Palestras familiares de além-túmulo: Bernard Palissy (9 de março de 1858)

Por intermédio de evocações anteriores, soube-se que Bernard Palissy, um célebre oleiro do século XVI, habita o planeta Júpiter. Quando evocado, Allan kardec, como era de seu costume, fez-lhe perguntas cujas respostas foram, para mais praticidade de leitura, condensadas em texto do foi dito sobre esse planeta, em várias ocasiões, por outros Espíritos e através de diferentes médiuns. Vejamos o diálogo por tópicos:

Visão geral do Espírito de Bernard Palissy

Bernard Palissy ainda demorou a deixar a superfície do planeta. Confessou ter estado sob o aspecto de uma mulher amorosa e dedicada, em uma missão que durou trinta anos. Disse que era obscuro citar o nome da mulher.

O Espírito traçou, pela mão do Sr. Victorien Sardou, os admiráveis desenhos sobre o planeta Júpiter com o fim de nos inspirar o desejo de nos tornarmos melhores. Disse não se importar com as obras materiais dos esboços, mas, sim, com o sofrimento que o elevou.

Finalmente, argumentou que vem com frequência a esta Terra que habitou várias vezes. Sobre o seu estado físico e moral, estabeleceu uma comparação entre ela e Júpiter dizendo que veio ao nosso globo apenas como Espírito e que ele não tem mais sensações materiais.

Estado físico do globo

A temperatura de Júpiter não pode ser comparada a uma de nossas latitudes, pois ela é suave e temperada; é sempre igual, enquanto a nossa varia.

O Sol aparece aos habitantes de Júpiter em tamanho muito pequeno e, consequentemente, fornece muito pouca luz. Assim, Júpiter é cercado de uma espécie de luz espiritual, em relação com a essência de seus habitantes. A luz grosseira de nosso Sol não foi feita para eles. A atmosfera de Júpiter não é formada dos mesmos elementos que a atmosfera terrestre, pois os homens não são os mesmos. Suas necessidades mudaram.

Lá existe água e mares. A água é mais etérea que a nossa.

Não há vulcões. O globo não é atormentado como o nosso. Lá a Natureza não teve suas grandes crises. É a morada dos bem-aventurados. Nele, a matéria quase não existe. As plantas têm analogia com as nossas, mas são mais belas.

Júpiter com sua lua Europa à esquerda: novidades na atmosfera do planeta recente foto do telescópio Hubble captada em 2020.

Estado físico dos habitantes

A conformação do corpo dos seus habitantes tem relação, sendo considerada a mesma. Sua estatura, comparada com a dos habitantes da Terra, é de seres grandes e bem proporcionados. Maiores que os nossos maiores homens. O corpo do homem é como o molde de seu espírito: belo, onde ele é bom. O envoltório é digno dele: não é mais uma prisão. A densidade específica do corpo humano permite ao homem transportar-se de um a outro ponto, sem ficar, como aqui, preso ao solo.

Lá os os corpos inertes são opacos, diáfanos e translúcidos. Uns têm tal propriedade, outros têm outra, conforme a sua finalidade.

Em relação aos corpos humanos, o corpo envolve o Espírito sem ocultá-lo, como um tênue véu lançado sobre uma estátua. Nos mundos inferiores, o envoltório grosseiro oculta o Espírito aos seus semelhantes, mas os bons nada mais têm a ocultar: cada um pode ler no coração dos outros. Sendo o corpo dos habitantes de Júpiter menos denso que os nossos, é formado de matéria compacta e condensada ou vaporosa que é compacta para eles, mas não para nós. Ela é menos condensada e impenetrável.

Lá existe diferença de sexo. Sexo há por toda parte onde existe a matéria.

A base da alimentação dos habitantes é puramente vegetal, pois o homem é o protetor dos animais. Parte de sua alimentação é extraída do meio ambiente, cujas emanações eles aspiram.

Comparada com a nossa, a duração da vida é mais longa. Eles vivem mais ou menos cinco séculos. Na infância, o homem conserva sua superioridade: a infância não comprime a inteligência nem a velhice a extingue.

Os homens não são sujeitos a doenças.

A vida não está dividida entre o sono e a vigília, mas entre a ação e o repouso.

Sobre as várias ocupações dos homens que lá os eles têm, foi dito que muito teria a falar. Sua principal ocupação é o encorajamento dos Espíritos que habitam os mundos inferiores, a fim de que perseverem no bom caminho. Não havendo entre eles infortúnios a serem aliviados, vão procurá-los onde esses existem: são os bons Espíritos que vos amparam e vos atraem para o bom caminho.

Lá as artes são consideradas inúteis. Para eles, as nossas artes são brinquedos que distraem as nossas dores.

Não existem lá o tédio e o desgosto da vida. O desgosto da vida origina-se no desprezo de si mesmo.

Os habitantes não têm, como nós, uma linguagem articulada. Há entre eles a comunicação pelo pensamento. A segunda vista é, como nos informaram, uma faculdade normal e permanece entre eles. O Espírito não conhece entraves. Nada lhe é oculto. Eles se comunicam sempre e mais facilmente que nós com os outros Espíritos. Não existe mais a matéria entre eles e nós.

O conhecimento do futuro depende do grau de perfeição do Espírito: isso tem menos inconvenientes para eles do que para nós; é-lhes mesmo necessário, até certo ponto, para a realização das missões de que são incumbidos, mas dizer que conhecem o futuro sem restrições seria nivelá-los a Deus. A predição do futuro é por mérito.

A morte não inspira o mesmo horror e pavor que entre nós, pois entre eles já não existe o mal. Só o mau se apavora ante o seu último instante. Ele teme o seu juiz. Os habitantes de Júpiter depois da morte crescem sempre em perfeição, sem passar por mais provas. Não há em Júpiter Espíritos que se submetam a provas a fim de cumprir uma missão, pois só o amor do bem os leva ao sofrimento. Eles não podem falhar em sua missão porque são bons. Só existe fraqueza onde há defeitos.

Perguntado se poderia nomear alguns dos Espíritos habitantes de Júpiter que tenham desempenhado uma grande missão na Terra, foi enumerado São Luís. Não quis nomear outros, pois há missões desconhecidas, cujo objetivo é a felicidade de um só. Por vezes são as maiores e as mais dolorosas.

Júpiter é muito maior do que a Terra e consideravelmente menos denso: seu volume corresponde a 1.321 vezes o da Terra.

Dos Animais

O corpo dos animais é mais material que o dos homens, pois o homem é o rei, o deus planetário. Os animais não se estraçalham mutuamente. Vivem todos submetidos ao homem e se amam entre si. Não há porém animais que escapam à ação do homem, assim como os insetos, os peixes e os pássaros. Todos lhe são úteis.

Os animais são os operários e os capatazes que executam os trabalhos materiais, constroem as habitações etc. O homem não mais se rebaixa para servir ao semelhante. Os animais servidores estão ligados a uma família particular, sob o estado de submissão, sem remuneração.

As faculdades dos animais são desenvolvidas por si mesmos. Sua linguagem é mais precisa e caracterizada que a dos animais terrenos.

Estado moral dos habitantes

As habitações de que ele deu uma mostra nos teus desenhos estão reunidas em cidades como aqui. Aqueles que se amam se reúnem. Só as paixões estabelecem a solidão em torno do homem. Disse que, se o homem ainda mau procura o seu semelhante, que é para ele um instrumento de dor, o homem puro e virtuoso não deve fugir de seu irmão.

Os Espíritos são de diversos graus, mas da mesma ordem. Perguntado se poderia reportar-se especialmente à escala espírita que demos no segundo número da Revista e que nos dissesse a que ordem pertencem os Espíritos encarnados em Júpiter, disse que são todos bons, todos superiores. Por vezes, o bem desce até o mal; entretanto, o mal jamais se mistura com o bem.

Os habitantes formam diferentes povos como aqui na Terra, mas todos unidos entre si pelos laços do amor. As guerras são desconhecidas.

Argumentou que o homem poderá chegar, na Terra, a um tal grau de perfeição que a guerra seja desnecessária. A guerra desaparecerá com o egoísmo dos povos e à medida que melhor seja compreendida a fraternidade.

Os povos são governados por chefes. A autoridade dos chefes está em seu grau superior de perfeição. A superioridade e a inferioridade dos Espíritos em Júpiter, de vez que todos são bons, é medida pela maior ou menor soma de conhecimentos e de experiência; depuram-se à medida que se esclarecem.

Diferente Terra, lá não existem povos mais ou menos avançados que outros, mas entre os povos há diversos graus. Se o povo mais adiantado da Terra fosse transportado para Júpiter, ocuparia a função que os macacos possuem entre nós.

Os povos se regem por leis e não há leis penais, pois não há mais crimes. Quem faz as leis é Deus.

Não há ricos e pobres e nem homens que vivem na abundância e no supérfluo e outros a quem falta o necessário, pois todos são irmãos. Se um possuísse mais do que o outro, com esse repartiria; não seria feliz quando seu irmão fosse necessitado. A ninguém falta o necessário; ninguém tem o supérfluo. Por outras palavras, a fortuna de cada um está em relação com a sua condição. Aquele que tem menos não é infeliz em relação àquele que tem mais. Ele não pode sentir-se infeliz, se não é invejoso nem ciumento. A inveja e o ciúme produzem mais infelizes que a miséria.

Não quis responder em que consiste a riqueza em Júpiter, mas confirmou que existem desigualdades sociais nas leis da sociedade. Uns são mais adiantados que outros na perfeição. Os superiores têm sobre os outros uma espécie de autoridade, como um pai sobre os filhos.

As faculdades do homem são desenvolvidas pela educação. Pode o homem adquirir bastante perfeição na Terra para merecer passar imediatamente a Júpiter, mas na Terra o homem é submetido a imperfeições a fim de estar em relação com os seus semelhantes. Quando um Espírito deixa a Terra e deve reencarnar-se em Júpiter, fica errante durante algum tempo, até encontrar o corpo a que se deve unir para que se tenha livrado das imperfeições terrenas.

Não há várias religiões, pois todos professam o bem e todos adoram um só Deus. Não há templos e um culto, visto que, por templo há o coração do homem; por culto, o bem que ele faz.