Devemos expor os inimigos do Espiritismo?

Um questionamento que sempre me vem à mente e creio que vem às mentes de muitos é: o que fazer ante aos inimigos do Espiritismo? Devemos expô-los ou fazer isso seria falta de caridade?

Muitos recomendam que sigamos nosso caminho, fazendo a nossa parte, sem nem sequer citar esses indivíduos. Decerto, gastar um tempo precioso para ficar apenas refutando ou criticando os inimigos da Doutrina Espírita seria empregar um tempo precioso em uma guerra sem fim. Não, não vejo isso como útil. Contudo, penso de outro lado: e aqueles que os ouvem?

Quem são os inimigos do Espiritismo

Aqui é necessário fazer uma distinção importante: é que o Espiritismo tem seus inimigos declarados, mas também os tem em suas fileiras. Os primeiros são aqueles que criticam a Doutrina Espírita abertamente e, quase sempre sem nem saber do que falam, atacam-na de todos os lados. Esses são os menos perigosos. Já o segundo gênero de inimigos é aquele dos que se dizem espíritas, estudam a superfície da Doutrina, mas, voluntariamente ou não, atacam-na de dentro com a divulgação das mais falsas ideias, oriundas da aceitação cega das comunicações espíritas. Esses são os inimigos mais temerosos, e o Espiritismo os tem entre encarnados e desencarnados.

Muito difícil e desaconselhável será julgar sumariamente as intenções dos outros. Nalguns, elas podem ser bem aparentes e mesmo declaradas; em outros, elas podem até ser boas, mas, sendo o indivíduo propenso ao orgulho e à vaidade, dentre outras imperfeições, tornam-se nulas ou até danosas pelos efeitos que produzem. Mesmo aqui, temos outro problema, pois esses efeitos muitas vezes não são diretamente perceptíveis, mas se constroem por uma série de fatores, ao longo do tempo, ideia sobre ideia, sempre originadas da aceitação cega das opiniões isoladas de Espíritos encarnados e desencarnados.

Uma maneira muito simples de constatar o que digo, para o espírita estudioso das obras de Kardec, é fazer uma busca por “Espiritismo” no Youtube e muito facilmente encontrará grandes canais que, dizendo falar em Espiritismo, ensinam e sustentam as ideias absurdas e danosas ao Espiritismo, dentre alguns acertos. Na maioria das vezes não são inimigos do Espiritismo e até desejam fazer o bem, mas, pela resistência em estudar a ciência que dizem abraçar, servem à divulgação de ideias contrárias à Doutrina. É assim que vemos canais como o “Espiritismo Raiz“, por um tempo o maior canal brasileiro dito “espírita”, afirmando e ensinando, dentre outros erros, que os Espíritos encarnam apenas para expiações, que seriam, segundo ele diz, pagamentos de débitos — uma completa distorção doutrinária que leva a diversos efeitos negativos, como demonstrei neste artigo. Eduardo Sabbag, dono desse canal, recentemente fez participações no canal Casa Plataforma de Oração, onde o principal “palestrante” afirma, supostamente mediunizado, que ele seria a reencarnação de Allan Kardec e em vários momentos se compara a Jesus, para então trazer temas ligados à ufologia e às ideias ramatissistas, sustentadas e divulgadas especialmente pelo médium Hercílio Maes. Fez também participação no Canal Espírita, do Luiz Fernando Amaral (que se apresenta como “professor” nesse canal) que, dentre alguns acertos (quando retoma Kardec) comete diversos enganos, quando parte da aceitação cega de comunicações de Espíritos, principalmente dadas via romances.

Todos esses enganos seriam facilmente evitados pelo estudo da Revista Espírita e de outras obras de Kardec.

Aqui é onde encontramos a maior dificuldade que, atualmente, assola o Espiritismo e esconde a doutrina sob uma espessa camada de falsas ideias: quando as pessoas, ditas espíritas, esquecem-se de (ou se negam a) estudar as obras de Kardec e passam a admitir “novidades” que dão nasceram do método científico indispensável. Já abordamos esse problema diversas vezes, sendo os artigos “O papel do pesquisador e do médium nas comunicações com os Espíritos” e “Devemos publicar tudo quanto dizem os Espíritos?” os mais interessantes deles.

Os Espíritos ligados ao mal, inimigos do Espiritismo, se valem dos indivíduos que não estudam a ciência espírita e que a tudo aceitam e publicam, para dificultar o avanço dessa doutrina cuja filosofia tem o potencial de transformar o mundo. Pela vaidade em crerem-se plenos de sabedoria por, invariavelmente, julgarem-se especialmente cercados apenas de Espíritos da mais alta evolução, servem ao propósito dos Espíritos mistificadores.

Então, que fazer se eles não querem estudar? Que fazer se respondem com resistência e truculência ao apontarmos que algo que divulgam não está conforme o Espiritismo ensina?

Certamente não podemos forçá-los a um entendimento que não querem adquirir, e caberá ao tempo e à punição oferecida por suas próprias consciências a cobrança do mal que fizeram ao desviar ou atrasar muitos com suas ideias e com suas resistências em estudar. Infelizmente, essas pessoas encontram, nos meios digitais, um meio de controle sobre suas ideologias, bastando remover comentários ou bloquear usuários que discordem deles.

São grandes canais. Contam com centenas de milhares de seguidores. Certamente têm, dentre estes, grande número de pessoas que apenas querem acreditar e que não se esforçam por raciocinar, talvez até por desconhecimento (que eles poderiam estar ajudando a reduzir). Mas, cedo ou tarde, suas consciências despertarão e, então, passarão a buscar respostas.

Penso que o melhor que podemos fazer é produzir material apontando o verdadeiro entendimento doutrinário. Assim podemos dar a chance de que as pessoas que busquem por determinado assunto, ou mesmo por esses canais, possam encontrar o conteúdo proveniente da ciência espírita. Aprendamos a demonstrar seus erros, sem cair em erro maior, que seria o de levar ao nível pessoal das acusações depreciativas. Podemos discordar e apontar o erro em suas ideias, como Kardec fazia, baseando-nos no Espiritismo para isso, como recomenda Kardec na Revista Espírita de 1863:

“É assim que procedem os detratores do Espiritismo: por suas calúnias eles mostram as fraquezas de sua própria causa e a desacreditam, mostrando a que lamentáveis extremos são obrigados a recorrer para sustentá-la. Que peso pode ter uma opinião fundada em erros manifestos? De duas, uma: ou os erros são voluntários e então está vista a má-fé; ou são involuntários e o autor prova a sua inconsequência, falando do que não sabe. Num caso, como no outro, perde o direito à confiança.

O Espiritismo não é obra que marche na sombra. Ele é conhecido; seus princípios são formulados com clareza, precisão e sem ambiguidades. A calúnia não poderia, pois, atingi-lo. Para convencê-la de impostura basta dizer: leia e veja. Sem dúvida, é útil desmascará-la. Mas é preciso fazê-lo com calma, sem azedume nem recriminação, limitando-se a opor, sem palavras supérfluas, o que é ao que não é. Deixai aos vossos adversários a cólera e as injúrias, e guardai para vós o papel da força verdadeira: o da dignidade e da moderação.”

Revista Espírita, Março de 1863. Grifos meus.

Assim, não percamos tempo em ataques pessoais. É claro que esses se vitimizarão, visando manipular seu público de fiéis. Não caiamos no mesmo erro. Ajamos como o bom pesquisador, o bom cientista, que discute sobre fatos e evidências, e não sobre opiniões e muito menos sobre as pessoas que as emitem. É o que Kardec sempre fez.

“Tereis que lutar não só contra os orgulhosos, os egoístas, os materialistas e todos esses infelizes que estão imbuídos do espírito do século, mas ainda, e sobretudo, contra a turba de Espíritos enganadores que, encontrando em vosso meio uma rara reunião de médiuns, pois a tal respeito sois os mais aquinhoados, em breve virão assaltar-vos, uns com dissertações sabiamente combinadas, nas quais, graças a tiradas piedosas, insinuarão a heresia ou algum princípio dissolvente; outros com comunicações abertamente hostis aos ensinos dados pelos verdadeiros missionários do Espírito de Verdade. Ah! Crede-me, não temais desmascarar os embusteiros que, novos Tartufos, se introduziriam entre vós sob a máscara da religião”

Espírito de Erasto, Revista Espírita de 1861. Grifos meus.




Médiuns: Espíritos endividados?

Mais uma ideia que reina no meio Espírita: médiuns seriam Espíritos endividados que nascem para resgatar dívidas de vidas passadas.

Eu gostaria que as pessoas que repetem essas ideias apresentassem onde essa ela consta na obra de Allan Kardec. Será uma tarefa árdua, pois não encontrarão. A mediunidade é uma escolha, muitas vezes visando levar o indivíduo ao estudo do Espiritismo, mas muitos acabam tropeçando pelos caminhos da vaidade e do orgulho e desperdiçam essa oportunidade.

Essa ideia é oriunda das falsas ideias ligadas ao carma, como sempre. Já tratamos disso diversas vezes.

Não temos muito a falar sobre isso, porque a ideia é facilmente superada. Apenas queremos dizer que, para ser bom médium, é importante saber lidar bem com essa verdadeira ciência que nos permite comunicarmo-nos com os Espíritos. Os estudos de Allan Kardec, organizados pelo Espírito de Verdade, deram a base dessa ciência e foram os únicos a abordarem, com metodologia científica, os fenômenos mediúnicos. Não deixem esse estudo de lado se quiserem ser realmente úteis.




Ramatis e o degredo planetário

É preciso tomar muito cuidado. Não é que fora de Kardec não exista verdade: é que, sem método científico na comunicação com os Espíritos, admitem-se mentiras, ilusões e verdades, cega e indiscriminadamente.

É muito patente observar que Ramatis (ou todo Espírito que se identifica com esse nome) transmite absurdos racionais e científicos, tendo muitos deles já sido desmentidos pela ciência elementar.

Esses Espíritos partem da ideia errada da queda pelo pecado, e, assim, ensinam, por acreditarem ou por vontade de mistificar, falsas ideias ligadas a um Deus punidor, que castiga o erro. É exatamente o princípio dos erros das religiões e, nesse sentido, aí não há nada de Espiritismo – basta estudar O Céu e o Inferno, A Gênese e a Revista Espírita, de 1858 a 1869, para certificar-se disso.

Por meio de um médium, pode falar qualquer Espírito. Se, do nosso lado, acreditamos cegamente, seremos facilmente fascinados por Espíritos mistificadores.

Leia o artigo “O papel do pesquisador e do médium nas comunicações com os Espíritos“.




O Canal Espírita e o Espiritismo

O “Canal Espírita”, do Luiz Fernando Amaral, no Youtube, é um canal que já abarca quase oitocentos mil seguidores, com milhares de visualizações. Por seu tamanho e pela expressividade que ele tem nesse meio, é preocupante ver, por ali, a circulação e a divulgação de certas ideias até mesmo contrárias à Doutrina Espírita.

De forma alguma duvido das boas intenções do Luiz Fernando. Só não entendo o porquê da resistência em estudar e divulgar o Espiritismo como ele realmente seja, já que esse conhecimento nos ajuda a errarmos menos e sermos mais úteis.

Ao deixar Kardec, deixamos de lado os esforços do próprio Espírito de Verdade

Muitos não pensam que, ao deixarem Kardec de lado para ficarem com “novidades” não provenientes do método científico, deixam de lado os esforços de Espíritos superiores e do próprio Espírito de Verdade, quem coordenou a iniciativa do nascimento da Doutrina Espírita. Não se trata da opinião de um homem, mas do Consolador prometido por Jesus. Kardec não terminou em sua posição por acaso: foi planejado por um esforço superior. O método por ele desenvolvido — a concordância universal submetida ao critério da razão — é necessário e não pode ser abandonado!

Ora, queremos tratar o Espiritismo como algo menor? Como um “esforçosinho” de menor importância, superado pelas meras ideias de qualquer um que venha dar a sua opinião? Ora, espíritas, botemos a mão na consciência!

Não sou da opinião, porque não é um fato, de que o Espiritismo tenha sido encerrado com Kardec; contudo, por se tratar de uma ciência, para ser continuado, carece necessariamente do método científico, de forma que não podemos simplesmente aceitar ideias e comunicações quaisquer como se fossem verdeiras, não importa por qual médium sejam dadas ou qual nome o Espírito apresente.

Da mesma forma, não podemos simplesmente descartar comunicações dos Espíritos fora da codificação. Uma vez mais: precisamos de método científico e racional, e não apenas de aceitação ou negação cegas.

Falsas ideias, oriundas de opiniões isoladas

O Luiz Fernando, no Canal Espírita, dentre alguns vídeos em que retorna a Kardec, frequentemente faz vídeos divulgando e reforçando falsas ideias que se infiltraram no meio Espírita. Contamos, dentre elas, aquelas ligadas ao karma ou mesmo ao “exílio” de Espíritos, além das ideias ligadas ao Umbral, psicografias genéricas não verificadas, colônias espirituais de animais, etc. Ideias que o estudo do Espiritismo rapidamente demonstra como incertas ou enganosas. E qual é o problema disso?

O problema é que, lenta e persistentemente, as ideias aceitas cegamente vão minando o Espiritismo e atrapalhando cada vez mais seu progresso e seu real potencial de alavancar a humanidade. Por falta de conhecimento e de compromisso com a ciência nascida dos esforços de Espíritos elevados, mas também por apego às ideias nascidas nos romances, permite-se que Espíritos pouco inferiores, ou mesmo imperfeitos, espalhem suas ideias danosas no meio Espírita.

Allan Kardec foi enfático em demonstrar, como resultado de seus longos anos de estudos, que os Espíritos, após deixarem o corpo, continuam sendo quem eram. Muitos, a grande maioria, continuam carregando falsas ideias e apegos. Não ganham a plena ciência sobre o mundo dos Espíritos simplesmente por deixarem o corpo. Outros são inimigos declarados do Espiritismo, porque encontram nele a demolição das ideias às quais se apegam, por ignorância. Esse é o motivo de muitos deles apresentarem ideias contrárias àquilo que ficou demonstrado pelo estudo de milhares de evocações e comunicações de milhares de Espíritos, por milhares de médiuns, por toda parte.

Relutância em estudar

Mas o Luiz Fernando, no Canal Espírita, infelizmente parece escolher apenas relutar, e digo isso pela forma com que já me respondeu ao destacar incongruências entre o Espiritismo e certas ideias por ele divulgadas, nascidas de opiniões isoladas. Recentemente, gravou um vídeo criticando quem recomende voltar a Kardec, porque parece lhe ser mais agradável divulgar ideias nascidas de romances e supostas psicografias não verificadas. Ao invés de decidir abrir a Revista Espírita e estudar, escolhe rebater afetadamente as críticas aos seus vídeos com ideias contrárias ao Espiritismo e se arvora sob a ideia de que, sendo médium, estaria sendo guiado por bons Espíritos apenas. Além disso, tenta formar a ideia de que criticá-lo é dar azo a “baixas vibrações”.

Sim, nós precisamos retomar o desenvolvimento da ciência espírita. Mas, para isso, precisamos primeiramente retomá-la como ciência, compreendendo seus princípios e seus métodos, desenvolvidos às custas da saúde e dos recursos de Kardec, por anos a fio. Hoje, pela renitência em estudar, erra-se nas coisas mais pífias, mais absurdas, enquanto tão simples seriam de serem evitadas com um estudo mais cuidadoso do Espiritismo.

Uma vez mais, recomendamos a todos que voltem a estudar a Revista Espírita e as demais obras de Kardec, principalmente quando se fala para muitos. Mesmo estudando, às vezes erramos, mas ao menos não teremos nossa consciência nos acusando de não termos procurado conhecer o conhecimento que insistentemente nos batia à porta e que, hoje, está a três cliques de distância.

Desejo que o colega seja tocado em sua consciência o quanto antes. Tem um potencial gigantesco em seu canal. Só falta utilizar desse potencial para espalhar o Espiritismo de verdade, afastado das falsas ideias. Além disso, espero que ele deixe de levar essas questões para o lado pessoal, principalmente quando se trata de uma ciência. Eu mesmo recebo muitas críticas e mesmo agradeço por elas, pois são frequentes oportunidades de novamente consultar a consciência sobre o que eu faço, nunca me arvorando sob a ideia de que eu estaria isento de erros por acreditar que somente bons Espíritos estariam ao meu redor.

“Você quer fazer o bem, não duvido. Quer falar do Espiritismo, porque entende ser um conteúdo bom. Mas o Espiritismo que conhece é o dos romances, e não o original. Reproduz, assim, ideias nascidas das opiniões isoladas de certos Espíritos, muitas vezes incompletas, enganosas e até contrárias ao Espiritismo e à razão. O efeito é contrário: longe de ajudar as pessoas a subir degraus, muitas vezes as afasta da escada.

O Espiritismo existe nas obras de Kardec, bem descrito na Revista Espírita, e foi desenvolvido sobre método científico. Não foi concluído, mas, para ser desenvolvido, precisa do mesmo método.”

Paulo Degering R. Junior

Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-­lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto, fanáticos, desligados da realidade imediata.

José Herculano Pires — O Centro Espírita

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O Céu e o Inferno e a esdrúxula campanha do CSI do Espiritismo e do Portal Luz Espírita

O portal Luz Espírita, sustentado por pesquisas enviesadas de Carlos Seth e outros, continua fazendo uma “campanha esdrúxula” ((Tomo a liberdade de utilizar o mesmo termo usado por eles contra quem eles discordam)) contra aqueles que concluem diferentemente deles, baseados em pilhas de evidências que eles escolhem desconsiderar. Notório dizer que, “do lado de cá”, longe de descartarmos as evidências por eles encontradas, apenas verificamos que elas não provam a impossibilidade de que as adulterações tenham ocorrido. Tudo o que eles têm são evidências de que Kardec havia iniciado a produção de novas edições de O Céu e o Inferno e A Gênese, mas não que ele as tenha concluído nem que as obras impressas após sua morte não tenham sofrido alterações. Além disso, não fazem o principal: explicar as diferenças absurdas, não anunciadas e mesmo contraditórias entre uma edição e outra.

A questão é que não desejamos obter o monopólio do bom-senso e da verdade, coisa que eles insistem em fazer, sem que tentem fazer o que mais importa: explicar o motivo das diferenças grotescas entre as edições em questão. Colocamos, por exemplo, algumas diferenças entre a quarta edição de O Céu e o Inferno, registrada após a morte de Kardec, e a terceira edição (igual à primeira). Respectivamente:

Quarta edição de O Céu e o Inferno

Registrada após a morte de Kardec.

  • Capítulo VIII tornou-se capítulo VII;
  • Removeu-se a maior parte da retórica filosófica com a qual Kardec abria o capítulo
  • O título “As penas futuras segundo o Espiritismo” tornou-se “Código penal da vida futura“.

7.º — O Espírito sofre pelo próprio mal que fez, de maneira que sua atenção estando incessantemente concentrada nas consequências desse mal, ele compreenda melhor seus inconvenientes e seja motivado a corrigir-se.

8.º — Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, um único bom movimento da alma, o mais leve mérito, numa palavra, que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, 4.ª edição.

O item 10 é, talvez, a maior prova da adulteração (clique para ler o artigo).

Terceira edição de O Céu e o Inferno

Publicada e registrada por Allan Kardec.

Capítulo VIII — As penas futuras segundo o Espiritismo

7. Sendo a justiça de Deus infinita, é mantida uma conta rigorosa do bem e do mal; se não há uma única má ação, um único mau pensamento que não tenha suas consequências fatais, não há uma única boa ação, nem um único bom movimento da alma — em suma, o mais singelo mérito — que seja perdido, mesmo nos mais perversos, porque é um começo de progresso.

8. A duração do castigo está subordinada ao aperfeiçoamento do espírito culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr fim aos sofrimentos é o arrependimento, a expiação e a reparação — em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem.

O espírito é, assim, sempre o árbitro de seu próprio destino; ele pode prolongar seus sofrimentos por seu endurecimento no mal, aliviá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem. Uma condenação por um tempo determinado qualquer teria o duplo inconveniente de ou continuar a atingir o espírito que se houvesse aperfeiçoado, ou cessar quando ele ainda estivesse no mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto este existe; e encerra a punição quando o mal não existe mais. Assim se acha confirmada esta expressão: Eu não quero a morte do pecador, mas que ele viva, e eu o acusarei ATÉ QUE ELE SE ARREPENDA.

9. Estando a duração do castigo subordinada ao arrependimento, resulta daí que o espírito culpado que não se arrependesse e jamais se aperfeiçoasse sofreria sempre, e que, para ele, a pena seria eterna. A eternidade das penas deve então ser entendida no sentido relativo, e não no sentido absoluto.

O Céu e o Inferno, 1.ª a 3.ª edições.

Podemos notar uma diferença gritante entre as edições. Da mesma forma, a quinta edição de A Gênese contém alterações inexplicáveis entre a edição publicada por Allan Kardec e a edição registrada quase três anos após sua morte.

Não poupamos esforços

Já abordamos o tema várias vezes. Aqueles mencionados anteriormente não poupam palavras e termos depreciativos para tentar lançar descrédito por aqueles que concluem diferentemente deles. Nós, portanto, fazemos a nossa parte, baseados em fartas evidências, e com a certeza de que a outra parte nunca se dedicou a ler e refletir com calma sobre todas elas. Não dizemos: “esta é a verdade final”, mas dizemos: “não se deixem guiar por quem tente tomar o monopólio da verdade”.

É interessante notar como os textos da outra parte são sempre apaixonados, isto é, carregam uma grande nota de emoção e de raiva ou inveja aparentes. Isso já denota uma urgência por provocar a crença por outros meios, que não os da razão. Aliás, nesse afã de dominar a verdade, Carlos Seth já cometeu gafes tão banais como querer dizer que falar em Espiritualismo Racional seria trazer uma divisão para o meio espírita.

É ainda mais interessante notar que eles nunca mencionam o nome de Paulo Henrique de Figueiredo, nem trazem suas evidências e seus argumentos para a discussão. Apenas se limitam a dizer que eles já refutaram tudo — ao que discordamos profundamente. Fazem o mesmo com a Simoni Privato, embora ainda citem seu nome.

Bem, sem buscar prolongar esse assunto de maneira cansativa, agradecemos sempre a livre propaganda que eles mesmos fazem contra as ideias que não podem aceitar.




A “Casa plataforma de oração” e o Espiritismo

Não é de meu costume abordar nomeadamente grupos ou indivíduos. Neste caso, em relação ao grupo “Casa Plataforma de Oração”, penso que isso se faz indispensável, já que se utiliza do nome do Espiritismo.

Quero começar relembrando que a mediunidade não é exclusividade de nenhuma religião, nem do Espiritismo. Todo mundo pode praticá-la, bem ou mal. O problema é quando se coloca de lado uma ciência e seus conhecimentos, obtidos com árduo trabalho de investigação, enquanto, levianamente, utiliza-se do nome e dos termos dessa ciência para se dar credibilidade. Pasmem: o principal personagem dessa seita diz ser o próprio Kardec e constantemente se compara a Jesus, rebaixando o Mestre ao nível de um relés homem mundano.

Mais grave ainda é quando, colocando de lado essa ciência, mas utilizando-se de seu nome, se permite enganar e ser enganado justamente pelos erros que seriam evitados pelo conhecimento real que ela traz.

O Espiritismo, bem sabemos pelos nossos estudos, não lança anátema. Antes diz: a cada um segundo suas obras. Aliás, de forma alguma venho julgar as intenções desse grupo, que podem ser louváveis… Mas penso que nos compete pontuar e defender o Espiritismo quando outros lançam falsas ideias em seu nome.

O que infelizmente vemos, no canal do grupo citado, é um grande perigo que eles mesmos correm: médiuns que se entregaram à crença cega no que dizem os Espíritos, se é que o dizem. Entregam-se à fascinação e à obsessão e levianamente, sem conhecimento, citam o Espiritismo, apenas para renegá-lo.

Não creio necessário retomarmos os inúmeros pontos onde a ciência espírita demonstrou os graves problemas nos quais as práticas ali adotadas os lançam. Temos alguns artigos que falam sobre isso, como O papel do pesquisador e do médium nas comunicações com os Espíritos, Obsedados e Subjugados — Os perigos do Espiritismo e A luta contra um Espírito obsessor.

Ali, no canal do grupo Casa Plataforma de Oração, vemos não apenas uma ação persistente de Espíritos que usam nomes veneráveis para lançar os mais completos absurdos, o que não deveria acontecer entre pessoas que estudam o Espiritismo. Vemos, também, a frequente referência ao Espiritismo, mas não como fontes de estudos.

Referem-se apenas em nome e termos, mas divulgam apenas ideias contrárias à Doutrina Espírita e atacam os defensores da ciência espírita, tachando-os de “espíritas engessados”, por demonstrarem que o Espiritismo desmente o que dizem.

A posição por eles adotadas é lamentável, muito mais para eles, que terão muito a expiar no futuro, mas também àqueles que os ouvem. Muitos neófitos podem cair em um de seus vídeos, crendo que falam em Espiritismo, e aceitando, assim, as coisas mais absurdas e mesmo danosas.

É apenas isso o que desejo destacar, adicionando: é uma pena que, ao invés de buscarem a mediunidade sadia, colocando-se a cooperar, escolhem eles mesmos caírem nos mais terríveis erros, tantas vezes encontrados por Kardec no estudo do Espiritismo. Chegam ao cúmulo de admitir as absurdas ideias que nasceram do livro “Cartas de Cristo”, onde chega-se a afirmar que Jesus, antes de “despertar” para a sua missão, teria sido um fanfarrão, beberrão e mulherengo. Mas não para aí: o principal “médium” ali chega se comparar a Jesus Cristo!

Que isto sirva de alerta àqueles que tenham dúvidas: ali, o que se pratica é mediunidade, praticada sem nenhum cuidado, e não o Espiritismo. Se o Espiritismo fosse presente, pelo estudo das obras de Kardec, nascidas da metodologia científica séria, não veríamos erros lastimáveis, ideias completamente absurdas e ataques à razão em suas reuniões, gravadas em vídeo.

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Reforma íntima e Espiritismo

Reina, no Movimento Espírita moderno, consideravelmente afastado do Espiritismo, a insistente ideia, quase impositiva, da realização de uma reforma íntima. Prega-se a necessidade de seguir o Evangelho, utilizando-se, para isso, das conhecidas reuniões de leitura familiar do Evangelho Segundo o Espiritismo, que quase sempre recomendam abrir aleatoriamente um livro que deveria ser estudado como as demais obras de Allan Kardec.

Eu não seria louco o suficiente para dizer que a reforma moral e os ensinamentos morais de Jesus não sejam importantes. Muito pelo contrário: são muito, e também não são poucas as vezes em que Kardec ou os Espíritos falam da importante reforma moral suscitada pelo Espiritismo, Doutrina essa capaz de, pelo raciocínio, instigar o ser humano a melhores resoluções. Não, esse não é o problema.

O que venho destacar é que existe uma falsa ideia reinando no Movimento, dentre tantas outras: a de que a Terra, sendo um planeta de provas e expiações, apenas receba Espíritos em expiações, ou seja, Espíritos com pendores passados. Isso não é verdadeiro, como demonstrarei a seguir.

Provas

Provas são todas as dificuldades que enfrentamos na vida, e que nem sempre são resultados de nossas escolhas. Podemos, por exemplo, viver em uma cidade em que, em determinado momento, uma represa próxima estoure, causando uma inundação e levando nossa casa ou nossa vida. Isso é uma prova que não desejávamos, mas que passaremos, porque faz parte das leis da matéria. Podemos, também, passar anos sendo medicados por um remédio que nos cause efeitos adversos e destrua nossa saúde. Isso também é uma prova, como seria a erupção de um vulcão adormecido, próximo de onde vivemos. Faz parte.

Às vezes, porém, atravessamos provas que resultam das nossas escolhas. Ainda aqui, às vezes o resultado é indireto ou involuntário: podemos escolher praticar um ato que dê resultados indesejados, nos causando uma prova.

Mas existem as provas que são diretamente frutos de nossas escolhas passadas, como Espíritos. Arrependidos de um desvio moral, escolhemos um certo gênero de provas e de oportunidades que nos darão a chance de enfrentar e corrigir esse desvio. Aqui sim caberia o termo “Reforma íntima”, segundo o entendimento do Espiritismo. E aqui está a chave do problema: nem todos desenvolveram imperfeições no passado, e nem todos, no momento em que vivemos, estão passando por expiações.

121. Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?

“Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria.”

O Livro dos Espíritos

Imperfeições

Imperfeição, segundo o que podemos depreender do estudo do Espiritismo, é tudo aquilo que nasce do livre exercício da vontade na repetição de um erro, criando uma imperfeição, o que demandará a expiação.

Somos criados todos simples e ignorantes, tendo todos as mesmas oportunidades de seguir o caminho adiante. Todos, nesse caminho, cometerão erros, porque é impossível não errar quando somos ignorantes. Quantas vezes erramos, tentando acertar? Contudo, nem todos se apegam aos erros, desenvolvendo imperfeições. Alguns aprendem como erro e rapidamente os superam.

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem?

“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”

a) — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

Chegam mais depressa ao fim. Ademais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”

O Livro dos Espíritos. Grifos nossos.

Note que Kardec entendeu, colocou em questão e não foi desmentido: existem aqueles que desde sempre seguiram o caminho do bem, o que não quer dizer que não erraram, mas apenas que não se apegaram ao erro.

Duvida do que eu digo? Que bom, quer dizer que está raciocinando. Mas, para raciocinar bem, é necessário ter base em algo. Sugiro, portanto, a leitura das questões 114 a 127 de O Livro dos Espíritos, além dessa exposta. Também não estou tirando tudo isso da minha cabeça, como destaco aqui.

Escala Espírita

Ademais, note que a Escala Espírita (100 a 113), que foi apenas um esboço classificatório proposto por Kardec, diz o seguinte dos Espíritos imperfeitos:

“101. Características gerais. – Predominância da matéria sobre o espírito. Propensão para o mal. Ignorância, orgulho, egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes.”

Ignorância, com certeza, posto que não é possível conhecer a lei divina, em realidade, e ainda assim praticar o mal. Isso seria retrogradar, o que o Espírito não faz. Mas note que, junto a isso, estão o orgulho, o egoísmo e todas as paixões que lhes são consequentes – imperfeições desenvolvidas pelo apego àquilo que satisfaz aos desejos materialistas.

Algo mais a destacar: note que Kardec classifica a primeira classe como “Primeira ordem – Espíritos puros”, e não como “Espíritos perfeitos”. Kardec não aborda uma “dualidade” entre Espíritos perfeitos e imperfeitos. E vimos, acima, que um Espírito pode, ao que tudo indica, ocupar a segunda classe desde o início – e, se você discordar, por favor, vamos dialogar.

Expiação

Expiação é algo que está bem definido em O Céu e o Inferno, em sua edição não adulterada, encontrada na Editora FEAL. Kardec definiu, como resultado do estudo de longos anos, que ela é o esforço livre e consciente do Espírito que busca, honestamente, reparar um desvio que tenha tomado:

8º) A duração do castigo está subordinada ao aperfeiçoamento do espírito culpado. Nenhuma condenação por um tempo determinado é pronunciada contra ele. O que Deus exige para pôr fim aos sofrimentos é o arrependimento, a expiação e a reparação – em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem ((Didaticamente, podemos interpretar expiação como o aperfeiçoamento sério e efetivo, e reparação como um retorno sincero ao bem. No item 23, Kardec define arrependimento como ‘fato da livre vontade do homem’. Ou seja, o espírito imperfeito primeiro conscientiza-se e escolhe superar sua condição, faz então a escolha das provas como expiação, objetivando seu aperfeiçoamento, retornando assim ao bem, conquistando a felicidade ao desenvolver as faculdades de sua alma. (N. do E.) )).

O espírito é, assim, sempre o árbitro de seu próprio destino; ele pode prolongar seus sofrimentos por seu endurecimento no mal, aliviá-los ou abreviá-los por seus esforços para fazer o bem.

Uma condenação por um tempo determinado qualquer teria o duplo inconveniente de ou continuar a atingir o espírito que se houvesse aperfeiçoado, ou cessar quando ele ainda estivesse no mal. Deus, que é justo, pune o mal enquanto este existe; e encerra a punição quando o mal não existe mais.

Assim se acha confirmada esta expressão: Eu não quero a morte do pecador, mas que ele viva, e eu o acusarei ATÉ QUE ELE SE ARREPENDA ((Se o ímpio faz penitência de todos os pecados que cometeu, se ele guarda todos meus preceitos e age segundo a equidade e a justiça, ele certamente viverá e não morrerá – Eu não me lembrarei mais das iniquidades que ele tenha cometido; ele viverá nas obras de justiça que terá feito – Quero eu a morte do ímpio, diz o Senhor Deus? E não quero antes que ele se converta, retire-se do mau caminho e viva? (Ez, 18:21-23; 23:11.) (N. do A.) )).

O Céu e o Inferno, editora FEAL

Mundo de Provas e Expiações

Podemos facilmente verificar, enfim, que a Terra, por se tratar de um mundo de provas e de expiações, não é nem um mundo apenas de provas, nem um mundo apenas de expiações. É de um e de outro. Portanto, existem Espíritos encarnados que escolheram expiações e outros que não. Estão apenas passando por provas, que são todas as dificuldades que nos oferecem chance de aprendizado e de avanço.

Quem são aqueles, portanto, que passam por expiações? Será que podemos apontar o dedo e classificá-los? “Este aqui é bonzinho, é apenas uma prova”; “ah, aquele ali é maldoso, egoísta, é uma expiação”. Eu não arrisco. Mas, na verdade, há algo lógico a se tirar daqui: um Espírito encarnado pode estar, neste momento, desenvolvendo uma imperfeição, um apego, algo que antes não tinha. Talvez, antes, estivesse sem apegos. Não está, portanto, expiando, mas expiará.

Essa é a função de um planeta como o nosso: dar, em contato com a matéria bruta, as condições para o burilamento de cada um.

Um Espírito pode estar na faixa de evolução em que a Terra lhe dá condições de aprendizado, sem que para isso ele tenha arrependimentos morais que precise enfrentar.

Reforma Íntima ou Reforma Moral

O Espiritismo oferece um forte subsídio, uma forte alavanca para a reforma moral do nosso mundo, que, encontra-se em situação lastimável, com certeza. Já no âmbito individual, precisamos nos perguntar: carecemos todos de uma reforma? Ou precisamos apenas de aprendizado? Essa é uma pergunta que apenas cada um, com sua própria consciência, pode responder.

O fato é que é necessário cuidado ao adotar cegamente certas ideias. Crer que todos que aqui nascem estão expiando algo, que tudo o que atravessamos é uma expiação e, pior ainda, que a expiação seja pagar dívidas passadas por uma espécie de castigo, nos leva a resultados negativos na forma de proceder ante a vida e aos demais.

Resultados negativos da crença no karma

  1. Culpa e Autocensura: Indivíduos que acreditam nisso podem carregar um fardo de culpa constante, acreditando que estão pagando por erros passados. Isso pode levar à autocensura e a uma vida cheia de restrições, com medo de cometer novos erros.
  2. Desencorajamento: A crença de que a vida atual é uma punição por ações passadas pode desencorajar as pessoas a buscarem seus objetivos e sonhos, pois podem acreditar que não merecem sucesso ou felicidade.
  3. Falta de Empatia: A ideia de que o sofrimento dos outros é resultado de dívidas kármicas pode levar à falta de empatia e compaixão pelos que estão em situações difíceis. Isso pode prejudicar a solidariedade e o apoio social. Infelizmente, vemos essa falta de empatia constantemente.
  4. Resignação negativa: As pessoas podem se tornar resignadas diante das dificuldades, aceitando passivamente o sofrimento como um destino inevitável, em vez de buscar soluções e melhorias em suas vidas ((A resignação pode ser positiva, quando representa a aceitação realista de limitações após esgotar esforços para lidar com uma situação)).
  5. Injustiça: A crença no karma dessa forma pode justificar ou perpetuar desigualdades sociais e econômicas, pois as pessoas podem acreditar que aqueles que estão em posições privilegiadas merecem isso devido a ações passadas ((A compreensão original de karma liga-se à ideia de que as ações tem suas consequências. Isso enfatiza a responsabilidade pessoal pelas ações e as implicações que elas têm.)).

Em resumo, essa crença pode ter efeitos negativos na saúde mental, no bem-estar e nas relações interpessoais, além de contribuir para a perpetuação de desigualdades e injustiças. É importante lembrar que as crenças sobre karma variam muito entre diferentes sistemas de crenças e culturas, e nem todos interpretam o karma da mesma maneira.

Conclusão

Talvez muitos de nós estejamos, precisemos de reformas, no sentido de termos nos desviado do bem por conta deste ou daquele apego e agora precisarmos nos conduzirmos novamente ao bem. Mas, como mudar o que não se sabe?

Não adianta buscar uma transformação vazia, sem base, tentando apenas seguir cegamente outros exemplos. É necessário compreender o que se faz e porque se faz. Por isso a importância do Espiritismo.

780. O progresso moral acompanha sempre o progresso intelectual?

Decorre deste, mas nem sempre o segue imediatamente.” (192–365.)

a) — Como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?

Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.”

O Livro dos Espíritos. Grifos nossos.

Além disso, a ideia de que estejamos todos expiando desvios passados nos leva a uma pressão externa de nos corrigirmos de coisas que nem sequer entendemos. Isso seria uma correção artificial, que não se sustenta e nos envereda por um caminho complicado: se a mudança não se edifica sobre o real entendimento, de maneira progressiva, nos impomos um passo maior que nossas pernas. Ao tentar dar o salto e, por isso, cairmos, cremos que não somos fortes o suficiente, abandonando por completo as tentativas.

Infelizmente, muitos ainda acrescentam aí a falsa ideia de que essa vida seria a mais importante de todas e que, se não nos corrigirmos, estaríamos fadados a sermos o joio, “exilados” do Planeta Terra – outra falsa ideia, nascida inicialmente do livro “Exilados de Capela”, que não é Doutrinário.

Sim: cada um deve se observar e buscar se corrigir naquilo que entender que faz errado. Mas isso não se faz por pressão, nem seguindo cegamente a algo. É preciso compreender, e a mudança tem que ser feita passo a passo. Não se constrói um edifício de cima para baixo.

O caminho do bem

O indivíduo que busca o caminho do bem, olha para si e se analisa. Julga a si mesmo, observando erros e acertos. Avalia onde pode melhorar e onde pode corrigir, se julgar que tem algo a corrigir. Mais que isso: para trilhar o bem, deve-se fazer o bem, e o conhecimento do Espiritismo permite que esse processo seja mais acertado, porque o bem verdadeiro é útil e, para ser útil, é necessário saber o que se diz e o que se faz.

Muitos, por falta de conhecimento doutrinário (obras de Kardec), são pouco úteis. Enquanto dão pratos de sopa, que saciam momentaneamente a fome do estômago (algo importante e venerável, é claro), não saciam a fome de compreensão e de conhecimento, que definitivamente eleva o Espírito a novos degraus e pode inclusive dar a ele novas perspectivas para enfrentar aquela situação e dela sair.

Alguns, enquanto entregam o pão, creem e dizem que a pessoa que sofre de males materiais está passando por isso porque merece. Sim, já ouvi espíritas afirmarem isso. Esse, frequentemente, é o resultado da reforma íntima artificial, que tende a olhar apenas para si, sem buscar conhecimento, esquecendo que se deve ser verdadeiramente útil aos demais.




A Guerra entre Israel e Palestina e o Espiritismo

Existem pessoas idosas, crianças e bebês sendo assassinadas ou capturadas pelo grupo terrorista Hamas, atualmente, gerando uma guerra entre Israel e Palestina. E o que dirá o Espiritismo? Por que Deus permite tal coisa? Estariam essas pessoas quitando débitos de vidas passadas com esse sofrimento?

Pasmem: tem julgadores de plantão querendo dizer que a chacina de jovens na rave teria relação com um castigo divino, por estarem fazendo uma festa, supostamente com drogas, na “Terra Santa”. Um completo é maldoso absurdo!!

Uma vez mais precisamos lembrar: para falar segundo o Espiritismo, é necessário buscar o que existe desenvolvido pelo método científico necessário, coisa que, até hoje, foi feita apenas por Kardec. E aqui vai uma dica de ouro:

Se alguém disser falar do Espiritismo, mas diz que as vítimas de quaisquer calamidades ou crimes estão “pagando” por dívidas de vidas passadas, ou que é efeito do “karma“, ou que estão resgatando débitos de vidas passadas, pare de acompanhá-lo e vá buscar o que diz a ciência espírita. Estamos aqui afirmando, taxativamente: isso não é Espiritismo! Espiritismo você encontra nas obras recomendadas, ao final do texto.

Espiritismo não fala em karma, nem em pagar dívidas pela encarnação

É uma luta ainda sem fim, e toda vez que acontece qualquer evento crítico que abala a população, temos que voltar ao mesmo assunto, em nome do Espiritismo verdadeiro. Agora é a guerra em Israel. Ano passado, foram os ataques terroristas às escolas brasileiras. Antes, um desastre climático ou cataclismo como aquele que solapou Petrópolis ou o triste acidente com o time da Chapecoense. E sempre aparecem os indivíduos levianos, que nunca se debruçaram para estudar o Espiritismo, dizendo verdadeiros absurdos que não correspondem à Doutrina Espírita ou afirmando terem recebido psicografias das vítimas, afirmando que elas teriam sido “malvados soldados que faziam crueldades no passado” (sic!).

Somos obrigados a fazer nossa parte, relembrando que estamos vivos na matéria densa, sujeitos às leis da matéria e, também, às decisões criminosas de outras pessoas, o que nunca, jamais, em hipótese alguma, serve para “resgatar débitos de vidas passadas”!

Leia também: Devemos expor os inimigos do Espiritismo?

Fora as provas impostas pelas escolhas alheias ou pela força da natureza, ou, ainda, aquelas que resultam das ações presentes do próprio indivíduo, existem também os gêneros de provas que o Espírito pode ter escolhido passar, mas não para “pagar” por nada:

  • O Espírito pode escolher provas simplesmente para aprender e progredir.
  • Também pode escolher determinadas provas por entender que conquistou uma determinada imperfeição, escolhendo então passar por desafios e oportunidades com vistas a desapegar dessa imperfeição, que o faz sofrer.

Isso consta na edição original e não adulterada de O Céu e o Inferno, da editora FEAL.

Deus não se vinga!

O Livro dos Espíritos

Falando sobre os flagelos destruidores, podemos aplicar parte do entendimento a esses acontecimentos também:

738.

a) — Mas nesses flagelos tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?

“Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real (85). Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.”

b) — Mas nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de o ser.

“Se considerásseis a vida qual ela é, e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância daríeis a isso. Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.”

O Livro dos Espíritos

O Espiritismo, longe de falar sobre carma e pagamento de dívidas, demonstra o contrário!

Também recomendamos cautela com essas teorias de que são eventos relacionados à transição planetária, por serem teorias que não encontram respaldo no Espiritismo.

Retornemos a Kardec. É importante. Chega de opiniões. O Espiritismo é uma ciência! Se mais pessoas estivessem defendendo a Doutrina, mais chance teriam outras de encontrar bons conteúdos, e não esses baseados em falsas ideias.

Cabe resgatar o que consta em O Livro dos Espíritos sobre as guerras:

742. O que impele o homem à guerra?

“Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.”

743. Da face da Terra, algum dia, a guerra desaparecerá?

“Sim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”

744. Que objetivou a Providência, tornando necessária a guerra?

“A liberdade e o progresso.”

a) — Se a guerra deve ter por efeito o advento da liberdade, como pode frequentemente ter por objetivo e resultado a subjugação?

“Subjugação temporária, para pressionar os povos, a fim de fazê-los progredir mais depressa.”

745. Que se deve pensar daquele que suscita a guerra para proveito seu?

“Grande culpado é esse e muitas existências lhe serão necessárias para expiar todos os assassínios de que haja sido causa, porquanto responderá por todos os homens cuja morte tenha causado para satisfazer à sua ambição ((O que quer dizer: quando esse Espírito compreender o mau que causou, sua consciência lhe acusará de cúmulo ao qual chegaram suas imperfeições. Eis o motivo de demandar muitas encarnações em expiação, escolhendo provas que poderão lhe ajudar a se resgatar de seus desvios. Não significa que ele terá que reencarnar com cada uma de suas vítimas, mesmo porque a maioria delas não se apega ao fato e segue seu caminho de evolução (Notas nossas).)).”

O Livro dos Espíritos

Nossas condolências às vítimas dessa triste guerra entre Israel e Palestina. Oremos para que esses Espíritos não se prendam às maldades de outros e possam seguir em frente. Esse é um dos melhores efeitos do Espiritismo, que, infelizmente, elas provavelmente não conheceram.

Curiosidades

Kardec diversas vezes realizou evocações de Espíritos mortos nas guerras, de simples soldados a oficiais. Temos, por exemplo:




Roustaing, Ismael e “Brasil, Coração do Mundo”

“Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, é uma obra de Chico Xavier, atribuída ao Espírito de Humberto de Campos Veras. Obra assaz estranha, introduz uma série de ideias contrárias ao Espiritismo, girando principalmente sobre o papel do suposto Espírito de Ismael, que muitos acreditam ser o “protetor espiritual do Brasil”, mas que, na verdade, não passa de mais um inimigo do Espiritismo — talvez o maior deles. Ao longo de muito tempo, esse Espírito vem disseminando falsas ideias entre aqueles que as aceitam cegamente e, assim, vem causando enorme desserviço e atraso na propagação do Espiritismo em sua realidade. Em Roustaing, encontrou o trabalhador do mau caminho.

O trecho seguinte foi extraído do livro “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, e destaca evidências de que essa obra foi provavelmente adulterada pela Federação Espírita Brasileira:

[…] Julio Abreu Filho, primeiro tradutor dos 12 volumes da Revue Spirite, denunciou que exatamente um ano antes do aparecimento de “Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho”, o livro Crônicas de Além-Túmulo, também psicografado por Chico Xavier e assinado pelo próprio Humberto de Campos, havia sido lançado, e em cujas páginas se encontra uma mensagem semelhante na qual apenas Kardec, Denis, Delanne e Flammarion são citados, e por lugar nenhum Roustaing é mencionado. Diante da denúncia de uma possível interpolação, que poderia ser resolvida com muita facilidade ao mostrar os originais do livro questionado, a FEB informou que havia ordenado sua incineração. O fato se assemelha à queixa de Berthe Fropo no século XIX, de que Leymarie havia queimado numerosos documentos do arquivo de Kardec.

Ah!, como precisa de defensores essa Doutrina que, mesmo partindo dos Espíritos e sendo imortal, depende do trabalho humano para ser retomada e desenvolvida da maneira necessária, porque, infelizmente, os maus Espíritos têm encontrado muitos defensores, prontos a ouví-los cegamente.

Espíritas: avante!




O Espiritismo nas Prisões

“O Espiritismo nas Prisões” é um artigo originalmente publicado por Allan Kardec na Revista Espírita de fevereiro de 1864, e conta a história de um criminoso que, tendo conhecido o Espiritismo em sua realidade, transformou-se e passou até mesmo a praticar a mediunidade na prisão – algo inconcebível para o movimento espírita moderno, que apregoa que ela só deve ser praticada dentro dos centros espíritas, o que é falso.

Deixo o artigo na íntegra para a vossa leitura:

O Espiritismo nas prisões

Na Revista de novembro de 1863, publicamos uma carta de um condenado detido numa penitenciária, como prova da influência moralizadora do Espiritismo. A carta abaixo transcrita, de um condenado em outra prisão, é um exemplo dessa poderosa influência. É de 27 de dezembro de 1863. Transcrevemo-la textualmente, quanto ao estilo. Corrigimos apenas os erros ortográficos.

“Senhor,

“Há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação de além-túmulo, eu ri e disse que isto não era possível. Eu falava como um ignorante, que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível posição em que me acho agora, vosso bom e excelente Livro dos Espíritos. A princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei gosto; depois levei a coisa a sério; depois li pela segunda vez o vosso livro, mas então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca inteligência que Deus me deu.

“Senti então despertar essa velha fé que minha mãe me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me esclarecer sobre o Espiritismo.

A partir desse momento tive um pensamento muito decidido, o de tomar conhecimento, aprender, ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda a crença que se pode ter e que é preciso ter em Deus e em seu poder. Eu desejava ver a verdade.

Orei com fervor e comecei as experiências.

“As primeiras foram nulas, sem resultado algum, mas não me desencorajei. Perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e mergulhei no trabalho com toda a convicção de uma alma crente e que espera.

“Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite, senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna, que parava no punho. Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé. Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências, e dessa vez agradeci a Deus, de todo o coração, pois tinha obtido mais do que ousava esperar.

“Desde então, de duas em duas noites, entretenho-me com os Espíritos que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos, respondem sempre com caridade. Escrevo meia página ou páginas inteiras que minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados filosófico religiosos em que jamais pensei nem pus em prática; porque dizia-me, aos primeiros resultados: Não serás joguete de uma alucinação ou da tua vontade? E a reflexão e o exame me provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas linhas. Eu baixava a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que estivesse inteiramente louco.

“Remeti duas ou três dessas comunicações à pessoa que tinha feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se estou certo. Venho pedirvos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, que tenhais a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas conversas de além-túmulo, se, todavia, achardes bom. Se isto for de vosso agrado, vos enviarei as conversas mantidas com Verger, aquele que feriu o arcebispo de Paris. Para bem me assegurar de que o manifestante era ele mesmo, evoquei São Luís, que me respondeu afirmativamente, bem como outro Espírito no qual tenho muita confiança, etc……………”

As consequências morais deste fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e que, ferido pela lei, se acha confundido com o rebotalho da Sociedade. Esse homem, no meio do pântano moral, voltou à fé. Ele vê o abismo em que caiu; ele se arrepende; ele ora e, digamo-lo, ah! Ele ora com mais fervor que muita gente que exibe devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé que a sua razão pôde admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram compreender o futuro. Além disso, o que é digno de nota, é que a princípio leu com prevenção e sua incredulidade só foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais!

É bem certo que, na disposição de espírito em que hoje se encontram, esses dois homens (ver o fato relatado no número de novembro último), não apenas não terão, durante sua detenção, qualquer conduta reprovável, mas entrarão no mundo com a resolução de aí viverem honestamente.

Considerando-se que estes dois culpados puderam ser reconduzidos ao bem pela fé que acharam no Espiritismo, é evidente que se eles tivessem tido essa fé previamente, não teriam cometido o mal. A Sociedade é, pois, interessada na propagação de uma doutrina de tão grande poder moralizador. É o que se começa a compreender.

Uma outra consequência a tirar do fato relatado é que os Espíritos não são detidos pelos ferrolhos, e que vão até o fundo das prisões levar suas consolações.

Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição. Eles enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos os cordões sanitários. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?