Evento de Estudos: A Filosofia Espírita e a Educação, com Paulo Henrique de Figueiredo

O mundo só vai mudar quando a sociedade mudar, e essa só vai mudar quando o indivíduo conhecer e compreender a moral do bem, que é a Lei de Deus. Como atingir isso, senão pela educação de base, dentro e fora do lar? E como a moral do Espiritismo pode alavancar essa mudança?

Venha fazer parte desse estudo tão importante e especial. Dia 19 de SETEMBRO de 2022, às 19h de Brasília (GMT -3).

Você pode acompanhar a live pelo nosso canal do Youtube – https://youtu.be/vW8TeJoKASE – ou pelo Facebook – https://fb.me/e/1xarUPHXF – mas também pode participar da sala de bate-papo. Para receber o link de acesso, basta preencher o formulário abaixo.

Recomendamos, para esse evento, acompanhar, com atenção, o vídeo seguinte:


Formulário de inscrição para participação ativa na sala de bate-papo do Zoom




O silêncio do Movimento Espírita ante os temas sociais

Muitos tem falado num silêncio que o Movimento Espírita precisaria romper com relação à política. Devemos lembrar, é claro, que o silêncio do Movimento Espírita não se reflete tão-somente ao cunho político, mas é um silêncio generalizado ante à própria Doutrina, que recentemente se agita sob os estudos das obras originais de Kardec e das obras que retomam conhecimentos esquecidos no tempo.

É, claro que, no que tange à política, nós jamais estaremos apoiando quem quer que vise ligar o Espiritismo às ideologias, sobretudo quando essas ideologias não se pautam pelas ideias que expressaremos a seguir.

São várias as iniciativas que estão buscando se contraporem ao silêncio citado. Somente de grupos de estudos, conhecemos três ou quatro bastante fortalecidos, além dos papéis dos pesquisadores atuais, dentro os quais não é possível deixar de destacar Paulo Henrique de Figueiredo, em seu extenuado trabalho de recuperação das informações desconhecidas, principalmente aquelas relativas à moral autônoma e ao espiritualismo racional, bem como no trabalho tão importante que é retomar as obras originais de Kardec, não adulteradas.

Pois bem: esse trabalho, que prima pela questão da autonomia, toma por base inquestionável o poder de escolha autônoma que o Espírito deve ter. Não faltariam as citações, na obra de Kardec, dele e de Espíritos diversos, a esse respeito: o Espírito, para se modificar realmente, precisa agir por sua livre vontade e pela razão, sendo que esta dá base à outra. Não existe nenhuma iniciativa, política ou não, que tenha obtido sucesso em qualquer mudança social, duradoura e real, por menor que ela seja, com base na autoridade, apenas. É por isso que vejo sempre com muito cuidado o assunto da política atrelado a qualquer pensamento espírita: ele deveria, inexoravelmente, ser pautado pelo princípio da moral, aplicada às relações, desde os primeiros passos da criança sobre este planeta.

Não canso de destacar, e esta será sempre minha bandeira, após compreender o Espiritismo em sua essência: a transformação social somente se dará pela transformação do indivíduo, através da educação familiar e escolar. É para isso que precisamos voltar TODOS os nossos esforços, dentro e fora da política, sendo que o último seria um meio eficaz para fazer retornar à sociedade a moral pautada pelo Espiritualismo Racional, que compreende e distingue a diferença entre felicidade e infelicidade, que são características dos avanços da alma em direção ao bem, das emoções e dos prazeres, que são puramente materiais. É esse o entendimento que falta. O homem deixará de viver sob as pontes quando ele entender que depende de si mesmo, e de ninguém mais, seu progresso, e quando os demais compreenderem que a caridade é um dever moral e desinteressado, indo muito além da esmola que humilha as partes.

Voltemos nossas inteligências a esse propósito, prezados irmãos! As crianças continuam se tornando jovens e adultos repletos de imperfeições adquiridas, ou daquelas não corrigidas, em grande parte puramente pelos maus hábitos da educação, simplesmente porque ninguém está atento à necessidade urgente de chamar à razão a família e todos os funcionários da educação, pública e particular. Kardec via com olhos radiantes o futuro, porque acreditava que o modelo educacional, pautado pelo Espiritualismo Racional, continuaria a florescer e a se espalhar… Mas o apagar das luzes do século dezenove também jogaram nas sombras as filosofias que elevavam a alma acima da puerilidade da matéria.

Precisamos retroceder e entender Rousseau, Pestalozzi, Rivail, Biran, Janet e tantos outros livres-pensadores que jamais desejaram provocar as mudanças pela força, pois cedo perceberam que ela, em realidade, apenas produz agastamento e irritação. Diria Rivail, em seu “Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública”:

“A criança irritada, e não persuadida, se submete somente à força; nada lhe prova que ela agiu mal; ela sabe apenas que não agiu conforme a vontade do mestre; e esta vontade ele a considera, não como justa e razoável, mas como um capricho e uma tirania; ela se acredita sempre submetida ao arbítrio. Como se faz com que ela sinta comumente mais a superioridade física do que a superioridade moral, ela espera com impaciência ter ela própria bastante força para se subtrair a isso; daí este espírito hostil que reina entre os mestres e os seus alunos.”

Assim será, porque assim é, em qualquer aspecto do Espírito. Rivail não pensava nisso, quando escreveu essa obra, mas nós hoje sabemos, como ele veio a saber depois: a criança está animada do mesmo Espírito do adulto, apenas pouco mais limitado em suas percepções e capacidades. É o seu Espírito, portanto, e não seu corpo, que não se submete à força. Lembremos disso.

Paulo Degering Rosa Junior




O princípio da felicidade e da infelicidade

No que tange ao nosso estado de Espírito, os sentimentos que mais nos afetam são aqueles de felicidade e infelicidade… Ou, pelo menos, assim acreditamos. Dessa forma, a sociedade em geral vivem em uma busca da felicidade, quase sempre sem resultados duradouros, felicidade esta que, quando não alcançada, remete aos estados gerais que frequentemente conduzem aos abismos da depressão ou da melancolia.

Começo dizendo, prezado leitor, que a quase total ausência de rumo e de entendimento atuais se devem ao esquecimento do Espiritualismo Racional. Tendo transformado o homem em máquina biológica, ausente de uma alma, o materialismo tirou, da moral, a sua essência primordial, que o Espírito em seu papel de causa primeira de tudo o que se passa na matéria.

Paulo Henrique de Figueiredo diz:

As doutrinas religiosas e também o pensamento materialista são heterônomos, pois partem do princípio de que a moral estaria fundamentada na dor e no prazer, que são impulsos inatos e ligadas ao instinto e à sobrevivência, são sensações que surgem de alterações fisiológicas, próprias do corpo biológico. A falsa ideia do castigo divino para a criatura culpada aponta dogmaticamente a existência da dor física após a morte, causada pelo ambiente do inferno, por toda a eternidade. Por outro lado, prazeres e eterna contemplação para os eleitos no Céu. Já o Espiritismo vai demonstrar, pela primeira vez, em sua moral autônoma, a existência de sensações íntimas próprias do espírito, que são a felicidade e a infelicidade, dando a esses termos definições específicas

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEAL, 2021. Nota do Editor.

O Espiritismo, que se desenvolveu do Espiritualismo Racional – “movimento” que formou os mais ilustres pensadores do século XIX, tinha, de forma muito resumida((recomendo, para melhor compreensão, o estudo da obra O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, pela editora FEAL, com comentários de Paulo Henrique de Figueiredo, e da obra “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”, do mesmo autor. Outra sugestão é procurar os vídeos com participação do Paulo, no YouTube)), na moral, os conceitos de felicidade e infelicidade muito bem definidos como conquistas da alma, ao passo que, do corpo ou da matéria, fazem parte as emoções, sejam elas o medo, a tristeza, a alegria, a raiva, etc. Também, no aspecto da matéria, devemos citar as sensações, como o prazer e a dor, que são o resultado imediato da impressão física captada pelos nervos e conduzida ao cérebro.

Como Espíritos encarnados, estamos todos sujeitos às condições da matéria. Por mais evoluído que um Espírito possa ser, o fato de receber uma martelada na mão vai causar muita dor, talvez a mesma que para todos os outros, mas o detalhe é que o Espírito superior não vai se apegar àquela dor ou ao indivíduo que eventualmente a tenha provocado — o que é um muito importante.

Temos, assim, bem separados, o que é do Espírito e o que é da matéria. De forma muito simplória, e contando com a boa vontade do leitor em acreditar que isso que estou dizendo está baseado nos estudos das obras originais de Allan Kardec, pelo que ele pode conferir por si mesmo, concluímos que as emoções do corpo não tem nada a ver, a priori, com os sentimentos da alma ou do Espírito. A felicidade tem a ver com as conquistas do Espírito, ao passo que a infelicidade tem a ver com a inferioridade dele. Um Espírito, encarnado, pode ser muito infeliz, apesar de rico e com todos os recursos de prazeres e alegrias ao seu alcance, ao passo que outro pode ser muito feliz morando num casebre de barro. Um Espírito encarnado num corpo são pode ser muito depressivo ou raivoso, ao passo que outro, num corpo deformado ou doente, pode ser muito calmo, feliz e bondoso.

Para formar um entendimento melhor, vamos falar sobre a infelicidade. Ela é muitas vezes confundida com as emoções e as dores humanas, mas, como vimos, não reside nelas. A infelicidade, na verdade, é o quanto o Espírito está afastado da felicidade. Parece bem óbvio isso, mas deixe-me explicar: a felicidade é viver sob a lei de Deus, isto é, viver no bem. A ausência dela, a infelicidade, é viver afastado do bem, sob o império das imperfeições que nos conduzem ao erro e ao sofrimento, sendo este o resultado das ações realizadas, e não uma punição divina.

Eis aí a grande chave para o entendimento da moral e da busca necessária, do ser humano, pela felicidade: ela não reside nas coisas passageiras da matéria, nem nos prazeres, nem nas paixões. Ela reside na alma, como resultado de uma conquista interior, individual e intransferível.

Diz Paulo Henrique, na mesma obra:

Já na lei que rege o espírito humano, que tem no mundo espiritual sua vida principal, o aperfeiçoamento das faculdades por seu esforço é a sua meta, fazendo uso das reencarnações como meio de progresso. A felicidade não é como a sensação fisiológica do prazer; é um estado ou sensação íntima do espírito, inerente ao seu aperfeiçoamento intelecto-moral. A todo ato do bem corresponde uma sensação de felicidade, e o desenvolvimento de virtudes, conhecimento e habilidades torna essa condição progressiva, até a felicidade plena dos espíritos puros. Por outro lado, a condição de imperfeição é inerente ao sofrimento moral, que vai durar até que o espírito supere a imperfeição por seu esforço. Trata-se de estados e sentimentos íntimos do espírito, em nada dependentes de algo que lhes seja exterior. Essas são as leis da alma, que regem o mundo moral. Assim Kardec se expressou, no item 2o, do Capítulo VIII:

“Sendo todos os espíritos perfectíveis, em virtude da lei do progresso, trazem em si os elementos de sua felicidade ou de sua infelicidade futura e os meios de adquirir uma e de evitar a outra trabalhando em seu próprio adiantamento. (p. 132)”

Os elementos da sua felicidade ou da sua infelicidade estão no próprio espírito; depende dele proporcionar-se um ou outro. Desse modo, a felicidade não é uma concessão ou uma graça divina, mas uma conquista do próprio ser. Tampouco a infelicidade é um castigo, mas uma condição criada quando o espírito desenvolve uma imperfeição que termina quando ele próprio a desfaz.

Ibidem

Podemos ficar muito alegres por vivenciar momentos descontraídos e divertidos com os amigos, mas, cessados esses momentos, o que permanece é o nosso estado de Espírito. Podemos ficar contentes comprando coisas para nos vestir bem ou comendo iguarias saborosas… Mas, cessadas essas ações, permanece, ainda, o mesmo estado de alma. E aqui chegamos a algo muito importante: essa constante perseguição pela felicidade nas coisas e nas ocasiões, ao invés de buscá-la na conquista interior, frequentemente nos conduz às imperfeições!

O homem, ao buscar a satisfação de seus desejos e instintos, confundindo essa busca com a busca pela felicidade, pode “exagerar na dose”. Tomemos o exemplo da compra de bens materiais: uma pessoa que vincule as posses à sensação da felicidade, quando não puder atender a essa vontade com seus próprios recursos, pode ser levada a cometer o crime do roubo ou do furto, a fim de satisfazê-la. Apenas nesse exemplo, temos a cobiça e o egoísmo sendo cultivados. Se repetidos, formando hábitos, poderão se instalar na alma, como imperfeições, que produzirão sofrimentos que, para serem superados, terão que ser compreendidos e enfrentados ativamente, pela vontade do Espírito, o que, comumente, leva mais de uma encarnação para ser alcançado.

Continua Paulo Henrique:

Toda imperfeição é fruto da livre escolha do espírito, que, por apego à matéria, usa as faculdades da alma para agir de forma a conquistar prazer (sensação) e alegria (emoção). Esse ato de abuso, transformado em hábito, é a imperfeição, que tem como consequência inerente o sofrimento moral, ou infelicidade (sensação do espírito). Essa condição é transitória, pois, superando as imperfeições, o espírito retorna ao caminho do bem e liberta-se da infelicidade

Ibidem

O contrário também é verdadeiro: o Espírito que confunde a infelicidade com as dores e as emoções negativas da matéria, para se ver longe delas, pode se lançar numa busca sem fim, que, frequentemente, também lhe coloca em contato com maus hábitos que poderão fazer surgir uma imperfeição.

Essa compreensão, que parece muito simples, em princípio, e que é de suma importância, não é muito fácil de ser internalizada. Como ela o será? Pelo estudo, que leva ao conhecimento, que fortalece a razão. O Espírito só se modifica, de verdade, quando entende suas imperfeições e seus erros e quando, ativamente, por vontade própria, passa a buscar vencê-los. Por isso, fica o convite aos estudos, sendo que aquele sendo realizado pelo Grupo de Estudos Espiritismo para Todos (EPT), sobre a obra O Céu e O Inferno (editora FEAL, baseado na 1.ª edição do original, não adulterado) é um dos melhores, nesse sentido.

Aqui, antes de terminar, temos mais uma reflexão. Falamos a respeito da formação das imperfeições surgindo dos maus hábitos… Por isso, não podemos deixar de falar da educação infantil. A criança, por força de um mau hábito, ensinado ou reforçado desde o berço, pode, também, adquirir uma imperfeição, da qual muito custará a se desvencilhar. Portanto, pais, é passada a hora de se debruçar sobre o estudo da moral e da educação, de modo a melhor educar os filhos, desde seus primeiros atos na vida material, auxiliando-os, pela caridade que nos compete, a auxiliar esses Espíritos a alcançarem, mais cedo, a felicidade, como nós desejaríamos ter alcançado.

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Sugerimos ao leitor assistir ao vídeo:




E depois da morte?

A pergunta sempre frequente é: O que será que acontece no futuro do nosso Espírito? O que nos acontece depois da morte? Será que vamos para o Céu Iluminado? Ou será que o Inferno é nosso destino? Quem decide para onde seguimos? Será que encontramos os seres que nos são caros?

O ser humano sempre perseguiu a ideia do que ocorrerá no futuro do seu Espírito. E talvez seja a pergunta mais frequente no meio espírita.

O estudo aprofundado do livro O Céu e O Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, nos faz entender cada vez mais a Doutrina Espírita. Na primeira parte, seu capítulo VIII sob o título As Penas Futuras Segundo o Espiritismo praticamente encontramos a compilação de toda Doutrina tornando-o como se fosse seu coração, ou seja, a parte principal. Ali existe uma série de 25 itens onde cada um foi desenvolvido ao longo de todo a obra, menos, claro dA Genese, que foi publicada após. Os 25 itens elucidam o que acontece ao nosso Espírito após o desencarne. As explicações vieram através de inúmeros Espíritos desencarnados em milhares de comunicações, de vários lugares do mundo, por muitos mediuns distintos. Kardec, através da Revista Espírita, mostrou uma quantidade considerável das comunicações.

A particularidade desse livro é justamente trazer , diante desse material todo, as conclusões de todas as comunicações estudadas. Além disso, na segunda parte do livro, é apresentado muitas dessas mensagens. O conteúdo dessas, publicadas no livro O Céu e o Inferno, é assunto para outro momento.

Voltemos ao capítulo VIII da primeira parte do livro. Ele começa fazendo importantes considerações, que colocamos aqui na integra:

Estando a sorte das almas nas mãos de Deus, ninguém pode neste mundo, por sua própria
autoridade, decretar o código penal divino. Qualquer teoria não é mais que uma hipótese que
só tem o valor de uma opinião pessoal e, por isso mesmo, pode ser mais ou menos engenhosa,
racional, bizarra ou ridícula. Somente a sanção dos fatos pode conferir-lhe autoridade,
fazendo-a passar à condição de princípio.

Na ausência de fatos apropriados para definir sua concepção acerca da vida futura, os
homens deram curso à sua imaginação e criaram essa diversidade de sistemas de que
compartilharam, e compartilham ainda, as crenças. Se alguns homens de elite, em diversas
épocas, entreviram um lado da verdade, a massa ignorante permaneceu sob o império dos
preconceitos que geralmente lhe eram impostos. A doutrina das penas eternas está nesse
número. Essa doutrina teve sua época; hoje ela é repelida pela razão. O que colocar em seu
lugar? Um sistema substituído por outro sistema, ainda que mais racional, sempre terá apenas
maior probabilidade, mas não a certeza. É por isso que o homem, chegado a este período
intelectual que lhe permite refletir e comparar, não encontrando nada que satisfaça
completamente sua razão e responda às suas aspirações, vacila indeciso. Uns, apavorados
pela responsabilidade do futuro e querendo gozar o presente sem constrangimento, procuram enganar-se e proclamam o nada após a morte, crendo assim manter a consciência tranquila;
outros estão na perplexidade da dúvida; o maior número crê em algo, mas não sabe
exatamente no que crê.
Um dos resultados do desenvolvimento das ideias e dos conhecimentos adquiridos é o
método científico96. O homem quer crer, mas quer saber por que crê. Ele não se deixa mais
levar por palavras. Sua razão vigorosa quer algo mais substancial que teorias. Em uma
palavra, ele necessita dos fatos.
Deus, então, julgando que a humanidade saiu da infância, e que o homem está hoje maduro
para compreender verdades de uma ordem mais elevada, permite que a vida espiritual lhe seja
revelada por fatos que põem um termo às suas incertezas, fazendo cair os andaimes das
hipóteses97. É a realidade após a ilusão.
A Doutrina Espírita, no que se refere às penas futuras, não é mais fundada sobre uma teoria
preconcebida do que suas outras partes. Em tudo ela se apoia sobre observações, sendo isso o
que lhe dá autoridade. Ninguém então imaginou que as almas, após a morte, devessem se
encontrar nesta ou naquela situação. São os próprios seres que deixaram a Terra que vêm hoje
– com a permissão de Deus e porque a humanidade entra numa nova fase – nos iniciar nos
mistérios da vida futura, descrever sua posição feliz ou infeliz, suas impressões e sua transformação na morte do corpo. Os espíritos vêm hoje, em suma, completar nesse ponto o ensino do Cristo.
Não se trata aqui da relação de apenas um espírito que poderia ver as coisas somente de seu
ponto de vista, sob um único aspecto, ou ainda estar dominado pelos preconceitos terrestres,
nem de uma revelação feita a um único indivíduo que poderia se deixar enganar pelas
aparências, nem de uma visão extática que se presta às ilusões e é com frequência apenas o
reflexo de uma imaginação exaltada98, mas de inúmeros intermediários disseminados sobre
todos os pontos do globo, de tal sorte que a revelação não é privilégio de ninguém, que cada
um pode ao mesmo tempo ver e observar, e que ninguém é obrigado a crer pela fé de outrem.
As leis que daí decorrem são deduzidas apenas da concordância dessa imensidade de
observações; esse é o caráter essencial e especial da Doutrina Espírita99. Jamais um princípio
geral é retirado de um fato isolado ou da afirmação de um único espírito, ou do ensinamento dado a um único indivíduo, ou de uma opinião pessoal. Qual seria o homem que poderia crer-
se suficientemente justo para medir a justiça de Deus?

Os numerosos exemplos citados nesta obra para estabelecer a sorte futura da alma poderiam
ser multiplicados ao infinito, mas, como cada um pode observar outros análogos, seria
suficiente de certa forma dar os tipos das diversas situações. Dessas observações, podem-se
deduzir as condições de felicidade ou infelicidade na vida futura; elas provam que a
penalidade não falta a nenhuma prevaricação e que, conquanto não seja eterno, o castigo não
é menos terrível segundo as circunstâncias.

Allan Kardec, O Céu e o Inferno

Nota: Allan Kardec define os pressupostos da ciência espírita. Toda teoria, seja proposta por um homem ou um espírito, é uma opinião pessoal. As hipóteses vão do engenhoso ao ridículo. Por isso, o Espiritismo se fundamenta na observação dos fatos, em milhares de depoimentos, para extrair deles os princípios gerais, confirmando o ensinamento dos bons espíritos. É a universalidade do ensino dos espíritos. (Nota 94 de O Céu e o Inferno do editor Paulo Henrique de Figueiredo)

Observem como essa introdução explana o pensamento científico baseado totalmente nos fatos. Não há dogma, não há profetas, não há fantasia.

Depois dessa criteriosa introdução, Allan Kardec segue enumerando os princípios gerais que os muitos Espíritos deram. Eles aparecem de forma progressiva. Eles os definiu como a representação da lei da justiça divina.

Segundo estudamos, não há um sistema estático, um padrão geral onde o futuro seja um Céu Iluminado ou as Escuridão das trevas do Inferno. Mas se voce, leitor, fizer o estudo, vai conseguir chegar às suas próprias conclusões.

Nós o convidamos a leitura e reflexão! Vale muito a leitura.




O aborto e o Espiritismo: a REALIDADE sobre o assunto

Prezado leitor, o tema do aborto está em alta… E quantas opiniões absurdas, emitidas como “visão espírita do aborto”, chegamos a ver, sobre isso, no Movimento Espírita (que, hoje, não representa o Espiritismo)! “Mulheres que são inférteis é porque estão pagando por abortos em vidas passadas” é apenas um deles. Lembramos sempre: não existe carma, nem lei do retorno, nem pagamento de dívidas, nada disso.

Esses dias o tema voltou plenamente à ativa, por conta do caso da menina de Santa Catarina, que engravidou com 11 anos, e que dividiu a sociedade entre as opiniões, e não se deu menos no meio Espírita. Muitos, guiados por falsas ideias implantadas no Movimento, falam em pecado, carma, dívidas… Enfim, como já apontamos, nada disso existe em verdade, e o Espiritismo explica isso muito bem.

Vamos retomar O Livro dos Espíritos, verificando o que há, nele, sobre o assunto:

357. Que conseqüências tem para o Espírito o aborto?
“É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.”

358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja,
cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que
impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se
estava formando.”

359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe
dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe

KARDEC, Allan. Grifos meus.

No estudo do Espiritismo, jamais se pode tomar um trecho isolado como regra geral. É preciso entender o todo, pois os Espíritos superiores frequentemente respondem objetivamente a uma pergunta, complementando-a ou esclarecendo outros pontos em outro momento. Ao não realizar o estudo dessa maneira, veríamos contradições que, na verdade, não existem.

Os Espíritos, na época de Kardec, frequentemente utilizavam a palavra “crime” para destacar qualquer ato que tomamos contra a Lei Natural. Contudo, o Espiritismo não é uma doutrina de dogmas, mas, sim, uma doutrina científica e racional. Ora, sendo que o fato da gestação possa colocar em risco a mãe, não é mais justo preservar a vida da mãe, que, talvez, poderá inclusive tentar uma nova gravidez? É importante lembrar que o progresso do Espírito é ininterrupto e, se não for possível aquela existência, ele precisará escolher uma outra.

Há, porém, o pensamento materialista que impera atualmente, a respeito do aborto, e que, fazendo do ser humano simples máquina biológica, quer transformar a prática em algo banal. Isso é um erro, é claro, mas digamos que o fato se dê, e que se torne legal a realização do aborto pela simples vontade da mãe. Quais serão as consequências, então, para os envolvidos, perante a lei de Deus?

Já vimos que, para o Espírito do feto, haverá a necessidade de reiniciar o planejamento encarnatório, o que nunca é fácil. Mas e para a mãe, que pratica o ato? Ela, segundo lemos acima, estaria incorrendo em crime contra a lei divina. Haverá, portanto, condenação?

É preciso lembrar, caro leitor, que não existe condenação, e que a punição é sempre um efeito da consciência do Espírito sobre o ato praticado. Ao praticar um erro por muitas vezes, o Espírito pode adquirir uma imperfeição, que o fará sofrer e, eventualmente, se arrepender e buscar reparação (em si mesmo). Sobre esse assunto, recomendamos ao leitor assistir os estudos travados neste vídeo, com Paulo Henrique de Figueiredo. Mas, e se o indivíduo não está consciente daquilo que faz?

Uma mulher pode, por exemplo, sem planejar, engravidar. Estando afastada da compreensão das leis divinas, e não desejando ter aquele filho, pratica, então, o aborto, em qualquer estágio da gestação. Ela nem pensa sobre isso, porque, para ela, é algo simples e sem implicações. Tecnicamente, cometeu um “crime”, mas qual será seu sofrimento perante isso? Talvez nenhum, ao menos até que, pelo entendimento, seu pensamento mude. Mas, nesse caso, talvez, quando ela entenda o erro que fez, e que nunca mais tenha cometido, já esteja tão adiante, que somente restará um arrependimento, mas que não necessariamente gerará sofrimento. É um erro. Nós erramos em nosso progresso. O problema é repetir o erro conscientemente.

Outro caso seria o da mulher que, entregue às emoções, frequentemente, por ato inconsequente, engravide e que, toda vez que engravide, aborte. Ela estará, toda vez, abortando o planejamento de um Espírito, mas o quadro demonstra que o que ela faz surge de um desconhecimento e também de um afundamento nos prazeres da matéria. Vê o caminho que ela precisará percorrer, até alcançar o entendimento de que aquilo que ela faz é errado? Ela precisará “pagar” pelo que faz? Não, é claro, porque, presentemente, ela já sofre pelos efeitos de sua forma de pensar e agir, que a afastam do bem — mesmo que não esteja consciente disso. Pode ser que, quando adquira consciência e entenda seu erro, escolha um gênero de vida que lhe leve a lutar diretamente contra suas imperfeições, como também pode ser que, dependendo de suas crenças, se sinta tão culpada que escolha reencarnar sem a possibilidade de ter filhos, o que pode ser mais ou menos útil na sua expiação, isto é, no processo de vencer aquelas imperfeições.

E no que tange ao Espírito do feto abortado? Ficará triste, irritado? Odiará a ex-mãe? Desejará vingança? É claro que tudo isso depende do seus graus de entendimento e de evolução, tudo dependendo de suas escolhas.

Em tudo, no que tange às transgressões da lei divina ou natural, os efeitos e as possibilidades são infinitas, porque dependem do nível de consciência do indivíduo sobre o que faz. É fato que o aborto impensado e generalizado é um erro profundo para o Espírito, mas isso se dá, penso eu, muito menos pelo ato em si, e muito mais pelo contexto que leva o erro a existir, e que é sempre fruto de um completo desconhecimento da moral espiritualista. Quem pratica o aborto de forma inconsequente quase sempre demonstra um pensamento materialista que, com certeza, em diversos aspectos da vida, faz o indivíduo sofrer.

Muito melhor do que ficar querendo adivinhar, pela visão presente de um sofrimento, a infinitude de possibilidades pretéritas que o originou, é buscar estudar o Espiritismo, em Kardec, e espalhar o conhecimento. Se a maior parte do mundo conhecesse a Doutrina Espírita e a avaliasse racionalmente, não estaríamos aqui falando sobre isso. Enquanto, porém, a humanidade estiver mergulhada no materialismo ou no dogma, que leva ao materialismo, os mesmos erros e as suas consequências penosas continuarão sendo perpetrados.

É claro que o Espiritismo não pode ser a favor do aborto facilitado. De certa forma, não podemos ser a favor da legalização dessa prática. Mas, então, caímos na velha discussão: até que ponto o Estado pode interferir nas decisões individuais que, pelo menos sob a ótica materialista, afetam apenas o indivíduo em si? Constatamos, uma vez mais, que a luta política não modificará a sociedade pela imposição. A transformação tem que vir da base, desde a infância, através da educação, abarcando a moral e a racionalidade.




O ENTENDIMENTO DO BEM E DO MAL

Existem, no Universo, duas forças — o bem e o mal? É o mal algo, uma criação divina? Existem doutrinas que dizem que sim, e que a vida do ser humano seria uma eterna dualidade dessa luta de potências.

“Durante muito tempo, o homem compreendeu apenas o bem e o mal físicos. A concepção
do bem e do mal de natureza moral marcou um progresso para a inteligência humana, pois
somente a partir daí pode o homem entrever a espiritualidade, compreendendo que o poder
sobre-humano está fora do mundo visível, e não nas coisas materiais”.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEAL, 2021.

Acompanhe esse estudo no vídeo abaixo:




Conselhos para a formação de grupos espíritas, por Allan Kardec

Deixamos abaixo, pelo interesse despertado, os conselhos dados por Allan Kardec, em 1862, a respeito da formação de grupos Espíritas, dados em ocasião da Viagem Espírita de 1862.

Em várias localidades solicitaram-me conselhos para a formação de grupos espíritas. Tenho pouca coisa a dizer a respeito, além das instruções contidas em O Livro dos Médiuns. Acrescentarei apenas algumas palavras.

A primeira condição é formar um grupo de pessoas sérias, por mais restrito que seja. Cinco ou seis membros esclarecidos, sinceros, penetrados das verdades da Doutrina e unidos pela mesma intenção, valem cem vezes mais do que a inclusão, nesse grupo, de curiosos e indiferentes. Em seguida, que esses membros fundadores estabeleçam um regulamento que se tornará em lei para os novos aderentes.

Esse regulamento é muito simples e quase só comporta medidas de disciplina interior, pois não exige os mesmos detalhes requeridos para uma sociedade numerosa e regularmente constituída. Cada grupo pode, pois, estabelecer-se como bem o entenda. Todavia, para maior facilidade e uniformidade, darei um modelo, que poderá ser modificado conforme as circunstâncias e as necessidades do lugar. Em todo o caso, o objetivo essencial proposto deve ser o recolhimento, a manutenção da mais perfeita ordem e o afastamento de qualquer pessoa que não estivesse animada de intenções sérias e pudesse transformar-se numa causa de perturbação. Eis por que nunca se seria demasiado severo em relação aos novos elementos a serem admitidos. Não temais que essa severidade prejudique a propagação do Espiritismo. Muito ao contrário: as reuniões sérias são as que fazem mais prosélitos. As reuniões frívolas, as que não são conduzidas com ordem e dignidade, nas quais o primeiro curioso que aparece pode vir despejar suas facécias, não inspiram nem atenção, nem respeito e delas os incrédulos saem menos convencidos do que ao entrarem. Estas reuniões fazem a alegria dos inimigos do Espiritismo, ao passo que as outras são o seu pesadelo e eu conheço pessoas que veriam de bom grado a sua multiplicação, contanto que as outras desaparecessem. Felizmente, é o contrário que acontece. É preciso, além disso, persuadir-se de que o desejo de ser admitido nas reuniões sérias aumenta em razão da dificuldade. Quanto à propaganda, ela se faz bem menos pelo numero dos assistentes, que uma ou duas sessões não podem convencer, do que pelo estudo prévio e pela conduta dos membros fora das reuniões.

[…]

Tampouco deveis recear a admissão dos jovens. A gravidade da assembleia refletir-se-á em seu caráter; eles se tornarão mais sérios e ainda cedo poderão haurir, no ensino dos bons Espíritos, esta fé viva em Deus e no futuro, esse sentimento dos deveres da família, que os tornarão mais dóceis, mais respeitosos, e que modera a efervescência das paixões.

[…]

Recentemente formaram-se alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar: são os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou nada das manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos, de ‘O Livro dos Médiuns’ e de artigos da Revista Espírita((O estudo da Revista Espírita, sendo realizado por este grupo, pode ser melhor entendido aqui e acompanhado em nosso canal, aqui)).

Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados.

Para isso não se tem necessidade de ser orador ou professor; é uma leitura em família, seguida de algumas explicações sem pretensão à eloquência, e que está ao alcance de toda gente.

[…]

Espero que não achem ruim que eu indique essas obras como base do ensino, uma vez que são as únicas em que a ciência espírita está desenvolvida em todas as suas partes e de maneira metódica((Em 1862, essas eram as obras existentes e publicadas. Hoje, com a restauração das versões originais de O Céu e o Inferno e A Gênese (editora FEAL), recomenda-se também o estudos dessas, sobretudo para o entendimento da parte filosófica da Doutrina Espírita. O Grupo de Estudos Espiritismo Para Todos (EPT) está desenvolvendo um grande e rico trabalho de estudos dessas obras (conheça mais clicando aqui))).

[…]

Eis um outro hábito, cuja adoção não é menos útil. É essencial que cada grupo recolha e passe a limpo as comunicações obtidas, a fim de a elas facilmente recorrer em caso de necessidade. Os Espíritos que vissem desprezadas suas instruções logo abandonariam as reuniões; mas é necessário, sobretudo, que se faça à parte uma coletânea especial, organizada e clara, das comunicações mais belas e mais instrutivas, e reler algumas delas em cada sessão, a fim de aproveitá-las melhor.




Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec – estudo da obra

O grupo irmão, Grupo de Estudos Espiritismo para Todos (EPT) está desenvolvendo estudos de uma obra muito interessante e importante, em seu Youtube. Semanalmente, aos sábados, se debruçam sobre o livro “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, obra em que Wilson Garcia vai fundo e esmiúça os caminhos que levaram o Movimento Espírita atual a ser esse movimento religioso, dogmático, afastado da ciência e avesso à razão e à lógica.

Não temos outra forma de dizer: Wilson Garcia realmente coloca o dedo na ferida, numa ação necessária a inadiável, seguindo o caminho iniciado há muitas décadas, por outros estudiosos da Doutrina Espírita e, mais recentemente, pelos trabalhos de Simoni Privato e Paulo Henrique de Figueiredo.

Destacaremos um pequeno trecho, da introdução do livro, para, em seguida, vincular os vídeos dos estudos do EPT, que você pode acompanhar ou mesmo participar.

Certamente, o espiritismo tem sido seriamente afetado em sua credibilidade pela proliferação de charlatães e especuladores que se exibem como curandeiros, videntes ou ledores da sorte, que usam o nome da doutrina de modo impróprio e abusivo. De semelhante, contribui com o descrédito a publicação de panfletos e livros repletos de mensagens estranhas carregadas de um anacrônico misticismo religioso, temperado com supostas revelações e profecias apocalípticas, anunciadas por entidades de origem ou categoria heterogênea. É necessário acrescentar a este pandemônio a proliferação de obras de tendências espiritualistas ou esotéricas que rondam as áreas limítrofes do pensamento espírita, em cujas páginas desponta de maneira velada ou explícita a afirmação de que superam o espiritismo, por ser supostamente portadoras de conhecimentos mais atuais ou modernos.

Todo esse caos semântico e conceitual, do qual a doutrina fundada e sistematizada por Kardec é absolutamente alheia, afeta em maior ou menor grau a marcha do movimento espírita desde suas origens até os dias atuais, na França e em outros lugares da Europa, assim como no Brasil e em inúmeros países do continente americano. Basta lembrar os esforços insistentes que são feitos nas hostes do kardecismo para demarcar e proteger-se das influências geradas pelo ramatisismo, o monismo ubaldista, o trincadismo, o culto Basilio, o emanuelismo, a umbanda e outros sincretismos, e, claro, o roustainguismo, denominação que recebe o conjunto de teorias e crenças reunidas na obra Os quatro Evangelhos […]

GARCIA, Wilson. Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec. Editora EME, 2020.

Se você desejar informações sobre como participar ativamente dos estudos, entre em contato.

Clique abaixo para assistir aos vídeos da playlist desse estudo.




Carta do Espírito de Allan Kardec a Gabriel Dellane

Poucos sabem, mas Kardec não ficou em silêncio após sua morte. O livro Beacoup de Lumiere (Muita Luz), de Berthe Fropo (clique aqui para baixar), apresenta algumas de suas comunicações pós-morte, sempre em tom de extrema concordância com sua forma de se expressar, sempre séria, mas gentil e fraterna.

Em 18 de maio de 1882, uma comunicação muito tocante, no que tange à Doutrina Espírita, foi dada a Gabriel Dellane, que reproduzimos abaixo na íntegra:

Por algum tempo eu estive convosco, feliz por vê-los resolvidos a retomar valentemente o vosso papel de propagador da fé espírita.

A doutrina, por assim dizer, ficou adormecida desde a minha partida. Era impossível que fosse de outra forma, já que meu desaparecimento súbito não me deu tempo para realizar os projetos que havia feito e que permitiria a uma coletividade homogênea continuar o trabalho que havia sido iniciado. Então, as desgraças que surgiram em nossa querida pátria obrigaram cada um a trabalhar materialmente para melhorar sua própria situação e a de nosso querido país. Pois deve-se admitir que a maior parte dos espíritas, sendo como os primeiros apóstolos, sem fortuna, tem o dever de prover as necessidades diárias de suas famílias.

Essa é uma obrigação da qual ninguém tem o direito de escapar. O trabalho é uma lei imposta ao homem pelo Criador, é importante realizá-lo. Por conseguinte, era preferível ao espiritismo que continuasse a se espalhar entre as famílias sem brilho, em vez de ser desviado do seu verdadeiro caminho, que é o estudo dos fatos e o reconhecimento das manifestações dos desencarnados que viveram na terra.

Não tenhais medo de chamá-los, não importa o quão grande eles vos possam parecer, e qualquer papel que possam ter realizado aqui embaixo; quanto mais evoluídos forem eles, mais fácil é que eles se entreguem ao vosso chamado, o envelope perispiritual do espírito tendo sido banhado no fluido ambiental do planeta, conserva nele, eternamente, a faculdade de ir a todos os lugares onde a lembrança o chama, e especialmente quando este espírito cumpriu um papel missionário em um desses mundos onde ele é desejado. Quanto mais o espírito é elevado, mais lhe é fácil atravessar os espaços. O espírito pode percorrer todos os mundos em que viveu, com tanta facilidade quanto é para vós ir de um país a outro, sem que sejais obrigados a deixar uma parte de vós mesmos no caminho; se, por exemplo, vós viajardes do norte para o sul, vós deixareis uma roupa quente para colocar uma nova fresca; vós vos ajustareis ao ambiente em que vos encontrais, e nada será capaz de se opor à vossa transformação transitória, se vós tiverdes sido precavidos. É o mesmo com os espíritos superiores, tendo adquirido a onipotência sobre a matéria, eles a transformam como desejam sem que nenhuma lei se oponha. Quem diz espírito superior, diz humildade, amor e caridade. Exemplo: Cristo veio encarnar em uma família humilde e pobre. Ele teve os seus motivos. Foi para nos mostrar que não devemos ter medo de chamá-lo para nós, pois era o ambiente que ele preferia. Não tenhais medo de chamar todos aqueles por quem tenhais grande simpatia. Eles sempre estarão felizes com vossaS evocações.

Estou jubiloso com o despertar que se opera e vos devo dizer que a ele não estou indiferente; tampouco ao novo conhecimento que vós fazeis desses caros amigos, repletos de boa vontade e que farão tudo o que lhes for possível para levar a obra a um bom fim. Mas eles precisam ser ajudados e assistidos.

É dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso; portanto, meus amigos, eu conto convosco. Sei o quanto amais nossa querida filosofia e o quanto desejais vê-la triunfar; eis porque vos disse essas coisas; são conselhos de amigo que vos dou, sabendo que vos agradarei, e que vós vos esforçareis para trabalhar pela obra de regeneração à qual me devotei, Sublime missão que é a de ensinar aos seus irmãos o caminho da felicidade que é aquela, como dizia o Cristo, “da vida eterna”.

Retornem, portanto, corajosamente à luta; quanto mais trabalharem pelos outros, mais lhes será dado por vós mesmos.

Somente se pode julgar uma causa quando se estudou bem sobre a mesma e quando a ela se está bem identificado. É o mesmo caso do trabalho. Para conhecer-se as leis, é necessário trabalhar por si mesmo, se se quer raciocinar com precisão e ajudar a resolver a maior questão do século, que é a compreensão do trabalho e do capital.

Ah! se os homens encarregados da marcha do progresso desejassem se ocupar seriamente do espiritismo, que poderosa alavanca eles teriam tido em suas mãos!

O capítulo das responsabilidades é o único capaz de fazer bem compreender os trabalhadores e cavalheiros que eles são semelhantes aos poderosos, mas que não é somente a si mesmos que devem a situação momentânea que ora ocupam, situação essa que eles poderão melhorar facilmente no dia em que compreenderem a lei de reencarnação. Trabalhai, portanto, incansavelmente e com coragem para o edifício social e moral de nossa doutrina; os meios vos serão dados. A hora chegou, a ocasião se apresenta hoje, secundai-a, queridos amigos, com toda a vossa força; apelai-nos. Organizai-vos em um comité. Lede, relede, comentai todos os fatos que vos sujeitem e cuidai bem para não serdes absolutos sobre qualquer outro ponto que não aqueles fundamentais, quer dizer, a crença nas manifestações e na reencarnação. Não avançai os fatos que estejam sob reserva. Em uma palavra, fazei como eu fiz. Vós me vistes ao trabalho.

Allan Kardec. Grifos meus.

Nada mais claro e belo. A Doutrina carece de defesa, e precisa do esforço individual de cada um de nós.

Em seguida a esta comunicação, houve este complemento:

Não desejo fatigar o médium. Entretanto, eu vos exorto a ir ver minha cara esposa. É necessário no interesse da doutrina (isto para vós, pessoalmente). É bem difícil julgar o coração humano, porque se ele tem suas horas de desfalecimento, também as tem de refazimento. Ide, pois, sem tardar, e vós me sereis muito agradáveis.

Allan Kardec

Cremos importante citar, também, os dois parágrafos seguintes, da autora, que dão complemento a essa comunicação apresentada:

Apesar dessa urgente injunção, o senhor e a senhora Delanne permitiram passar o mês de julho sem se perturbarem; somente no final do mês de agosto, a partir das novas comunicações, dizendo-lhes o quanto o retardo deles era prejudicial à doutrina, que eles foram lá e Madame Kardec acolheu-os com uma profunda alegria; ela viu, finalmente, o amanhecer daquela sociedade há muito tempo prometida. Eles lhe propuseram ser a presidente, mas ela recusou, em razão dela já estar bem doente. “De coração, estou convosco”, disse-lhes ela, porém, recusava-se a combater “e destruir a sociedade que fundamos, meu marido e eu. Eu vos darei uma presidente, minha melhor e mais fiel amiga, reflexo de mim mesma, e permanecerei neutra”.

Sr. Delanne lhe contou que na Bélgica temia-se uma cisão inquietante para a doutrina, que um espírita muito zeloso queria fazer do espiritismo uma religião com culto e cerimônias. Ela rejeitou essa ideia energicamente, dizendo: “Se o espiritismo transformar-se em uma religião, nós não seremos mais do que uma seita, e a doutrina, esta bela filosofia, perder-se- á”. Ela também rejeita a palavra federação, que soava mal aos ouvidos depois da comuna. Ficou estabelecido que nós faríamos um apelo a todos os espíritas sinceros, elaboraríamos o estatuto e que a sociedade receberia o título de “União Espírita Francesa“.

Berthe Fropo

Amigos, a comunicação e os fatos supracitados não poderiam ser mais contemporâneos. Quanto tempo mais deixaremos o tempo passar, sem fazer nada? Quanto tempo mais deixaremos no esquecimento o trabalho de Allan Kardec, tão sério e tão importante, na transformação da humanidade? Muito criticamos os Espíritos que desvirtuam o Espiritismo com suas falsas concepções da Doutrina, mas que seriam eles, senão meras vozes que poucos escutam, se a força da maioria estivesse sob o Espiritismo em sua essência – em outras palavras: se os espíritas estudassem?

Parafraseando Kardec, “é dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso“. E tanto nosso grupo, quanto o grupo amigo, Grupos de Estudos ESPIRITISMO PARA TODOS (EPT), carecemos de voluntários. Estamos bastante sobrecarregados!

Exemplos de auxílios que muito poderiam ajudar a todos nós:

  • compartilhamento de conteúdos nos grupos possíveis
  • criação de vídeos curtos, com trechos interessantes, para compartilhar nas plataformas de vídeos (tiktok, reels, etc).
  • criação de textos essenciais, linkando os vídeos de estudos e os textos abordados, de Kardec, para publicação nos nossos blogs (e outros)
  • extração de áudios para publicação nas plataformas de podcasts
  • outros

Se você puder ajudar e desejar se voluntariar a cooperar nesse importante trabalho, por favor, entre em contato através do WhatsApp: https://wa.me/5515998628392.

Mas, se você quer apenas estudar, clique aqui.




Bicorporeidade

Será possível alguém estar em dois lugares ao mesmo tempo? Claro que sim! Esse fenômeno se chama BICORPORIEDADE. É o que trata este artigo da Revista Espírita de dezembro de 1858.

Fonte: Filme Bilocation (2013) https://www.nichi-eidomain.com/bilocation-2013/

Trata-se da história de um jovem que se deita, sem sair de casa, vai até Londres onde se reune a seus amigos, toma café, brinca e depois volta para seu lar, sem nada se lembrar.

Resumidamente, assim aconteceu:

Um correspondente do interior da França enviou uma carta dizendo que, depois que, “por ordem dos Espíritos”, magnetizou seu filho, ele se tornou médium muito raro.

Um caso, em especial, chamou-lhe a atenção: o filho, após ler em um livro de Barão Du Potet sobre a aventura de um doutor da América, cujo Espírito foi visitar um amigo a grande distância, disse ao seu guia que gostaria de fazer o mesmo. Seu guia disse-lhe, então: Amanhã é domingo. Não és obrigado a te levantares cedo para trabalhar. Dormirás às oito horas e irás passear em Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima receberás uma carta de teus amigos, censurando-te por teres ficado tão pouco tempo com eles.

Disse o pai: Efetivamente, no dia seguinte, pela manhã, à hora indicada, ele caiu num sono profundo. Despertei-o às oito e meia. Ele não se lembrava de nada. De minha parte nada lhe disse, esperando os acontecimentos.

E como prometido, uma carta chegou pelos correios: “o carteiro veio entregar uma carta de Londres, na qual os amigos de meu filho censuravam-no por ter passado com eles apenas alguns minutos, no domingo anterior, das oito às oito e meia, com uma porção de detalhes que seria longo aqui relatar, entre os quais o fato singular de ter tomado o café da manhã com eles”

Tendo sido contado o fato acima, um dos assistentes disse que a História narra diversos casos semelhantes. Citou Santo Afonso de Liguori, que foi canonizado antes do tempo exigido, por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que foi considerado como um milagre.

Fonte em: https://www.imagensbonitas.com.br/2017/07/santo-afonso-maria-de-ligorio.html

Na primeira, de aspecto religioso, Afonso saiu do convento de Ciorani para Pagani e ao mesmo tempo foi visto atendendo confissões na igreja redentorista de Ciorani.

Na segunda ocasião de cunho religioso o Santo pregava missões populares em Amalfi, Italia. Foi em 1756. Durante a missão, foi visto simultaneamente pregar na catedral de Amalfi e atender confissões na casa em que os missionários estavam alojados.

Antonio Benedetto Maria Tannoia (II, c. 44), seu biógrafo, comenta: “Um anjo, querendo dar prosseguimento a seu zelo em acolher os pecadores, quis substituí-lo no púlpito”.

Na terceira ocasião, esta de cunho social, o santo estava em Nápoles e simultaneamente em Pagani, onde todos os sábados costumava ajudar uma ex-prostituta que conseguira converter. Isto aconteceu em 1759.
A última ocasião reveste-se de cunho político-religioso. No dia 22 de setembro de 1774, Afonso encontrava-se em Arienzo, um lugarejo de sua diocese de Santa Ágata dei Goti, para onde se dirigia naqueles dias em que fazia muito frio. Ao mesmo tempo foi visto em Roma, ao lado do leito de morte do Papa Clemente XIV, assistindo-o. (Esse caso foi documentado pela Igreja Católica).

Observação: A Igreja diz que a “bi locação” é uma manifestação extraordinária do poder de Deus, consistindo na presença corporal de uma pessoa, ao mesmo tempo, em dois ou mais lugares. Fisicamente, a bi locação é impossível aos seres materiais, pela própria natureza das coisas.

Também existem alguns relatos de bicorporiedade de Santo Antônio de Pádua. O mais famoso dele foi na ocasião da acusação que seu pai sofreu de assassinato: Certa vez, pregando em Pádua, o santo sentiu forte intuição de que sua presença era necessária em Lisboa naquele exato momento. Sentou-se ao lado do púlpito e, como já havia feito uma vez, cobriu a cabeça com o capeio, o capuz dos franciscanos. Apareceu em seguida no Tribunal de Lisboa, onde fez a defesa contundente do pai. Para provar a inocência de seu genitor, rumou acompanhado das autoridades ao cemitério. Para assombro dos presentes, ressuscitou a vítima, que inocentou o acusado de qualquer responsabilidade por sua morte. Permitiu então, que o assassinado, retornasse ao seu descanso. Logo depois, muito além, recobrou a consciência e retomou sua pregação.

Fonte: https://joseleitos.org.br/por-que-santo-antonio-entrou-na-historia-da-congregacao-sociedade-joseleitos-de-cristo/

A primeira vez que isso aconteceu foi em Limoges, sul da França, no ano de 1226. Na Quinta-feira Santa, o frei pregava na Igreja de São Pedro. No mesmo instante, a alguns quilômetros dali, seus irmãos franciscanos já cantavam as matinas no convento. Por ter o cargo de Custódio cabia a ele a responsabilidade de ler uma lição do ofício para os seus irmãos.

No exato momento em que deveria estar presente no convento, o frei interrompeu seu sermão e se recostou no púlpito, cobrindo o rosto com o capuz. Para surpresa dos frades menores, a voz do frei português soou entre o coro dos franciscanos. Cantou a lição e cumpriu sua tarefa junto a seus irmãos, para em seguida desaparecer e despertar de seu aparente cochilo na Igreja de São Pedro.

Assim, para começar a esclarecer o fenomeno, Kardec fez a evocação do mencionado anteriormente Santo Afonso de Liguori. Foram feitas as seguintes perguntas:

1. ─ O fato pelo qual fostes canonizado é real? ─ Sim.

2. ─ Esse fenômeno é excepcional?─ Não. Ele pode apresentar-se em todos os indivíduos desmaterializados.

3. ─ Era motivo justo para vos canonizarem? ─ Sim, pois que por minha virtude eu me havia elevado para Deus. Sem isso eu não teria podido transportar-me simultaneamente para dois lugares diferentes.

4. ─ Todos os indivíduos com os quais ocorrem esses fenômenos merecem ser canonizados? ─ Não, pois nem todos são igualmente virtuosos.

Comentário: Liguori faleceu em 1787 – bastante recente, em termos de vida espírita. Na época de sua evocação, apresenta pensamentos ainda bastante imbuídos das ideias católicas. Acabamos de ver, e em OLM Kardec dá outros exemplos, que a bi corporeidade parece não depender tanto assim de uma virtuosidade tão elevada. É preciso ter certeza se era mesmo esse fenômeno, ou se foi apenas o caso de outra pessoa, vidente, ver o Espírito semidesligado do corpo adormecido.

5. ─ Poderíeis dar-nos uma explicação desse fenômeno? Sim. Quando o homem, por sua virtude, se acha completamente desmaterializado; quando elevou sua alma para Deus, pode aparecer simultaneamente em dois lugares, do seguinte modo: Sentindo vir o sono, o Espírito encarnado pode pedir a Deus para se transportar a um lugar qualquer. Seu Espírito ou sua alma, como queirais chamar, então abandona o seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito e deixa a matéria imunda num estado vizinho ao da morte. Digo vizinho ao da morte porque fica no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode ser definido. O corpo então aparece no lugar desejado. Creio que é tudo o que desejais saber.

Comentário: mais uma vez, uma grande quantidade de conceitos que têm, no fundo, as ideias católicas como influência determinantes.:” Pedir a Deus”,” Matéria imunda”, ” Vizinho à morte”. Ao mesmo tempo, caracteriza a veracidade da comunicação.

Observação: A resposta a questão 5 caracteriza uma certa ambiguidade na comunicação em relação a resposta da questão 2, pois se a bi corporiedade pode se manifestar em todos os indivíduos materializados, nem só os virtuosos o conseguem.

6. ─ Isto não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito. – Achando-se desprendido da matéria, conforme o seu grau de elevação, o Espírito pode tornar a matéria tangível.

7. ─ Entretanto, certas aparições tangíveis de mãos e de outras partes do corpo devem-se evidentemente a Espíritos inferiores. – São Espíritos superiores que se servem dos inferiores a fim de provar o fato.

Observação: Se for exato que os Espíritos superiores se servem de inferiores a fim de provar o fato, explicaria o porquê de os Espíritos inferiores não poderem se materializar sob formas monstruosas, para assustar o povo. Explicaria o “Deus não permitiria”! Mais explicações clique aqui neste artigo

8. O sono do corpo é indispensável para que o Espírito apareça noutros lugares? – A alma pode dividir-se quando se sente transportada a um lugar diferente daquele onde se acha o seu corpo.

9. Que aconteceria a um homem mergulhado em sono profundo e cujo Espírito aparecesse alhures, se fosse despertado subitamente? – Isto não aconteceria, porque se alguém tivesse o intuito de despertá-lo, o Espírito preveria a intenção e voltaria ao corpo, tendo em vista que o Espírito lê o pensamento.

Divisão é um termo inexato. Melhor dizer que a alma, isto é, o períspirito, pode se estender para outros lugares, quando se tem essa capacidade.

O perispírito, estando estendido, não abandona jamais o corpo, senão por sua morte. É possível entender que, por isso, o Espírito, estando distante, perceba o que acontece ao redor do corpo.

Depois que essa comunicação nos foi dada, vários fatos do mesmo gênero, cuja fonte é autentica, nos foram contados, e entre eles há muito recentes, que ocorreram por assim dizer no nosso meio, e que se apresentaram com as circunstancias mais singulares. As explicações , às quais deram lugar, alargaram singularmente o campo das observações psicológicas.

Na RE de agosto de 1859, lemos o seguinte:

Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que viu o Sr. W… filho, de Boulogne-Sur-Mer, que foi questão na revista de dezembro de 1858, a propósito de um artigo sobre o fenômeno de bicorporiedade, e que lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.

O Espiritismo, a seu turno, vem dar a sua teoria. Ele se apoia na psicologia experimental; ele estuda a alma, não só durante a vida, mas após a morte; ele a observa em estado de isolamento; ele a vê agir em liberdade, ao passo que a filosofia ordinária só a vê em união com o corpo, submetida aos entraves da matéria, razão pela qual muitas vezes confunde causa e efeito.

AK, em RE maio de 1864