A Rainha de Oude

A Rainha de Oude foi evocada. Ela foi uma Rainha Indiana( seu nome era Malika Kishwar) que havia visitado a Inglaterra. Na sua viagem de volta a India, acabou por adoecer e morrer em Paris, no ano de 1858. Mais detalhes aqui Rainha de Oude Daqui para frente vamos chamá-la de rainha.

A rainha se apresentou muito perturbada, sentindo dificuldade de entender o que se passava com ela. Pela sua conversa, pudemos perceber a sua soberba e orgulho. Foram feitas várias perguntas quanto a sua opinião da sua vida terrena, das condições da mulher, da vida dos indianos, sobre Maomé, Deus, Jesus, mas ela disse que era muito poderosa para se ocupar com Deus.

Ela disse que sentia saudade da vida, que esperava que seus súditos viessem lhe sevir. Ela falou mais de uma vez que era sempre rainha, mesmo em outras existencias. Ela era extremamente arrogante.

A rainha, além de perturbada, parecia bem incomodada com as perguntas, o que foi questionada. Ela disse que foi forçada a vir:

Perg. 22 ─ Por que acudistes tão prontamente ao nosso apelo?

Resp. Rainha: – Nao queria fazê-lo, mas forçaram-me. Acaso julgarás que me dignaria responder-te? Quem és tu ao meu lado?

Perg. 23 – E quem vos forçou a vir?

Resp. Rainha: – Eu mesma não sei… posto que nao deve existir ninguém maior do que eu.

A Rainha de Oude, RE março/1858

A conversa cessou assim que teve a intervenção do Espírito de Sao Luis:

Perg. 32 ─ Pedimos apenas a bondade de responder ainda a duas ou três perguntas.

Resp. São Luis – ─ Deixai-a, pobre transviada! Tende piedade de sua cegueira. Que ela vos sirva de exemplo! Não sabeis quanto sofre o seu orgulho.

Pensávamos encontrar nesse Espírito, se não a filosofia, pelo menos um mais verdadeiro sentimento da realidade e ideias mais sadias sobre as vaidades e grandezas terrenas. Longe disto, nela as ideias terrenas conservavam toda a sua força: é o orgulho, que nada perde de suas ilusões.

Esta descrição de evocação se encontra também no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Segunda parte, cap. VII – Espíritos Endurecidos.




O Sr. Home

O Sr. Home foi personalidade muito conhecida à época de Kardec. Médium de efeitos físicos poderoso, atesta Kardec sua integridade moral, sua seriedade e sua introspecção no trato do assunto. Quanto à sua fortuna, não se faz crítica, pois é algo que apenas a ele diz respeito.

Nota-se com facilidade, pela leitura do artigo, que a ida do Sr. Home não se deu por acaso, mas por planejamento superior. Tendo lá ido parar por motivos de saúde, apresentou, aí, o “golpe fatal” contra a dúvida que existia a respeito das manifestações espíritas – algo muito semelhante àquilo que, anos antes, deu lugar nos Estados Unidos, como relata Ernesto Bozzano em “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”. Citando Kardec,

A França, ainda em dúvida no que concerne às manifestações espíritas, precisava que lhe fosse desferido um grande golpe; foi o Sr. Home quem teve esta missão e, quanto mais alto foi o golpe, maior foi a sua repercussão. A posição, o crédito, as luzes dos que o acolheram e que se convenceram pela evidência dos fatos, abalaram as convicções de muita gente, mesmo entre as pessoas que foram testemunhas oculares.

Após comentar sobre alguns fatos da vida do Sr. Home, evidenciando os diversos indícios que denotam suas seriedade e honradez, Kardec fala sobre o gênero de mediunidade desse senhor, muito semelhantes àqueles obtidos por Jonathan Koons, conforme conta Bozzano na obra supracitada:

O Sr. Home é um médium do gênero dos que produzem manifestações ostensivas, sem excluir por isto as comunicações inteligentes, mas as suas predisposições naturais lhe dão para as primeiras uma aptidão toda especial. Sob sua influência ouvem-se os mais estranhos ruídos; o ar se agita; os corpos sólidos se movem, levantam-se, transportam-se de um lado a outro, através do espaço; instrumentos de música produzem sons melodiosos; aparecem seres do mundo extracorpóreo que falam, que escrevem e que por vezes nos abraçam até produzir dor. Muitas vezes ele próprio se viu, em presença de testemunhas oculares, elevado, sem apoio, a vários metros de altura.

A faculdade de Home não exclui o contato com os Bons Espíritos. Contudo, através da ação dos Espíritos inferiores, ele se torna uma ferramenta de divulgação do Espiritismo, tarefa muito valorosa, mas não sem perigos e tribulações, que ele realizou com muita resignação e perseverança.

A faculdade do Sr. Home é inata e se manifestou desde seus primeiros meses de vida, quando seu berço balançava sozinho e mudava de lugar. “Em seus primeiros anos era tão débil que mal se sustinha; sentado no tapete, quando não alcançava os brinquedos, estes vinham pôr-se ao seu alcance“. Kardec reitera a índole de Home:

Se o Sr. Home fosse, como o pretendem os que julgam sem ver, somente um hábil prestidigitador, teria sempre, sem a menor dúvida, mágicas prontas em sua sacola. Entretanto, não é senhor de produzi-las à vontade. Ser-lhe-ia impossível dar sessões regulares, pois muitas vezes, no momento exato em que tivesse necessidade de sua faculdade, esta poderia faltar. Por vezes, os fenômenos se manifestam espontaneamente, no momento em que menos se espera, enquanto que doutras vezes não é possível provocá-los, o que é uma circunstância pouco favorável para quem quisesse fazer exibições com hora marcada.

Por fim, Allan Kardec encerra mencionando um fato ocorrido a portas fechadas, de forma espontânea e sem as diversas testemunhas possíveis, senão seu criado e um amigo, fato que demonstra, ao olhar de Kardec, que não o Sr. Home não buscava alarido e não tinha motivos para enganar a apenas duas pessoas.




Mademoiselle Clairon e o fantasma

https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/20/revista-espirita-jornal-de-estudos-psicologicos-1858/4367/fevereiro/mademoiselle-clairon-e-o-fantasma

Kardec traz a história de uma atriz, escrita por ela mesma, já em seus 60 anos de idade. Nela, Clairon conta que, um homem que por ela se apaixonou, após morrer, passou a assombrá-la por dois longos anos – por raiva de sua indiferença.

Conta ela que, dia após dia, e testemunhado por muitas outras pessoas, inclusive policiais, passou a sofrer diversos episódios bastante singulares:

  • Gritos lancinantes sob sua janela, quase todas as noites, às 23 horas.
  • A certa altura, os gritos se transformaram em “tiros de fuzil” que, embora não atingissem materialmente a nada, nem mesmo aos vidros, promoviam distúrbios sonoros e luminosos, acreditando-se, quem os presenciava, alvo de um atirador.
  • Certa feita, teriam eles sido “atingidos” por uma bofetada, proferida pelo fantasma:

“Acostumada ao meu fantasma, que eu considerava um pobre diabo que se limitava a fazer estripulias, não me apercebi da hora. Como fazia calor, abri a janela malsinada e, com o intendente, nos debruçamos no balcão. Batem as onze horas, ouve-se o tiro e ambos somos atirados ao meio da sala, onde caímos como mortos. Tornando a nós mesmos e sentindo que tudo havia passado, examinando-nos para constatar que ambos havíamos recebido ─ ele na face esquerda e eu na face direita ─ a mais terrível bofetada que jamais poderia ser aplicada, nos pusemos a rir como dois loucos”

Um escritor anônimo teceu comentário atribuindo os relatos à imaginação da moça, posto que tudo teria acontecido na época em que “ela tinha de vinte e dois anos e meio a vinte e cinco anos, que é a idade da inspiração e que esta faculdade nela era continuamente exercitada e exaltada pelo gênero de vida que levava, no teatro e fora dele”. Segue o autor: “É preciso ainda lembrar que ela disse, no começo de suas memórias, que na infância foi entretida apenas com aventuras de aparições e de feiticeiros, que lhe diziam tratar-se de histórias verídicas.”.

O comentário sem assinatura parece remeter ao fato de que Clairon demonstrava, em tudo, que apenas exagerava uma imaginação fértil. Contudo, Kardec contrapõe:

“Só conhecemos o fato através do relato de Mademoiselle Clairon. Assim, só podemos julgar por indução. Ora, nosso raciocínio é o seguinte: Descrito pela mesma Mademoiselle Clairon nos seus mais minuciosos detalhes, o fato tem mais autenticidade do que se fora relatado por terceiros. Acrescente-se que quando escreveu a carta onde o fato vem descrito, contava cerca de sessenta anos e, pois, havia passado da idade da credulidade, de que fala o autor da nota. Esse autor não põe em dúvida a boa-fé de Mademoiselle Clairon quanto à sua aventura: apenas admite tenha ela sido vítima de uma ilusão. Que o tivesse sido uma vez, nada tem de extraordinário, mas que o tivesse sido durante dois anos e meio já se nos afigura mais difícil. Mais difícil ainda é supor que tal ilusão tenha sido partilhada por tantas pessoas, testemunhas auriculares e oculares dos fatos, inclusive pela própria polícia.”

Kardec segue, dizendo que o relato parece provável, mas, como bom pesquisador, não a aceita como absoluta verdade, posto que não a pôde analisar mais de perto. Sobre os fatos, lembramos que não estão em desacordo com os ensinamentos espíritas e os fatos já conhecidos, tais como os de efeitos físicos diversos. Aliás, lembramos que existem estudos bastante sérios sobre tais fatos, conforme relatados e analisados, com muita seriedade, pelo pesquisador Espírita Ernesto Bozzano. Citamos as obras “Fenômenos de Transporte” e “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”, recomendando a leitura, além de O Livro dos Médiuns, que apresenta importante introdução teórica aos fenômenos do tipo.

Sobre o fantasma, nota-se, diz Kardec, que se trata não de um Espírito necessariamente mau, mas, sim, de um Espírito inferior (palavra nossa), cheio de paixões e imperfeições:

A paixão violenta sob a qual sucumbiu como homem, prova que nele predominavam as ideias terrenas. Os traços profundos dessa paixão, que sobreviveu à destruição do corpo, provam que, como Espírito, ainda se achava sob a influência da matéria. Sua vingança, por mais inofensiva que fosse, denota sentimentos pouco elevados. Se, pois, nos reportarmos ao nosso quadro da classificação dos Espíritos, não será difícil determinar-lhe a classe: a ausência de maldade real o afasta naturalmente da última classe, a dos Espíritos impuros, mas evidentemente tinha muito das outras classes da mesma ordem, pois nada nele poderia justificar uma posição superior.

Sugestões de Leitura

  • “Fenômenos de Transporte”, por Ernesto Bozzano
  • “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”, idem
  • O Livro dos Médiuns, por Allan Kardec



Isolamento dos corpos pesados

O movimento imprimido aos corpos inertes pela vontade é hoje de tal modo conhecido que seria quase pueril relatar fatos do gênero.

Kardec inicia assim esse artigo, dizendo algo mais ou menos assim: “que as mesas podem ser elevadas do chão pela força psíquica, isso já é fato conhecido”. Hoje nos parece muito estranho pensar dessa forma. Por quê?

O fenômeno já era amplamente aceito – e estudado

Precisamos compreender que o Espiritismo surgiu em meio ao movimento chamado Espiritualismo Racional, adotado, na França, principalmente, como oposição ao movimento materialista e às velhas religiões escravizadoras do pensamento. Segundo FIGUEIREDO, 2019, o Movimento, “caracteriza- se pela adoção de metodologia científica, buscando fazer com o ser humano o que se conquistou com sucesso ao estudar a matéria: a compreensão das leis naturais que o fundamentam. Ou seja, substituiu a fé cega por uma fé racional, exigência dos novos tempos”¹. 

Naquela época e naquele contexto, as ciências morais estudavam tudo o que nascesse da ação humana, e isso incluía o estudo dos fenômenos psicológicos¹ do magnetismo e do sonambulismo, dentre tantos outros. Pois bem: o Espiritismo, tendo nascido em momento tão favorável, se desenrolou facilmente e, justamente por isso, conquistou rapidamente incontáveis adeptos, dentre os quais muitos, talvez a maioria, eram pessoas cultas, sérias e dedicadas às ciências. Tudo isso para trazer o relevante entendimento de que o Espiritualismo Racional já se ocupava, antes do nascimento do Espiritismo, dos fenômenos “supranormais”, como chama Bozzano, dentre os quais a magnetização de um objeto pesado, como uma mesa, que então se movia e se levantava, contra as leis conhecidas da Física, era fato conhecido e estudado.

As ciências psicológicas tratam das leis naturais que regem a natureza humana. E essas leis são de duas espécies, as experimentais ou empíricas, exprimindo os resultados da experiência do espírito humano tal como ele é, e as outras são ideais, representando o fim para o qual devemos encaminhar nossas faculdades por meio da evolução, ou tal qual elas deveriam ser. O estudo do ser humano em seu estado real é a psicologia experimental propriamente dita. (FIGUEIREDO, 2019)

Kardec, o Sr Fortier e as mesas girantes

Aliás, neste momento, interrompemos para voltar a Kardec, que conta sobre seu contato com o Sr. Fortier, conhecido magnetizador:

Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei um dia o Senhor Fortier a quem eu conhecia desde muito e que me disse: Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade. – ‘É, com efeito, muito singular, respondi; mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam’. Os relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em Marselha, e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

Kardec, A., Obras Póstumas, Rio: FEB, 1964. p. 237

Nota-se que Kardec aceitava tranquilamente os fenômenos em questão, sendo que a mesa girante não foi seu primeiro contato com o magnetismo. Contudo, pouco tempo depois, um novo episódio vai marcar para sempre sua história com o Espiritismo nascente: 

Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde. – Isto agora, repliquei-lhe, é outra questão. Só acreditarei quando o ver e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé.” [grifos nossos]

ibidem

Voltando ao artigo em questão…

Tudo que foi acima exposto nos serve para possamos compreender, racionalmente, a lógica que levava Kardec a aceitar tão tranquilamente isolamento (e o movimento) dos corpos pesados. Segue ele fazendo análise parecida com aquela feita ante ao relato do sr Fortier, quando dissera que as mesas respondiam inteligentemente: se há inteligência, há uma causa inteligente. Onde, pois, estará essa causa?

É importante destacar, conforme Kardec demonstra no artigo, que precisamos ter muita calma para analisar tais fatos e seus relatos, a fim de que a imaginação sobreexcitada não faça o fenômeno parecer “passe de mágica”: para se chegar ao levantamento de um corpo pesado, são necessárias muita concentração e diversas investidas, com as quais o fenômeno parece ganhar cada vez mais força, não acontecendo num estalar de dedos.

Também é digno de nota que Kardec menciona que os fatos obtidos “em casa do Sr. B…” se deram repetidamente, mesmo sem o contato das mãos e na presença de diversas testemunhas, inclusive daquelas “muito pouco simpáticas” e que não deixariam de levantar suspeita se tivessem motivo para tal. O mesmo tipo de fenômeno também ocorria facilmente em diversas outras casas.

Recomendações de Leitura

Para aprofundar o estudo, recomendamos, além das obras “Fenômenos de Transporte” e “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”, de Ernesto Bozzano, o estudo de O Livro dos Médiuns, onde, nos capítulos I, II, III, IV e V da Segunda  Parte, uma extensa abordagem teórica sobre o assunto é realizada.

Também recomendamos o livro “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo“, por Paulo Henrique de Figueiredo


  1. É por isso que a Revista Espírita recebe o nome “Jornal de Estudos Psicológicos”, em perfeita concordância com o entendimento das ciências morais no contexto histórico e social de Allan Kardec.
  2. FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, 2019, editora FEAL



A floresta de Dodona e a estátua de Memnon

Kardec inicia esse artigo contextualizando o leitor no ambiente de uma sala, como em inúmeras outras, onde ocorriam os fenômenos tiptológicos tão comuns naquela época. Afastando a possibilidade de fraude, por conhecer o meio em que se encontrava, para procurar hipóteses válidas para a causa desses fenômenos, segue desenrolando uma sequência lógica e racional de ideias, a fim de demonstrar a necessidade de nunca aceitar qualquer ideia, positiva ou negativa, de forma cega:

Um jovem bacharelando estava em seu quarto, estudando pontos do exame de Retórica, quando bateram à porta. Penso que todos admitem ser possível distinguir a natureza do ruído, e sobretudo na sua repetição, se é causado por um estalo da madeira, pela agitação do vento ou por qualquer outra causa fortuita, ou se é alguém que bate, querendo entrar. Neste último caso o ruído tem um caráter intencional, que não pode ser confundido. É o que pensa o nosso estudante. Entretanto, para não se incomodar inutilmente, quis certificar-se, pondo à prova o visitante. Se for alguém, diz ele, bata uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes; bata no alto, em baixo, à direita ou à esquerda; bata o compasso musical; bata a chamada militar, etc., e a cada um desses pedidos, o ruído obedece com a mais perfeita exatidão. Com certeza, pensa ele, não pode ser o estalo da madeira, nem o vento, nem mesmo um gato, por mais inteligente que seja. Eis um fato. Vejamos a que consequências seremos conduzidos pelos argumentos silogísticos.

Assim, ele fez o seguinte raciocínio: Ouço um barulho, logo, é alguma coisa que o produz. Esse barulho obedece às minhas ordens, portanto, a causa que o produz me compreende. Ora, o que compreende tem inteligência, portanto a causa desse barulho é inteligente. Se é inteligente, não é a madeira nem o vento; se, pois, não é a madeira nem o vento, é alguém. Então foi abrir a porta. Vejamos que não é preciso ser doutor para chegar a esta conclusão e julgamos nosso futuro bacharel suficientemente aferrado aos seus princípios para concluir do seguinte modo:

Suponhamos que ao abrir a porta ele não encontre ninguém, e que o barulho continue exatamente como antes. Ele seguira o seu sorites¹: “Acabo de provar a mim mesmo, sem contestação, que o barulho é produzido por um ser inteligente, uma vez que responde ao meu pensamento. Ouço sempre esse barulho à minha frente e é certo que não sou eu quem bate, portanto, é um outro. Ora, se esse outro eu não vejo, claro que ele é invisível. Os seres corporais que pertencem à Humanidade são perfeitamente visíveis. Este que bate, sendo invisível, não é um ser humano corpóreo. Ora, desde que chamamos Espíritos os seres incorpóreos, aquele que bate, não sendo corpóreo, é pois um Espírito”.

Embora Kardec tenha feito uma simplificação, pois não abordou a necessidade de procurar possíveis causas escondidas, responsáveis pelas “batidas na porta” (o que ele sempre buscava fazer) fica evidente uma linha de pensamentos lógicos bastante clara e simples que, se fosse seguida, faria muitos deixarem de cair em contradições e negações ante àquilo que é tão claro e evidente.

Era dessa forma, quando dos fenômenos de tiptologia, que se obtinham as respostas sobre os questionamentos feitos aos Espíritos: através de pancadas, de forma ou número definidos, indicava-se letras, números, respostas binárias e etc, além de, para uma comunicação mais desenvolvida, muitas vezes indicarem, por um sinal particular, que desejava escrever; “então o médium escrevente tomava o lápis e transmitia seu pensamento por escrito”.

Entre os assistentes, não falando dos que estavam em volta da mesa, mas de todas as pessoas que enchiam o salão, havia incrédulos autênticos, meio crentes e crentes fervorosos que, como se sabe, constituem uma mistura pouco favorável. Os primeiros, nós os deixamos à vontade, esperando que a luz se faça para eles. Respeitamos todas as crenças, mesmo a incredulidade, que constitui uma espécie de crença, quando essa se respeita suficientemente para não chocar as opiniões contrárias. Assim, pois, não diremos que suas observações sejam destituídas de utilidade. Seu raciocínio, muito menos prolixo que o do nosso estudante, geralmente pode ser assim resumido: Eu não creio em Espíritos, portanto, não podem ser Espíritos, e como não são Espíritos, é um truque. Tal suposição os leva a admitir que a mesa teria um maquinismo, à maneira de Robert Houdin.

Kardec cita os assistentes, ou testemunhas, destacando aqueles que estavam convencidos de que tudo era uma farsa, apresentando sua lógica de pensamento. Segue apresentando a resposta:

Primeiro, seria preciso que todas as mesas e todos os móveis tivessem maquinismos, uma vez que não os há privilegiados; segundo, não se conhece qualquer mecanismo suficientemente engenhoso para produzir à vontade todos os efeitos que acabamos de descrever; em terceiro lugar, seria necessário que a Sra. B… tivesse preparado propositalmente paredes e portas de seu apartamento, o que é pouco provável; em quarto lugar, enfim, teria sido necessário preparar ainda as mesas, as portas, as paredes de todas as casas onde semelhantes fenômenos se produzem diariamente, o que também não é de presumir-se, porque então seria conhecido o hábil construtor de tantas maravilhas.

Vê-se que esses não querem tomar o caminho do bacharelando e, de antemão, já se decidiram por desacreditar.

Temos, também os “meio-crentes”, aos quais Kardec recomenda que voltem aos argumentos do futuro bacharel.

E, dentre os crentes, há ainda três nuances, outros três tipos de crentes: os curiosos, que não tiram proveito moral dos fenômenos em questão; os instruídos e sérios, que o fazem; e os crentes de fé cega, que creem na mesa como creriam num oráculo (sacerdote encarregado da consulta à divindade e transmissão de suas respostas), sem refletir sobre suas respostas, aceitando-as sem submetê-las ao crivo da razão e da concordância.

Finalizando o artigo, Kardec volta vinte e cinco séculos no passado, na floresta sagrada existente no Épiro (Grécia), onde os carvalhos preferiam oráculos e onde, acrescentando-se “o prestígio do culto e a pompa religiosa”, facilmente se entende a veneração de um povo ignorante e crédulo. O sibilar do vento entre as folhas, os sons emitidos pelas estátuas e outros fenômenos, quando verdadeiros, eram os primórdios das comunicações espíritas que, contudo, eram tomadas como verdade absolutas e seguidas cegamente.


  1. Lógica ou raciocínio composto de uma série de proposições ligadas entre si de maneira que o predicado de uma torna-se o sujeito da seguinte, e assim até a conclusão, que tem como sujeito o sujeito da primeira e como predicado o predicado da última proposição anterior à conclusão.



Palestras de além-túmulo – Senhorita Clary D… – Evocação

Digno de nota, o artigo em questão, que resolvemos abordar de forma anacrônica, ou seja, fora da ordem original, traz alguns temas interessantes, na palestra com o Espírito da Srta Clary, falecida aos 13 anos de idade e que passou a ser o gênio, isto é, o Espírito protetor da família. Dentre eles, destaca-se a sua reencarnação, sem data definida, em outro mundo, a sensação do corpo, causada pela lembrança, o deslocamento do Espírito pelo espaço, com a velocidade do pensamento, a questão intrínseca do perispírito nesse deslocamento e, finalmente, o desfecho do artigo, quando, perguntada se poderiam ver, ali, seu “corpo” (perispírito) tal como é atualmente, são respondidos que, para isso, dependeria não dela, mas deles, sob as seguintes condições: “vocês se recolherem por algum tempo, com fé e fervor; estarem em menor número; isolarem-se um pouco e arranjarem um médium do gênero de Home”.

Entendendo, agora, que o Sr. Home era poderoso médium de efeitos físicos, doador dos fluidos necessários para tais fenômenos, entendemos muito bem o porque dessa necessidade.




Nossas considerações sobre os fenômenos materiais

Achamos importante destacar nossas próprias considerações a respeito dos fenômenos materiais, posto que ainda suscitam muitas dúvidas e descrédito, principalmente após o Espiritismo ter atravessado quase 150 anos de deturpações e falsos entendimentos.

Os fenômenos materiais ainda existem, assim como ainda existem os médiuns que os produzem, isto é lógico. Contudo, cremos que tais fenômenos, hoje, talvez não tenham tanta expressividade por conta de que, quando se davam, eram motivados para chamar a atenção para os fenômenos espíritas, o que, alguns apregoam, hoje não tem mais necessidade.

Essa é uma forma de ver. A outra seria a de que esses fenômenos apenas diminuíram após o desenrolar dos estudos de Kardec porque, então, já não eram mais necessários, posto que era muito mais fácil comunicar-se através da psicografia, principalmente, do que através de pancadas. Mas, mesmo então, esses fenômenos não interromperam totalmente, como podemos ver a exemplo do Sr Home e, mais tarde, a exemplo da conhecidíssima médium Eusápia Palladino, estudada por Cesare Lombroso com muita seriedade e dedicação.

Ora, tendo o Espiritismo ficado tão incompreendido através do tempo e tendo os estudos metodológicos sendo esquecidos no passado, deixando espaço para as mistificações e para o crescimento desenfreado do materialismo, mesmo dentre os espiritualistas, perguntamos: será que, hoje, tais fenômenos não viriam trazer novamente a atenção para os fatos espíritas? Não ousamos responder categoricamente, mas apenas relembramos os diversos relatos que todos os dias são colocados aos nossos olhos, nos diversos grupos sobre o tema, nas redes sociais, e sobre os quais, de momento, apenas destacamos: “e se?”




Duendes

Aqui Kardec apenas aborda a questão de que a intervenção de seres incorpóreos, tidos como duendes, diabretes e outros, sempre permeou a humanidade e, em si, não deixa de ser uma verdade. Acontece que, antes do Espiritismo, que a explicou, era tomada como superstição, fruto da imaginação, ou então cercada de superstição.

Aliás, interessante notar como mesmo dentro do Espiritismo essas intervenções são muitas vezes tomadas com conto da carochinha e, por isso, desacreditadas, sem antes serem analisadas.

Por outro lado, é interessante abordar como, há mais de 160 anos, Kardec já buscava explicar, à luz dos ensinamentos dos Espíritos e da razão, esses fatos antes cercados de superstições. Infelizmente, ainda hoje essa superstição ou esse misticismo persistem no meio espiritualista, onde, em algumas religiões, ainda se utlizam de termos e crenças limitantes, mesmo, como é o caso dos chamados “Tranca-Rua”, “Zé Pilantra”, etc, que não passam de Espíritos, da forma simples e pura como eles mesmos já nos ensinaram.




Teoria das manifestações físicas – I

Revista espírita – Jornal de estudos psicológicos – 1858 > Maio > Teoria das manifestações físicas – I

Reprodução integral do artigo original na Revista Espírita de Maio de 1858

É fácil conceber a influência moral dos Espíritos e as relações que possam ter com a nossa alma, ou com o Espírito em nós encarnado. Compreende-se que dois seres da mesma natureza possam comunicar-se pelo pensamento, que é um de seus atributos, sem o concurso dos órgãos da palavra. Já é, entretanto, mais difícil dar-nos conta dos efeitos materiais que eles podem produzir, tais como os ruídos, o movimento dos corpos sólidos, as aparições e sobretudo as aparições tangíveis.

Vamos tentar dar a explicação, segundo os próprios Espíritos e segundo a observação dos fatos.

A ideia que fazemos da natureza dos Espíritos torna à primeira vista incompreensíveis esses fenômenos. Diz-se que o Espírito é a ausência completa da matéria e, pois, que ele não pode agir materialmente. Ora, isto é errado. Interrogados sobre se são imateriais, assim responderam os Espíritos: “Imaterial não é bem o termo, porque o Espírito é alguma coisa; do contrário seria o nada. É material, se se quiser, mas de uma matéria de tal modo etérea que para vós é como se não existisse”. Assim, o Espírito não é uma abstração, como pensam alguns; é um ser, mas cuja natureza íntima escapa aos nossos sentidos grosseiros.

Encarnado no corpo, o Espírito constitui a alma. Quando o deixa, com a morte, não sai despojado de todo o envoltório. Dizem-nos todos que conservam a forma que tinham quando vivos; realmente, quando nos aparecem, em geral é sob a forma por que os conhecíamos.

Observemo-los atentamente, no instante em que deixam a vida: Eles se acham em estado de perturbação; ao seu redor tudo é confuso; veem o próprio corpo, inteiro ou mutilado, conforme o gênero de morte. Por outro lado, veem-se e sentemse vivos; algo lhes diz que aquele é o seu corpo, mas não compreendem como podem estar separados. O laço que os unia ainda não está, pois, rompido completamente.

Dissipado esse primeiro momento de perturbação, o corpo se torna para eles como uma roupa velha, da qual se despojaram sem pesar, mas continuam a se ver em sua forma primitiva. Ora, isto não é um sistema: é o resultado de observações feitas com inúmeros sensitivos. Poderemos agora nos reportar ao que nos contaram de certas manifestações produzidas pelo Sr. Home e por outros médiuns do mesmo gênero: aparecem mãos que têm todas as propriedades das mãos vivas, que tocamos, que nos seguram e que se desfazem repentinamente.

Que devemos concluir disso? Que a alma não deixa tudo no caixão: leva algo consigo.

Assim, haveria em nós duas espécies de matéria: uma grosseira, que constitui o envoltório exterior; a outra sutil e indestrutível. A morte é a destruição, ou melhor, a desagregação da primeira, daquela abandonada pela alma; a outra se destaca e segue a alma que, assim, continua tendo sempre um envoltório. A esse envoltório denominamos perispírito. Essa matéria sutil, por assim dizer extraída de todas as partes do corpo a que estava ligada durante a vida, conserva a forma daquele. Eis por que todos os Espíritos são vistos e por que nos aparecem tais quais eram em vida.

Mas essa matéria sutil não tem a tenacidade nem a rigidez da matéria compacta do corpo: é, se assim podemos dizer, flexível e expansiva. Eis por que a forma que toma, muito embora calcada sobre a do corpo, não é absoluta: dobra-se à vontade do Espírito, que lhe dá, conforme queira, esta ou aquela aparência, enquanto que o envoltório sólido lhe oferece uma resistência intransponível. Desembaraçando-se desse entrave que o comprimia, o perispírito distende-se ou se contrai; transforma-se e, numa palavra, presta-se a todas as metamorfoses, de acordo com a vontade que sobre ele atua.

Prova a observação ─ e insistimos sobre o vocábulo observação, porque toda a nossa teoria é consequência dos fatos estudados ─ que a matéria sutil, que constitui o segundo envoltório do Espírito, só pouco a pouco se desprende do corpo, e não instantaneamente. Assim, os laços que unem alma e corpo não se rompem de súbito pela morte. Ora, o estado de perturbação que observamos dura todo o tempo em que se opera o desprendimento. Somente quando esse desprendimento é completo o Espírito recobra a inteira liberdade de suas faculdades e a consciência clara de si mesmo.

A experiência ainda prova que a duração desse desprendimento varia conforme os indivíduos. Em alguns opera-se em três ou quatro dias, ao passo que noutros não se completa senão ao cabo de vários meses. Assim, a destruição do corpo e a decomposição pútrida não bastam para que se opere a separação. Eis a razão por que certos Espíritos dizem: Sinto que os vermes me roem.

Em algumas pessoas a separação começa antes da morte: são as que em vida se elevaram pelo pensamento e pela pureza de seus sentimentos, acima das coisas materiais. Nelas a morte encontra apenas fracos liames entre a alma e o corpo e que se rompem quase instantaneamente. Quanto mais materialmente viveu o homem; quanto mais seus pensamentos foram absorvidos nos prazeres e nas preocupações da personalidade, tanto mais tenazes são aqueles laços. Parece que a matéria sutil se identifica com a matéria compacta e que entre elas se estabelece uma coesão molecular. Eis por que só se separam lentamente e com dificuldade.

Nos primeiros instantes que se seguem à morte, quando ainda existe união entre o corpo e o perispírito, este conserva muito melhor a impressão da forma corpórea, da qual, por assim dizer, reflete todas as nuanças e mesmo todos os acidentes. Eis por que um supliciado nos dizia, alguns dias após a sua execução: Se me pudésseis ver, ver-me-íeis com a cabeça separada do tronco. Um homem que tinha sido assassinado nos dizia: Vede a ferida que me fizeram no coração. Pensava ele que poderíamos vê-lo.

Estas considerações conduzir-nos-iam ao exame da interessante questão da sensação dos Espíritos e de seus sofrimentos. Fá-lo-emos em outro artigo, a fim de que aqui nos limitemos ao estudo das manifestações físicas.

Imaginemos, pois, o Espírito revestido de seu envoltório semimaterial, ou perispírito, tendo a forma ou aparência que possuiu quando vivo. Alguns até se servem desta expressão para se designarem; dizem: minha aparência está em tal lugar. Evidentemente são estes os manes dos antigos. A matéria desse envoltório é suficientemente sutil para escapar à nossa vista em seu estado normal, mas não é completamente invisível. Para começar, vemo-lo pelos olhos da alma, nas visões produzidas durante os sonhos. Mas não é disto que nos queremos ocupar. Nessa matéria eterizada pode haver uma modificação; o próprio Espírito pode fazê-la sofrer uma espécie de condensação que a torna perceptível aos olhos do corpo. É o que ocorre nas aparições vaporosas. A sutileza dessa matéria lhe permite atravessar os corpos sólidos, razão por que tais aparições não encontram obstáculos e por que tantas vezes desaparecem através das paredes.

A condensação pode chegar ao ponto de produzir a resistência e a tangibilidade. É o caso das mãos que podemos ver e tocar. Mas essa condensação ─ e esta é a única palavra de que nos podemos servir, para dar uma ideia, embora imperfeita, de nosso pensamento ─ esta condensação, íamos dizendo, ou ainda essa solidificação da matéria etérea, é apenas temporária ou acidental, porque esse não é o seu estado normal. Eis por que, em um dado momento, as aparições tangíveis nos escapam como uma sombra. Assim, do mesmo modo que um corpo se nos apresenta em estado sólido, líquido ou gasoso, conforme o grau de condensação, assim a matéria etérea do perispírito pode aparecer-nos em estado sólido, vaporoso visível ou vaporoso invisível.

Veremos, a seguir, como se opera essa modificação.

A mão aparente, tangível, oferece uma resistência: exerce pressão, deixa impressões, opera uma tração sobre os objetos que seguramos. Nela há, pois, uma força. Ora, estes fatos, que não são hipóteses, podem levar-nos à explicação das manifestações físicas.

Notemos, antes de mais nada, que essa mão obedece a uma inteligência, pois age espontaneamente; dá sinais inequívocos de uma vontade e obedece a um pensamento: pertence, pois, a um ser completo, que só nos mostra essa parte de si mesmo, e a prova é que produz impressões com as partes invisíveis; os dentes deixam marcas na pele e produzem dor.

Entre as diversas manifestações, uma das mais interessantes é, sem dúvida, o toque espontâneo de instrumentos de música. Os pianos e acordeons são aparentemente os instrumentos prediletos. Este fenômeno é explicado muito naturalmente pelo que precede. A mão que tem a força para apanhar um objeto, também pode tê-la para fazer pressão sobre as teclas e fazê-las soar. Aliás, por diversas vezes vimos os dedos em ação, e quando a mão não é vista, veem-se as teclas em movimento e o fole a distender-se e fechar-se. As teclas só podem ser movidas por mão invisível, a qual dá mostras de inteligência, tocando árias perfeitamente ritmadas e não sons incoerentes.

Desde que essa mão pode enfiar-nos as unhas na carne, beliscar-nos, arrebatar aquilo que temos na mão; desde que a vemos apanhar e transportar um objeto, assim como nós o faríamos, também nos pode dar pancadas, erguer e derrubar uma mesa, tocar uma campainha, puxar uma cortina e até mesmo nos dar uma bofetada invisível.

Perguntarão talvez como essa mão, no estado vaporoso invisível, pode ter a mesma força que no estado tangível. E por que não? Vemos o ar derrubar edifícios, o gás lançar projéteis, a eletricidade transmitir sinais, o fluido do ímã levantar massas? Por que a matéria etérea do perispírito seria menos poderosa? Mas não a queiramos submeter às nossas experiências de laboratório e às nossas fórmulas algébricas. Principalmente pelo fato de havermos tomado os gases como termo de comparação, não lhes vamos atribuir propriedades idênticas, nem computar sua força do mesmo modo pelo qual calculamos a do vapor. Até agora ela escapa a todos os nossos instrumentos. É uma nova ordem de ideias, fora da competência das ciências exatas. Eis por que essas ciências não nos oferecem a aptidão especial para apreciá-las.

Damos esta teoria do movimento dos corpos sólidos sob a influência dos Espíritos apenas para mostrar a questão sob todos os seus aspectos e provar que, sem nos afastarmos muito das ideias recebidas, é possível dar-nos conta da ação dos Espíritos sobre a matéria inerte. Há, porém, uma outra, de alto alcance filosófico, dada pelos próprios Espíritos, e que lança sobre este problema uma luz inteiramente nova. Ela será mais bem compreendida depois que a tiverem lido. Aliás, é útil conhecer todos os sistemas, a fim de poder compará-los.

Resta agora explicar como se opera essa modificação da substância etérea do perispírito; por que processo o Espírito opera e, em consequência, o papel dos médiuns de influência física na produção desses fenômenos; aquilo que em tais circunstâncias neles se passa; a causa e a natureza de suas faculdades, etc.

É o que faremos no próximo artigo.