as razões das dificuldades da vida e sobre a nossa relação constante com o mundo espiritual à nossa volta. Ora, quantos casos de loucura não se iniciam, também, por uma mente aberta e invigilante aos pensamentos de Espíritos da terceira ordem? Quantas vezes não somos alimentados, por conta de nossas imperfeições, nos mais sutis processos de alienação mental que, lentamente, vão nos provocando manias, medos e distúrbios variados?
Posto que somos Espíritos encarnados em um corpo e que quem comanda a nossa vontade é nosso Espírito, é claro que a raiz de todos os nossos problemas estará sempre no Espírito – mesmo no caso do pré-diabético, já que é por um mau hábito na alimentação, provocado por “seu Espírito”, que tal mal se instalou. Portanto, nesse sentido também, quanto mais o Espírito entende dos dispositivos e dos propósitos da vida, da necessidade da correção de suas imperfeições, do benefício da oração sobre a mente e do fato da associação mental, com encarnados e com desencarnados, segundo nossas inclinações mentais, mais lhe será fácil se manter mais equilibrado mentalmente.
Mas, e no caso de um processo de desequilíbrio já instalado? Aqui, como já dissemos, em primeira instância não podemos dispensar o tratamento psicológico profissional. Isso é imprescindível. Em segundo lugar, através do Espiritismo e do Magnetismo, podemos oferecer também um tratamento muito proveitoso:
- Através da oração, buscar auxiliar o encarnado e os possíveis desencarnados na melhoria de seu campo mental;
- Através do passe magnético, que pode ser feito inclusive pelos familiares, podemos buscar auxiliar diminuir os distúrbios e reflexos de tais desequilíbrios;
- Afinal, porém, não podemos nos esquecer que o indivíduo que está passando por um grave distúrbio mental, como é o caso da esquizofrenia, pode ter uma necessidade em vivenciá-lo, fazendo mesmo parte de um planejamento reencarnatório, por razões como, por exemplo, fazê-lo se desligar um pouco de processos mentais antigos, que muito o afligem. Portanto, orar e buscar ajudar sempre, com fé, mas não esmorecendo ante à não cessação completa da doença.
Finalizando o assunto, gostaríamos de destacar que diferenciar os distúrbios patológicos dos casos de obsessão mediúnica é sempre muito importante, visto, como Kardec já identificou àquela época, que no último caso a medicação pode ser até prejudicial:
Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, tem as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequente, é independente de qualquer crença no Espiritismo e existiu em todos os tempos. Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial.
Allan Kardec – O que é o Espiritismo?
Também não poderíamos de deixar de citar, aqui, na íntegra, o texto “O suicídio e a loucura”, de Allan Kardec, no cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo:
14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.
15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.
16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa consequência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.
17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contra por à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a consequência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.