A preguiça: dissertação moral de São Luís á Srta. Hermance Dufaux

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1858 > Junho > A preguiça

Um homem saiu muito cedo e foi à praça para contratar operários. Ora, ali viu dois homens do povo, sentados e de braços cruzados. Chegou-se a um deles e assim o abordou: “Que fazes aí?” Ao que o mesmo lhe respondeu: “Não tenho trabalho.” Disse então aquele que procurava trabalhadores: “Toma a tua ferramenta e vem ao meu campo, na vertente da colina, onde sopra o vento sul; cortarás as urzes e revolverás o solo até o cair da noite. A tarefa é dura, mas terás um bom salário.” O homem do povo pôs a enxada no ombro, agradecendo-lhe por isso, de todo o coração.

Ouvindo isto, o outro operário levantou-se e aproximou-se, dizendo: “Senhor, deixe-me ir também trabalhar no campo.” E, tendo-lhes dito a ambos que o seguissem, marchou à frente, para mostrar o caminho. Depois, quando chegaram à encosta da colina, dividiu o trabalho em dois e se foi.

Quando ele partiu, o último dos operários contratados pôs fogo no mato da gleba que lhe coube por sorte e revolveu a terra com a enxada. Sob o ardor do sol, o suor porejava-lhe de sua fronte. O outro o imitou, a princípio murmurando, mas em breve parou o trabalho e fincando a enxada no chão sentou-se ao lado, olhando o trabalho do companheiro.

Ora, ao cair da tarde veio o dono do campo e examinou o trabalho. Chamando o operário diligente, felicitou-o dizendo: “Trabalhaste bem. Eis o teu salário.” E despediu-o, dando-lhe uma moeda de prata. O outro também se aproximou, reclamando o preço de seu salário, mas o dono lhe disse: “Mau trabalhador, meu pão não matará a tua fome, porque tu deixaste inculta a parte de meu campo que te foi confiada. Não é justo que aquele que nada fez seja recompensado como o que trabalhou bem.”

preguiça
A Vinhas foram tratadas como local de trabalho dos trabalhadores da última hora no texto de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

E despediu-o sem nada lhe dar.

Eu vos digo que a força não foi dada ao homem, nem a inteligência ao seu espírito para que consuma seus dias na ociosidade, mas para ser útil aos seus semelhantes. Ora, aquele cujas mãos estiverem desocupadas e o espírito ocioso será punido e deverá recomeçar a sua tarefa.

Em verdade vos digo que sua vida será posta de lado como coisa imprestável, quando seu tempo se cumprir. Compreendei isto como uma comparação. Qual de vós, possuindo no pomar uma árvore que não dá frutos, não dirá ao servo: “Corte aquela árvore e lance-a no fogo, pois seus ramos são estéreis?” Ora, assim como aquela árvore será cortada por causa de sua esterilidade, também a vida do preguiçoso será lançada no refugo, por ter sido estéril em boas obras.

A preguiça: trabalhadores da última obra

O Evangelho Segundo o Espiritismo é um livro de autoria de Allan Kardec e dos Espíritos que foi publicado em Paris, em 15 de abril de 1864, que usou este texto, mas com outra roupagem. 

É bom sabermos que Kardec lançou mão de seus estudos com a Revista Espírita para acrescentar parte deles em sua grande obra, reconhecida como básica do Espiritismo que, dentre elas, a que dá maior enfoque a questões religiosas, éticas e comportamentais do ser humano.

O artigo citado: Os trabalhadores da última hora

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