Habitações em Júpiter, por V. Sardou
Hoje e outrora, muitos desdenham das menções a habitações em outros planetas, como em Júpiter. Nós, antes, podemos ter desdenhado das descrições de mesas correndo pelo salão. Honestamente, é apenas quando nos reportamos à Ciência que não podemos negar o que se apresenta de forma clara, lúcida e racional.
Este artigo é uma das cartas recebidas de Victorien Sardou a respeito de Júpiter.
“Se aqui, na verossimilhança das explicações, não encontra o leitor uma prova suficiente de sua veracidade; se, como nós, não se surpreende com a perfeita concordância entre estas revelações dos Espíritos e os dados mais positivos da Astronomia; se, numa palavra, não vê mais que hábil mistificação nos detalhes que se seguem e no desenho que os acompanha, eu o convido a se explicar com os Espíritos, de quem apenas sou eco fiel e instrumento”.
O autor convida os críticos para que eles mesmos evoquem os Espíritos e discutam com eles.
Sardou segue o artigo dando algumas descrições a respeito das moradias e dos habitantes de Júpiter. Segundo ele conta – e cuja fonte de informação é, claro, os Espíritos – a conformação corpórea desses seres seria como a de um vapor, embora muito mais sutil que isso, intangível e luminoso, principalmente nos contornos do rosto e da cabeça, “pois aí a inteligência e a vida irradiam como um foco muito ardente”.
É dessa visão, diz Sardou, que os visionários cristãos teriam tirado as imagens das auréolas dos santos.
Segundo ele, os Espíritos nesse planeta encontram-se encarnado em matéria tão sutil que se movimentam muito rapidamente e se desprendem facilmente da atração planetária (gravidade), segundo a ação de sua própria vontade.
“Assim, alguns personagens que Palissy houve por bem fazer-me desenhar são representados rasando o solo ou na superfície das águas ou ainda muito elevados no ar, com toda a liberdade de ação e de movimento que nós atribuímos aos anjos. Essa locomoção é tanto mais fácil quanto mais depurado é o Espírito, o que se compreende sem esforço. Assim, nada é mais fácil aos habitantes do planeta do que determinar, logo à primeira vista, o valor de um Espírito que passa. Dois sinais o delatam: a altura de seu voo e a luz mais ou menos brilhante de sua auréola.“
Sardou diz que os Espíritos menos avançados deste planeta, quando evocados, respondem de forma lacônica e com certa pressa, como se tivessem muito o que fazer: é que eles ainda não tem o poder de se irradiar simultaneamente sobre dois pontos.
Sobre os animais, ele diz que nem mesmo os habitantes de Júpiter apresentam consenso sobre seus Espíritos: se são Espíritos à parte ou se são Espíritos que um dia chegarão à humanidade… Parece ser um enigma para esferas acima de Júpiter.
Seja como for, ele destaca que esses Espíritos vieram de outros planetas inferiores, onde estagiaram por múltiplas encarnações, passando por uma escala de aperfeiçoamento.
Em Júpiter, os animais são os únicos seres operários, trabalhando nas construções e até mesmo no plantio e na colheita. Não são sacrificados, pois já sabemos que todos, aí, são vegetarianos.
Daí em diante, Sardou – ou, antes, o Espírito comunicante – segue tecendo uma série de descrições incríveis a respeito da cidade de Julnius, sobre como ela foi formada, etc. Ele diz que existem partes materiais das cidades, em solo, e partes diáfanas e voadoras, movimentadas pela vontade, que servem de abrigo aos seres humanos desse planeta.
Sardou escreve que Júpiter, segundo os Espíritos, tem um dia e uma noite, ambos, com duração de cinco horas. Dados de hoje apontam que, na verdade, são de pouco mais de nove horas cada um.
É sobre a margem direita desse rio, “cuja água, diz o Espírito, dar-te-ia a impressão da consistência de um vapor muito leve” [sabemos, hoje, que existem verdadeiros rios de amônia, desde as mais altas até as mais baixas atmosferas], que está construída a casa de Mozart, cujo desenho Palissy teve a bondade de me fazer reproduzir sobre cobre.
O artigo, enfim, é de interesse geral. Kardec ressalta a honestidade e a seriedade de Sardou, destacando que o Espiritismo “não recruta entre tolos e ignorantes”.