RESUMO DA LEI DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS por Allan Kardec
RESUMO DA LEI DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS é uma das obras de Kardec não tão divulgadas (clique aqui para baixar). Ela foi escrita em 1864, e seria um resumo do resumo do Livro dos Espiritos e Livro dos Médiuns, penso eu. Por ser uma obra compacta, apenas 20 páginas, passa o conceito bem geral do que é a Doutrina Espirita e os Fenômenos Espiritas.
Ela é dividida em 5 partes: Observações Preliminares, Dos Espíritos, Manifestações dos Espíritos, Dos Médiuns, Das Reuniões Espíritas.
Destaco, a título de exemplo, um dos itens que faz pertence a parte “Manifestações dos Espíritos”:
23. As evocações espíritas não consistem, como alguns imaginam, em fazer voltar os mortos com um aspecto lúgubre da tumba. Não é senão nos romances, nos contos fantásticos de fantasmas e no teatro que se vêem os mortos descarnados saírem de seus sepulcros vestidos de lençóis e fazendo estalar seus ossos. O Espiritismo, que jamais fez milagres, tanto esse como outros, jamais fez reviver um corpo morto; quando o corpo está na cova, aí está definitivamente; mas o ser espiritual, fluídico, inteligente, aí não está metido com seu envoltório grosseiro; dele se separou no momento da morte, e uma vez operada a separação não tem mais nada de comum com ele.”
Resumo da Lei dos Fenômenos Espiritas, pag 12, A. Kardec
Vale a pena conhecê-la ou simplesmente enviar para aquele amigo que quer entender o que é o Espiritismo de Kardec em poucas palavras…
A distância entre o Espiritismo e o Movimento Espírita
Uma correspondente questionou a respeito do que seria essa suposta distância, por nós sempre afirmada, entre a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita.
A ela, podemos responder desta forma, para exemplificar para todos:
“B…, isso é algo que cada um precisa realmente estudar ou buscar se informar, principalmente sobre as obras citadas ((
No sentido das alterações doutrinarias: O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato; Nem Céu Nem Inferno, de Paulo Henrique de Figueiredo; Ponto Final, de Wilson Garcia
No sentido do conhecimento sobre o contexto doutrinário: Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo;
No entendimento real da Doutrina, na essência proposta por Kardec, através dos estudos: O Céu e o Inferno e A Gênese, ambos da editora FEAL, pois os outros são as versões adulteradas, ainda.)) , porque compreender e, daí, assumir novo posicionamento, precisa ser uma ação autônoma. Contudo, posso ressaltar algumas diferenças capitais entre Doutrina Espírita (DE) e Movimento Espírita atual (ME):
Evocações dos espíritos: DE foi formada sobre elas e demonstrou a necessidade de serem realizadas, com método, para continuar seu desenvolvimento; ME recomenda não fazer, provocando uma onda de médiuns que ficam apenas “à disposição”, portanto, sem controle nem objetivo de aprendizado.
Generalidade do ensino: DE demonstrou a necessidade de desenvolver o estudo espírita através do método do duplo controle: universalidade e concordância do ensino e julgamento racional; ME, contagiada por Roustaing, que via um perigo nesse método (que desmentiria suas teorias), passou a tomar comunicações isoladas como expressão da verdade, sem raciocinar.
Vida do Espírito na erraticidade: DE demonstrou que emoções e sensações físicas somente existem para o Espírito apegado; ME passou a ensinar um mundo espiritual totalmente materializado, criando, assim, ideias de apego nocivas ao Espírito que desencarna.
Necessidade da encarnação: DE demonstrou que a encarnação é uma necessidade para o progresso do Espírito, na qual ele, mesmo que involuntariamente, faz seu papel solidário na criação. Afastou os conceitos de castigo e punição como uma ação arbitrária de Deus, demonstrando que tudo é fruto da escolha do Espírito consciente; ME, sob influência roustainguista, inseriu os falsos conceitos de carma, resgate, lei de ação e reação e lei do retorno.
Heteronomia x autonomia: DE demonstrou, em toda ela, que o Espírito se desenvolve de forma autônoma, sendo ele o autor primeiro, senão o único, de suas escolhas; ME, influenciada por Roustaing, passou a tratar da vida de forma heterônoma – se sofro é porque estou recebendo o retorno; se tenho alegria é porque fui abençoado, etc.
Caridade: DE demonstrou que a caridade é uma ação desinteressada, fruto do dever do Espírito que, conscientemente, se move em direção ao bem; ME passou a tratar da caridade como uma ação externa, quase sempre apenas material. Por ausência de estudos da DE, ME deixa de fazer o bem que poderia fazer para auxiliar no desenvolvimento da sociedade pelas ideias espíritas.
Moral: DE demonstrou que, todos criados simples e ignorantes, os Espíritos se desenvolvem errando e acertando, através das encarnações, escolhendo entre agir desta ou daquela forma. Não há dualidade entre bem e mal. Alguns escolhem repetir o erro, desenvolvendo imperfeições das quais muito custarão a se desvencilhar, através do trabalho reencarnatório, em uma ação consciente e autônoma; ME, influenciada por Roustaing, passou a tratar da encarnação como um castigo, como se todos os Espíritos que encarnam fossem imperfeitos.
Método: DE sempre demonstrou a forma como ela própria se desenvolveria: pelo estudo das ciências humanas, confrontadas, pela razão, com os ensinamentos espíritas, na troca de informações com grupos idôneos espalhados por todo o mundo; já a ME praticamente não estuda os fundamentos da DE, se isolou nos centros em rotinas que compreendem: monólogos, quase sempre recheados de todos os erros apontados anteriormente; passes, sem conhecimento do magnetismo; e sessões mediúnicas que, sem método e sem estudos, perdem o propósito e a utilidade que realmente poderiam ter.
E por aí vai.”
Vemos que as diferenças entre a Doutrina Espírita, em sua origem, e o que hoje professa ou acredita o Movimento Espírita, são profundas e, quase sempre, danosas à propagação da Doutrina. Cabe, portanto, o esforço voluntário de cada um no estudo honesto e desapegado, bem como na divulgação fraterna e cooperativa do conhecimento.
Complementando as obras citadas, não podemos deixar de apontar a necessidade do estudo da Revista Espírita, que demonstra como se deu a formação da Doutrina Espírita.
E depois da morte?
A pergunta sempre frequente é: O que será que acontece no futuro do nosso Espírito? O que nos acontece depois da morte? Será que vamos para o Céu Iluminado? Ou será que o Inferno é nosso destino? Quem decide para onde seguimos? Será que encontramos os seres que nos são caros?
O ser humano sempre perseguiu a ideia do que ocorrerá no futuro do seu Espírito. E talvez seja a pergunta mais frequente no meio espírita.
O estudo aprofundado do livro O Céu e O Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, nos faz entender cada vez mais a Doutrina Espírita. Na primeira parte, seu capítulo VIII sob o título As Penas Futuras Segundo o Espiritismo praticamente encontramos a compilação de toda Doutrina tornando-o como se fosse seu coração, ou seja, a parte principal. Ali existe uma série de 25 itens onde cada um foi desenvolvido ao longo de todo a obra, menos, claro dA Genese, que foi publicada após. Os 25 itens elucidam o que acontece ao nosso Espírito após o desencarne. As explicações vieram através de inúmeros Espíritos desencarnados em milhares de comunicações, de vários lugares do mundo, por muitos mediuns distintos. Kardec, através da Revista Espírita, mostrou uma quantidade considerável das comunicações.
A particularidade desse livro é justamente trazer , diante desse material todo, as conclusões de todas as comunicações estudadas. Além disso, na segunda parte do livro, é apresentado muitas dessas mensagens. O conteúdo dessas, publicadas no livro O Céu e o Inferno, é assunto para outro momento.
Voltemos ao capítulo VIII da primeira parte do livro. Ele começa fazendo importantes considerações, que colocamos aqui na integra:
Estando a sorte das almas nas mãos de Deus, ninguém pode neste mundo, por sua própria autoridade, decretar o código penal divino. Qualquer teoria não é mais que uma hipótese que só tem o valor de uma opinião pessoal e, por isso mesmo, pode ser mais ou menos engenhosa, racional, bizarra ou ridícula. Somente a sanção dos fatos pode conferir-lhe autoridade, fazendo-a passar à condição de princípio.
Na ausência de fatos apropriados para definir sua concepção acerca da vida futura, os homens deram curso à sua imaginação e criaram essa diversidade de sistemas de que compartilharam, e compartilham ainda, as crenças. Se alguns homens de elite, em diversas épocas, entreviram um lado da verdade, a massa ignorante permaneceu sob o império dos preconceitos que geralmente lhe eram impostos. A doutrina das penas eternas está nesse número. Essa doutrina teve sua época; hoje ela é repelida pela razão. O que colocar em seu lugar? Um sistema substituído por outro sistema, ainda que mais racional, sempre terá apenas maior probabilidade, mas não a certeza. É por isso que o homem, chegado a este período intelectual que lhe permite refletir e comparar, não encontrando nada que satisfaça completamente sua razão e responda às suas aspirações, vacila indeciso. Uns, apavorados pela responsabilidade do futuro e querendo gozar o presente sem constrangimento, procuram enganar-se e proclamam o nada após a morte, crendo assim manter a consciência tranquila; outros estão na perplexidade da dúvida; o maior número crê em algo, mas não sabe exatamente no que crê. Um dos resultados do desenvolvimento das ideias e dos conhecimentos adquiridos é o método científico96. O homem quer crer, mas quer saber por que crê. Ele não se deixa mais levar por palavras. Sua razão vigorosa quer algo mais substancial que teorias. Em uma palavra, ele necessita dos fatos. Deus, então, julgando que a humanidade saiu da infância, e que o homem está hoje maduro para compreender verdades de uma ordem mais elevada, permite que a vida espiritual lhe seja revelada por fatos que põem um termo às suas incertezas, fazendo cair os andaimes das hipóteses97. É a realidade após a ilusão. A Doutrina Espírita, no que se refere às penas futuras, não é mais fundada sobre uma teoria preconcebida do que suas outras partes. Em tudo ela se apoia sobre observações, sendo isso o que lhe dá autoridade. Ninguém então imaginou que as almas, após a morte, devessem se encontrar nesta ou naquela situação. São os próprios seres que deixaram a Terra que vêm hoje – com a permissão de Deus e porque a humanidade entra numa nova fase – nos iniciar nos mistérios da vida futura, descrever sua posição feliz ou infeliz, suas impressões e sua transformação na morte do corpo. Os espíritos vêm hoje, em suma, completar nesse ponto o ensino do Cristo. Não se trata aqui da relação de apenas um espírito que poderia ver as coisas somente de seu ponto de vista, sob um único aspecto, ou ainda estar dominado pelos preconceitos terrestres, nem de uma revelação feita a um único indivíduo que poderia se deixar enganar pelas aparências, nem de uma visão extática que se presta às ilusões e é com frequência apenas o reflexo de uma imaginação exaltada98, mas de inúmeros intermediários disseminados sobre todos os pontos do globo, de tal sorte que a revelação não é privilégio de ninguém, que cada um pode ao mesmo tempo ver e observar, e que ninguém é obrigado a crer pela fé de outrem. As leis que daí decorrem são deduzidas apenas da concordância dessa imensidade de observações; esse é o caráter essencial e especial da Doutrina Espírita99. Jamais um princípio geral é retirado de um fato isolado ou da afirmação de um único espírito, ou do ensinamento dado a um único indivíduo, ou de uma opinião pessoal. Qual seria o homem que poderia crer- se suficientemente justo para medir a justiça de Deus?
Os numerosos exemplos citados nesta obra para estabelecer a sorte futura da alma poderiam ser multiplicados ao infinito, mas, como cada um pode observar outros análogos, seria suficiente de certa forma dar os tipos das diversas situações. Dessas observações, podem-se deduzir as condições de felicidade ou infelicidade na vida futura; elas provam que a penalidade não falta a nenhuma prevaricação e que, conquanto não seja eterno, o castigo não é menos terrível segundo as circunstâncias.
Allan Kardec, O Céu e o Inferno
Nota: Allan Kardec define os pressupostos da ciência espírita. Toda teoria, seja proposta por um homem ou um espírito, é uma opinião pessoal. As hipóteses vão do engenhoso ao ridículo. Por isso, o Espiritismo se fundamenta na observação dos fatos, em milhares de depoimentos, para extrair deles os princípios gerais, confirmando o ensinamento dos bons espíritos. É a universalidade do ensino dos espíritos. (Nota 94 de O Céu e o Inferno do editor Paulo Henrique de Figueiredo)
Observem como essa introdução explana o pensamento científico baseado totalmente nos fatos. Não há dogma, não há profetas, não há fantasia.
Depois dessa criteriosa introdução, Allan Kardec segue enumerando os princípios gerais que os muitos Espíritos deram. Eles aparecem de forma progressiva. Eles os definiu como a representação da lei da justiça divina.
Segundo estudamos, não há um sistema estático, um padrão geral onde o futuro seja um Céu Iluminado ou as Escuridão das trevas do Inferno. Mas se voce, leitor, fizer o estudo, vai conseguir chegar às suas próprias conclusões.
Nós o convidamos a leitura e reflexão! Vale muito a leitura.
Bicorporeidade
Será possível alguém estar em dois lugares ao mesmo tempo? Claro que sim! Esse fenômeno se chama BICORPORIEDADE. É o que trata este artigo da Revista Espírita de dezembro de 1858.
Trata-se da história de um jovem que se deita, sem sair de casa, vai até Londres onde se reune a seus amigos, toma café, brinca e depois volta para seu lar, sem nada se lembrar.
Resumidamente, assim aconteceu:
Um correspondente do interior da França enviou uma carta dizendo que, depois que, “por ordem dos Espíritos”, magnetizou seu filho, ele se tornou médium muito raro.
Um caso, em especial, chamou-lhe a atenção: o filho, após ler em um livro de Barão Du Potet sobre a aventura de um doutor da América, cujo Espírito foi visitar um amigo a grande distância, disse ao seu guia que gostaria de fazer o mesmo. Seu guia disse-lhe, então: Amanhã é domingo. Não és obrigado a te levantares cedo para trabalhar. Dormirás às oito horas e irás passear em Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima receberás uma carta de teus amigos, censurando-te por teres ficado tão pouco tempo com eles.
Disse o pai: Efetivamente, no dia seguinte, pela manhã, à hora indicada, ele caiu num sono profundo. Despertei-o às oito e meia. Ele não se lembrava de nada. De minha parte nada lhe disse, esperando os acontecimentos.
E como prometido, uma carta chegou pelos correios: “o carteiro veio entregar uma carta de Londres, na qual os amigos de meu filho censuravam-no por ter passado com eles apenas alguns minutos, no domingo anterior, das oito às oito e meia, com uma porção de detalhes que seria longo aqui relatar, entre os quais o fato singular de ter tomado o café da manhã com eles”
Tendo sido contado o fato acima, um dos assistentes disse que a História narra diversos casos semelhantes. Citou Santo Afonso de Liguori, que foi canonizado antes do tempo exigido, por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que foi considerado como um milagre.
Na primeira, de aspecto religioso, Afonso saiu do convento de Ciorani para Pagani e ao mesmo tempo foi visto atendendo confissões na igreja redentorista de Ciorani.
Na segunda ocasião de cunho religioso o Santo pregava missões populares em Amalfi, Italia. Foi em 1756. Durante a missão, foi visto simultaneamente pregar na catedral de Amalfi e atender confissões na casa em que os missionários estavam alojados.
Antonio Benedetto Maria Tannoia (II, c. 44), seu biógrafo, comenta: “Um anjo, querendo dar prosseguimento a seu zelo em acolher os pecadores, quis substituí-lo no púlpito”.
Na terceira ocasião, esta de cunho social, o santo estava em Nápoles e simultaneamente em Pagani, onde todos os sábados costumava ajudar uma ex-prostituta que conseguira converter. Isto aconteceu em 1759. A última ocasião reveste-se de cunho político-religioso. No dia 22 de setembro de 1774, Afonso encontrava-se em Arienzo, um lugarejo de sua diocese de Santa Ágata dei Goti, para onde se dirigia naqueles dias em que fazia muito frio. Ao mesmo tempo foi visto em Roma, ao lado do leito de morte do Papa Clemente XIV, assistindo-o. (Esse caso foi documentado pela Igreja Católica).
Observação: A Igreja diz que a “bi locação” é uma manifestação extraordinária do poder de Deus, consistindo na presença corporal de uma pessoa, ao mesmo tempo, em dois ou mais lugares. Fisicamente, a bi locação é impossível aos seres materiais, pela própria natureza das coisas.
Também existem alguns relatos de bicorporiedade de Santo Antônio de Pádua. O mais famoso dele foi na ocasião da acusação que seu pai sofreu de assassinato: Certa vez, pregando em Pádua, o santo sentiu forte intuição de que sua presença era necessária em Lisboa naquele exato momento. Sentou-se ao lado do púlpito e, como já havia feito uma vez, cobriu a cabeça com o capeio, o capuz dos franciscanos. Apareceu em seguida no Tribunal de Lisboa, onde fez a defesa contundente do pai. Para provar a inocência de seu genitor, rumou acompanhado das autoridades ao cemitério. Para assombro dos presentes, ressuscitou a vítima, que inocentou o acusado de qualquer responsabilidade por sua morte. Permitiu então, que o assassinado, retornasse ao seu descanso. Logo depois, muito além, recobrou a consciência e retomou sua pregação.
A primeira vez que isso aconteceu foi em Limoges, sul da França, no ano de 1226. Na Quinta-feira Santa, o frei pregava na Igreja de São Pedro. No mesmo instante, a alguns quilômetros dali, seus irmãos franciscanos já cantavam as matinas no convento. Por ter o cargo de Custódio cabia a ele a responsabilidade de ler uma lição do ofício para os seus irmãos.
No exato momento em que deveria estar presente no convento, o frei interrompeu seu sermão e se recostou no púlpito, cobrindo o rosto com o capuz. Para surpresa dos frades menores, a voz do frei português soou entre o coro dos franciscanos. Cantou a lição e cumpriu sua tarefa junto a seus irmãos, para em seguida desaparecer e despertar de seu aparente cochilo na Igreja de São Pedro.
Assim, para começar a esclarecer o fenomeno, Kardec fez a evocação do mencionado anteriormente Santo Afonso de Liguori. Foram feitas as seguintes perguntas:
1. ─ O fato pelo qual fostes canonizado é real? ─ Sim.
2. ─ Esse fenômeno é excepcional?─ Não. Ele pode apresentar-se em todos os indivíduos desmaterializados.
3. ─ Era motivo justo para vos canonizarem? ─ Sim, pois que por minha virtude eu me havia elevado para Deus. Sem isso eu não teria podido transportar-me simultaneamente para dois lugares diferentes.
4. ─ Todos os indivíduos com os quais ocorrem esses fenômenos merecem ser canonizados? ─ Não, pois nem todos são igualmente virtuosos.
Comentário: Liguori faleceu em 1787 – bastante recente, em termos de vida espírita. Na época de sua evocação, apresenta pensamentos ainda bastante imbuídos das ideias católicas. Acabamos de ver, e em OLM Kardec dá outros exemplos, que a bi corporeidade parece não depender tanto assim de uma virtuosidade tão elevada. É preciso ter certeza se era mesmo esse fenômeno, ou se foi apenas o caso de outra pessoa, vidente, ver o Espírito semidesligado do corpo adormecido.
5. ─ Poderíeis dar-nos uma explicação desse fenômeno? ─ Sim. Quando o homem, por sua virtude, se acha completamente desmaterializado; quando elevou sua alma para Deus, pode aparecer simultaneamente em dois lugares, do seguinte modo: Sentindo vir o sono, o Espírito encarnado pode pedir a Deus para se transportar a um lugar qualquer. Seu Espírito ou sua alma, como queirais chamar, então abandona o seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito e deixa a matéria imunda num estado vizinho ao da morte. Digo vizinho ao da morte porque fica no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode ser definido. O corpo então aparece no lugar desejado. Creio que é tudo o que desejais saber.
Comentário: mais uma vez, uma grande quantidade de conceitos que têm, no fundo, as ideias católicas como influência determinantes.:” Pedir a Deus”,” Matéria imunda”, ” Vizinho à morte”. Ao mesmo tempo, caracteriza a veracidade da comunicação.
Observação: A resposta a questão 5 caracteriza uma certa ambiguidade na comunicação em relação a resposta da questão 2, pois se a bi corporiedade pode se manifestar em todos os indivíduos materializados, nem só os virtuosos o conseguem.
6. ─ Isto não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito. – Achando-se desprendido da matéria, conforme o seu grau de elevação, o Espírito pode tornar a matéria tangível.
7. ─ Entretanto, certas aparições tangíveis de mãos e de outras partes do corpo devem-se evidentemente a Espíritos inferiores. – São Espíritos superiores que se servem dos inferiores a fim de provar o fato.
Observação: Se for exato que os Espíritos superiores se servem de inferiores a fim de provar o fato, explicaria o porquê de os Espíritos inferiores não poderem se materializar sob formas monstruosas, para assustar o povo. Explicaria o “Deus não permitiria”! Mais explicações clique aqui neste artigo
8. O sono do corpo é indispensável para que o Espírito apareça noutros lugares? – A alma pode dividir-se quando se sente transportada a um lugar diferente daquele onde se acha o seu corpo.
9. Que aconteceria a um homem mergulhado em sono profundo e cujo Espírito aparecesse alhures, se fosse despertado subitamente? – Isto não aconteceria, porque se alguém tivesse o intuito de despertá-lo, o Espírito preveria a intenção e voltaria ao corpo, tendo em vista que o Espírito lê o pensamento.
Divisão é um termo inexato. Melhor dizer que a alma, isto é, o períspirito, pode se estender para outros lugares, quando se tem essa capacidade.
O perispírito, estando estendido, não abandona jamais o corpo, senão por sua morte. É possível entender que, por isso, o Espírito, estando distante, perceba o que acontece ao redor do corpo.
Depois que essa comunicação nos foi dada, vários fatos do mesmo gênero, cuja fonte é autentica, nos foram contados, e entre eles há muito recentes, que ocorreram por assim dizer no nosso meio, e que se apresentaram com as circunstancias mais singulares. As explicações , às quais deram lugar, alargaram singularmente o campo das observações psicológicas.
Na RE de agosto de 1859, lemos o seguinte:
Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que viu o Sr. W… filho, de Boulogne-Sur-Mer, que foi questão na revista de dezembro de 1858, a propósito de um artigo sobre o fenômeno de bicorporiedade, e que lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.
O Espiritismo, a seu turno, vem dar a sua teoria. Ele se apoia na psicologia experimental; ele estuda a alma, não só durante a vida, mas após a morte; ele a observa em estado de isolamento; ele a vê agir em liberdade, ao passo que a filosofia ordinária só a vê em união com o corpo, submetida aos entraves da matéria, razão pela qual muitas vezes confunde causa e efeito.
AK, em RE maio de 1864
Ensinamentos de Sacerdote Egípcio
Nesse artigo, que apresenta a evocação do Espírito de Mehemet Ali (Maomé Ali), Kardec explora um questionamento a respeito da encarnação desse Espírito como um sacerdote egípcio, na época dos faraós.
Na edição de abril de 1858, Kardec evocou esse Espírito. Na ocasião, ele revelou que foi um sacerdote na época do antigo Egito. Mais detalhes clique aqui
Importante lembrar que na primeira comunicação, em abril, esse Espírito demonstrou não ser elevado. Não era maldoso, mas ainda estava na “roda das imperfeições”. Por isso, em sua fala, apresenta alguma impaciência e falta de benevolência.
Vamos, aqui, destacar algumas partes da longa conversa – evocação que entendemos como principais:
1. ─ Em nome de Deus Todo-Poderoso, peço ao Espírito de Mehemet-Ali que venha comunicar-se conosco. ─ Sim; sei a razão.
2. ─ Prometestes vir até nós, a fim de instruir-nos. Teríeis a bondade de ouvir-nos e de nos responder? ─ Não prometo, pois não assumi esse compromisso.
Curioso como as características do Espírito evocado aparecem com clareza conforme a comunicação se desenvolve. Aqui mostra claramente ser um Espirito não superior.(clique aqui para mais características)
Os Espíritos superiores são sempre bons e benevolentes; em seu palavreado jamais encontramos acrimônia, arrogância, aspereza, orgulho, fanfarronice ou a estólida presunção. Falam com simplicidade, aconselham e se retiram quando não são ouvidos.
Kardec, Allan. Revista espírita: outubro: 1858
3. ─ Substituamos o prometestes por fizeste-nos esperar. ─ Quereis dizer: para satisfazer à vossa curiosidade. Não importa! Prestar-me-ei um pouco.
Comentário: Kardec segue realizando as perguntas que julgava necessárias para avaliar o estado de conhecimentos e de intenções daquele Espírito, confrontando a ciência com suas respostas. Muito provavelmente testando o Espirito
4. ─ Considerando-se que vivestes ao tempo dos faraós, poderíeis dizer-nos com que fim foram construídas as pirâmides? ─ São sepulcros; sepulcros e templos. Ali se davam grandes manifestações.
5. ─ Tinham elas também um objetivo científico? ─ Não. O interesse religioso absorvia tudo.
12. ─ Sob o duplo ponto de vista de Deus e da alma, tinham os sacerdotes ideias mais sãs que o povo? ─ Sim. Eles tinham a luz em suas mãos e conquanto a escondessem dos outros, ainda a viam.
Comentário: Aqui fica claro como religiões são usadas para controlar o povo, subjulgando-o, completamente sem autonomia do indivíduo. Percebe-se claramente que os sacerdotes sabiam e ensinavam os iniciados, mas não instruíam a população. Até hoje é assim.
14. ─ Qual a origem do culto prestado aos animais? ─ Eles queriam desviar o homem de Deus e rebaixá-lo sob si próprio, dando-lhe como deuses seres inferiores.
15. ─ Até certo ponto compreende-se o culto dos animais úteis; mas não se compreende o de animais imundos e prejudiciais, como as serpentes, os crocodilos etc. ─ O homem adora aquilo que teme. Era um jugo para o povo. Os sacerdotes não podiam crer em deuses feitos por suas mãos!
Comentário: Os sacerdotes sabiam os ensinamentos e os guardavam para um círculo pequeno de iniciados. Eles não instruíam o povo para poder subjugá-los. Isso mostra como as religiões não são autônomas.
18. ─ Como conciliar o respeito dos egípcios pelos mortos com o seu desprezo e o horror que tinham por aqueles que os enterravam e mumificavam? ─ O cadáver era um instrumento de manifestações. Segundo pensavam, o Espírito voltava ao corpo que havia animado. Como um dos instrumentos do culto, o cadáver era sagrado e o desprezo perseguia aquele que ousava violar a santidade da morte.
Comentário: Interessante: o indivíduo, ensinado assim, morria acreditando nisso. Portanto, conquanto encontrava seu corpo conservado, continuava ali, se manifestando. Poderia ser, dessa forma, um entrave ao seu progresso, o que leva a concluir que seria melhor morrer como parte do povo. Da mesma forma que, ainda hoje, existem aqueles que ficam junto ao caixão não querendo deixá-lo, por acreditarem nesse mesmo dogma modernizado ( não podemos esquecer que o Cristianismo trouxe muitos destes dogmas egípcios aqui citados para suas crenças).
19. ─ A conservação do corpo permitia maior quantidade de manifestações? ─ Mais longas, isto é, o Espírito voltava por mais tempo, desde que o instrumento fosse dócil.
23. ─ O ensino dado nos mistérios tinha por fim único a revelação das coisas extra-humanas ou também eram ensinados os preceitos da moral e do amor ao próximo? ─ Tudo isto estava muito corrompido. O propósito dos sacerdotes era dominar e não instruir.
Comentário:Até hoje embalsamam o corpo! É um apego muito grande à matéria!
O Espírito de um soldado morto em guerra: o Tamborista de Beresina
Talvez esta seja uma das comunicações relatadas mais interessantes do ano de 1858, por se tratar do Espírito de um soldado morto em guerra, um Espírito com aparência de tranquilidade e até de bondade.
Aconteceu assim: “Tendo-se reunido em nossa casa algumas pessoas com propósito de constatar certas manifestações, em diversas sessões produziram-se os fatos que se seguem: manifestou um Espírito por golpes, não batidas pelo pé de mesa, mas na própria contextura da mesa.” Depois Kardec segue dizendo que além das respostas de várias perguntas pelo sim e pelo não, os golpes tocavam marchas, imitavam fuzilaria, algo completamente inusitado.
Enquanto ouviam, observaram que o Espirito tinha certa predileção pelo rufo do tambor.
Estavam presentes, além de um médium especial de influência física, um psicógrafo. Por causa disso, conseguiram a conversa bem explícita, como nome, local de nascimento, data da morte, etc. A comunicação espontanea começou assim:
1 – Escreve qualquer coisa, o que quiseres. – Ran plan plan, ran, plan, plan.
2 – Por que escreveste isso? – Eu era tocador de tambor.
Ele disse que morreu em uma batalha, e continua assumindo essa característica de batedor de tambor, por isso que fazia esses efeitos de marchinha.
16- Estás reencarnado? – Não, pois que venho conversar convosco.
17- Por que te manifestas por pancadas, sem que tenhas sido chamado? – É preciso fazer barulho para aqueles cujo coração nada crê. Se não tendes o bastante, dar-vos-ei ainda mais.
Observação: Ele demonstra uma certa superioridade moral.
18 – É de tua própria vontade que vieste bater, ou um outro Espírito obrigou-te a fazê-lo? – Venho por minha vontade; há um outro, a quem chamais Verdade, que pode forçar-me a isto também. Mas há muito tempo que eu queria vir.
19 – Com que objetivo querias vir? – Para conversar convosco; era o que queria; havia, porém, alguma coisa que mo impedia. Fui forçado por um Espírito familiar da casa, que me exortou a tornar-me útil às pessoas que me fizessem perguntas.
19.1 – Esse Espírito, então, tem muito poder, visto comandar outros Espíritos? – Mais do que imaginais, e não o emprega senão para o bem.
Observação: Os Espíritos sempre são assistidos.
22- Qual a existência que preferes: a atual ou a terrestre? – Prefiro a existência do Espírito à do corpo.Porque estamos bem melhor do que na Terra. A Terra é um purgatório; durante todo o tempo em que nela vivi, sempre desejei a morte.
25 – Ficarias satisfeito se tivesses uma nova existência corporal? – Sim, porque sei que devo elevar-me.
26 – Quem te disse isso? – Eu o sei bem.
27 – Reencarnarás logo? – Não sei.
Da pergunta 28 em diante, pela primeira vez na RE, os presentes perguntam para o Espírito manifestante sobre outros Espíritos na Erraticidade:
28. ─ Vês outros Espíritos ao teu redor? ─ Sim, muitos.
29. ─ Como sabes que são Espíritos? ─ Entre nós, vemo-nos tais quais somos.
30. ─ Com que aparência os vês? ─ Como se podem ver Espíritos, mas não pelos olhos.
31. ─ E tu, sob que forma aqui estás? ─ Sob a que tinha quando vivo, isto é, como tambor.
32. ─ E vês os outros Espíritos com as formas que tinham em vida? ─ Não. Nós não tomamos uma aparência senão quando somos evocados. Fora disso vemo-nos sem forma.
RE julho 1858
Veja que interessante: Ele vê os outros Espíritos ao seu redor sem forma alguma! Ele não é um Espirito avançado, mas, fora do momento em que são evocados, na erraticidade, os Espíritos NÃO têm uma forma.
Os Espíritos não tem olhos, não tem ouvidos, nem tato… porque eles não tem necessidade no plano espiritual desse tipo de manifestação. “Nossa forma é apenas aparente”, diz o tambor.
A comunicação segue com perguntas sobre a manifestação das batidas na mesa, no que ele diz que está ao lado dela, que não se mete dentro dela.
37-Como produzes os ruídos que fazes ouvir? – Creio que é por intermédio de uma espécie de concentração de nossa força.
38 – Poderias explicar-nos a maneira pela qual são produzidos os diferentes ruídos que imitas, as arranhaduras, por exemplo? – Eu não saberia precisar muito a natureza dos ruídos; é difícil de explicar. Sei que arranho, mas não posso explicar como produzo esse ruído que chamais de arranhadura.
Depois foi perguntado que dependia para levantar uma mesa, no que ele respondeu: – Depende de mim, pois me sirvo do médium como de um instrumento.E além disso tem que ser com médiuns específicos, que eu me atraio.
48 – De que te ocupas em tua existência de Espírito, considerando que não deves passar o tempo todo somente a bater? – Muitas vezes tenho missões a cumprir; devemos obedecer a ordens superiores e, sobretudo, fazer o bem aos seres humanos que estão sob nossa influência.
49 – Por certo tua vida terrestre não foi isenta de faltas; reconhece-as, agora? – Sim; e por isso as expio, permanecendo estacionário entre os Espíritos inferiores; só poderei purificar-me bastante quando tomar um outro corpo.
OBSERVAÇÃO: Aqui fica evidente o reconhecimento de suas faltas e o arrependimento.
55 – Estás sempre na Terra, em tua existência espiritual? – Mais freqüentemente no espaço.
56 – Vais algumas vezes a outros mundos, isto é, a outros globos? – Não aos mais perfeitos, mas aos mundos inferiores.
57 – Por vezes te divertes em ver e ouvir o que fazem os homens? – Não; entretanto, algumas vezes tenho piedade deles.
65 – Tiveste consciência imediata de tua nova existência? – Não, mas já não sentia mais frio.
RE julho 1858
OBSERVAÇÃO: Ele não tinha mais consciência de seu corpo.
COMENTÁRIO DE KARDEC SOBRE A COMUNICAÇÃO: – Pouco avançado na hierarquia espírita, como se vê, o próprio Espírito do Tambor reconhecia a sua inferioridade. Seus conhecimentos são limitados; mas tem bom senso, sentimentos louváveis e benevolência. Como Espírito, sua missão carecia de significado, visto que desempenhava o papel de Espírito batedor para chamar os incrédulos à fé; contudo, mesmo no teatro, a humilde indumentária de comparsa não pode envolver um coração honesto? Suas respostas têm a simplicidade da ignorância; entretanto, pelo fato de não possuírem a elevação da linguagem filosófica dos Espíritos superiores, nem por isso deixam de ser menos instrutivas, sobretudo para o estudo dos costumes espíritas, se assim nos podemos exprimir. É somente estudando todas as classes desse mundo que nos aguarda que podemos chegar a conhecê-lo e nele marcar, de algum modo, por antecipação, o lugar que a cada um de nós será dado ocupar. Vendo a situação que, por seus vícios e virtudes, criaram os homens, nossos iguais aqui na Terra, sentimo-nos encorajados para nos elevar o mais rapidamente possível desde esta vida: é o exemplo ao lado da teoria. Para conhecermos bem alguma coisa, e dela fazermos uma ideia isenta de ilusões, é preciso dissecá-la em todos os seus aspectos, assim como o botânico não pode conhecer o reino vegetal a não ser observando desde o mais humilde criptógamo, que o musgo oculta, até o carvalho altaneiro, que se eleva nos ares.
Lição de Caligrafia
Nesse artigo, Kardec apresenta o seguinte caso: tendo o médium Sr. D. apresentado um fenômeno muito interessante – o de escrever com uma caligrafia muito melhor quando inspirado pelos Espíritos – um dos membros da Sociedade, Dr. V. , teve a ideia de evocar o Espírito de um calígrafo, Bertrand, para fins de observação.
Segundo O livro dos Médiuns,
270. Quando se deseja comunicar com determinado Espírito, é de toda necessidade evocá-lo. (item 203.) Se ele pode vir, a resposta é geralmente: Sim, ou Estou aqui, ou, ainda: Que quereis de mim? Às vezes, entra diretamente em matéria, respondendo de antemão às perguntas que se lhe queria dirigir.
271. Surpreende, não raro, a prontidão com que um Espírito evocado se apresenta, mesmo da primeira vez. Dir-se-ia que estava prevenido. É, com efeito, o que se dá, quando com a sua evocação se preocupa de antemão aquele que o evoca. Essa preocupação é uma espécie de evocação antecipada e, como temos sempre conosco os nossos Espíritos familiares, que se identificam com o nosso pensamento, eles preparam o caminho de tal sorte que, se nenhum obstáculo surge, o Espírito que desejamos chamar já se acha presente ao ser evocado.
Mas será que há perigo em Evocar Espiritos?
278. Uma questão importante se apresenta aqui, a de saber se há ou não inconveniente em evocar maus Espíritos.
Kardec, OLM
“Isso depende do fim que se tenha em vista e do ascendente que se possa exercer sobre eles. O inconveniente é nulo, quando são chamados com um fim sério, qual o de os instruir e melhorar; é, ao contrário, muito grande, quando chamados por mera curiosidade ou por divertimento, ou, ainda, quando quem os chama se põe na dependência deles, pedindo-lhes um serviço qualquer. Os bons Espíritos, nesse caso, podem muito bem dar-lhes o poder de fazerem o que se lhes pede, o que não exclui seja severamente punido mais tarde o temerário que ousou solicitar-lhe o auxílio e supô-los mais poderosos do que Deus. Será em vão que prometa a si mesmo, quem assim proceda, fazer dali em diante bom uso do auxílio pedido e despedir o servidor, uma vez prestado o serviço. Esse mesmo serviço que se solicitou, por mínimo que seja, constitui um verdadeiro pacto firmado com o mau Espírito e este não larga facilmente a sua presa.” (Veja-se o item 212.).
279. Ninguém exerce ascendentes sobre os Espíritos inferiores, senão pela superioridade moral. Os Espíritos perversos sentem que os homens de bem os dominam. Contra quem só lhes oponha a energia da vontade, espécie de força bruta, eles lutam e muitas vezes são os mais fortes. A alguém que procurava domar um Espírito rebelde, unicamente pela ação da sua vontade, respondeu àquele: Deixa-me em paz, com teus ares de matamouros, que não vales mais do que eu; dir-se-ia um ladrão a pregar moral a outro ladrão.
282. 11.ª. Haverá inconveniente em se evocarem Espíritos inferiores? E será de temer que, chamando-os, o evocador lhes fique sob o domínio? “Eles não dominam senão os que se deixam dominar. Aquele que é assistido por bons Espíritos nada tem que temer. Impõe-se aos Espíritos inferiores e não estes a ele. Isolados, os médiuns, sobretudo os que começam, devem abster-se de tais evocações. (item 278.)
Continuando com o artigo, onde o medium traz a comunicação:
3. ─ Sabe o principal objetivo que nos levou a pedir sua vinda? ─ Não, mas desejo sabê-lo.
OBSERVAÇÃO: O Espírito do Sr. Bertrand ainda se acha sob a influência da matéria, como seria de supor-se, dada a sua vida terrena. Sabe-se que tais Espíritos são menos aptos a ler o pensamento do que os já mais desmaterializados.
Daí em diante, o Espírito continua dando mais alguns detalhes sobre sua vida. Em linhas gerais, ele demonstrava um arrependimento por ter usado mal, ou ao menos não tão bem quanto podia, o seu tempo encarnado:
9. ─ Qual foi o seu gênero de vida? ─ Procurava satisfazer às necessidades do corpo.
10. ─ Cuidava um pouco das coisas de Além-Túmulo? ─ Quase nada.
11. ─ Lamenta não pertencer mais a este mundo? ─ Lamento não haver bem empregado a minha existência.
12. ─ É mais feliz do que na Terra? ─ Não. Eu sofro pelo bem que deixei de fazer.
13. ─ Que pensa do futuro que lhe está reservado? ─ Penso que me é necessária toda a misericórdia de Deus.
14. ─ Quais as suas relações no mundo em que se encontra? ─ Relações lamentáveis e infelizes.
15. ─ Quando vem à Terra, há lugares que frequenta, de preferência a outros? ─ Procuro as almas que se condoem de minhas penas ou que oram por mim.
17. ─ Diz-se que em vida foi muito pouco tolerante. É verdade? ─ Eu era muito violento.
18. ─ Que pensa do objetivo de nossas reuniões? ─ Gostaria muito de tê-las conhecido em vida. Elas me teriam tornado melhor.
19. ─ Vê aí outros Espíritos? ─ Sim, mas me sinto muito confuso em sua presença.
20 ─ Rogamos a Deus que o tenha em sua santa misericórdia. Os sentimentos que acaba de externar devem permitir que ache graça diante dele. Não duvidamos que o ajudem em seu progresso.
OBSERVAÇÃO: Os ensinamentos fornecidos pelo Espírito do Sr. Bertrand são absolutamente exatos e concordes com o gênero de vida e o caráter que lhe conheciam. Apenas ao confessar sua inferioridade e seus erros, a linguagem é mais séria e mais elevada do que se poderia esperar. Mais uma vez temos a prova da penosa situação dos que na Terra são muito apegados à matéria. É assim que os próprios Espíritos inferiores por vezes nos dão, pelo exemplo, valiosas lições de moral.
Suicídio Por Amor
Nesta edicão de Setembro de 1858 da RE, Kardec apresenta o caso de Louis G., um oficial sapateiro, que sete ou oito meses antes havia cometido suicídio à porta de sua namorada, Victorine R. que era a costureira de botinas.
Certa vez, Victorine R. e Louis G, que já estavam noivos, entraram em discussão profunda por um motivo banal, a ponto de Luís levantar-se e prometer nunca mais voltar.
No dia seguinte, de cabeça fria, o rapaz foi desculpar-se, mas não obteve êxito: Victorine R. se recusou reconciliar, a despeito de seu desespero.
Passados mais alguns dias, achando que sua amada seria razoável, Louis foi tentar novamente o pedido de desculpas, ao que foi novamente rechaçado. À porta de sua amada, disse-lhe: “Então adeus, ó malvada!” exclamou enfim o pobre rapaz, “Adeus para sempre! Procure um marido que a queira tanto quanto eu!” – e cravou no peito a sua faca de sapateiro, expirando ali mesmo.
Este artigo sobre a historia de Louis G e Victorine R. foi publicado na Siècle em 7 de abril de 1858.
Buscando obter ensinamentos morais sobre o fato, no dia 10 de agosto de 1858 Kardec evoca São Luís:
1. ─ A moça, causa involuntária da morte do namorado, tem responsabilidade? ─ Sim, porque não o amava.
Comentário: Causa estranhamento inicial esta resposta. Alguém tem culpa por não amar outra pessoa? Vamos entender.
2. ─ Para evitar essa desgraça, deveria ela desposá-lo, embora não o amasse? ─ Ela buscava uma ocasião para se separar dele; fez no começo de sua ligação o que teria feito mais tarde.
Comentário: Aqui, São Luís está dizendo que, cedo ou mais tarde, ela se separaria dele, pois, entendemos, não o amava realmente.
3. ─ Assim a culpabilidade consiste em ter nele alimentado sentimentos de que não partilhava e que foram a causa da morte do rapaz? ─ Sim. É isto mesmo.
4. ─ Neste caso, sua responsabilidade deve ser proporcional à falta, que não deve ser tão grande quanto se ela tivesse, de caso pensado, provocado a morte. ─ Isto salta aos olhos.
Comentário: Sua “culpa” não era tão grande porque ela não quis efetivamente a desgraça do outro. Apenas alimentou algo que lhe causou sofrimento.
Observação: Lembrando que “culpa” aqui não é algo perante a um juiz externo, mas ante à sua própria consciência. Afinal, é de supor que, desde aquele momento, ela deve ter carregado algum sentimento de culpa por conta da desgraça ocorrida com o rapaz.
5. ─ O suicídio de Louis G. encontra justificativa no desvario em que o mergulhou a obstinação de Victorine? ─ Sim, porque seu suicídio, provocado pelo amor, é menos criminoso aos olhos de Deus do que o do homem que quer livrar-se da vida por covardia.
Comentário: Aqui, quando se fala em “crime aos olhos de Deus”, precisamos compreender que era um neologismo de época. O “crime” está em se impor uma perda de tempo, talvez com um grande acúmulo de sofrimento, por conta da prova não vencida. Importa lembrar, também, dois aspectos: o primeiro é que S. Luís é um Espírito que foi, na vida, católico. O segundo é que, mesmo que ele não traga conceitos do catolicismo, ele falava conforme lhe poderiam entender.
Observação: Dizendo que esse suicídio é menos criminoso aos olhos de Deus, evidentemente significa que há criminalidade, posto que menor. A falta consiste na fraqueza que ele não soube vencer. É sem dúvida uma prova a que sucumbiu. Ora, os Espíritos nos ensinam que o mérito está em lutar vitoriosamente contra as provas de todo gênero, que são a essência da vida terrena.
Aqui temos dois problemas a discutir. O primeiro é reforçar o conhecimento trazido pelo Espiritismo, que apresenta suas conclusões, sem o intento de criar fantasias que tentem subjugar pelo medo. O suicídio, tido para muitos como algo que vai jogar a alma num inferno – seja lá que nome se dê para isso – e até fazer com que ela nasça com deformações na próxima vida, na realidade tem efeitos diversos, dependendo de cada ser e cada situação.
Em segundo lugar, de forma alguma São Luís está dizendo que o suicídio por amor é algo bom: ele apenas é mais escusável, ante à própria consciência, porque é praticamente um estado de loucura, enquanto que aquele que se mata para fugir à vida o faz quase sempre de caso pensado, e isso lhe causará um sofrimento maior quando constatar a verdade.
Dias depois, Kardec evoca o Espírito de Louis G., o suicída, lhe dirigindo as seguintes perguntas:
1. ─ Que pensais da ação que praticastes? ─ Victorine é uma ingrata. Errei em matar-me por ela, pois ela não o merecia.
2. ─ Então ela não vos amava? ─ Não. A princípio pensou que sim, mas estava iludida. A cena que fiz abriu-lhe os olhos. Depois, sentiu-se feliz com esse pretexto para desembaraçar-se de mim.
3. ─ E vós a amáveis sinceramente? ─ Eu tinha paixãopor ela. Acredito que era apenas isso. Se eu a amasse com puro amor, não teria querido magoá-la.
4. ─ Se ela soubesse que realmente queríeis matar-vos, ela teria persistido na recusa? ─ Não sei. Não creio, pois ela não era má. Entretanto, teria sido infeliz. Para ela foi melhor assim.
Vemos que esse Espírito chegou a uma conclusão importante, vendo que se matou por uma paixão. Ele entende que, se a amasse realmente, não teria querido magoá-la, isto é, não teria cometido um ato tão terrível a ponto de chocar-lhe tanto os sentimentos.
Paixão é um termo que designa um sentimento muito forte de atração por uma pessoa, objeto ou tema. A paixão é intensa, envolvente, um entusiasmo ou um desejo forte por qualquer coisa. O termo também é aplicado com frequência para designar um vívido interesse ou admiração por um ideal, causa ou atividade. No século XIX, a psicologia chamava de paixões o que hoje chamamos de emoções.
Quem sabe, numa nova encarnação, Um Espírito como esse que cometeu o suicídio, por ter encontrado essa lucidez, ao invés de planejar uma vida de sofrimentos como forma de castigo, não poderia escolher provas e oportunidades justamente para se dar a chance de aprender a se livrar das paixões, que frequentemente nos lançam na desgraça? Quantos assassinatos, aliás, se dão por aí não por ódio ou pensamento arquitetado no mal, mas simplesmente pelas paixões (hoje chamadas emoções)?
Continuando com o relato da evocação do suicida Louis G. :
5. ─ Ao chegar à sua porta tínheis intenção de vos matar, caso fosse recusado? ─ Não. Nem pensava nisso. Não a supunha tão obstinada. Somente quando vi sua teimosia é que fui tomado por uma vertigem.
6. ─ Parece que não lamentais o suicídio senão porque Victorine não o merecia. É vosso único sentimento?─ Neste momento, sim. Ainda me acho perturbado. Parece-me estar à sua porta. Sinto, porém, algo que não posso definir.
7. ─ Compreendereis mais tarde? ─ Sim, quando estiver desembaraçado… O que fiz foi ruim. Deveria tê-la deixado tranquila… Fui fraco e sofro as consequências… Como vedes, a paixão leva o homem à cegueira e a cometer erros absurdos. Ele só compreende quando é tarde demais.
8. ─ Dissestes que sofreis as consequências. Qual a pena que sofreis? ─ Errei abreviando a vida. Não deveria tê-lo feito. Deveria resistir em vez de acabar com tudo prematuramente. […]
Comentário: ele não diz que estava sendo roído por vermes, nem que estava numa região infernal, nem que estava preso ao corpo, nada do tipo. No estado de perturbação em que se encontrava, sua mente se ligou à cena fatídica, origem dos seus sofrimentos morais presentes, e é nela que seu pensamento ficou preso. Ora, nós mesmos fazemos isso encarnados, todos os dias.
Aqui temos confirmado o estado de “loucura”, levado pelas paixões, no qual entrou esse homem, que se matou num ato impensado. Quantos são os suicidas desse gênero? Contariam-se aos milhares, caso fosse algo divulgado. Infelizmente não é. Esses, sofrem, como sofria o Espírito de Louis G., por entenderem que o ato impensado lhes custou tempo e impôs sofrimentos a outrem. Daí a dizer que isso lhes levará a ficar anos se arrastando no “vale dos suicidas” ou que trarão para a nova encarnação alterações físicas por conta dessa culpa, há uma grande distância.
Se for pensar bem, ele nem queira se matar. foi um ato de raiva na hora. E pensamos que devemos nos deter muito nesse ensinamentos desse artigo, pois é um problema mundial da nossa sociedade atual. O número de suicídios aumentou muito. Vemos, aqui, o quão urgente é domarmos nossas paixões.
Observação: Esse relato de Louis G. consta do Livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec.((1)) Livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Editora FEAL, 2021, segunda parte, cap. V, pág. 337, o subtítulo: Louis e a Costureira de Calçados.
Os Talismãs
Nesse artigo, vamos tratar de uma medalha que um dos leitores da Revista Espírita comprou com detalhes interessantes e enigmáticos. Convém, inicialmente, apresentar o que é o cabalismo e esoterismo
A Cabala ou Cabalá (em hebraico: קַבָּלָה; romaniz.: Kabbalah ou Qabbālâ;[nt 1] literalmente: “receber/tradição”) é um método esotérico, disciplina e escola de pensamento no misticismo judaico.[1] Os cabalistas tradicionais do judaísmo são chamados Mekubalim (em hebraico: מְקוּבָלים) ou Maskilim ( משכילים; “iniciados“).
Já o esoterismo é o nome genérico que evidencia um conjunto de tradições e interpretações filosóficas das doutrinas e religiões – ou mesmo das Fraternidades Iniciáticas – que buscam transmitir um rol acerca de determinados assuntos que dizem respeito a aspectos da natureza da vida de maneira esotérica, ou seja, oculta. Só determinada parte das pessoas podem ter os ensinamentos.
Vemos que cabalismo, esoterismo, misticismo e ocultismo, todas “Ciencias Esotéricas”, se confundem, hoje, num grande caldeirão. Não significa dizer que não tenham nada de verdade: acontece que os sábios conheciam, à sua moda, a verdade sobre os Espíritos e a mediunidade, mas mantinham o conhecimento dentro de um círculo restrito, deixando, ao povo, uma face mística e fantástica. Eram poucos os iniciados…
Neste artigo, Kardec apresenta a historia da tal medalha, o talismã, que seu leitor, Sr. M., comprou num antiquário, que foi vendida como um Talismã…
Talismã: objeto a que seu portador atribui o poder mágico de realizar os seus desejos; objeto quando usado que pode fornecer poder mágico e/ou encantamento.
Interrogando à Srta. J., médium sonâmbula, foi dito que essa medalha havia pertencido a Cazotte e que possuía o poder especial de atrair os Espíritos e facilitar as evocações.
O Sr. Caudemberg, autor de uma série de comunicações que diz ter recebido, como médium, da Virgem Maria, lhe disse que era um objeto maléfico, próprio para atrair os demônios. A senhorita de Guldenstube, médium, irmã do Barão de Guldenstube, autor de uma obra sobre pneumatografia, ou escrita direta, lhe disse que a medalha tinha uma virtude magnética e poderia provocar o sonambulismo.
Não ficando satisfeito, o Sr. M. apresentou essa medalha, pedindo uma opinião pessoal a esse respeito, ao mesmo tempo que pedia que um Espírito superior pudesse falar sobre a realidade da influência desse objeto. Eis trechos da resposta de Kardec:
“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais, que nenhum poder exercem sobre eles. Em todos os tempos, os Espíritos superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas, e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia, por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, levado por antigos preconceitos terrenos, de que ainda se acha imbuído, quer quando conscientemente se diverte com a credulidade, como Espírito zombeteiro. […] Quem quer que tenha estudado a natureza dos Espíritos, não poderá racionalmente admitir sobre eles a influência de formas convencionais, nem de substâncias misturadas em certas proporções. Seria renovar as práticas do caldeirão das feiticeiras, dos gatos pretos, das galinhas pretas e de outras secretas maquinações.”
Quem utiliza a medalha, o tal talismã, efetivamente, possuirá uma força incontrolável, magica, fantástica, externa aos nossos sentidos? São efetivas? É só misticismo? Ou seria ela somente um gatilho mental para nos lembrarmos que a espiritualidade está a nossa volta? Várias são as afirmações frente a esses utensílios, que muitas e muitas religiões e ceitas usam.
Então os objetos não podem ter poder algum? Kardec continua:
“Já o mesmo não se dá com um objeto magnetizado, pois, como se sabe, têm o poder de provocar o sonambulismo ou certos fenômenos nervosos sobre a economia orgânica”.
Ora, então há sustentação no poder dos talismãs, dos cristais, etc?
“Mas, então, a virtude de tal objeto reside unicamente no fluido de que se acha momentaneamente impregnado e que assim se transmite, por via indireta, e não na forma, na cor, nem, principalmente, nos sinais de que possa estar sobrecarregado.”
Aqui, estamos falando especificamente sobre a influência sobre o Espírito – inclusive o encarnado. Se falarmos sobre a matéria, então não podemos descartar a interferência que objetos materiais específicos pode ter sobre ela.
O ponto central dessa discussão é: o objeto, em si, assim como uma cor, um sinal ou uma planta, não tem poder magnético (falando do magnetismo, que é o que age sobre o perispírito). Contudo, ao ser utilizado, mesmo que de forma esotérica (como sempre aconteceu) por alguém com poder magnético, esses ganham, momentaneamente, uma “carga” de magnetismo.
Ou seja: a hipnose funciona por conta de um poder magnético (explicar) do hipnotizador, que é um magnetizador (mesmo que não o saiba). Esse tema muitas vezes foi confundido com ocultismo e magia.
O que hipnotiza, afinal, não é o relógio que balança, mas o magnetismo do qual este pode estar impregnado, ou do magnetismo direto do magnetizador.
E Kardec segue:
“Um Espírito pode dizer: “Trace tal sinal e por ele saberei que você me chama, e eu virei.” Mas neste caso o sinal traçado é a expressão do pensamento; é uma evocação traduzida de modo material. Ora, seja qual for sua natureza dos Espíritos, eles não necessitam de semelhantes meios de comunicação. Os Espíritos superiores jamais os empregam. Os Espíritos inferiores podem fazê-lo visando seduzir as pessoas crédulas que querem sob sua dependência.
Regra geral: Para os Espíritos superiores a forma nada é. O pensamento é tudo. Todo Espírito que liga mais importância à forma que ao fundo, é inferior, e não merece nenhuma confiança, mesmo quando, vez por outra, diga algumas coisas boas, porque as boas coisas são por vezes um meio de sedução.
Tal era, de maneira geral, o nosso pensamento a respeito dos talismãs, como meio de entrar em relação com os Espíritos. Desnecessário dizer que ele também se aplica a outros meios empregados supersticiosamente, como preservativos de doenças e acidentes”
Uma vez mais, o foco é deixar de lado o misticismo para entender, pela razão, a mecânica do magnetismo e do pensamento. E isso sim é a fé: Jesus a praticava o tempo todo. Ele disse: “se tivessem a fé do tamanho de um grão de mostarda, moveriam as montanhas” e, vejamos: quem entende a ciência espírita e a ciência do magnetismo, tem uma fé inabalável, a ponto de, na época em que essas ciências estavam estabelecidas, movimentavam-se até mesmo as mesas.
Kardec, então, para complementar os estudos, evoca o Espírito de São Luis, pedindo observações sobre o talismã em questão. Ele responde:
“Fazeis bem não admitindo que os objetos materiais possam ter qualquer virtude sobre as manifestações, tanto para provocá-las quanto para impedi-las.
Muito frequentemente temos dito que as manifestações são espontâneas e que, além disso, jamais nos recusamos a responder ao vosso apelo. Por que pensais que sejamos obrigados a obedecer a uma coisa fabricada pelas criaturas?”
P. ─ Com que objetivo foi fabricada essa medalha? ─ Foi feita com o objetivo de chamar a atenção das pessoas que poderiam crer nisso; mas só por magnetizadores é que ela poderá ter sido feita com a intenção de magnetizar e adormecer um sensitivo. Os signos são mera fantasia.
P. ─ Dizem que ela pertenceu a Cazotte. Poderíamos evocá-lo para nos dar algumas informações a respeito? ─ É desnecessário. Ocupai-vos antes de coisas mais sérias.”
Letargia Extática – EQM – Experiência de quase Morte
Aqui, Kardec publica a conversa alem-túmulo da Senha Schwabenhaus. Ela entrou em EQM dias antes de desencarnar. O artigo abre campo para, uma vez mais, falar sobre o fenômeno do êxtase e do sonambulismo, sendo o primeiro uma classe especial do segundo.
O êxtase é o estado em que a independência da alma, com relação ao corpo, se manifesta de modo mais sensível e se torna, de certa forma, palpável.
No sonho e no sonambulismo, a alma vaga pelas regiões terrestres. No êxtase, penetra em um mundo desconhecido, o dos Espíritos etéreos, com os quais entra em comunicação […].
No estado de êxtase, o aniquilamento do corpo é quase completo. Fica-lhe somente, pode-se dizer, a vida orgânica. Sente-se que a alma se lhe acha presa unicamente por um fio, que mais um pequenino esforço quebraria sem remissão.
Kardec, O Livro dos Espíritos
“Muitos extáticos são joguetes da própria imaginação e de Espíritos zombeteiros que se aproveitam da exaltação deles. São raríssimos os que mereçam inteira confiança.”
O Livro dos Médiuns, Kardec
444. Que confiança se pode depositar nas revelações dos extáticos?
“O extático está sujeito a enganar-se muito frequentemente, sobretudo quando pretende penetrar no que deva continuar a ser mistério para o homem, porque, então, se deixa levar pela corrente das suas próprias ideias, ou se torna joguete de Espíritos mistificadores, que se aproveitam de seu entusiasmo para fasciná-lo.”
O Livro dos Espíritos, Kardec
Brevemente: a Sra. Schwabenhaus entrou em estado cataléptico (ou letárgico) e foi julgada morta. Deu-se então o funeral, enquanto, na verdade, ela se encontrava em estado de êxtase e vislumbrava toda uma verdade espiritual consoladora, junto à sua filha, morta aos 7 anos de idade. Foi-lhe concedida a dádiva de voltar e se despedir dos seus entes queridos, ao que atendeu com extrema felicidade. Pouco após, desencarnou definitivamente. Na época não existia o conhecimento sobre esses estados do corpo.
Na letargia, as forças vitais são dissipadas e o corpo adquire a aparência da morte, num sono profundo. Na catalepsia, essa suspensão das forças vitais, às vezes, fica localizada. Os letárgicos e catalépticos em geral observam o que acontece ao derredor. A alma tem consciência de si, mas não pode comunicar-se. Seria uma quase morte.
Kardec a evoca em 27 de abril de 1858 e esclarece algumas dúvidas, reforçando a tese de seu êxtase e outros pontos interessantes, em concordância doutrinária:
3. ─ Durante a vossa morte aparente ouvíeis o que se passava em torno e víeis o aparato dos funerais? ─ Minha alma estava muito preocupada com a sua felicidade próxima.
OBSERVAÇÃO: Sabe-se que em geral os letárgicos veem e ouvem o que se passa em volta de si e ao despertar conservam a lembrança. O fato que retratamos oferece a particularidade de ser o sono letárgico acompanhado de êxtase, o que explica o desvio da atenção da paciente.
5. ─ Podeis dizer-nos qual a diferença entre o sono natural e o sono letárgico? ─ O sono natural é o repouso do corpo; o letárgico é a exaltação da alma.
7. ─ Como se operou vosso retorno à vida? ─ Deus permitiu que eu voltasse para consolar os corações aflitos que me rodeavam.
8. ─ Desejaríamos uma explicação mais material. ─ Aquilo a que chamais perispírito ainda animava o meu envoltório terrestre.
OBSERVAÇÃO: Significa dizer que enquanto a vida do corpo permanece, o perispírito está ligado às células. Em OLE, veremos: 155. Como se opera a separação da alma e do corpo? “Rotos os laços que a retinham, ela se desprende.” (é a morte do corpo que causa a “saída” do Espírito): a) – A separação se dá instantaneamente por brusca transição? Haverá alguma linha de demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte? “Não; a alma se desprende gradualmente, não se escapa como um pássaro cativo a que se restitua subitamente a liberdade. Aqueles dois estados se tocam e confundem, de sorte que o Espírito se solta pouco a pouco dos laços que o prendiam. Estes laços se desatam, não se quebram.”
Kardec comenta a resposta da Sra. S., quando diz que sua filha seria um Espírito puro. É claro que ela deveria ser mais elevado, mas puro, aqui, é relativo.
Na pergunta 16, Kardec continua investigando a forma pela qual os Espíritos se vêem entre si. É interessante como a resposta de um Espírito mais elevado condiz com a resposta do Espírito citado no artigo “O Tambor de Beresina”, em julho de 1858. Vejamos a resposta da Sra. S.:
16. ─ Vós a reconhecestes [a filha] sob uma forma qualquer? ─ Só a vi como Espírito.
No artigo do Tambor de Beresina:
29. ─ Como sabes que são Espíritos [os outros que vê]? ─ Entre nós, vemo-nos tais quais somos.
32. ─ E vês os outros Espíritos com as formas que tinham em vida? ─ Não. Nós não tomamos uma aparência senão quando somos evocados. Fora disso vemo-nos sem forma.
Pergunta 31 (no artigo presente):
31. ─ Desde que aqui vos encontrais com a forma que tínheis na Terra, é pelos olhos que nos vedes? ─ Não, o Espírito não tem olhos. Só me encontro sob minha última forma para satisfazer às leis que regem os Espíritos quando evocados e obrigados a retomar aquilo a que chamais perispírito.
RE setembro /1858, Kardec
Essa afirmação do Espírito evocado é uma das conclusões que Kardec chega a respeito da forma dos Espiritos:
88. Os Espíritos têm forma determinada, limitada e constante?
“Para vós, não; para nós, sim. O Espírito é, se quiserdes, uma chama, um clarão, ou uma centelha etérea.”
a) – Essa chama ou centelha tem cor?
“Tem uma coloração que, para vós, vai do colorido escuro e opaco a uma cor brilhante, qual a do rubi, conforme o Espírito seja mais ou menos puro.”
Representam-se de ordinário os gênios com uma chama ou estrela na fronte. É uma alegoria, que lembra a natureza essencial dos Espíritos. Colocam-na no alto da cabeça, porque aí está a sede da inteligência.