A inveja

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Kardec inicia o mês trazendo uma dissertação moral, desta vez através do “Sr. D.”¹, médium que, até o presente momento, não pudemos identificar.

São interessantes as observações que o professor faz a respeito desse médium, pois, destaca, estava apenas iniciando o desenvolvimento de sua mediunidade e, por isso, duvidava um pouco de suas capacidades.

Tendo o Sr. D. expressado sua vontade de intermediar uma comunicação de São Luis, foi de pronto atendido, não como forma de provar qualquer coisa, mas porque o pedido foi genuíno e sincero, sem segundas intenções. Apenas duvidava de si mesmo.

“Hoje, o Sr. D… é um dos médiuns mais completos, não só pela grande facilidade de atuação, como por sua aptidão em servir de intérprete a todos os Espíritos, mesmo os das mais elevadas categorias, os quais por seu intermédio se exprimem facilmente e de boa vontade”

“São essas, sobretudo, as qualidades que devemos procurar nos médiuns e que podem sempre ser adquiridas com paciência, vontade e exercício. O Sr. D… não necessitou de muita paciência; dispunha da vontade e do fervor, aliados à aptidão natural. Poucos dias bastaram para levar sua faculdade ao mais alto grau”

E segue com a apresentação da dissertação moral, do qual destacamos o seguinte trecho:

“Ele se debate na sua impotência, vítima do horrível suplício da inveja, feliz ainda se essas ideias funestas não o levam às bordas de um abismo. Entrando nessa via, a si mesmo pergunta se não deve obter pela violência aquilo que julga ser-lhe devido; se não irá expor aos olhos de todos o terrível mal que o devora. Se esse infeliz tivesse olhado somente para baixo de sua posição, teria visto a quantidade daqueles que sofrem sem um lamento e ainda bendizem o Criador, porque a desgraça é um benefício de que Deus se serve para fazer a pobre criatura avançar até o seu trono eterno.”

Comentários

Vejamos o espaço que Kardec dava aos conteúdos de fundo moral, sem tirar espaço do aspecto principal do Espiritismo, que era a investigação científica para a ininterrupta formação de toda uma Doutrina.

Hoje, infelizmente, se faz o contrário. Espiritismo virou apenas moral, centros espíritas se resumem a palestras e passes e chegamos ao cúmulo de ouvir opiniões do tipo “neste momento, precisamos deixar de lado até mesmo as reuniões de assistência aos Espíritos, pois o que mais importa é nossa mudança urgente a fim de não perder o direito de continuar reencarnando na Terra, que está entrando em uma nova era”.


1. Alfred Jean Baptiste Didier?

Esse médium foi muito ativo na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas – SPEE, sendo muito utilizado por Lamennais. Após sua saída da Sociedade, em 1865, se dedicou à pintura

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