Um convite à autocrítica do Movimento Espírita

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Nosso último encontro virtual de estudos, no dia 06/04/23, deu-se em cima do artigo “Refutação de um artigo de L ‘Univers”, da Revista Espírita de maio de 1859.

O artigo de Kardec começa com a citação integral de uma publicação do Abade Chesnel no jornal citado, publicação, por sinal, um tanto complexa de entender e, na verdade, bastante confusa em suas ideias. Apesar de citar diversas ideias correntes naquela época, como o Espiritualismo, o Magnetismo e o Espiritismo (embora ele confunda o Espiritismo com o Espiritualismo Racional), é muito fácil notar a confusão de conceitos feita pelo Abade, que, como ponto central, defende a ideia de que o Espiritismo (Espiritualismo) seria uma nova religião, apresentando perigos e ameaça à religião católica.

O texto, embora escrito com certa profundidade, é notadamente leviano, no sentido de fazer diversas afirmações sobre o Espiritismo (que, reitero, ele chama de Espiritualismo), sem ter lido nem sequer O Livro dos Espíritos – o que é certo, pois, logo no início da obra, Kardec faz uma clara distinção entre Espiritismo e Espiritualismo [Racional]. Mas não é esse o ponto central desta discussão.

O que nós notamos em nosso estudo, e sobre o que já havíamos conversado outras vezes, é o distanciamento apresentado entre o Movimento Espírita moderno e o Espiritismo “de Kardec” – com todo o cuidado ao usar esse termo, pois o Espiritismo nunca foi de Kardec, não criado nem imaginado por ele. Ora, não é possível negar que o Movimento Espírita fez do Espiritismo uma religião, definição esta que muitos defendem ferrenhamente, ao passo que Kardec faz, com todas as letras, uma árdua defesa racional em contrário, demonstrando que o Espiritismo não tinha nenhum aspecto de uma religião, mas sim o de uma ciência. Já falamos sobre isso no artigo “Espiritismo é religião?”, “Ciência e Espiritismo: matérias em dimensões opostas?“, “A distância entre o Espiritismo e o Movimento Espírita” e em outras ocasiões, mas decidimos voltar ao assunto pela nova ocasião proporcionada e pela persistência enfática de Kardec – que continua na RE de Julho, com uma réplica à resposta do Abade.

Quanto mais estudamos a Revista Espírita, mais notamos essa enorme distância citada. Convidamos o leitor a questionar: por que? Será que o “nosso” Espiritismo, baseado em informações de Espíritos não verificadas de forma científica e controlada, é “mais correto” do que o Espiritismo estudado tão seriamente, de forma metódica e controlada, por Kardec e outros membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas? Note o seguinte:

Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma ciência e não de uma religião e a prova é que conta como adeptos homens de todas as crenças, os quais, nem por isso, renunciaram às suas convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto; protestantes de todas as seitas; israelitas, muçulmanos e até budistas e bramanistas.

Kardec, Revista Espírita, maio de 1859

Olhemos com frieza para o Movimento Espírita e tentemos encontrar pessoas de outras religiões inseridas nele: praticamente não existem. São raríssimas e, quase sempre, são pessoas que se dizem “sem religião definida”. Será que isso é normal, frente àquilo que Kardec demonstrava? Outra pergunta: se um agente do Censo te perguntar qual é a sua religião e você ser adepto do Espiritismo, o que você responderá?

Todas essas questões não tem a finalidade de atacar a crença pessoal de cada um (até porque, em verdade, o Espiritismo não é feito de crenças, mas de investigação científica), mas o de levantar um grave aspecto que, talvez, muitos não notem: definir o Espiritismo como religião tornou-se o motivo da derrocada do Movimento Espírita, que encontra-se cada vez mais esvaziado. Leia o artigo citado logo no início – pode encontrá-lo aqui – ao menos a partir da resposta de Kardec e procure analisar, por si mesmo, o quanto a definição de “religião” faz o Espiritismo perder em força de alcance e de ajuda no desenvolvimento da humanidade terrestre. Veja a posição do Abade, compatível com a posição moderna de grande parte de seus opositores: ao invés de compreender nessa ciência um suporte às suas crenças; ao invés de tê-la como auxílio às suas incertezas, têm nela uma inimiga, como se o fato de encher os bancos de um centro espírita significa esvaziar os bancos de uma igreja. Infelizmente, muito infelizmente, isso se tornou verdade.

Temos uma felicidade enorme de ter, entre nossos estudantes mais ativos, ao menos uma pessoa que se identifica como católica praticante, que vai à missa, que comunga, que pratica, enfim, sua religião, mas que estuda profundamente e que, muitas vezes, entende melhor que nós, os preceitos morais, filosóficos e científicos do Espiritismo, compreendendo com clara distinção seu caráter científico. Espiritismo é a ciência do que somos e do que é a criação; religião é escolha de práticas humanas, materiais, com significado espiritualista.

Pense, por final, sobre o seguinte: ao passo que Kardec recomendava a prática dos estudos espíritas no lar, o que era mesmo comum naquela época, pergunte-se: existe, hoje, Espiritismo fora dos centros? O que é dito sobre a prática mediúnica fora do centro espírita?

Fica, enfim, o convite reiterado: estude a Revista Espírita. Muitos médiuns bastante conhecidos não tiveram acesso a ela. Hoje, nós temos, e de forma muito, muito fácil e prática. Deixá-la de lado para ficar com o estudo de romances mediúnicos, sem contestação ou investigação, é apego, e traz demérito, dificuldades e erros ao Espiritismo que, de ciência, hoje, no Movimento Espírita não tem nada.

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