Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec – estudo da obra

O grupo irmão, Grupo de Estudos Espiritismo para Todos (EPT) está desenvolvendo estudos de uma obra muito interessante e importante, em seu Youtube. Semanalmente, aos sábados, se debruçam sobre o livro “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, obra em que Wilson Garcia vai fundo e esmiúça os caminhos que levaram o Movimento Espírita atual a ser esse movimento religioso, dogmático, afastado da ciência e avesso à razão e à lógica.

Não temos outra forma de dizer: Wilson Garcia realmente coloca o dedo na ferida, numa ação necessária a inadiável, seguindo o caminho iniciado há muitas décadas, por outros estudiosos da Doutrina Espírita e, mais recentemente, pelos trabalhos de Simoni Privato e Paulo Henrique de Figueiredo.

Destacaremos um pequeno trecho, da introdução do livro, para, em seguida, vincular os vídeos dos estudos do EPT, que você pode acompanhar ou mesmo participar.

Certamente, o espiritismo tem sido seriamente afetado em sua credibilidade pela proliferação de charlatães e especuladores que se exibem como curandeiros, videntes ou ledores da sorte, que usam o nome da doutrina de modo impróprio e abusivo. De semelhante, contribui com o descrédito a publicação de panfletos e livros repletos de mensagens estranhas carregadas de um anacrônico misticismo religioso, temperado com supostas revelações e profecias apocalípticas, anunciadas por entidades de origem ou categoria heterogênea. É necessário acrescentar a este pandemônio a proliferação de obras de tendências espiritualistas ou esotéricas que rondam as áreas limítrofes do pensamento espírita, em cujas páginas desponta de maneira velada ou explícita a afirmação de que superam o espiritismo, por ser supostamente portadoras de conhecimentos mais atuais ou modernos.

Todo esse caos semântico e conceitual, do qual a doutrina fundada e sistematizada por Kardec é absolutamente alheia, afeta em maior ou menor grau a marcha do movimento espírita desde suas origens até os dias atuais, na França e em outros lugares da Europa, assim como no Brasil e em inúmeros países do continente americano. Basta lembrar os esforços insistentes que são feitos nas hostes do kardecismo para demarcar e proteger-se das influências geradas pelo ramatisismo, o monismo ubaldista, o trincadismo, o culto Basilio, o emanuelismo, a umbanda e outros sincretismos, e, claro, o roustainguismo, denominação que recebe o conjunto de teorias e crenças reunidas na obra Os quatro Evangelhos […]

GARCIA, Wilson. Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec. Editora EME, 2020.

Se você desejar informações sobre como participar ativamente dos estudos, entre em contato.

Clique abaixo para assistir aos vídeos da playlist desse estudo.




Os ataques a Kardec e as tentativas de manchar o Espiritismo

Não esqueçamos que o Espiritismo tem inimigos interessados em obstar-lhe à marcha, aos quais seus triunfos causam despeito, não sendo os mais perigosos os que o atacam abertamente, porém os que agem na sombra, os que o acariciam com uma das mãos e o dilaceram com a outra. Esses seres malfazejos se insinuam onde quer que contem poder fazer mal. Como sabem que a união é uma força, tratam de a destruir, agitando brandões de discórdia. Quem, desde então, pode afirmar que os que, nas reuniões, semeiam a perturbação e a cizânia não sejam agentes provocadores, interessados na desordem? Sem dúvida alguma, não são espíritas verdadeiros, nem bons; jamais farão o bem e podem fazer muito mal.

KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns.

De muito tempo são conhecidos os inimigos do Espiritismo que, em campo aberto, atacam-lhe de todos os lados e de todas as formas. Há os das religiões, que o combatem por pregar os princípios da autonomia e do livre-arbítrio; os das ciências materialistas, que não conseguem admitir aquilo que não veem sob os aparelhos; os da política, que veem, nas suas ideias, não mais que uma ameaça à sua hegemonia; os das filosofias materialistas, etc. Esses inimigos, porém, são declarados. Piores são aqueles que surgem, por imprecaução ou por malevolência, no seio da Doutrina, dentre os homens estudiosos que deveriam fazer de tudo para o bem dessa ciência.

Existem em todas as áreas os “judas” do Espiritismo. Kardec conheceu alguns, sendo que o mais destacado deles foi Roustaing, que, por orgulho e vaidade, se voltou contra o Espiritismo. São Espíritos que ainda não conseguiram compreender a essência da Doutrina Espírita, que a consideram uma “religião” ameaçadora e que esperam, sorrateiramente, o menor erro onde se possam agarrar, fazendo uma verdadeira tormenta em copo-d’água. Se valem, para isso, seja de si mesmos, quando encarnados, seja de indivíduos desavisados ou pouco compenetrados da verdadeira essência da Doutrina dos Espíritos, sobre os quais exercem influência em razão de suas ideias apegadas à vaidade e ao orgulho.

Não importa que, na formação da ciência espírita humana, existam mil conceitos consoladores, libertadores e transformadores: basta um único conceito, depois visto como falso ou errado, nascido das ideias de época dos homens, para que tentem colocar a Doutrina dos Espíritos, as ideias dos homens que a investigaram e o Movimento Espírita, três coisas diferentes, num mesmo balaio, tachado de imprestável ou danoso.

Uma dessas ideias que mais causa furor ao homem desavisado e desinformado é aquela do racismo em Kardec. Sim, Kardec afirma, em suas conclusões, e movido pelos conceitos da ciência da época, que o negro, referido por ele como “hotentote”, o “selvagem” africano, seria uma raça inferior, materialmente falando, onde se encarnariam Espíritos menos adiantados, em busca de expiações e aprendizado básico. Uma ideia terrível e racista? Sim, mas apenas sob o ponto de vista atual. Naquela época nem sequer havia o conceito do racismo, porque era natural, segundo a ciência, classificar o ser humano em raças — dezenas delas.

Kardec utilizava os conceitos e postulados científicos de sua época. Foi assim com os fluidos, que foram posteriormente abandonados, foi assim com o racismo. Simples assim. Partindo desse conceito MATERIAL da inferioridade da raça negra, ele supôs que os Espíritos que encarnavam eram inferiores? Por quê?

Ora, nos coloquemos na situação de Kardec: vivia em uma sociedade etnocêntrica; via os negros sendo classificados como inferiores, pelos conceitos científicos e tratados como animais. Daí, supôs que os Espíritos escolhiam encarnar negros para expiar suas imperfeições. Isso está explícito em “O negro pai César”, na Revista Espírita de junho de 1859. Há erro nisso? Se considerarmos como os negros eram tratados e classificados pela ciência e pela sociedade, que lhes impunham pesados sofrimentos, então não é fácil supor que alguns Espíritos escolhiam uma vida como aquela, assim como um Espírito chegou a escolher ser enterrado vivo, pensando ter que pagar um erro passado?

Um certo autor diz assim: “É ainda recorrente centros espíritas que não aceitam ou aceitam com ressalvas comunicações de pretos velhos, índios e outros espíritos que se apresentam de maneira não convencionada como de confiança”. Ora, é ainda recorrente, nos centros Espíritas, subirem às tribunas para ensinarem conceitos de carma e lei do retorno ou ainda falarem em “água fluida” e “o telefone só toca de lá pra cá”. E isso se dá pela mesma razão que leva esse Movimento Espírita a não aceitarem tais comunicações: pela ausência de estudos doutrinários e científicos. Não confundamos o Movimento Espírita com o Espiritismo. São coisas distintas, assim como são distintos o aspecto humano e o aspecto espírita da Doutrina.

Lembro que o mesmo Kardec que se guiou pela ciência para classificar os negros (e também outros povos) de tal forma, se esforçou para demonstrar que, “a despeito de qualquer coisa” (no contexto dessas opiniões), deveriam ser tratados com respeito e dignidade. Isso o autor esqueceu de citar:

829. Haverá homens que estejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens?

“É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem. A escravidão é um abuso da força. Desaparece com o progresso, como gradativamente desaparecerão todos os abusos.”

É contrária à natureza a lei humana que consagra a escravidão, pois que assemelha o homem ao irracional e o degrada física e moralmente (nota de Allan Kardec)

831. A desigualdade natural das aptidões não coloca certas raças humanas sob a dependência das raças mais inteligentes?

“Sim, mas para que estas as elevem, não para embrutecê-las ainda mais pela escravização. Durante longo tempo, os homens consideraram certas raças humanas como animais de trabalho, munidos de braços e mãos, e se julgaram com o direito de vender os dessas raças como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais puro os que assim procedem. Insensatos! Nada veem senão a matéria. Mais ou menos puro não é o sangue, porém o Espírito.” (361–803.)

Esse mesmo Kardec também se esforçou por trazer as mulheres para o mesmo patamar de dignidade e direitos, como na RE de janeiro de 1866 e nas perguntas 817 a 821 de OLE. Ainda, na mesma edição da Revista, ele desfaz, pelos princípios Espíritas, os preconceitos que dão origem à homofobia:

“Se essa influência da vida corporal repercute na vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual para a corporal. Numa nova encarnação, ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se ele for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado.

Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão e em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres”.

Portanto, só existe diferença entre o homem e a mulher em relação ao organismo material, que se aniquila com a morte do corpo. Mas, quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas.

Allan Kardec, R.E., Jan/1866

 E então Paulo Henrique destaca o uso de conceitos científicos da época, outra vez, por Kardec, para explicar o termo “anomalia aparente”:

É muito importante destacar aqui que o termo “anomalia aparente”, usado por Kardec, estava presente nas ciências da época, se referindo aos fenômenos que fogem da explicação das teorias aceitas, não sendo para elas “normais”; mas que, ao se encontrar uma nova explicação natural para o fenômeno em novas teorias, elas deixam de ser “anomalias” e se tornam fenômenos naturais. Por isso ela é “aparente”

Paulo Henrique de Figueiredo, site Revolução Espírita, 25/08/2016

Já foi um grande passo, para um homem daquela época, ter dado alma a um povo tratado como máquina. Mas, sabemos, a marcha do progresso avança e, como dizia sempre Kardec, deveríamos sempre acompanhar os avanços científicos, abandonando a opinião que se mostrasse errada frente à ciência. É isso o que fazemos aqui e é o mesmo que faria Allan Kardec se, hoje, se encontrasse encarnado entre nós. Discordo haver “lapso” de caráter em Kardec, pois ele demonstrava o contrário, todo o tempo. Há conceitos de época, de um homem profundamente ligado às ciências.

Esse mesmo autor segue dizendo que “Além disso, era muito comum as famílias ricas terem serviçais negros(as) para todos os tipos de trabalho. Então, Kardec não somente viu negros(as), mas teve oportunidade de conhecer, conversar e aprender sobre as sociedades africanas, pois a presença negra na França era comum”, sobre as quais teço as seguintes observações:

Em primeiro lugar, a referência apresentada para a primeira afirmação — McCloy, Shelby T. Negroes and Mulattoes in Eighteenth-Century France. The Journal of Negro History, Vol. 30, No. 3 (Jul., 1945), pp. 276-292 — traz referências apenas do final do século XVIII. Rivail, tendo nascido em 1804, alcançaria a maturidade somente por volta de 1816, no mínimo. São 16 anos de possíveis mudanças, e não podemos esquecer que a França era um país colonialista e que, por isso, enviava a maioria dos negros para suas colônias.

Em segundo lugar, a segunda afirmação carece de lógica. Kardec foi educado primordialmente em Yverdon, por Pestalozzi, onde, ainda aos 14 anos, atuava ensinando outros estudantes. Depois, conviveu, pelo que sabemos, majoritariamente entre os círculos científicos e educacionais, dominados, é claro, pelo homem branco. Será mesmo que Kardec teve tantas oportunidades assim de conviver com negros? Ora, conhecendo o bom-senso de Rivail, é de se supor que NÃO, caso contrário teria uma opinião diversa a esse respeito.

E resta lembrar que os Espíritos NÃO adiantam a ciência que cabe ao homem adquirir, pelos seus próprios esforços e inteligência. Da mesma forma que os Espíritos não desmentiram os falsos conceitos dos fluidos (elétrico, vital, etc), abandonados por Kardec em A Gênese, para ficar apenas com a teoria do Fluido Cósmico Universal, eles também não desmentiram a tese humana das raças, que só veio a ser superada cerca de um século depois.

Eu não consigo entender e concordar com um texto que, de certa forma, analisa o assunto de forma parcial. Não é questão de minimizar o fato, mas de apresentá-lo por completo. Acontece que uma pessoa que não conheça os fatos por completo, lê uma crítica como essa, que coloca, no mesmo balaio, Doutrina, Kardec e Movimento Espírita, e conclui: “o Espiritismo não presta mesmo”. E isso, meus amigos, é um grande desserviço à Doutrina, de forma que, ainda hoje, muitos negros e adeptos das religiões afro ainda manifestam rancor, preconceito e distanciamento da ciência espírita. Longe de atrair, tais opiniões continuam a afastá-los.




Cesare (ou César) Lombroso e o Espiritismo

[Originalmente publicado em Guia-Heu por Marinei Ferreira de Rezendehttp://www.guia.heu.nom.br/Lombroso.htm]

Cesare Lombroso foi um professor universitário e criminologista italiano, nascido a 6 de novembro de 1835, em Verona. Tornou-se mundialmente famoso por seus estudos e teorias no campo da caracterologia, ou a relação entre características físicas e mentais.

Cesare Lombroso nasceu em 6 novembro de 1835 e desencarnou em 19 de outubro de 1909. Cientista universalmente conhecido pelos importantes trabalhos realizados no campo jurídico, desde muito cedo dedicou-se às letras. Aos doze anos de idade, escreveu a obra intitulada “Grandeza e Decadência de Roma”, que teve grande repercussão nos meios intelectuais de então.

Sobre a obra de Mazolo, grande psicólogo italiano, escreveu um artigo, que foi publicado num dos jornais italianos. Mazolo leu esse artigo e convidou Lombroso para ir à sua casa, pois desejava conhecer o novo escritor. Diante do menino, que contava apenas catorze anos, ficou surpreendido, dada a sua inteligência precoce.

Lombroso converteu-se ao Espiritismo depois de haver realizado experiências sobre a mediunidade de Eusápia Paladino, que lhe fora apresentada pelo professor Chiaia, de Nápoles. Em uma das sessões com esta médium, assistiu à materialização do Espírito de sua própria mãe. Daí por diante, Lombroso não teve dúvidas quanto à sobrevivência e a comunicabilidade dos Espíritos.

A médium Eusápia

Escreveu várias obras, tanto no campo da Medicina, quanto no da Filosofia.
Dentre elas, destacam-se a notável monografia “Antropologia Criminal”, “L’Uomo di Gênio”, “L’Uomo Delinqüente”, além de outras sobre psicologia e psiquiatria. Sobre o Espiritismo, não podemos deixar de citar a “Pesquisa Sobre os Fenômenos Hipnóticos e Espíritas”, através da qual relata todas as experiências realizadas, não só com Eusápia_Paladino, como também com outros médiuns de efeitos físicos, como Elizabeth D’Esperance e Politi.


Foi lenta e árdua, porém, contínua e segura, a marcha de Lombroso rumo ao Espiritismo. De início, ridicularizava as manifestações psíquicas. Motejava dos médiuns e das “mesas girantes”. Chegava mesmo a insultar os Espíritas. Entretanto, certa feita, através de uma carta do seu amigo Ercole Chiaia, chegou ao seu conhecimento a figura de uma mulher Napolitana, analfabeta, de classe humilde, robusta e que se chamava Eusápia Paladino.

Como céptico recusou-se a assistir sessões, tendo como Médium a grande Médium Eusápia Paladino. Mas seu amigo Chiaia tanto insistiu, que Lombroso fez absoluta questão de impor as condições. Os demais participantes das reuniões, inclusive a Médium, aceitaram todas as condições impostas por Lombroso. Assim, Em março de 1891, na presença de Lombroso, sob fiscalização rigorosa, estando a Médium segura por duas pessoas, desenrolaram-se fenômenos…

  • de transportes de objetos,
  • de materializações parciais,
  • de tiptologia, (mensagem transcendental obtida por meio de pancadas),
  • de vozes diretas
  • e outros da mesma estirpe.

Depois de tudo o que presenciou, induvidosamente, Lombroso rendeu-se à Verdade e confessou: “Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistência a possibilidade dos fatos chamados espiríticos; mas os fatos existem e eu deles me orgulho de ser escravo”.

Lombroso desencarnou serenamente nos braços de sua talentosa filha Dra. Gina no dia 19 de outubro de 1909, em Turim, aos 74 anos de idade.

Em meio a suas pesquisas sobre a mediunidade inicia primeiro tentativas para estudar o fenômeno sob o aspecto positivista de comprovação factual – tal como noutras partes fizeram outros cientistas da época, vários deles imbuídos dos ideais positivistas – e ao final conclui pela comprovação científica da doutrina e fenômenos estudados. Torna-se então um defensor da Espiritismo na Itália de seu tempo, como o fizeram várias correntes do movimento positivista da época.

Suas obras abrangem diversas áreas como: antropologia, sociologia criminal, psicologia, criminologia, filosofia e medicina.

Os estudos por ele realizados ficaram conhecidos como antropologia criminal.

Os trabalhos de Lombroso com a Médium Eusápia Paladino foram se sucedendo e foram progredindo. Sob a ectoplasmia desprendida por Eusápia, Lombroso, sempre vigilante, obteve revelações maravilhosas. Aludidas revelações venceram a desconfiança científica de Lombroso e não deixaram também de iluminar a sua Consciência Moral. Em uma determinada sessão, robusteceu-se, ainda mais, a plena convicção de Lombroso, ante a materialização do Espírito de sua mãe. Eusápia prometeu uma surpresa a Lombroso e esta concretizou-se através da materialização do Espírito de sua própria mãe. Sim, meus amigos, o Espírito da mãe de Lombroso materializou-se e aproximando do seu filho lhe disse: “Cesare, fio mio” e depois retirando, por um momento, o véu que lhe cobria a face, deu-lhe um beijo. E Lombroso confessa que, no instante, em que ocorria a materialização do Espírito da sua mãe, Eusápia tinha as mãos presas por duas pessoas e que também a estatura de Eusápia era bem mais alta do que a do Espírito materializado da sua mãe. Eis aí, meus amigos, a Verdade através de um depoimento de um Homem de Ciência, de um Sábio. Será que alguém poderá contestá-la, cremos que não…

Nascido no dia 18 de novembro, de uma abastada família de Verona e formou-se em Medicina na Universidade de Pavia, graduou-se em 1858. Um ano depois de graduar-se em medicina obtém o diploma de cirurgia em Gênova. Aprimorou seus conhecimentos em Viena e em Pádua, onde aperfeiçoa seus conhecimentos, alinhando-se com o pensamento positivista.

Aos vinte anos, demonstra a sua linha de interesses com um estudo sobre a loucura Lombroso já delineia os assuntos que vão torná-lo famoso: o contraste entre o gênio do homem e as teorias sobre a natureza degenerativa. Como oficial-médico escreve, em 1859, “Memória sobre as Feridas e as Amputações por Armas de Fogo”, ainda hoje considerado um dos trabalhos mais originais. A seguir é atraído, na Calábria, pelos problemas antropológicos e étnicos da região. Estas observações desenvolvem-se num curso, que inicia em Pavia, de psiquiatria no ano de 1862, ele passa a analisar as possíveis influências do meio sobre a mente, ideias que num primeiro momento alcançam sucesso e, depois, desconfiança. Inicia um curso de psiquiatria e no ano seguinte transforma-o em curso de “clínica das doenças mentais e de antropologia”. Suas frequentes visitas ao hospital de doentes mentais, onde assiste gratuitamente pacientes, permitem-lhe aprofundar o estudo das relações entre gênio e neurose. “As ideias dos maiores pensadores arrebentam de improviso, desenrolam-se involuntariamente como os atos compulsivos dos maníacos”, escreveu. No Congresso Internacional de Antropologia realizado em Milão, várias críticas foram levantadas contra a posição de Lombroso, mas foi reconhecido o seu pioneirismo na terapia com os doentes mentais: abrandamento racional do tratamento, introdução de trabalho manual, conversações com gente de fora, diversões coletivas, diários escritos e impressos pelos próprios pacientes. Era um método novo, hoje empregado pela psicoterapia.

Em 1864, Lombroso ficou conhecido pelo livro “Gênio e Loucura”. Psiquiatra e diretor do manicômio de Pádua nos anos de 1871 a 1876, coleta dados suficientes para suas teorias. Do exame de centenas de doentes mentais e criminosos, ele chega à conclusão de que o criminoso é formado por alguma tendência básica inerente ao seu destino, e que as “sementes de uma natureza criminal” podem ser muitas vezes identificadas na criança. Acreditava ainda, que o meio social, aliado às influências astrais, preparasse para a ação criminosa indivíduos cuja natureza fosse anti-social. As ideias defendidas por Lombroso acerca do “criminoso nato” preconizavam que, pela análise de determinadas características somáticas seria possível antever aqueles indivíduos que se voltariam para o crime. Muitas outras mudanças benéficas adotadas por legisladores criminais de todo o mundo derivaram dos estudos iniciados pioneiramente por Lombroso. A principal ideia de Lombroso foi parcialmente inspirada pelos estudos genéticos e evolutivos no final do século IX e propõe que certos criminosos têm evidências físicas de um atavismo (reaparição de características que foram apresentadas somente em ascendentes distantes) de tipo hereditário, reminiscente de estágios mais primitivos da evolução humana.

Estas anomalias, denominadas de estigmas por Lombroso, poderiam ser expressadas em termos de formas anormais ou dimensões do crânio e mandíbula, assimetrias na face etc., mas também de outras partes do corpo. Posteriormente, estas associações foram consideradas altamente inconsistentes ou completamente inexistentes, e as teorias baseadas na causa ambiental da criminalidade se tornaram dominantes.

Em 1882, em seu opúsculo “Estudo sobre o Hipnotismo”, ele ridicularizava as manifestações espíritas, mas, convidado pelo prof. Morselli a estudar melhor o assunto, participou de sessões com a médium Eusápia Palladino, convencendo-se da veracidade incontestável dos fatos. Durante muitos anos, negou os fenômenos psíquicos e espirituais como charlatanice e credulidade simplória.

Em 15 de julho de 1891 foi publicada uma carta onde declarou sua rendição aos fatos espirituais: Estou muito envergonhado e desgostoso por haver combatido com tanta persistência a possibilidade dos fatos chamados espiríticos; digo fatos, porque continuo ainda contrário à teoria. Mas os fatos existem, e deles me orgulho de ser escravo.

Quando vai a Moscou, é em 1897, como participante do Congresso Psiquiátrico, conhece Tolstói, que sabia muito bem das suas ideias acerca do gênio e da loucura.

Torna-se então um defensor do Espiritismo na Itália de seu tempo, como o fizeram várias correntes do movimento positivista da época.
Lombroso, sempre fiel ao método experimental, legou aos espíritas um excelente acervo de esclarecimentos sobre a mediunidade e o vasto campo fenomenológico. Homem profundamente honesto defendeu a veracidade do Espiritismo até a sua morte, noticiada com destaque em todo mundo, no dia 19 de outubro de 1909.

Era o final da missão, que no seu caso, iniciada pelo avesso, da posição de ridículo para a de defensor sincero, haveria de fortalecer o movimento espírita pela sua própria inclusão em meio a seus pesquisadores e defensores.

Deus tem muitos caminhos para os homens. Para Lombroso, o caminho foi refazer o próprio caminho, ou seja, sedimentar aquilo que ele, por desconhecimento da realidade agredira, ao formular conceitos equivocados sobre o Espiritismo, retratando-se intimamente e publicamente a posteriori através do imenso trabalho que realizou.

Lombroso foi um dos maiores médicos criminalistas do século passado.




A CRÍTICA AO TRABALHO MEDIÚNICO

Um bom médium deve sempre estar pronto para a crítica à sua obra, já que ela não lhe pertence, jamais se magoando nem se sentindo humilhado quando uma ideia qualquer tiver vindo de um espírito imperfeito e não puder ser aceita como doutrinária.

Essa crítica e esse julgamento, quando se trata de um bom médium, não deve nem precisa se estender ao médium em si. Contudo, se no grupo mediúnico há o indivíduo invigilante, quase sempre movido por hábitos de vaidade e orgulho, que frequentemente lhes promovem quadros de obsessão e fascinação, deve ser aconselhado em particular, com firmeza, mas com benevolência. Se a razão lhe falar mais alto, entenderá e buscará modificar seu quadro; se não, frequentemente se afastará. “Neste caso, quaisquer que sejam as faculdades que possua, seu afastamento não é de causar saudades.”, diria Kardec [RE, julho de 1858]

O papel do médium é transmitir o conteúdo, inclusive de espíritos inferiores, e o papel de um bom espírita deveria ser o de julgar, com base no estudo e na razão, as comunicações mediúnicas e aprender inclusive com aquelas que forem provenientes de espíritos inferiores, não por aceitá-las cegamente, mas por entender as ideias, as dificuldades, as ilusões, as reflexões sobre a vida anterior, etc. E isso, prezado leitor, se aplica, também, ao querido Chico Xavier, a Divaldo, a Sueli Caldas e todos os médiuns, pois nenhum conta com a graça divina de ser “blindado” contra Espíritos imperfeitos — muito pelo contrário, como creio que está claro pela própria finalidade da mediunidade.

Criou-se uma distorção absurda, não somente no Movimento Espírita, mas também em todo o movimento espiritualista, com trabalhos mediúnicos, desde que se esqueceu desse princípio e que se passou a tratar dos Médiuns como oráculos infalíveis. Importa lembrar que essa ideia foi justamente aquela inculcada por Roustaing, o maior inimigo do Espiritismo e que, infelizmente, permeou e dominou o Movimento Espírita desde sua chegada às terras brasileiras, antes de 1900, tendo encontrado largo apoio para disseminação na FEB, autointitulada órgão máximo de representação do Espiritismo no Brasil (em contrário daquilo que o próprio Kardec recomendou e planejava dar início, se não tivesse morrido tão cedo, conforme apresentado em Constituição Transitória do Espiritismo — RE — dezembro de 1869).

O senhor Roustaing, um dos “judas do Espiritismo”, não era médium. Porém, por uma boa médium, sra. Emilie Collignon, que inclusive se comunicava com Kardec, começou a obter comunicações atribuídas aos quatro evangelistas, que vinham dizer que Roustaing seria o novo profeta, produzindo aquilo que ficou conhecido como Os Quatro Evangelhos, que até hoje influenciam negativamente, com diversos conceitos, o Movimento Espírita no Brasil, principalmente.

Tudo isso que estou apontando foi justamente o que Kardec apontou a Roustaing. A própria médium chegou a afirmar, para Kardec, que não concordava com aquelas comunicações, mas sempre que estava junto a Roustaing, elas eram obtidas. Após Kardec chamar a atenção de Roustaing para a obsessão de que era vítima, tentando fazer um bem a ele, este se revoltou, por vaidade e orgulho… E, então o estrago foi feito.

Após a morte do prof. Rivail (Kardec), um rico (bastante rico) seguidor de Roustaing, Jean Guérin, se aproximou de Leymarie, o “continuador” do Espiritismo que, por interesses menos elevados, se vendeu e, dentre tantos crimes contra o Espiritismo, passou a veicular, na Revista Espírita, conteúdos provenientes dessa ideologia, ainda que contrárias à Doutrina. Isso provocou revolta nos verdadeiros seguidores de Kardec, dentre eles Berthe Fropo, amiga íntima do casal, Camille Flamarion, Leon Denis e Gabriel Delanne. Fropo chegou a publicar:

Apelo a todos os espíritas, meus irmãos. Esse homem [Leymarie] pode permanecer na direção do espiritismo? já que ele não é mais espírita? Ele, que não tem nenhuma crença, que tem somente interesses, que renegou a doutrina que devia defender e proteger, envileceu-a em si mesmo ao preferir outra. Agora quer fazer que a doutrina entre na fase teológica, para estabelecê-la como religião, e fazer que nossa bela filosofia seja rebaixada mediante congressos, cerimônias e, mais tarde, por dogmas, e tudo isso por amor ao dinheiro, para comprazer às ideias do Sr. Guérin, o milionário. Converteu-se em roustainguista, preconizou as ideias subversivas sobre a natureza de Jesus e, atualmente, coloca para estudo até a própria não existência do Cristo.

Em nome de nosso mestre venerado, não podemos deixar nossa doutrina de vida nas mãos de um homem sem crença, sem convicção, e que a renegou. Suplico a todos os espíritas que têm ações da Sociedade Anônima fundada pela Sra. Allan Kardec que se reúnam em assembleia geral; eles têm o direito como acionistas. Se são espíritas sinceros, pessoas honradas, grandes corações que desejam a felicidade de toda a nossa humanidade mediante a propagação da doutrina em toda a sua pureza, devem considerar que é para eles um direito e sobretudo um dever, e que, se não o cumprem, seja por temor, seja por inércia, isso seria um covarde abandono de nossa querida filosofia, que, estai persuadidos, encontra-se em perigo, e em grande perigo. Como é possível respeitar o espiritismo quando se vê, para representá-lo e fazê-lo avançar, pessoas sem moralidade, sem crença e sem lealdade?

A Revista de Allan Kardec não é mais que uma abominável rapsódia; com o pretexto de ecletismo, são inseridas nela as ideias mais subversivas, e perverte-se o juízo daqueles irmãos nossos que, como não têm instrução suficiente para fazer justiça a todas essas ridículas concepções, são confundidos e tornam-se de uma credulidade que pode ser perigosa para seu repouso.

Estudemos o ensinamento de nosso querido mestre Allan Kardec, aceitemos o que essa elevada inteligência compendiou durante trinta anos de um trabalho tenaz, e sobretudo saibamos compreendê-lo e aplicá-lo em nós para nos tornarmos melhores, justos, leais e fraternos, dedicados à doutrina consoladora que os Espíritos nos revelaram.

Jesus, que tão bem nos ensinou o amor, a caridade e a fraternidade, expulsou, no entanto, em um momento de indignação, os vendedores do templo, e as correias das quais ele se serviu ainda não estão gastas. Utilizei as de nossa época; Deus e os bons Espíritos julgar-me-ão.

Considero ter cumprido a missão da qual me encarregaram. Corresponde aos espíritas acionistas atuarem agora e salvarem a Villa Ségur, que, de acordo com a ideia do mestre, estava destinada a uma casa de refúgio para os idosos espíritas; ele desejava construir ali, além disso, um edifício suficientemente vasto para estabelecer nele um lugar de reunião, o museu e a biblioteca espíritas

Fropo, Beacoup de lumière

Kardec, por defender os princípios básicos e necessários da ciência Espírita, também foi chamado ortodoxo, orgulhoso, pedante, vaidoso, etc. Justamente ele, que demonstrava sempre que nem sequer iniciou os estudos do Espiritismo e que, tendo apenas se dedicado a esse estudo de forma metodológica, científica e organizada, sendo muitas vezes contrariado, em suas ideias, pela força da razão, pelos próprios Espíritos, sempre destacou que tudo pertencia aos Espíritos e não às ideias particulares de ninguém, muito menos dele.

Eis os fatos que muitos custam a aceitar, mas que já são bem conhecidos e que estão relatados em O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato, e Ponto Final, de Wilson Garcia.

Referências

  • O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato
  • Ponto Final, de Wilson Garcia
  • Beacoup de lumière, de Berthe Fropo
  • Revista Espírita de 1858



Aniversário de 165 anos da publicação de O Livro dos Espíritos

Hoje é aniversário da publicação de O Livro dos Espíritos.

Muitos ainda acham que se trata de um livro ditado por um Espírito; outros ainda acham que se trata de uma obra criada por Allan Kardec. Poucos sabem, contudo, que a primeira versão de OLE foi, em grande parte, obtida através de um estudo sistematizado e racional de inúmeras comunicação, obtidas de forma mais ou menos sistemática e organizada, por outros estudiosos das comunicações mediúnicas – muitos deles espiritualistas racionais – antes mesmo de Kardec sequer sonhar em conversar com os Espíritos dos mortos.

Depois da primeira versão, onde Kardec buscou um sentido racional e concordante para o conteúdo apresentado, veio a segunda edição, quase três anos depois, e com praticamente o dobro do volume de perguntas, melhor organizada e distribuída. Essa segunda edição nasceu, sobretudo, após o estudo metodológico nascido de tudo aquilo (e mais um pouco) que é apresentado na Revista Espírita, entre 1858 e 1860, sendo que, com essa publicação, o objetivo de obter informações mediúnicas de todo o canto da Europa (e do mundo) foi muito bem atendido w reforçado.

Portanto, não, O Livro dos Espíritos não é uma obra religiosa ou filosófica, produzida por um indivíduo ou grupo: é, na verdade, uma obra produzida através de um método científico observacional e racional, e que nunca aceitou qualquer palavra dos Espíritos como uma revelação inquestionável. Aliás, sobre isso, Kardec afirma, na Revista Espírita (sobre a qual sempre recomendamos o estudo, por mostrar a face mais real possível da ciência espírita) de novembro de 1858:

“Repetiremos, pois, o que já dissemos a respeito, isto é, que quando a doutrina da reencarnação nos foi ensinada pelos Espíritos, ela estava tão longe de nosso pensamento, que havíamos construído um sistema completamente diferente sobre os antecedentes da alma, sistema aliás partilhado por muitas pessoas. Sobre este ponto, a doutrina dos Espíritos nos surpreendeu. Diremos mais: ela nos contrariou, porque derrubou as nossas próprias ideias. Como se vê, estava longe de ser um reflexo delas.

Isto não é tudo. Nós não cedemos ao primeiro choque. Combatemos; defendemos a nossa opinião; levantamos objeções e só nos rendemos ante a evidência e quando notamos a insuficiência de nosso sistema para resolver todas as questões relativas a esse problema”

Há mais de 50 anos, dizia Herculano Pires:

Precisamos meditar para buscarmos a forma que nos falta de oferecer ao mundo a solução espiritual do problema social. De fazermos, enfim, que o espiritismo cumpra a sua missão histórica, vencendo a crise que o reduz, no momento, a uma luz bruxuleante em meio de densas trevas, a uma espécie de simples refúgio individual para as decepções e para as aflições humanas. Pois o seu destino, como assinalou sir Oliver Lodge, não é apenas o de consolar corações desalentados, mas o de rasgar para o mundo as perspectivas de uma nova era. Se a fé dogmática determinou o fanatismo religioso da Idade Média, com suas fogueiras sinistras, a fé raciocinada criará o positivismo religioso do terceiro milênio, com as piras da fraternidade acesas em todos os quadrantes do planeta. Porque, como já o dissera Kardec, a tarefa do espiritismo é a de elevar a Terra na escala dos mundos, transferindo-a da categoria expiatória para a de mundo regenerador. (PIRES, 1971)

O que é que nós (não) estamos fazendo? Por que é que a filosofia espírita ainda não é amplamente (re)conhecida? Nessa busca por um norte, respondo, como uma vez me respondeu minha avó, em Espírito: “pelo menos estude”.




Curiosidade: o processo dos espíritas

O artigo “uma nova descoberta fotográfica”, da Revista Espírita de Julho de 1858, abriu margem para relembrar esse fato bastante conhecido no meio espírita.

Recebeu tal nome o triste caso do processo instaurado contra o sr. Pierre-Gaëtan Leymarie e os srs. Buguet e Firman, em 1875, após estes passarem a publicar, na Revista Espírita, supostas fotografias espirituais.

Para alguns, o processo se baseou em falsas acusações de que esse senhor estava publicando fotografias fraudulentas de Espíritos desencarnados (ver “Processo dos Espíritas”, por Marina Leymarie).

Para outros, a fraude foi real e bem documentada. Cita Simoni Privato, em sua obra O Legado de Allan Kardec, que Leymarie não tomou os devidos cuidados que o próprio mestre teria cuidado, de forma que se sujeitou a apoiar práticas nitidamente controversas, dentre elas a promoção, na R.E., das sessões mediúnicas pagas que o médium Alfred Henry Firman realizava, duas vezes por semana.

Cita Simoni Privato, em O Legado de Allan Kardec:

“Ao tomar conhecimento de que o fotógrafo Édouard Buguet estava obtendo, em Paris, fotografias de Espíritos, Leymarie, juntamente com um grupo de pessoas, investigou esses fenômenos no final de 1873. Naquela ocasião, Leymarie era o único administrador e o representante de todos os membros da Sociedade Anônima, além de secretário-gerente e redator da Revista Espírita.”

“Leymarie começou a anunciar, na Revista Espírita, o trabalho fotográfico de Buguet. Apresentou o fotógrafo como “um artista sem pretensões, pleno de amabilidade, que aprecia muito sua faculdade pelo que esta é, ou seja, um ato puro e simples de mediunidade”. Informou também as condições que os interessados deveriam cumprir para realizar as experiências com Buguet e o preço do serviço. Em suma, Leymarie apoiava e incentivava publicamente, na Revista Espírita, a prática mediúnica remunerada”.




Sobre “o caso A Gênese”

Este artigo foi inspirado pelo artigo “O caso A Gênese“, apresentado no Portal Luz Espírita. Nesse artigo, bastante extenso, são apresentados diversos detalhes, passo a passo, que levam afinal o autor, Ery Lopes, e os colaboradores — Adair Ribeiro, Adriano Calsone, Carlos Luiz, Carlos Seth Bastos, Jorge Hessen e Wanderlei dos Santos — a assumir que, não, a Gênese não foi adulterada e que podemos fiar confiança total de que a 5.ª edição, segundo eles editada e impressa em 1869, foi sim uma versão impressa por Allan Kardec.

Devo reconhecer que o artigo tem o mérito de ter tentado se manter imparcial, apresentando inclusive os trabalhos de Simoni Privato, em O Legado de Allan Kardec, onde apresenta uma enorme coleção de provas e de evidências das adulterações.

Em que ponto, então, o artigo passa a assumir que tais adulterações não existem e que todas as evidências estão erradas? Principalmente a partir do item 37 — “As pistas do Catálogo Racional — o qual reproduzo abaixo:

Nesse quadro, apresentam-se algumas pistas, obtidas através da análise da obra Catálogo Racional, que teria tido sua primeira edição distribuída em 1 de abril de 1869, um dia após a morte de Allan Kardec:

  1. Há uma citação à obra La clef de la vie (A chave da vida), de Michel de Figagnères, sobre a qual Kardec teria feito um comentário reportando-se aos itens 4 a 7 do capítulo VIII de A Gênese. O item 7, porém, A Alma da Terra, apenas passou a existir a partir da 5ª edição dessa obra.
  2. Logo a seguir, apresenta-se a evidência de que a obra Os quatro evangelhos, de Roustaing, já teria sido citada pelo próprio professor Rivail nessa primeira edição do Catálogo, diferentemente do que algumas pessoas teriam dito, supondo que tal citação apenas teria se dado por adulteração. 

Há, porém, uma informação muitíssimo importante que se deixou de fora neste ponto: a referência de Kardec aos itens 64 a 68 do capítulo XV de A Gênese. Acontece que o item 68 apenas existiu até a 4.ª edição dessa obra, transformado em item 67 a partir da 5.ª edição, quando o item 67 original foi retirado. Esse item era muito importante, por tratar da questão de que a desaparição do corpo de Jesus, até então, seria assunto não solucionável, pela ausência, até então, da sanção do duplo controle da confirmação pela lógica rigorosa e pelo ensinamento geral dos Espíritos, e sua retirada parece muito estratégica, se considerarmos que as ideias contrárias, vindas de Roustaing, não tinham como se sustentar, pela ausência desse duplo controle.

Ora, por que essa contradição nas referências de Kardec? Por que teria ele, simultaneamente, se referido, em um ponto, a um item que ainda seria inserido em A Gênese, na 5a edição, enquanto que, em outro, se referia a um item que dela seria retirado, na mesma edição?

A lógica me leva pelo seguinte caminho:

  • Kardec já havia preparado a impressão do Catálogo Racional, mas ainda estava em vias de finalizar a impressão de A Gênese, que ainda estava, ao que tudo indica, nos estágios finais de reimpressão para correções e edições.
  • No Catálogo, Kardec faz referência a um item que ainda não existia em A Gênese (Cap. VIII, item 7) e outro que, a partir da 5a edição conhecida, deixou de existir (item 68). Isso pode demonstrar que Kardec, no Catálogo, faria referência a um item da nova edição de A Gênese, e que manteria a referência ao item 68, citado acima. Um provável adulterador, determinado a retirar o importantíssimo princípio da sanção do duplo controle, não notou o problema.
  • O Catálogo já havia sido encomendado e impresso com o conhecimento de Kardec, mas isso não significa que ele seria prontamente distribuído. Muito provavelmente, pela lógica dos fatos, ele esperaria a impressão da nova versão de A Gênese.

Suponho, também, pela lógica dos fatos, que a 5ª edição de A Gênese, por nós conhecida, foi baseada em alterações sobre os nos clichês do próprio Allan Kardec, visto que, nessa edição, o item 7 do capítulo VIII apresenta conteúdo em conformidade com o estilo e com o pensamento do próprio (a meu ver). Assim, as alterações que conhecemos, suponho, não são todas adulterações, mas a hipótese de adulteração fica muito evidente por todas as provas e evidências já apresentadas, até hoje, e pela simples análise de alguns pontos alterados ou suprimidos, que destoam do pensamento, do estilo e dos propósitos de Kardec e, sobretudo, do ensinamento dos Espíritos durante toda a primeira fase do Espiritismo.

Adiciono que não vejo nenhum motivo para Kardec não ter citado a obra de Roustaing em seu Catálogo, visto que ele próprio sugere, logo abaixo à recomendação, que o leitor busque melhores esclarecimentos em A Gênese, nos itens mencionados. Aliás, na 5.ª edição de A Gênese, há uma referência à Revista Espírita de setembro de 1868, pág. 261, que se refere ao mesmo tema contido no item 7 da primeira obra: A Alma do Mundo.

Mais uma evidência que mostra que as alterações na 5.ª edição de A Gênese não são totalmente resultados de adulterações, embora, inclusive sobre esse item, eu não possa afirmar se teria sido, além de introduzido, também adulterado, visto que o trecho que na 5.ª edição de A Gênese finaliza o item 7 do cap. VIII, continua, na Revista Espírita, de uma forma muito importante: “O Espiritismo seria, com razão, ridicularizado por seus adversários, se se fizesse o editor responsável por utopias que não resistem a um exame. Se o ridículo não o matou, é porque só mata o que é ridículo.

Sobre a afirmação muito comum de que algumas cartas confirmam a impressão da 5.ª edição da obra pelas mãos do próprio Kardec, já abordei o caso no artigo “As adulterações nas obras de Kardec e o “CSI do Espiritismo” (clique aqui para ler).

O que quero afirmar com tudo isso é que, sim, é um assunto bastante profundo e complexo, com muitas informações cruzadas a serem analisadas sob uma metodologia muito racional, lógica e verdadeiramente imparcial. Infelizmente, parece que muitas pessoas tentam se agarrar desesperadamente a qualquer evidência de que as adulterações não ocorreram e, ao agirem assim, deixam de analisar os fatos com todo o cuidado que o assunto merece.

Sempre repito: o conteúdo apresentado nas obras “O Legado de Allan Kardec” e “Nem céu, nem inferno” é completo e profundo demais para ser tomado como se fosse apenas um erro qualquer, baseado em informações incompletas ou falsas. Ainda assim, se há espaço para dúvidas, que as demais informações sejam analisadas com o máximo de critério científico, como o próprio Kardec nos ensinou e, enquanto não possam ser sanadas, fiquemos na segurança das obras indubitavelmente impressas de seus próprios punho e bolso.

Quero, por fim, destacar o seguinte: uma das provas mais utilizadas para afirmar que a 5a edição foi de autoria integral do próprio Kardec, a tal 5a edição de 1869, apresenta em sua capa, como endereço de impressão, o novo endereço da sede da Sociedade Espírita Parisiense: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”.

Sabemos que Kardec morreu antes do estabelecimento da Sociedade no novo endereço, o que comprova que tal edição somente foi impressa após sua morte. Leia mais clicando aqui.




Fluido Cósmico Universal – Princípios Gerais

Allan Kardec foi, acima de tudo, um estudioso. Logo no começo capítulo do Livro dos Espíritos (Capítulo II – Dos Elementos Gerais do Universo, 2. Espírito e Matéria item 27.), aparecem termos novos como Fluido Universal, ou FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL. É sobre ele que pretendemos tratar aqui.

De antemão recomendamos ao leitor o estudo da obra Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal, de Paulo Henrique de Figueiredo.

O Fluido Cósmico Universal é uma hipótese que explica muito dos manifestações e fenômenos espirituais, por isso seu entendimento é tão importante para o estudante da Doutrina Espírita. No seu último livro, A Gênese os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo , Allan Kardec concluiu toda a Doutrina Espírita. Nela tem um capítulo todo dedicado aos Fluídos, capítulo XIV. Sugiro a Edição nova da FEAL por conter uma tradução mais fiel a primeira edição de Kardec de janeiro de 1868. Vale a leitura. (Nota: As edições publicadas atualmente no Brasil são de A Gênese da 5ª edição francesa em diante, que adulterada por um antigo auxiliar envolvido com outras ideias.)

O Fluído Cósmico Universal foi descrito pela primeira vez por Frans Anton Mesmer, em 1784. Ele era um médico alemão que viveu entre 1734 e 1815. Ele desenvolveu a Teoria do Magnetismo Animal.

Em 1775, após muitas experiências, Mesmer reconhece que pode curar mediante a aplicação de suas mãos. Ele declara: “De todos os corpos da Natureza, é o próprio homem que com maior eficácia atua sobre o homem”. A doença seria apenas uma desarmonia no equilíbrio da criatura, opina ele. Mesmer, que nada cobrava pelos tratamentos, preferia cuidar de distúrbios ligados ao sistema nervoso. Além da imposição das mãos sobre os doentes, para estender o benefício a maior número de pessoas, magnetizava água, pratos, cama, etc., cujo contato submetia os enfermos.

Artigo da FEB

Sua teoria é de que todos os fenômenos da natureza tem origem em um único principio, A matéria originária de todo universo: o Fluído Cósmico Universal, por quê? Porque todos os fenômenos se explicam a partir dele.
E como ele explica?

Ele vai conceber a hipótese de que a natureza funciona por meio de estados de vibração. Cada estado do Fluído Cósmico Universal, que é por onde há a vibração, teria graus de sutileza. E a vibração de cada um desses graus resultariam em fenômenos diferentes. Ele falava de que seriam ondas eletromagnéticas só que em outras palavras… O “probleminha” é que ainda não havia estudo sobre ondas eletromagnéticas ainda, nem se sabia se existiam… Na época, século XVIII, eles acreditavam que não existia nada entre as moléculas. O Fluido seria por onde o transmissão acontece.

Nota: Magnetismo é a denominação dada aos estudos dos fenômenos relacionados com as propriedades dos imãs. Os primeiros fenômenos magnéticos foram observados na Grécia antiga, em uma cidade chamada Magnésia. Os primeiros estudos realizados nessa área foram feitos no século VI a.C. por Tales de Mileto, que observou a capacidade de algumas pedrinhas, que hoje são chamadas de magnetita, de atraírem umas às outras e também ao ferro. Já a primeira aplicação prática do magnetismo foi encontrada pelos chineses: a bússola, que se baseia na interação do campo magnético de um imã (a agulha da bússola) com o campo magnético terrestre. No século VI, os chineses já dominavam a fabricação de imãs. Os estudos sobre o magnetismo somente ganharam força a partir do século XIII, quando alguns trabalhos e observações foram feitos sobre a eletricidade e o magnetismo, que ainda eram considerados fenômenos completamente distintos. Essa teoria foi aceita até o século XIX. Os estudos experimentais na área foram feitos pelos europeus. Pierre Pelerin de Maricourt, em 1269, descreveu uma grande quantidade de experimentos sobre magnetismo. Devem-se a ele as denominações polo norte e polo sul às extremidades do imã, bem como a descoberta de que a agulha da bússola apontava exatamente para o norte geográfico da Terra. A grande revolução nos estudos do magnetismo foi feita por Oesterd, em 1820. Ele descobriu que fenômenos elétricos e magnéticos estão inter-relacionados. De acordo com essa teoria, denominada eletromagnetismo, cargas elétricas em movimento geram campo magnético, e campo magnético em movimento gera corrente elétrica. Esses estudos foram finalizados por Maxwell que estabeleceu bases teóricas sólidas sobre a relação entre o campo elétrico e o magnético, ou seja, as ondas eletromagnéticas.

Dr. Mesmer acreditava que o MAGNETISMO ANIMAL, ou seja, do princípio vital, era força natural invisível possuída por todos os seres vivos/animados (humanos, animais, vegetais, etc.). Ele acreditava que tal força poderia ter efeitos físicos, incluindo propriedades de cura. Essa teoria é conhecida como MESMERISMO.

Ele dizia que a matéria mais densa está “vibrando” as ondas materiais através do fluido.

Vamos exemplificar, para ilustrar: imaginem o vento/pressão fazem ondas da água; depois as ondas do ar, um pouco mais sutis que a da água, resultariam no fenômeno do som; ondas mais sutis geram o fenômeno da luz, que seria, para ele, a vibração da matéria num estado mais sutil ainda. É o máximo que conseguimos observar.
Então, Mesmer vai conceder uma hipótese: depois do fluido da luz, teria algo ainda mais sutil, que receberia a vibração de nossos pensamentos e de nossa vontade. E esses vibrações de pensamentos e vontade, então, se estenderiam por todo o Universo a partir de um foco que é cada um de nós. E que o sistema nervoso de outros indivíduos poderiam interpretar esse pensamento.

Observação: Hoje se sabe que a luz é um tipo de onda eletromagnética visível, formada pela propagação em conjunto de um campo elétrico e um magnético. Como é característico da radiação eletromagnética, a luz pode propagar-se através de diversos meios e sofrer alterações de velocidade ao passar de um meio de propagação para outro. A luz pode propagar-se no vácuo com velocidade de aproximadamente 300 mil km/s. As frequências de luz que são visíveis ao olho humano são chamadas de espectro visível, essas ondas têm comprimentos entre 400 nm 700 nm. Ondas eletromagnéticas que apresentam frequências menores que a da luz visível são chamadas de infravermelho, enquanto as que apresentam frequências maiores são chamadas de ultravioleta. Na época de Mesmer não havia esse entendimento, ainda… Eles acreditavam que sempre havia um fluido, como fluido magnético, fluido elétrico, fluido clórico, etc. e a teoria vigente era mecanicista, ou seja, tudo era transmitido de uma molécula a para outra.

Dr. Mesmer realizou uma serie de experimentos com aplicações de suas mãos para cura das pessoas. Ele percebeu que seus pacientes, quando despertos, influenciavam a percepção na hora da cura. Ele, então, imaginou o seguinte: se eu colocar esse paciente em estado de sono, adormecendo o corpo (seria nossa hipnose de hoje), ele começaria a perceber a sutileza da vibração do pensamento dos outros. Essa foi a forma dele explicar a lucidez sonambúlica por esse método. Ele vai conceder a existência de um 6o. Sentido, que, para ele, estaria no nosso sistema nervoso(não pensava que era algo espiritual). Ele também vai perceber estados de vibração acima da luz, seria estado de vibração do fluido cósmico universal que teria ondas de pensamento. O Fluído é o meio por onde o pensamento da vontade da cura alcançava o paciente.

Mesmer diz assim: por isso que eu, somente pensando na pergunta, o sonâmbulo, que está percebendo tudo por meio do sexto sentido, capta meu pensamento.

Citação de Paulo Henrique de Figueiredo em palestra para o Canal Espiritismo Para Todos em 01/02/2021

A hipótese de Mesmer foi que a matéria é a mesma em estados diferentes. E quem age na matéria é o movimento deste sexto sentido a partir do nosso sistema nervoso.
Mesmer falou de condições da matéria muito quintessenciada, mais sutil, onde o pensamento pode agir. Isso seria o mundo espiritual só que ele, na época, não usou o “mundo espiritual” para explicar…
Ele sabia que num determinado ponto era tão sutil a matéria que era possível o pensamento agir lá.

Quando ele fazia as curas ele estava conversando com o eu fora da matéria. “Ele conversava com o Espírito, por pensamento. Era muito avançada sua proposta.”

Kardec diria sobre Mesmer.

Lá pela década de 1850, cerca de 70 anos depois, Allan Kardec começou seus estudos. Ele não teve acesso a toda obra de Mesmer, mas os Espíritos sabiam, conheciam e dialogavam sobre o princípio de Mesmer com ele. Os Espíritos vão explicar que não é um órgão da fisiologia do corpo que percebe as vibrações do pensamento, mas sim nosso Períspirito( que é um meio do qual o Espírito pode se comunicar com o corpo). Kardec, então, desenvolveu a hipótese de que o Espírito quem ativa o fluido através do pensamento-vontade e o movimenta. Seria o princípio inteligente.

Então tem uma diferença de Mesmer que concebeu uma Hipótese e o Espiritismo que trabalha a partir da observação dos Espíritos da realidade do mundo espiritual.

Mesmer nunca pensou em períspirito. Ele não podia “inventar” alguma coisa tão longe assim. Ele imaginava que era o sistema nervoso que percebia as vibrações do pensamento. Nunca que seria um fluido perispiritual de um princípio espiritual não pertencente ao mundo material. Kardec, então, explicava os fenômenos a partir dessas hipóteses de Mesmer quanto a matéria. E os Espíritos vão explicar a Kardec que não,  “o nosso pensamento vibra realmente uma matéria, mas essa matéria não pertence ao nosso universo “. Essa matéria é espiritual.

Então, os Espíritos explicaram assim: nós temos 3 coisas no Universo: Deus, matéria e Espírito. A matéria é inerte, e estaria representada pelo Fluido Cósmico Universal, por ela ser inerte, ela não tem forma nenhuma. Para que surja uma forma, alguém tem que pensar. Então o Espirito, na sua condição mais simples, quando ele pensa( ou tem vontade), a forma que surge na matéria é da mais simples partícula.

E o que é essa unidade do Fluido Universal? Ela é como se fosse o pensamento de Deus. Mas como Deus criou em todos os tempos, tem Espíritos de toda escala evolutiva: tem os seres que vivem no reino vegetal, no Reino animal, tem os Espíritos humanos que vão desde o simples ignorante até o Espirito puro, tudo isso concomitante.  E entre nós, Espíritos em processo evolutivo, nenhum é igual ao outro. Se um indivíduo, com suas características, vai refletir aquilo que é, que é diferente do que outra forma de outro encarnado, com outras virtudes, outras habilidade, e assim por diante. Cada um completamente diferente dos outros, em virtude das escolhas e conhecimentos que fez. De tal forma que nós apresentamos a mais absoluta variedade. E tudo dentro do Fluido Cósmico Universal.

Então, o mundo espiritual é invisível, obscuro, imponderável (não conseguimos medir).
Nós não possuímos as bases do mundo invisível e espiritual… Não sabemos do é feito…

O futuro nos reserva o conhecimento de novas leis, que nos permitirão compreender o que continua sendo um mistério.
Pode ser que o Eletromagnetismo explique muito do que Mesmer teorizou e depois Allan Kardec explicou com sua hipótese?

SIM!!!

Mas pode ser que o futuro nos diga que esse mecanismo seja todo diferente disso…

Fonte: Kardec, Allan, GÊNESE – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, capítulo XIV – Fluídos, capítulo III, capítulo I; Kardec, Allan Livro dos Espiritos questão 223 e seguintes; Palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo em 01/02/2021; Canal Espiritismo Para Todos, Estudo da Gênese por Allan Kardec; FEB – https://www.feeb.org.br/index.php/institucional/artigos/372-biografia-de-mesmer ; Figueiredo, Paulo Henrique Mesmer. A ciência negada do magnetismo animal ; https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/64/parte-primeira-das-causas-primarias/capitulo-ii-dos-elementos-gerais-do-universo




Espiritismo é religião?

É muito comum ouvirmos dizer que “Espiritismo é religião”, incluindo comparando-o a outras religiões existentes. Será mesmo que ele é uma religião?

Bem, para isso, primeiramente, precisamos conceituar o termo religião.

O que é religião

Embora muitos o compreendam principalmente como um conjunto de crenças em uma ou mais divindades, existem mesmo as religiões ateias ou agnósticas. Assim, para evitar maiores confusões, vamos nos ater a duas formas principais de entender o termo religião:

  1. Um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, comumente separada entre sacerdotes e fiéis, sendo que os primeiros se organizam através de hierarquias claramente distintas que culminam, no topo, em um sumo-sacerdote, que representa toda a Igreja e tem a palavra final, inquestionável.

2. Um sistema de regras e valores morais estabelecido por meio de crenças que caracterizam um grupo de indivíduos.

No primeiro aspecto, a doutrina religiosa é indiscutível pelos fieis e pelos níveis mais baixos da hierarquia sacerdotal. Uma mudança, se vier, vem de cima para baixo. Muito comumente, encontram-se, nelas, ideias que se debatem frente à ciência humana, de forma muitas vezes irracional.

Já o segundo aspecto vai mais em encontro à ideia de religião natural, que se entende pela nossa ligação natural a Deus e à Espiritualidade.

E em qual desses dois aspectos O Espiritismo se encaixaria mais?

Muito bem sabemos que o Espiritismo, em sua essência, jamais teve qualquer dos aspectos da primeira classificação. Mas… E quanto à segunda? Para discutir sobre isso, precisamos conceituar o Espiritismo em seu momento histórico.

O Espiritualismo Racional e o Espiritismo

Como já falamos neste artigo, o Espiritismo surgiu em meio ao movimento chamado Espiritualismo Racional. Esse Movimento foi adotado, na França, a partir da terceira década do século XIX, principalmente, como oposição ao movimento materialista e às velhas religiões escravizadoras do pensamento. Segundo Paulo Henrique de Figueiredo, na obra Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, o Movimento:

caracteriza- se pela adoção de metodologia científica, buscando fazer com o ser humano o que se conquistou com sucesso ao estudar a matéria: a compreensão das leis naturais que o fundamentam. Ou seja, substituiu a fé cega por uma fé racional, exigência dos novos tempos”.

FIGUEIREDO, Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

E, em outro trecho, destaca:

Em seu tempo, os espiritualistas racionais, distantes das religiões formais, faziam uso dos conceitos de religião e moral natural para estudar os atos da alma humana e de suas relações sociais.

ibidem

Assim, o conceito de religião natural era algo estudado de modo científico (pelas ciências morais) naquele contexto histórico no qual nasceu o Espiritismo. É por isso, e unicamente por isso, que Kardec admitia um aspecto religioso no Espiritismo, já que ele nasceu como desenvolvimento do Espiritualismo Racional, como destaca o próprio Kardec:

[…] toda defesa do Espiritualismo Racional abre caminho para o Espiritismo, que dele é o desenvolvimento, combatendo os seus mais tenazes adversários: o materialismo e o fanatismo.

KARDEC, [RE] 1868, p. 223

O Espiritismo não só nunca foi uma religião – conforme o primeiro conceito – como, muito pelo contrário, nasceu e cresceu como uma ciência moral de aspecto filosófico, galgada na observação dos fatos para dar suporte à dedução lógica e racional que baseiam a teoria:

Toda ciência deve estar baseada sobre fatos; mas só os fatos não constituem a ciência; a ciência nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. O Espiritismo chegou ao estado de ciência? Se se trata de uma ciência perfeita, sem dúvida, seria prematuro responder afirmativamente; mas as observações são, desde hoje, bastante numerosas para se poder, pelo menos, deduzir os princípios gerais, e é aí que começa a ciência.

KARDEC, [RE] 1858, p. 3

O Espiritismo nunca foi uma nova religião

Vemos, afinal, que o Espiritismo, sendo um desenvolvimento do Espiritualismo Racional, e com os aspectos de uma ciência racional, nasceu diametralmente oposto às ideias de dogmatismo religioso que sempre imperaram na humanidade. A proposta principal da Doutrina dos Espíritos é justamente a de tirar o controle da fé humana dos grupos religiosos que, agindo por interesses diversos, escravizavam as consciências aos seus livros e rituais sagrados.

Contudo, muito importante dizer, o Espiritismo não é uma Doutrina que nasceu para brigar com as outras. Ele não vem para lançar anátema sobre as demais crenças, mas, sim, como ciência, para dar um campo neutro onde pessoas de todas as crenças podem se abrigar:

O Espiritismo vem, a seu turno, não como uma religião, mas como uma doutrina filosófica, trazer a sua teoria, apoiada sobre o fato das manifestações; não se impõe; não reclama confiança cega; candidata-se e diz: Examinai, comparai e julgai; se encontrardes alguma coisa melhor do que a que vos dou, tomai-a. Ele não diz: Venho saber os fundamentos da religião e substituí-la por um culto novo; ele diz: Eu não me dirijo àqueles que creem e que estão satisfeitos com a sua crença, mas àqueles que desertam de vossas fileiras pela incredulidade e que não soubestes ou não pudestes reter; venho lhes dar, sobre as verdades que repelem, uma interpretação de natureza a satisfazer sua razão e que lhes faz aceitá-la. (Ibidem)

KARDEC, [RE] 1862, p. 70

Mas o Espiritismo é uma religião

A contradição é proposital, porque quero que nos forcemos a entender a distinção que se dá ao termo religião conforme o entendimento que a ele se dá. Isso é imprescindível. Dependendo de como entendemos – se pelo aspecto filosófico de religião natural, relativo ao contexto histórico de Allan Kardec, ou se pelo aspecto de sistema religioso, que compreende rituais, sacerdotes e dogmas – então o Espiritismo pode ser dito como religião ou não. Kardec conceitua muito bem essa distinção na Revista Espírita de 1868:

[…] então o Espiritismo é uma religião?

“Ora, sim, sem dúvida, senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião[1], e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as próprias leis da Natureza.”

Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e porque, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da ideia de culto; porque ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiserem, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; ele não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião pública se levantou.”

“Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor as pessoas inevitavelmente ter-se-iam equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.”

KARDEC, [RE], 1868

Onde mora o problema, então?

Chegando aqui, já para encerrar, preciso reforçar o meu pensamento, que compactua com Kardec: não devemos chamar o Espiritismo de religião, muito menos o apresentar como uma, pois, na cabeça das pessoas, não existe essa distinção de entendimentos – sobretudo atualmente. Diga-se que ele é uma religião e, prontamente, se perguntará o adepto de alguma linha religiosa: “mas então será que eu posso ser espírita, já que sou católico/evangélico/hindu/etc?”. Ou, pior, afirmará: “já tenho minha religião. Essa outra não me interessa” .

Ora, não podemos negar que, ao tratar o Espiritismo como religião, segundo o entendimento popular dado ao termo, estaremos criando uma grande dificuldade de expansão da Doutrina Espírita nas massas, posto que entenderão que, se o Espiritismo é outra religião, então não podem deixar as suas próprias religiões para estudá-lo. Apresentemo-lo, porém, como a ciência de aspecto filosófico que ele é e estão desfeitas as dificuldades: todo mundo pode estudar o Espiritismo, sorvendo dos conhecimentos dados pelos Espíritos por todas as partes e dos estudos de Allan Kardec e de outros, sobre tais conhecimentos, sem a necessidade de deixar sua religião, seus rituais, etc. Aliás, sobre isso, o Espiritismo, seja nas palavras de Kardec ou nas palavras dos próprios Espíritos, sempre foi muito claro: ele não vem forçar ninguém a crer ou a mudar; apresenta, de forma lógica, suas ideias sobre as causas e os efeitos e deixa a cada um a liberdade de mudar ou não.

Aliás, o Espiritismo nem mesmo coloca a necessidade de visitar ou frequentar um centro espírita – embora, claro, não neguemos a grande utilidade que os centros espíritas podem ter – por conta de que o Espiritismo é uma Doutrina para ser estudada e vivida individualmente e no núcleo familiar.

Conclusão

Aqui, finalizando, chegamos a um ponto crucial: a forma como o Espiritismo se difundiu no Brasil. Por uma série de questões, sendo que a principal delas é o desconhecimento da real face do Espiritismo, por falta de estudo das obras de Kardec, mas também por desconhecimento das adulterações sofridas após a morte de Kardec, a Doutrina ganhou diversos aspectos de religião, “indo morar” em templos, atendendo a rituais e hierarquias e, principalmente, deixando para trás toda a metodologia de estudos baseada na evocação de Espíritos, como já tratamos neste artigo.

Contudo, assim como Jesus Cristo nunca fundou uma religião, mas, pelo contrário, tratou de toda a moral por ele trazida de forma natural – aí, sim, adquirindo os traços de uma “religião natural” – o Espiritismo nunca foi nem nunca será uma religião conforme hoje entendemos. Cabe, a nós, entende-lo profundamente, buscando restaurar sua verdadeira face, aplicando-o em nossas próprias vidas e espalhando-o, de forma fraterna e clara, a todos aqueles que possam dela obter algum proveito em suas vidas.

Adicionamos, para enriquecer, a entrevista a esse respeito com Paulo Henrique de Figueiredo:


  1. Veja que, quando Kardec diz que “no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião“, ele está se referindo ao Espiritismo como ciência moral de aspecto filosófico, sendo que tal ciência, nesse momento, abordava a religião natural, afastada dos dogmas das velhas religiões.



O Espiritismo sem os Espíritos

Hoje, 3 de outubro, é aniversário de nascimento de Allan Kardec – Hypolite Leon Denizard Rivail¹, seu nome de registro – e, por entendermos fundamental seu papel no estudo da Doutrina dos Espíritos, à qual denominou Espiritismo, vamos abordar um assunto importantíssimo, que, para quem estuda as obras de Kardec, até pode soar pueril, sem importância: o “Espiritismo sem Espíritos”.

Ora, não será raro aquele que já tenha ouvido as mais diversas afirmações ou que tenha conhecimento do pensamento difundido de que não devemos incomodar os Espíritos, evocando-os. Muitos se baseiam na conhecida frase de Chico Xavier, “o telefone toca de lá pra cá”, imputando a ela um entendimento distorcido e fazendo dela cláusula pétrea no código mediúnico: “não podemos evocá-los. Devemos esperar que eles nos busquem”. Nada mais afastado da verdade e mesmo do propósito do Espiritismo.

Digno de nota, a frase de Chico, pode ser assim interpretada: “podemos evocá-los, mas depende deles, e não de nós, se vão responder ou não”. Outrossim, precisamos lembrar que Chico estava constantemente cercado de milhares de pessoas em busca de uma mensagem de seus entes queridos já falecidos. Chico não podia garantir que poderia atender a todas, sendo levado a dizer, em minhas palavras: “irmãos, eu sou apenas um intermediário e não consigo, sozinho, atender a todos. Por isso, me coloco à disposição deles, permitindo suas comunicações, conforme os bons Espíritos julgarem melhor”.

Essa opinião, contudo, de que não devemos evocar os Espíritos, vêm de muito longe e, aliás, foi muito agradável àqueles que, após Kardec, não desejavam que o método da concordância universal dos ensinos dos Espíritos se mantivesse de pé, posto que colocaria abaixo suas opiniões pessoais. Isso é bem conhecido.

Allan Kardec, na Revista Espírita de Janeiro de 1866, em artigo de título idêntico ao nosso, faz a seguinte observação:

Examinemos agora a questão sob outro ponto de vista. Quem fez o Espiritismo? É uma concepção humana pessoal? Todo mundo sabe o contrário. O Espiritismo é o resultado do ensinamento dos Espíritos, de tal sorte que sem as comunicações dos Espíritos não haveria Espiritismo. Se a Doutrina Espírita fosse uma simples teoria filosófica nascida de um cérebro humano, ela não teria senão o valor de uma opinião pessoal; saída da universalidade do ensino dos Espíritos, tem o valor de uma obra coletiva, e é por isto mesmo que em tão pouco tempo se propagou por toda a Terra, cada um recebendo por si mesmo, ou por suas relações íntimas, instruções idênticas e a prova da realidade das manifestações.

E segue, criticando os inimigos da Doutrina que, por verem na universalidade do ensino dos Espíritos, um grande inimigo às suas ideias próprias:

Pois bem! É em presença deste resultado patente, material, que se tenta erigir em sistema a inutilidade das comunicações dos Espíritos. Convenhamos que se elas não tivessem a popularidade que adquiriram, não as atacariam, e que é a prodigiosa vulgarização dessas ideias que suscita tantos adversários ao Espiritismo. Os que hoje rejeitam as comunicações não parecem essas crianças ingratas que negam e desprezam os seus pais? Não é ingratidão para com os Espíritos, a quem devem o que sabem?

Onde o Movimento Espírita tomou um desvio

Após Kardec, como já sabemos, o Movimento Espírita sofreu enorme desvio, praticamente colocando o mestre lionês e seu método de estudo no esquecimento. Depois disso, chegado ao Brasil, já se encontrava o Movimento bastante alterado em suas bases, esquecido de que o Espiritismo sem os Espíritos é apenas sistema de ideias pessoais, ideias essas que se proliferaram dentre os Espíritas através de mais de um século.

Roustaing, um dos primeiros maiores adversários do Espiritismo, contemporâneo de Kardec, movido por enorme vaidade, através principalmente de Pierre-Gaëtan Leymarie, inseriu seus conteúdos no meio espírita que, se não bastassem serem contrários à Doutrina Espírita em muitos pontos, eram obtidos através de apenas um Espírito – ou seja, nada de universalidade de ensinos. Se houvessem estimulado tal método, veriam tais teorias desmentidas pelos próprios Espíritos, o que não seria interessante à vaidade pessoal do “escolhido”.

Estupefato, descobri, recentemente, que a própria FEB, no início do século XX, defendia as ideias roustainguistas como um complemento a Allan Kardec:

E foi por compreender a sua preponderante utilidade [do Evangelho] que a Federação instituiu o seu estudo nas sessões das terças-feiras, preferindo-o ao Evangelho segundo o Espiritismo [por Allan Kardec], que apenas contém os ensinos morais, Os quatro Evangelhos (Revelação da revelação), ditados a J.-B. Roustaing, por ser completa essa revelação, contendo, não somente o desenvolvimento daqueles ensinos, mas a explicação de todos os atos da vida de Jesus, com uma nova e esclarecedora orientação acerca da natureza e da sua missão messiânica.

(FEB, 1902, p. 1)

Vemos, portanto, desde quando tais ideias danosas se infiltraram no Espiritismo, sobretudo no Brasil, onde diversos médiuns – não questionando seus propósitos e seus valores – passaram a serem tomados como oráculos ou profetas – mais uma vez, nada de universalidade dos ensinos.

Mas será que precisamos disso, hoje?

Muitos, contudo, vão dizer: esse método de Kardec, baseado nas evocações, somente foi útil para o nascimento do Espiritismo. Hoje, não precisamos mais disso, pois já temos muito conteúdo que nos servem de base de ensinamento.

Sim, inquestionavelmente temos, hoje, tanta base de ensinamento moral que, se realmente os compreendêssemos, estaríamos anos-luz à frente em nossa evolução espiritual. Contudo, não se deu o mesmo com os ensinamentos do Cristo que, mesmo assim, nos enviou o Consolador Prometido – a Doutrina dos Espíritos. Por quê? Porque o Espírito avança primeiro em intelectualidade, para apenas depois avançar em moralidade. Como, então, diminuir essa distância? Apenas através da união da fé à ciência. E foi essa a missão de Kardec, tão bem realizada no estudo da Doutrina dos Espíritos.

Ora, não podemos esquecer: o Espiritismo é uma ciência de aspecto moral e filosófico, nascida do estudo e da observação das manifestações espíritas, obtendo, delas, o conhecimento, baseado na universalidade dos ensinamentos dos Espíritos – ou seja, a distribuição dos ensinamentos dos Espíritos por toda a parte, obtendo, desses ensinamentos, a concordância, sob a luz da razão. Chegamos, assim, em uma constatação:

Retirar, do Espiritismo, as evocações, é retirar dele a característica principal: o de uma ciência que, como sempre demonstrou e defendeu Kardec, deveria andar de mãos dadas com a ciência humana.

Então, somos forçados a constatar, também, que as evocações, com finalidade séria, são ainda necessárias e, talvez, sempre serão. Ou será que já sabemos de tudo a respeito das nossas relações com os Espíritos e do mundo dos Espíritos? Ou será que o avanço da ciência humana não trouxe, de um lado, tantas confirmações e, de outro, novas dúvidas, a respeito dessas relações e da nossa natureza espiritual? Ou será que as mistificações não passaram a inundar o Movimento Espírita?

Vamos ver, a respeito da última questão, o pensamento de Cláudio Bueno da Silva no portal O Consolador:

Quando se fala em mistificação, em desvios de rota do movimento espírita, impossível não citar os célebres e traumáticos “ismos”, que causaram tantas controvérsias: o Ubaldismo, de Pietro Ubaldi; o Ramatisismo, de Ramatis; o Roustainguismo, de J. B. Roustaing; o Armondismo, de Edgar Armond; o Divinismo, de Oswaldo Polidoro, e outros “ismos”. Todos eles com uma curiosa característica: em meio a verdades, muitos equívocos destoantes da Revelação Espírita, codificada por Allan Kardec. Embora algumas dessas proposições não tenham surgido propriamente dentro do movimento espírita, nele se infiltraram, deixando resquícios que perduram ainda em muitos centros e federações pelo país.

Mas as investidas das sombras não param. Há algum tempo, muitas casas espíritas foram “invadidas” pela teoria das crianças índigo, versão importada sobre a reencarnação de muitos “anjinhos” inteligentes, cheios de independência e malícia, mas cheios também de rebeldia e agressividade que, segundo a fantasia dos seus “criadores” norte-americanos, têm a missão de renovar (?) a Terra. Muitos espíritas ficaram encantados com a novidade e durante bom tempo não se falou de outra coisa dentro da casa espírita.

CLÁUDIO BUENO DA SILVA – http://www.oconsolador.com.br/ano6/285/claudio_bueno.html

Os próprios Espíritos defendem a nossa comunicação com eles

A leitura e o estudo da obra de Allan Kardec nos demonstra, sem cessar, que os Espíritos vêm de bom grado, sempre que possível, responder às evocações realizadas. Quando Espíritos bondosos ou sábios ficam felizes em transmitir bons ensinamentos; quando Espíritos, ainda inferiores, encontram alívio em exporem suas dificuldades ou em transmitir alguma palavra de conforto aos seus familiares. Outras vezes, conforme permitido, transmitem conselhos importantes, como podemos ver no artigo “Mamãe, aqui estou”, da R.E. de Janeiro de 1858:

Júlia: Mãe, por que te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.

A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?

Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha mão sobre a Sra. X (a médium) para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).

A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?

Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?

A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?

Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.

A mãe: Eu realmente te revi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.

Júlia: Não. Sou eu mesma que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr. Z… Ele não é sincero.

(Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim espontaneamente, era uma nova prova de identidade do Espírito que se manifestava.)

A mãe: Que pode fazer contra mim o Sr. Z?

Júlia: Não te posso dizer. Isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.

Precisamos, portanto, lembrar que a mediunidade serve justamente para isso: intercâmbio entre os “dois planos”. Se não fosse assim, Deus não nos daria essa capacidade. Sim, é fato que devemos buscar caminhar com nossos próprios pés, sem ceder ao ímpeto de perguntar aos Espíritos sobre tudo. Mas também é fato de que, com seriedade e bom propósito, eles tem muito a nos ajudar, tanto nos assuntos pessoais quanto nos assuntos de importância geral. E isso, aliás, eles fazem constantemente, através da nossa intuição.

Mas, então, se julgamos precisar de comunicações mais claras, que fazer? Viver na dúvida?

Penso que, sobre isso, precisamos pensar com muito cuidado, a fim de realmente não ocuparmos médiuns e Espíritos com algo que nós mesmos podemos entender ou fazer, inclusive galgados nos ensinamentos já existentes no Espiritismo. Deveríamos agir como o estudante que, antes de fazer perguntas tolas, deveria sempre pesquisar o conhecimento já existente, caso contrário poderá ser mesmo repreendido pelo professor: “você não estudou com atenção. O conhecimento está lá; volte e releia”.

Sobre o resto, se há propósito sério, eles nos responderão dentro dos limites permitidos. Se, por outro lado, não houver propósito sério, poderão os bons Espíritos nos dar um belo puxão de orelha, no melhor dos casos; nos outros, poderão responder Espíritos maliciosos, com o intuito de nos provocar dificuldades e desvios, ou apenas de debocharem de nós.

Conclusão

Sendo data memorável, enfim, da vida desse Espírito que conhecemos por Allan Kardec, precisamos, em reconhecendo seu trabalho tão bem realizado e tão dedicado, recuperar a história real do Espiritismo, restaurando sua essência e afastando os escolhos que dela tomaram tão grande parte.

Espiritismo sem Espíritos, isto é, Espiritismo sem concordância universal dos ensinamentos dos Espíritos e, por conseguinte, sem a nossa busca pela comunicação com eles, não é Espiritismo: é apenas opinião pessoal.


  1. Entre os papéis de próprio punho de Allan Kardec há um esboço autobiográfico no qual ele corrige seu primeiro nome, normalmente grafado como Hippolyte, para a verdadeira grafia Hypolite. Canuto Abreu teceu considerações num artigo, que pode ser acessado pelo endereço em https://espirito.org.br/autonomia/allan-kardec-data-e-nome. assim como o manuscrito de Kardec. Também o ano de seu nascimento foi corrigido nesse mesmo documento, tendo nascido em 1803 e não em 1804 como as biografias posteriores registraram equivocadamente. [Paulo Henrique de Figueiredo- Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo]