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Talvez esta seja uma das comunicações relatadas mais interessantes do ano de 1858, por se tratar do Espírito de um soldado morto em guerra, um Espírito com aparência de tranquilidade e até de bondade.
Aconteceu assim: “Tendo-se reunido em nossa casa algumas pessoas com propósito de constatar certas manifestações, em diversas sessões produziram-se os fatos que se seguem: manifestou um Espírito por golpes, não batidas pelo pé de mesa, mas na própria contextura da mesa.” Depois Kardec segue dizendo que além das respostas de várias perguntas pelo sim e pelo não, os golpes tocavam marchas, imitavam fuzilaria, algo completamente inusitado.
Enquanto ouviam, observaram que o Espirito tinha certa predileção pelo rufo do tambor.
Estavam presentes, além de um médium especial de influência física, um psicógrafo. Por causa disso, conseguiram a conversa bem explícita, como nome, local de nascimento, data da morte, etc. A comunicação espontanea começou assim:
1 – Escreve qualquer coisa, o que quiseres. – Ran plan plan, ran, plan, plan.
2 – Por que escreveste isso? – Eu era tocador de tambor.
Ele disse que morreu em uma batalha, e continua assumindo essa característica de batedor de tambor, por isso que fazia esses efeitos de marchinha.
16- Estás reencarnado? – Não, pois que venho conversar convosco.
17- Por que te manifestas por pancadas, sem que tenhas sido chamado? – É preciso fazer barulho para aqueles cujo coração nada crê. Se não tendes o bastante, dar-vos-ei ainda mais.
Observação: Ele demonstra uma certa superioridade moral.
18 – É de tua própria vontade que vieste bater, ou um outro Espírito obrigou-te a fazê-lo? – Venho por minha vontade; há um outro, a quem chamais Verdade, que pode forçar-me a isto também. Mas há muito tempo que eu queria vir.
19 – Com que objetivo querias vir? – Para conversar convosco; era o que queria; havia, porém, alguma coisa que mo impedia. Fui forçado por um Espírito familiar da casa, que me exortou a tornar-me útil às pessoas que me fizessem perguntas.
19.1 – Esse Espírito, então, tem muito poder, visto comandar outros Espíritos? – Mais do que imaginais, e não o emprega senão para o bem.
Observação: Os Espíritos sempre são assistidos.
22- Qual a existência que preferes: a atual ou a terrestre? – Prefiro a existência do Espírito à do corpo. Porque estamos bem melhor do que na Terra. A Terra é um purgatório; durante todo o tempo em que nela vivi, sempre desejei a morte.
25 – Ficarias satisfeito se tivesses uma nova existência corporal? – Sim, porque sei que devo elevar-me.
26 – Quem te disse isso? – Eu o sei bem.
27 – Reencarnarás logo? – Não sei.
Da pergunta 28 em diante, pela primeira vez na RE, os presentes perguntam para o Espírito manifestante sobre outros Espíritos na Erraticidade:
28. ─ Vês outros Espíritos ao teu redor? ─ Sim, muitos.
29. ─ Como sabes que são Espíritos? ─ Entre nós, vemo-nos tais quais somos.
30. ─ Com que aparência os vês? ─ Como se podem ver Espíritos, mas não pelos olhos.
31. ─ E tu, sob que forma aqui estás? ─ Sob a que tinha quando vivo, isto é, como tambor.
32. ─ E vês os outros Espíritos com as formas que tinham em vida? ─ Não. Nós não tomamos uma aparência senão quando somos evocados. Fora disso vemo-nos sem forma.
RE julho 1858
Veja que interessante: Ele vê os outros Espíritos ao seu redor sem forma alguma! Ele não é um Espirito avançado, mas, fora do momento em que são evocados, na erraticidade, os Espíritos NÃO têm uma forma.
Os Espíritos não tem olhos, não tem ouvidos, nem tato… porque eles não tem necessidade no plano espiritual desse tipo de manifestação. “Nossa forma é apenas aparente”, diz o tambor.
A comunicação segue com perguntas sobre a manifestação das batidas na mesa, no que ele diz que está ao lado dela, que não se mete dentro dela.
37-Como produzes os ruídos que fazes ouvir? – Creio que é por intermédio de uma espécie de concentração de nossa força.
38 – Poderias explicar-nos a maneira pela qual são produzidos os diferentes ruídos que imitas, as arranhaduras, por exemplo? – Eu não saberia precisar muito a natureza dos
ruídos; é difícil de explicar. Sei que arranho, mas não posso explicar como produzo esse ruído que chamais de arranhadura.
Depois foi perguntado que dependia para levantar uma mesa, no que ele respondeu: – Depende de mim, pois me sirvo do médium como de um instrumento. E além disso tem que ser com médiuns específicos, que eu me atraio.
48 – De que te ocupas em tua existência de Espírito, considerando que não deves passar o tempo todo somente a bater? – Muitas vezes tenho missões a cumprir; devemos
obedecer a ordens superiores e, sobretudo, fazer o bem aos seres
humanos que estão sob nossa influência.49 – Por certo tua vida terrestre não foi isenta de faltas; reconhece-as, agora? – Sim; e por isso as expio, permanecendo estacionário entre os Espíritos inferiores; só poderei purificar-me bastante quando tomar um outro corpo.
OBSERVAÇÃO: Aqui fica evidente o reconhecimento de suas faltas e o arrependimento.
55 – Estás sempre na Terra, em tua existência espiritual? – Mais freqüentemente no espaço.
56 – Vais algumas vezes a outros mundos, isto é, a outros globos? – Não aos mais perfeitos, mas aos mundos inferiores.
57 – Por vezes te divertes em ver e ouvir o que fazem os homens? – Não; entretanto, algumas vezes tenho piedade deles.
65 – Tiveste consciência imediata de tua nova existência? – Não, mas já não sentia mais frio.
RE julho 1858
OBSERVAÇÃO: Ele não tinha mais consciência de seu corpo.
COMENTÁRIO DE KARDEC SOBRE A COMUNICAÇÃO: – Pouco avançado na hierarquia espírita, como se vê, o próprio Espírito do Tambor reconhecia a sua inferioridade. Seus conhecimentos são limitados; mas tem bom senso, sentimentos louváveis e benevolência. Como Espírito, sua missão carecia de significado, visto que desempenhava o papel de Espírito batedor para chamar os incrédulos à fé; contudo, mesmo no teatro, a humilde indumentária de comparsa não pode envolver um coração honesto? Suas respostas têm a simplicidade da ignorância; entretanto, pelo fato de não possuírem a elevação da linguagem filosófica dos Espíritos superiores, nem por isso deixam de ser menos instrutivas, sobretudo para o estudo dos costumes espíritas, se assim nos podemos exprimir. É somente estudando todas as classes desse mundo que nos aguarda que podemos chegar a conhecê-lo e nele marcar, de algum modo, por antecipação, o lugar que a cada um de nós será dado ocupar. Vendo a situação que, por seus vícios e virtudes, criaram os homens, nossos iguais aqui na Terra, sentimo-nos encorajados para nos elevar o mais rapidamente possível desde esta vida: é o exemplo ao lado da teoria. Para conhecermos bem alguma coisa, e dela fazermos uma ideia isenta de ilusões, é preciso dissecá-la em todos os seus aspectos, assim como o botânico não pode conhecer o reino vegetal a não ser observando desde o mais humilde criptógamo, que o musgo oculta, até o carvalho altaneiro, que se eleva nos ares.
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