O Sr. Home
O Sr. Home foi personalidade muito conhecida à época de Kardec. Médium de efeitos físicos poderoso, atesta Kardec sua integridade moral, sua seriedade e sua introspecção no trato do assunto. Quanto à sua fortuna, não se faz crítica, pois é algo que apenas a ele diz respeito.
Nota-se com facilidade, pela leitura do artigo, que a ida do Sr. Home não se deu por acaso, mas por planejamento superior. Tendo lá ido parar por motivos de saúde, apresentou, aí, o “golpe fatal” contra a dúvida que existia a respeito das manifestações espíritas – algo muito semelhante àquilo que, anos antes, deu lugar nos Estados Unidos, como relata Ernesto Bozzano em “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”. Citando Kardec,
A França, ainda em dúvida no que concerne às manifestações espíritas, precisava que lhe fosse desferido um grande golpe; foi o Sr. Home quem teve esta missão e, quanto mais alto foi o golpe, maior foi a sua repercussão. A posição, o crédito, as luzes dos que o acolheram e que se convenceram pela evidência dos fatos, abalaram as convicções de muita gente, mesmo entre as pessoas que foram testemunhas oculares.
Após comentar sobre alguns fatos da vida do Sr. Home, evidenciando os diversos indícios que denotam suas seriedade e honradez, Kardec fala sobre o gênero de mediunidade desse senhor, muito semelhantes àqueles obtidos por Jonathan Koons, conforme conta Bozzano na obra supracitada:
O Sr. Home é um médium do gênero dos que produzem manifestações ostensivas, sem excluir por isto as comunicações inteligentes, mas as suas predisposições naturais lhe dão para as primeiras uma aptidão toda especial. Sob sua influência ouvem-se os mais estranhos ruídos; o ar se agita; os corpos sólidos se movem, levantam-se, transportam-se de um lado a outro, através do espaço; instrumentos de música produzem sons melodiosos; aparecem seres do mundo extracorpóreo que falam, que escrevem e que por vezes nos abraçam até produzir dor. Muitas vezes ele próprio se viu, em presença de testemunhas oculares, elevado, sem apoio, a vários metros de altura.
A faculdade de Home não exclui o contato com os Bons Espíritos. Contudo, através da ação dos Espíritos inferiores, ele se torna uma ferramenta de divulgação do Espiritismo, tarefa muito valorosa, mas não sem perigos e tribulações, que ele realizou com muita resignação e perseverança.
A faculdade do Sr. Home é inata e se manifestou desde seus primeiros meses de vida, quando seu berço balançava sozinho e mudava de lugar. “Em seus primeiros anos era tão débil que mal se sustinha; sentado no tapete, quando não alcançava os brinquedos, estes vinham pôr-se ao seu alcance“. Kardec reitera a índole de Home:
Se o Sr. Home fosse, como o pretendem os que julgam sem ver, somente um hábil prestidigitador, teria sempre, sem a menor dúvida, mágicas prontas em sua sacola. Entretanto, não é senhor de produzi-las à vontade. Ser-lhe-ia impossível dar sessões regulares, pois muitas vezes, no momento exato em que tivesse necessidade de sua faculdade, esta poderia faltar. Por vezes, os fenômenos se manifestam espontaneamente, no momento em que menos se espera, enquanto que doutras vezes não é possível provocá-los, o que é uma circunstância pouco favorável para quem quisesse fazer exibições com hora marcada.
Por fim, Allan Kardec encerra mencionando um fato ocorrido a portas fechadas, de forma espontânea e sem as diversas testemunhas possíveis, senão seu criado e um amigo, fato que demonstra, ao olhar de Kardec, que não o Sr. Home não buscava alarido e não tinha motivos para enganar a apenas duas pessoas.