Confissões de Luis XI

Durante o ano de 1858, Ermance Dufaux recebeu algumas autobiografias mediúnicas. Entre elas, os autores foram os reis franceses Luís XI e Carlos VIII. Allan Kardec elogiou o trabalho da Srta. Dufaux e transcreveu trechos das “Confissões de Luís XI” na Revista Espírita. Nesse mesmo ano, Kardec divulgou três mensagens psicografadas pela jovem sensitiva.

Esta comunicação especificamente não parece ter muita relevância para nós, neste momento. São fatos históricos, utilizados para evidenciar a autenticidade do Espírito comunicante. Destacamos que Luís XI não é São Luís, o Espírito que sempre se comunicava como um dos “mentores” dos estudos de Kardec.

Além deles, ela recebeu autobiografia mediúnica de Joana D’arc, ja mencionada na edição da RE de janeiro de 1858

Para quem quer saber mais sobre a Srta. Ermance Dufaux, clique aqui

vídeo



Finalidade de Certas Evocações

Nesse artigo, Kardec demonstra a utilidade da evocação dos Espíritos de todos os gêneros, desde os Espíritos com intuito sério e construtivo até os que cometeram crimes hediondos, pois, “para conhecer os costumes de um povo, é preciso estudá-lo em todos os graus da escala”.

Sendo assim, há sempre o impasse, pois Espíritos superiores tem muito a ensinar, mas nossa distância com relação a eles é bastante grande. Os Espíritos mais “burgueses”, ou seja, Espíritos como nós, mais comuns, presos ainda às preocupações cotidianas, apresentam muitos ensinamentos importantes, por nos tornar capazes de nos vermos em suas próprias ações e seus efeitos. Todos nos mostram a aplicação prática das grandes e sublimes verdades, cuja teoria nos ensinam os Espíritos superiores.

Outra vantagem de algumas evocações é constatar a identidade dos Espíritos de modo mais preciso. Quando um Espírito se apresenta sob um grande nome do passado, só é possível crer sob palavra e julgar seu conteúdo sobre o que se conhece. Se o conteúdo atende aos critérios necessários, julgamo-lo Espírito superior, e isso basta. O nome não importa realmente.

Contudo, quando um Espírito de menor evolução se apresenta e dá detalhes que comprovem sua identidade, teremos, aí, grandes exemplos muito “palatáveis”: “é o romance dos costumes da vida espírita sem a ficção”.

Discutimos, também, sobre as nossas vivencias pessoais a respeito de evocações de familiares e amigos.

Particularmente, temos sempre que tomar muito cuidado quanto ao conteúdo do Espírito comunicante, pois ele pode não ser quem diz quem é. Algumas comunicações trazem algum consolo a nós.

A seguir, 3 evocações de 3 Espíritos diferentes: o primeiro é o Assassino Lemaire ( cerca de um mês após desencarne); A Rainha de Oude ( cerca de um mês após desencarne) e Dr. Xavier ( evocação depois de muitos meses após desencarne).




Dr. Xavier

O Dr. Xavier foi um médico de grande talento e que havia se ocupado muito do magnetismo, sobre o qual havia deixado um manuscrito que supunha que viesse revolucionar a Ciência. Antes de morrer havia lido O Livro dos Espíritos e desejado um contato com Allan Kardec, o que não pôde realizar. Meses após sua morte, ocorreu sua evocação, à pedido da família, sendo esta realizada na presença de Kardec. Ele tomou o cuidado de excluir, nesta publicação, as perguntas e respostas de caráter particular.

Observação: a comunicação contém acertos e erros, por parte do Espírito. Kardec apresenta ambos, pois quer nos levar a constatar e a refletir sobre o fato de que o Espírito não se torna sábio ao desencarnar.

nosso comentário

Depois de evocado, Dr. Xavier respondeu às indagações sobre a Doutrina Espirita, sobre o começo da vida, sobre a união do Espirito ao novo corpo, assim como a desunião do Espirito no fim da vida do corpórea.

Dr. Xavier disse que a Doutrina Espirita é uma grande obra, sendo que o seu pior inimigo são as religiões, crenças dos homens. (N. da Autora: Tão atual… Podemos observar que não mudou muita coisa desde então… )

Quando Dr. Xaier foi perguntado sobre o corpo conservar por alguns instantes a vida orgânica após a separação da alma, ele disse que o corpo sente o que lhe provocou a morte somente por alguns instantes.

Na hora da separacão, ele disse:

Perg. 21 – Como se opera a separação entre a alma e o corpo na hora da morte do corpo?

Resp. Dr. – Como um fluido que escapa de um vaso qualquer. 

Perg. 22 – Há uma linha de demarcação realmente nítida entre a vida e a morte?

Resp. Dr. – Esses dois estados se tocam e se confundem; assim, o Espírito se desprende pouco a pouco de seus laços; ele os desenlaça, não os arrebenta.

Perg. 23 – Esse desprendimento da alma opera-se mais prontamente em uns do que em outros?

Resp. Dr. – Sim: nos que em vida já se elevaram acima da matéria, porque, então, sua alma pertence mais ao mundo dos Espíritos do que ao mundo terrestre.

Perg. 23 – Em que momento se opera a união entre a alma e o corpo na criança?

Resp. Dr. – Quando a criança respira; como se recebesse a alma com o ar exterior.

RE março 1858, Dr. Xavier

Observação (Allan Kardec) – Essa opinião é consequência do dogma católico. Com efeito, ensina a Igreja que a alma não pode ser salva senão pelo batismo; ora, como a morte natural intrauterina é muito frequente, em que se tornaria essa alma, privada, segundo ela, desse único meio de salvação, se existisse no corpo antes do nascimento? Para ser coerente, seria preciso que o batismo fosse realizado, se não de fato, pelo menos de intenção, desde o momento da concepção.

Nossa observação – A teoria dada por esse Espírito sobre o instante da união entre a alma e o corpo não é absolutamente exata. A união começa desde a concepção, isto é, a partir do momento em que o Espírito, sem estar encarnado, liga-se ao corpo por um laço fluídico, que cada vez mais se vai apertando até o instante em que a criança vê a luz. A encarnação só se completa quando a criança respira.

Segue a conversa com o Espírito de Dr. Xavier sobre a vida intrauterina, sobre o aborto espontâneo e o provocado, sobre como o acontece ao Espirito nessas situações, enfim, sobre a união da alma e do corpo. Este entendimento completo e muito bem explicado está no Livro dos Espiritos, de Allan Kardec, cap VII – Da volta do Espírito a Vida Corporal, União da alma e do Corpo, da questão 344 a 360.

Além das passagens citadas do Livro dos Espíritos, sugerimos consultar o O Céu e o Inferno, Allan Kardec, Segunda Parte: Exemplos, capítulo I. O passamento, Editora Feal onde há uma extensa explicação sobre o que discutimos na LIVE.




A Rainha de Oude

A Rainha de Oude foi evocada. Ela foi uma Rainha Indiana( seu nome era Malika Kishwar) que havia visitado a Inglaterra. Na sua viagem de volta a India, acabou por adoecer e morrer em Paris, no ano de 1858. Mais detalhes aqui Rainha de Oude Daqui para frente vamos chamá-la de rainha.

A rainha se apresentou muito perturbada, sentindo dificuldade de entender o que se passava com ela. Pela sua conversa, pudemos perceber a sua soberba e orgulho. Foram feitas várias perguntas quanto a sua opinião da sua vida terrena, das condições da mulher, da vida dos indianos, sobre Maomé, Deus, Jesus, mas ela disse que era muito poderosa para se ocupar com Deus.

Ela disse que sentia saudade da vida, que esperava que seus súditos viessem lhe sevir. Ela falou mais de uma vez que era sempre rainha, mesmo em outras existencias. Ela era extremamente arrogante.

A rainha, além de perturbada, parecia bem incomodada com as perguntas, o que foi questionada. Ela disse que foi forçada a vir:

Perg. 22 ─ Por que acudistes tão prontamente ao nosso apelo?

Resp. Rainha: – Nao queria fazê-lo, mas forçaram-me. Acaso julgarás que me dignaria responder-te? Quem és tu ao meu lado?

Perg. 23 – E quem vos forçou a vir?

Resp. Rainha: – Eu mesma não sei… posto que nao deve existir ninguém maior do que eu.

A Rainha de Oude, RE março/1858

A conversa cessou assim que teve a intervenção do Espírito de Sao Luis:

Perg. 32 ─ Pedimos apenas a bondade de responder ainda a duas ou três perguntas.

Resp. São Luis – ─ Deixai-a, pobre transviada! Tende piedade de sua cegueira. Que ela vos sirva de exemplo! Não sabeis quanto sofre o seu orgulho.

Pensávamos encontrar nesse Espírito, se não a filosofia, pelo menos um mais verdadeiro sentimento da realidade e ideias mais sadias sobre as vaidades e grandezas terrenas. Longe disto, nela as ideias terrenas conservavam toda a sua força: é o orgulho, que nada perde de suas ilusões.

Esta descrição de evocação se encontra também no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Segunda parte, cap. VII – Espíritos Endurecidos.




O Assassino Lemaire

Neste artigo, Kardec relata o caso de um assassino chamado Lemaire. Ele foi invocado depois de sua execução ocorrida em 31 de dezembro de 1857 em Paris.

Lemaire era um jovem de 23 – 24 anos. Foi diversas vezes preso por roubo seguido de assassinatos mais de uma vez. Fugiu da prisão, foi retido novamente. Ele era temido pela sociedade. Aqui tem artigo em francês sobre sua vida.

Quando invocado por Kardec, através da Srta. Raquel, imediatamente se manifestou para os questionamentos. Em suas palavras, observou-se o nítido arrependimento de seus atos. Além disso, estava envergonhado.

Lemaire contou que encontrava suas vítimas que assassinou e sentia remorso. Sua dor moral era insuportável,

– Elas têm ódio e desejo de vingança?

Não. Suas preces atraem para mim a expiação. Não podeis avaliar que horrível suplício é tudo dever àquele a quem se odeia.

Na RE, Assassino Lemaire, pergunta 20.

Ainda acrescentou, através de respostas de seus invocadores, o seguinte:

 ─ Como pensas resgatar os crimes?

─ Por novas provas, mas me parece que a Eternidade está entre mim e elas.

pergunta 32

Ele estava muito perturbado, o que deve ter provocado neles vontade de poder dar algum tipo de conforto ao Espírito de Lemaire.

Esta evocação também está descrita no livro O Céu e o Inferno de Allan Kardec, Segunda Parte, cap. VI – Criminosos arrependidos.




Júpiter e alguns outros mundos

Nesse artigo, muito conectado ao anterior, Kardec, se reportando à Escala Espírita, faz algumas outras conjecturas a respeito de como poderia ser um planeta todo habitado por Espíritos da nona (décima) classe, as dificuldades imensas, o estado geral de crime, de horror, de padecimentos físicos e morais.

Em seguida, conjectura um planeta habitado por Espíritos todos da terceira ordem – Espíritos impuros, levianos, pseudo-sábios e neutros. Dominaria, aí, ainda o mal, embora cada vez menos presente conforme se afastassem da nona (décima) classe tais Espíritos. O orgulho, o egoísmo, as paixões, a escravização e diversas outras imperfeições morais ainda aí dominariam.

NUMA TAL SOCIEDADE, SE DOMINAR, O ELEMENTO IMPURO ESMAGARÁ O OUTRO; CASO CONTRÁRIO, OS MENOS MAUS PROCURARÃO DESTRUIR OS SEUS ADVERSÁRIOS; EM TODO CASO HAVERÁ LUTA, LUTA SANGRENTA, DE EXTERMÍNIO, PORQUE SÃO DOIS ELEMENTOS QUE TÊM INTERESSES OPOSTOS. PARA PROTEGER OS BENS E AS PESSOAS, HAVERÁ NECESSIDADE DE LEIS, MAS ESSAS SERÃO DITADAS PELO INTERESSE PESSOAL E NÃO PELA JUSTIÇA; SERÃO FEITAS PELO FORTE, EM DETRIMENTO DO FRACO

Em seguida, Kardec nos convida a imaginar, no meio desses Espíritos, alguns da segunda ordem: veríamos, então, em meio às perversidades, algumas virtudes.

SE OS BONS FOREM MINORIA, SERÃO VÍTIMAS DOS MAUS; À MEDIDA, PORÉM, QUE SE ACENTUA SEU PREDOMÍNIO, A LEGISLAÇÃO TORNA-SE MAIS HUMANA, MAIS EQUITATIVA E A CARIDADE CRISTÃ DEIXA DE SER PARA TODOS LETRA MORTA. DESSE MESMO BEM NASCERÁ OUTRO VÍCIO. A DESPEITO DA GUERRA QUE OS MAUS DECLARAM INCESSANTEMENTE AOS BONS, ELES NÃO PODEM EVITAR ESTIMÁ-LOS EM SEU FORO ÍNTIMO. VENDO O ASCENDENTE DA VIRTUDE SOBRE O VÍCIO E NÃO TENDO FORÇA NEM VONTADE DE PRATICÁ-LA, PROCURAM PARODIÁ-LA E TOMAM A SUA MÁSCARA. DAÍ OS HIPÓCRITAS, TÃO NUMEROSOS EM TODA SOCIEDADE ONDE A CIVILIZAÇÃO É AINDA IMPERFEITA.

Afinal, Kardec chega, pela imaginação, a um mundo todo habitado por Espíritos da segunda ordem, para onde, pela simples leitura, gostaríamos de nos transportar neste exato momento. Não reina ali a igualdade absoluta, posto que a segunda ordem ainda abrange Espíritos de vários graus de desenvolvimento. Contudo, essa desigualdade não gera inveja do menos avançado nem orgulho do mais avançado: todos estariam unidos no propósito de aprendizado e elevação.

AS CONSEQUÊNCIAS QUE TIRAMOS DESTE QUADRO, EMBORA APRESENTADAS DE MANEIRA HIPOTÉTICA, NÃO SÃO MENOS RACIONAIS, E CADA UM PODE DEDUZIR O ESTADO SOCIAL DE UM MUNDO QUALQUER, CONFORME A PROPORÇÃO DOS ELEMENTOS MORAIS DE QUE O SUPOMOS CONSTITUÍDO.

VIMOS QUE, ABSTRAÇÃO FEITA DA REVELAÇÃO DOS ESPÍRITOS, TODAS AS PROBABILIDADES SÃO PARA A PLURALIDADE DOS MUNDOS. ORA, NÃO É MENOS RACIONAL PENSAR QUE NEM TODOS ESTEJAM NO MESMO GRAU DE PERFEIÇÃO E QUE, POR ISSO MESMO, NOSSAS SUPOSIÇÕES PODEM PERFEITAMENTE SER EXPRESSÃO DA REALIDADE.

Vemos, através desse exercício, em que momento espiritual a Terra se encontra e em quais já se encontrou. Baseados nesse pensamento e na Escala Espírita, vemos quais males ainda precisamos extirpar de nossas individualidades a fim de avançar para melhores posições.

Sobre alguns planetas vizinhos, Kardec informa que, segundo os Espíritos, Marte seria um planeta ainda mais atrasado que a Terra, onde se encarnariam Espíritos quase exclusivamente da nona (décima) classe. Mas, pelo fato de que não encontramos nada em Marte além de poeira devemos imaginar que os Espíritos enganaram Kardec? Ora, não! Apenas que essa encarnação deve se dar em estado fluídico, fora de nossos sentidos.

Segue Allan Kardec comentando alguns ensinamentos a respeito de outros planetas, sendo o mais interessante aqueles que falam a respeito de Júpiter, que seria um planeta de muito maior elevação espiritual que o nosso. Ali encarnariam, segundo relatos dos Espíritos, apenas Espíritos da segunda ordem. Retratam, esses Espíritos, cidades maravilhosas.

Será que um dia pousaremos lá uma sonda e constataremos uma civilização perceptível aos nossos sentidos e aparelhos? Talvez sim, talvez não. Pode ser que um dia pousemos lá e encontremos um planeta gélido e deserto, como pode ser que encontremos alguma forma de vida. Não sabemos e, caso se dê o primeiro caso, também poderemos supor que tais cidades e civilização se constituem, também, em matéria etérea, como já sabemos que mesmo nas circunvizinhanças de nossos planeta tal fato se dá.

De qualquer forma, são conjecturas de um tempo passado que, embora válidas em muitos sentidos, talvez possam ser um dia – quando os estudos metodológicos das comunicações dos Espíritos possam ser retomados – revisitadas e complementadas ou corrigidas.




A pluralidade dos mundos

A ciência da época de Kardec é algo bastante diferente do que é hoje. Muitos avanços científicos foram obtidos e, enquanto Kardec podia apenas imaginar como seriam os planetas vizinhos e mesmo lua, hoje já visitamos o último corpo celeste diversas vezes, já pousamos pelo menos 3 veículos autônomos em Marte e, há pouco, fizemos chegar à órbita de Mercúrio a primeira sonda humana. Enorme revolução, se comparada a uma época onde apenas se podia fazer cogitações, através de uma luneta.

Iniciamos assim de forma a nos colocar no tempo de Kardec, o que é imprescindível para entender suas conjecturas a respeito dos corpos astrais próximos. É muito importante, também, notar que há duas partes distintas na Doutrina Espírita a esse respeito: os conhecimentos e conjecturas humanos e os conhecimentos ensinados pelos Espíritos, da forma que o homem podia entender àquela época.

Da parte humana, Kardec, nesse artigo, faz diversas conjecturas a respeito de como seriam os outros mundos, baseado naquilo que a ciência humana de então já havia podido observar. Cria hipóteses, bastante plausíveis para o conhecimento de então, sobre as formações atmosféricas desses orbes distantes, conjecturando, então, a respeito das possíveis formas de vida que aí poderiam haver, inclusive aquelas não detectáveis pelos nossos cinco sentidos, ou seja, aquelas que poderiam estar em estados muito mais sutis da matéria.

Mas a intenção desse artigo de Kardec não é apenas fazer conjecturas filosóficas a respeito da vida, vista de forma científica, fora da Terra: é também fazer o leitor refletir a respeito da grandeza divina, que nada faz por acaso e que, também nesse sentido, não teria feito planetas apenas para a nossa apreciação. Aliás, Kardec faz essa abordagem baseado nos ensinamentos dos Espíritos, como podemos verificar em O Livro dos Espíritos:

55. SÃO HABITADOS TODOS OS GLOBOS QUE SE MOVEM NO ESPAÇO?

“SIM E O HOMEM TERRENO ESTÁ LONGE DE SER, COMO SUPÕE, O PRIMEIRO EM INTELIGÊNCIA, EM BONDADE E EM PERFEIÇÃO. ENTRETANTO, HÁ HOMENS QUE SE TÊM POR ESPÍRITOS MUITO FORTES E QUE IMAGINAM PERTENCER A ESTE PEQUENINO GLOBO O PRIVILÉGIO DE CONTER SERES RACIONAIS. ORGULHO E VAIDADE! JULGAM QUE SÓ PARA ELES CRIOU DEUS O UNIVERSO.”

[…]

57. NÃO SENDO UMA SÓ PARA TODOS A CONSTITUIÇÃO FÍSICA DOS MUNDOS, SEGUIR-SE-Á TENHAM ORGANIZAÇÕES DIFERENTES OS SERES QUE OS HABITAM?

“SEM DÚVIDA, DO MESMO MODO QUE NO VOSSO OS PEIXES SÃO FEITOS PARA VIVER NA ÁGUA E OS PÁSSAROS NO AR.”

Cientificamente, naquela época, já era possível constatar que a Lua não tinha atmosfera, que Mercúrio seria muito quente e que Saturno seria muito frio. Como, então, poderia haver vida nesses orbes? Sobre isso, temos duas hipóteses, adotadas por Allan Kardec:

  1. Os seres que ali vivem, se forem de constituição física de mesma densidade da nossa, poderiam ser adaptados a esses lugares, como na Terra existem seres vivos que sobrevivem ao frio e ao calor extremos ou mesmo a compostos químicos que nos matariam em pouco tempo, bem como existem animais adaptados a viverem a vida toda dentro da água e outros apenas na terra.
  2. Os seres que ali vivem são constituídos de matéria etérea, mais sutil que a nossa matéria e, por isso, vivem em condições totalmente adversas das nossas. Sobre isso, também em O Livro dos Espíritos, há um indício:

58. OS MUNDOS MAIS AFASTADOS DO SOL ESTARÃO PRIVADOS DE LUZ E CALOR, POR MOTIVO DE ESSE ASTRO SE LHES MOSTRAR APENAS COM A APARÊNCIA DE UMA ESTRELA?

“PENSAIS ENTÃO QUE NÃO HÁ OUTRAS FONTES DE LUZ E CALOR ALÉM DO SOL E EM NENHUMA CONTA TENDES A ELETRICIDADE, QUE, EM CERTOS MUNDOS, DESEMPENHA UM PAPEL QUE DESCONHECEIS E BEM MAIS IMPORTANTE DO QUE O QUE LHE CABE DESEMPENHAR NA TERRA? ADEMAIS, NÃO DISSEMOS QUE TODOS OS SERES SÃO FEITOS DE IGUAL MATÉRIA QUE VÓS OUTROS E COM ÓRGÃOS DE CONFORMAÇÃO IDÊNTICA À DOS VOSSOS.”

O que Kardec faz nesse artigo é, de posse de informações obtidos pela ciência humana e pela ciência espírita, raciocinar, junto ao leitor, sobre a possibilidade muito natural de haver vida, de alguma forma, em todos os orbes existentes no espaço e, inclusive, no espaço, isto é, no espaço “vazio”. Não há, nesse pensamento, nada de errado.

Contudo, podemos pensar: “já chegamos à Lua e a Marte e não encontramos nada daquilo que ele imaginava. Kardec, portanto, errou”. Ora, pela segunda hipótese, não, ele não errou. Podem ali existir seres em estado etéreo, como entre nós os Espíritos vivem, passeiam e interagem, através de seus perispíritos, sem que sequer os notemos (senão quando temos faculdades mediúnicas para tal). Outrossim, precisamos lembrar que Kardec nunca se disse dono da última verdade: apenas raciocinava com base no que a ciência lhe fornecia.

Pode ser que um dia pousemos num planeta próximo e lá encontremos novas formas de vida, sensíveis aos nossos sentidos, ou pode ser que estejam todos os planetas próximos vazios de vida biológica, talvez mesmo por sabedoria divina que, quem sabe, entenda que o homem apenas encontraria motivos para guerras se encontrasse outros seres vivos em planetas próximos. Agora, vocês vêem, sou apenas eu conjecturando.




Manifestações de Espíritos – Respostas ao Sr. Viennet, por Paul Auguez

Sr. Paul Auguez foi um grande poeta e intelectual francês de sua época, além de um dos primeiros defensores do Espiritismo, tendo conhecido Kardec através do lançamento de sua primeira obra como tal – O Livro dos Espíritos.

O Sr. Paul Auguez responde de forma digna, séria, profunda e racional aos ataques sofridos, razão pela qual Allan Kardec sai em sua defesa na Revista Espírita de fevereiro de 1858.

Pelas numerosas citações que atestam um estudo sério e uma profunda erudição, ele prova que se os adeptos de hoje, apesar de sua cifra sempre crescente, e as pessoas esclarecidas de todos os países que a eles se ligam, são, como pretende o ilustre acadêmico, cérebros desequilibrados, tal enfermidade lhes é comum com a da maioria dos gênios que honram a humanidade.

Allan Kardec, [RE], 1858

É importante destacar que o Espiritismo não é uma teoria tirada da cabeça de uma pessoa, mas é uma ciência cuja teoria está apoiada na observação lógica dos fatos. É dessa observação, racional, lógica e séria, que surge a teoria, e não o contrário.

Diz Paulo Henrique de Figueiredo:

O Espiritismo atende, principalmente, a quem, por ter um pensamento racional incompatível com o misticismo, deseja compreender as leis da espiritualidade pelo uso da razão. Também àqueles que, educados pelo catecismo nas igrejas em sua formação primeira, estão desiludidos pelos dogmas, aceitos pela fé cega, que exigem submissão. A Doutrina Espírita é uma teoria organizada por conceitos fundamentais que formam uma estrutura lógica irrepreensível, explicando os fenômenos da vida moral por meio de leis naturais. Quem a estuda profundamente, e compreende sua mensagem original, encontra forças nos momentos difíceis, coragem para enfrentar seus próprios infortúnios, tem esperança no futuro e ganha a certeza de um mundo melhor, onde encontrará o seu lugar.

Figueiredo, Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, 2019

E completa: “Uma teoria apoiada sobre fatos é a própria definição de ciência, pois representa o que a diferencia de outras formas de pensar, como a conjectura ou a fé religiosa.”




O Sr. Home

O Sr. Home foi personalidade muito conhecida à época de Kardec. Médium de efeitos físicos poderoso, atesta Kardec sua integridade moral, sua seriedade e sua introspecção no trato do assunto. Quanto à sua fortuna, não se faz crítica, pois é algo que apenas a ele diz respeito.

Nota-se com facilidade, pela leitura do artigo, que a ida do Sr. Home não se deu por acaso, mas por planejamento superior. Tendo lá ido parar por motivos de saúde, apresentou, aí, o “golpe fatal” contra a dúvida que existia a respeito das manifestações espíritas – algo muito semelhante àquilo que, anos antes, deu lugar nos Estados Unidos, como relata Ernesto Bozzano em “O Espiritismo e as Manifestações Supranormais”. Citando Kardec,

A França, ainda em dúvida no que concerne às manifestações espíritas, precisava que lhe fosse desferido um grande golpe; foi o Sr. Home quem teve esta missão e, quanto mais alto foi o golpe, maior foi a sua repercussão. A posição, o crédito, as luzes dos que o acolheram e que se convenceram pela evidência dos fatos, abalaram as convicções de muita gente, mesmo entre as pessoas que foram testemunhas oculares.

Após comentar sobre alguns fatos da vida do Sr. Home, evidenciando os diversos indícios que denotam suas seriedade e honradez, Kardec fala sobre o gênero de mediunidade desse senhor, muito semelhantes àqueles obtidos por Jonathan Koons, conforme conta Bozzano na obra supracitada:

O Sr. Home é um médium do gênero dos que produzem manifestações ostensivas, sem excluir por isto as comunicações inteligentes, mas as suas predisposições naturais lhe dão para as primeiras uma aptidão toda especial. Sob sua influência ouvem-se os mais estranhos ruídos; o ar se agita; os corpos sólidos se movem, levantam-se, transportam-se de um lado a outro, através do espaço; instrumentos de música produzem sons melodiosos; aparecem seres do mundo extracorpóreo que falam, que escrevem e que por vezes nos abraçam até produzir dor. Muitas vezes ele próprio se viu, em presença de testemunhas oculares, elevado, sem apoio, a vários metros de altura.

A faculdade de Home não exclui o contato com os Bons Espíritos. Contudo, através da ação dos Espíritos inferiores, ele se torna uma ferramenta de divulgação do Espiritismo, tarefa muito valorosa, mas não sem perigos e tribulações, que ele realizou com muita resignação e perseverança.

A faculdade do Sr. Home é inata e se manifestou desde seus primeiros meses de vida, quando seu berço balançava sozinho e mudava de lugar. “Em seus primeiros anos era tão débil que mal se sustinha; sentado no tapete, quando não alcançava os brinquedos, estes vinham pôr-se ao seu alcance“. Kardec reitera a índole de Home:

Se o Sr. Home fosse, como o pretendem os que julgam sem ver, somente um hábil prestidigitador, teria sempre, sem a menor dúvida, mágicas prontas em sua sacola. Entretanto, não é senhor de produzi-las à vontade. Ser-lhe-ia impossível dar sessões regulares, pois muitas vezes, no momento exato em que tivesse necessidade de sua faculdade, esta poderia faltar. Por vezes, os fenômenos se manifestam espontaneamente, no momento em que menos se espera, enquanto que doutras vezes não é possível provocá-los, o que é uma circunstância pouco favorável para quem quisesse fazer exibições com hora marcada.

Por fim, Allan Kardec encerra mencionando um fato ocorrido a portas fechadas, de forma espontânea e sem as diversas testemunhas possíveis, senão seu criado e um amigo, fato que demonstra, ao olhar de Kardec, que não o Sr. Home não buscava alarido e não tinha motivos para enganar a apenas duas pessoas.




Revista Espírita – Fev/1858 – Espíritos errantes ou encarnados

São os estados do Espírito, que pode estar encarnado, isto é, ligado a um corpo físico, ou em estado errante ou de erraticidade, isto é, no intervalo entre uma encarnação e outra.

Errar, neste contexto, significa “estar sem rumo certo”. É claro que o Espírito tem um rumo, traçado por Deus, mas, como de sua imperfeição ele não conhece esse rumo, apenas vivencia o aprendizado de aperfeiçoamento, diz-se que erra ou que está em estado de erraticidade enquanto está livre da matéria, mas esperando uma nova encarnação.

Os Espíritos Puros, é claro, não se enquadram nessa classificação, pois já não precisam reencarnar, visto que já percorreram, teoricamente, toda a escala evolutiva.