O ataque às escolas e a “visão segundo o Espiritismo”

Vou me dar ao luxo de “chover no molhado”, apenas porque o assunto é importante e requer, penso eu, reflexão e racionalidade. Os ataques realizados nas escolas foram algo lamentável, mas mais lamentável ainda é ouvir os absurdos que falam em nome do Espiritismo.

Vemos, frente aos acontecimentos em questão, novamente a busca de respostas “espiritualistas” para os motivos pelos quais aquelas crianças passaram por tais tragédias, e não raro nos deparamos com palestrantes que, em nome do Espiritismo, vão dizer que “são Espíritos endividados que se reuniram para resgatar faltas passadas”. Superado o momento inicial de verdadeira ojeriza pela falta de empatia de quem se coloca na posição de juiz do caminho alheio, sem se colocar na posição de um pai ou de uma mãe ouvindo tais palavras – um verdadeiro desserviço ao Espiritismo – sinto necessário reiterar: não é possível, muito menos cabível, apontar para quem quer que seja para dizer se a situação que a pessoa passa é resultado de suas escolhas – repito: escolhas – ou se é simples resultado da lei natural, isto é, resultado de estar vivo.

Já tratamos disso algumas vezes (ver Pode uma pessoa morrer antes do tempo ou é sempre o destino, ou a fatalidade?, O desastre de Petrópolis na visão do Espiritismo: resgate coletivo? e Karma e Espiritismo. Não existe carma, tudo é efeito de escolhas do Espírito, que, apenas em casos excepcionais, por ausência de capacidade de raciocínio, é submetido a encarnar de forma compulsória (ref. OLE, p. 262). Deus não castiga seus filhos por fazerem más escolhas, pois sabe que tudo é resultado da ignorância e, quando essa ignorância é tão grande a ponto de obliterar sua capacidade de julgamento, suas leis suprem essa incapacidade momentânea.

Digamos que participar de certos desastres, particulares ou coletivos, possa ser mesmo o efeito de uma escolha lúcida do Espírito que acredito que aquilo lhe ensinará algo ou que acredite na lei de talião ou no carma, julgando ser necessário passar pelo mesmo gênero de sofrimento a fim de se “depurarem”. Isso tem seu fundo de lógica e de verdade, e veremos alguns casos como esse permeando os estudos de Allan Kardec.

Poderiam, então, todas essas crianças terem escolhido estarem ali reunidas voluntariamente, por efeito de uma escolha feita em Espírito? Suponhamos que sim, e analisemos a lógica da suposição. Para tanto, de duas, uma: ou esses Espíritos teriam que saber, com grande antecedência, que aquele indivíduo, praticamente do crime, escolheria aquela escola onde elas teriam que estudar, para praticar seu crime, premeditado por anos, ou esses Espíritos teriam que, por meio deles ou de outros, instigarem esse indivíduo a cometer um crime (assumindo, por sua vez, uma “dívida”) apenas para que eles pudessem realizar seu “resgate” – um verdadeiro ciclo sem fim.

Sim, um Espírito em particular pode ter pressentido o crime em premeditação e ter manejado estar ali, para sofrer suas consequências, sabe-se lá o por que, assim como outro pode ter escolhido se ausentar desse local, nesse dia, pelo mesmo pressentimento. Vemos isso a todo momento. Torna-se inconcebível, porém, imaginar que todos aqueles que são mortos em um desastre qualquer escolheram estar ali, muitas vezes meses ou anos antes, apenas aguardando para que todas as circunstâncias alinhadas pudessem provocar a situação que ofereceria a oportunidade de “resgate”. Ademais, quando Kardec ou outros Espíritos falam em “resgate”, é o resgate de si mesmo, através do processo “arrependimento, a expiação e a reparação – em resumo: um aperfeiçoamento sério, efetivo, assim como um retorno sincero ao bem“((KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Tradução por Emanuel G. Dutra, Paulo Henrique de Figueiredo e Lucas Sampaio. 2021.)), e não um resgate de débitos recíprocos ou com a lei divina – porque Deus não cobra débitos que, em verdade, nem sequer existem.

As crianças que morreram em tais casos trágicos não estão pagando por nada. Morreram por efeito de estarem encarnadas e por efeito de uma má escolha de outro indivíduo. Esse indivíduo, que já sofre por efeito de suas escolhas, mesmo que não perceba isso, sofrerá quando despertar sua consciência, seja por sentimento culpa frente ao crime cometido, seja pela constatação de sua própria condição de apego, pelo efeito de seus atos, mesmo que nem sequer se lembre do caso específico em questão. Os Espíritos das crianças podem já ter seguido em frente, evoluído bastante, no momento em que o Espírito do criminoso tome consciência. Não há que se cogitar, portanto, uma encarnação conjunta com o fim de resgate recíproco qualquer, mas podemos imaginar o Espírito de uma dessas crianças, tocado de compaixão pelo outro, escolhendo nascer junto a ele para auxiliá-lo em seu caminho de retorno ao bem. Ou não. O Espírito do criminoso pode escolher, se tiver consciência disso, nascer em meio a uma família boníssima, de grandes valores espirituais, que poderão auxiliá-lo a aprender… Ou poderá escolher nascer em meio à criminalidade, para se colocar à prova de resistência. O que é melhor? Como saber quem e por qual motivo fez esta ou aquela escolha? Não sei. Nem você sabe. O ponto é: qualquer das escolhas, para esse Espírito, será uma expiação, e “expiação” não significa castigo, mas condição na qual ele tenha suaatenção concentrada incessantemente sobre as consequências desse mal, compreende-lhe melhor os inconvenientes e é motivado a corrigir-se“((Ibidem)).

Se você já passou por algo parecido ou tem perto de você alguém que passou, a mensagem que eu deixo é esta: o Espírito sobrevive e seguirá sua jornada. Quem vai e quem fica precisa se esforçar para não se apegar ao acontecido, entendendo que quem comete o crime sofrerá por si só, e que apegar-se a ele ou à situação levará vocês a sofrerem também. Tristeza faz parte. Saudades, doem. Mas apego é infelicidade. Ore para que você e o Espírito que desencarnou não se apeguem a tudo isso, nem à personalidade que morreu com o corpo. Espíritos que se amam se comunicam instantaneamente, sem intermediários, e basta que um pense no outro para que estejam juntos, sem nenhuma necessidade de que isso seja percebido como sensação de presença. O pensamento a tudo alcança, em qualquer lugar do Universo.

Por fim: cuidado ao aceitar as “visões espíritas” sem estudar os alicerces do Espiritismo. Espíritos, encarnados ou desencarnados, dizem o que querem e, por falta de cuidado, frequentemente servem de ferramenta aos inimigos da Doutrina.




O poder da vontade sobre as paixões (emoções)

Texto integralmente reproduzido da Revista Espírita de Julho de 1863, onde Kardec nos agracia com uma maravilhosa reflexão sobre o poder da vontade e a responsabilidade do Espírito. Grifos e notas nossos.

(Extrato dos trabalhos da sociedade espírita de Paris)

Um jovem de vinte e três anos, o Sr. A…, de Paris, iniciado no Espiritismo apenas há dois meses, com tal rapidez assimilou o seu alcance que, sem nada ter visto, o aceitou em todas as suas consequências morais. Dirão que isto não é de admirar da parte de um moço, e só uma coisa prova: a leviandade e um entusiasmo irrefletido. Seja. Mas continuemos. Esse jovem irrefletido tinha, como ele próprio reconhece, um grande número de defeitos, dos quais o mais saliente era uma irresistível disposição para a cólera, desde sua infância. Pela menor contrariedade, pelas causas mais fúteis, quando entrava em casa e não encontrava imediatamente o que queria; se uma coisa não estivesse em seu lugar habitual; se o que tivesse pedido não estivesse pronto em um minuto, entrava em furores, a ponto de tudo arrebentar. Chegava a tal ponto que um dia, no paroxismo da cólera, atirando-se contra a mãe, lhe disse: “Vai-te embora, ou eu te mato!” Depois, esgotado pela superexcitação, caía sem consciência. Acrescente-se que nem os conselhos dos pais, nem as exortações da religião tinham podido vencer esse caráter indomável, aliás compensado por vasta inteligência, uma instrução cuidada e os mais nobres sentimentos.

Dirão que é o efeito de um temperamento bilioso-sanguíneo-nervoso, resultado do organismo e, consequentemente, arrastamento irresistível. Resulta de tal sistema que se, em seus desatinos, tivesse cometido um assassinato, seria perfeitamente desculpável, porque teria tido por causa um excesso de bile((Paulo Henrique de Figueiredo, em “Mesmer: a ciência negada do Magnetismo Animal”, diz que “Galeno errou ao defender rigidamente a teoria dos humores como uma autêntica doutrina de Hipócrates. Ele divulgou e desenvolveu essa teoria amplamente ao comentar, de forma exaustiva, o tratado Sobre a natureza dos homens de Políbio. Segundo a interpretação de Galeno, a vida era mantida pelo equilíbrio entre os quatro humores — sangue, fleuma, bile amarela e bile negra, que eram procedentes, respectivamente, do coração, do cérebro, do fígado e do baço. O desequilíbrio seria a doença. Segundo o predomínio natural de um destes humores na constituição dos indivíduos, teríamos os diferentes tipos fisiológicos: o sanguíneo, o fleumático, o bilioso ou colérico e o melancólico.“ Até hoje, quando alguém está alegre e bem disposto, dizemos que ele está com bom humor e, àquele que está irado, dizemos que está mal-humorado.”)). Disso ainda resulta que, a menos que modificasse o temperamento, que mudasse o estado normal do fígado e dos nervos, esse moço estaria predestinado a todas as funestas consequências da cólera.

─ Conheceis um remédio para tal estado patológico?

─ Nenhum, a não ser que, com o tempo, a idade possa atenuar a abundância de secreções mórbidas.

─ Ora, o que não pode a Ciência, o Espiritismo faz, não lentamente e por força de um esforço contínuo, mas instantaneamente. Alguns dias bastaram para fazer desse jovem um ser suave e paciente. A certeza adquirida da vida futura; o conhecimento do objetivo da vida terrena; o sentimento da dignidade do homem, revelada pelo livre-arbítrio, que o coloca acima do animal; a responsabilidade daí decorrente; o pensamento de que a maior parte dos males terrenos são a consequência de nossos atos; todas estas ideias, bebidas num estudo sério do Espiritismo, produziram em seu cérebro uma súbita revolução. Pareceu-lhe que um véu se erguera acima de seus olhos e a vida se lhe apresentou sob outra face. Certo de que tinha em si um ser inteligente, independente da matéria, se disse: “Este ser deve ter uma vontade, ao passo que a matéria não a tem. Então, ele pode dominar a matéria.” Daí este outro raciocínio: “O resultado de minha cólera foi tornar-me doente e infeliz, e ela não me dá o que me falta, portanto, é inútil, porque assim não progredi. Ela me produz o mal e nenhum bem me dá em troca. Além disto, ela pode impelir-me a atos censuráveis e até criminosos.”

Ele quis vencer, e venceu. Desde então, mil ocasiões surgiram que antes o teriam enfurecido, mas ante elas, ficou impassível e indiferente, com grande estupefação de sua mãe. Ele sentia o sangue ferver e subir à cabeça, mas, por sua vontade, o recalcava e o forçava a descer.

Um milagre não teria feito melhor, mas o Espiritismo fez muitos outros, que nossa Revista não bastaria para registrá-los, se quiséssemos relatar todos os que são do nosso conhecimento pessoal, relativos a reformas morais dos mais inveterados hábitos. Citamos este como um notável exemplo do poder da vontade e, além disso, porque levanta um importante problema que só o Espiritismo pode resolver.

A propósito perguntava-nos o Sr. A… se seu Espírito era responsável por seus arrastamentos, ou se apenas sofria a influência da matéria. Eis a nossa resposta:

Vosso Espírito é de tal modo responsável que, quando o quisestes seriamente, detivestes o movimento sanguíneo. Assim, se tivésseis querido antes, os acessos teriam cessado mais cedo e não teríeis ameaçado a vossa mãe. Além disso, quem é que se encoleriza? É o corpo ou o Espírito? Se os acessos viessem sem motivo, poderiam ser atribuídos ao afluxo sanguíneo, mas, fútil ou não, tinham por causa uma contrariedade. Ora, é evidente que contrariado não era o corpo, mas o Espírito, muito suscetível. Contrariado, o Espírito reagia sobre um sistema orgânico irritável, que teria ficado em repouso, se não tivesse sido provocado.

Façamos uma comparação. Tendes um cavalo fogoso. Se souberdes dirigi-lo, ele se submete. Se o maltratardes, ele dispara e vos derruba. De quem a falta? Vossa ou do cavalo?

Para mim, é evidente que vosso Espírito é naturalmente irascível, mas, como cada um traz consigo o seu pecado original, isto é, um resto das antigas inclinações, não é menos evidente que, em vossa existência precedente, deveis ter sido um homem de uma extrema violência que provavelmente tivestes que pagar muito caro, talvez com a própria vida. Na erraticidade, vossas boas qualidades vos ajudaram a compreender os erros. Tomastes a resolução de vos vencer, e para isto lutar em nova existência. Mas, se tivésseis escolhido um corpo mole e linfático, não encontrando qualquer dificuldade, vosso Espírito nada teria ganho, o que resultaria na necessidade de recomeçar. Foi com esse objetivo que escolhestes um corpo bilioso, a fim de ter o mérito da luta. Agora a vitória está ganha. Vencestes o inimigo do vosso repouso e nada pode entravar o livre exercício de vossas boas qualidades.

Quanto à facilidade com que aceitastes e compreendestes o Espiritismo, ela se explica pela mesma causa. Éreis espírita há muito tempo. Esta crença era inata em vós, e o materialismo foi apenas o resultado da falsa direção dada às vossas ideias. A princípio abafada, a ideia espírita ficou em estado latente e bastou uma centelha para despertá-la. Bendizei a Providência que permitiu que esta centelha chegasse em boa hora para deter uma inclinação que talvez vos tivesse causado amargos desgostos, ao passo que vos resta uma longa carreira a percorrer na via do bem.

Todas as filosofias se chocaram contra esses mistérios da vida humana, que pareciam insondáveis até que o Espiritismo lhes trouxe o seu facho.

Em presença de tais fatos, ainda se pode perguntar para que ele serve? Não estamos em condições de emitir bons augúrios cerca do futuro moral da Humanidade quando ele for compreendido e praticado por todo mundo?




Voltando a André Luiz e “Nosso Lar”

Um correspondente nosso destacou a disparidade entre o que conta André Luiz, a respeito de todo o cenário por ele descrito, do mundo espiritual, e o que diz Allan Kardec, no trecho citado, extraído da Revista Espírita de 1859. Repetimos abaixo os trechos citados:

“Mostrou desejo de alimentar-se e foi imediatamente atendida com caldo quente e reconfortante, que lhe calhou gostosamente ao paladar …”

André Luiz – E a vida continua

“O Espirito não experimenta fadiga nem necessidade de repouso ou de nutrição, porque não tem nenhuma perda a reparar. … Os Espíritos inferiores tem todas as paixões e desejos que tinham em vida – e seu castigo é não os poder satisfazer.”

Kardec – Revista Espírita – Abril de 1859

Se faz digno de nota a observação que o livro “E a Vida Continua”, de André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, é o último livro da série que se iniciou com Nosso Lar. Quero dizer: é interessante que as ideias apresentadas por esse Espírito não se alteraram ao londo de todas essas publicações, que supostamente refletem um certo tempo, com várias vivências e aprendizados, conforme relatado por ele mesmo, previamente. Chegado a esse ponto, esse Espírito permanece apresentando ideias que estão em contrário àquilo que formou a Doutrina Espírita – o estudo metodológico da universalidade das comunicações dos Espíritos.

Por que será que isso se deu? Por que será que, durante todo esse tempo, esse Espírito não aprendeu a realidade do mundo Espiritual? Suponho razoável aceitar que Espíritos mais esclarecidos não choquem àqueles que estão ainda nas ilusões dos apegos materiais, fato pelo qual eles poderiam mesmo prover “sopinhas” aos Espíritos que, nesse estado, as solicitassem. Daí, contudo, a ditar toda uma obra psicográfica, tida como “complementar” à Doutrina, sem esclarecer ao leitor a realidade dos fatos, vai uma longa distância.

Dito isso, prossigamos.

Aqui, é interessante cuidar para não tomar a exceção como regra, por um lado, e, por outro, pela regra geral, inadmitir a exceção. O Movimento Espírita toma, atualmente, as comunicações isoladas, repletas de ideias próprias, falsas ideias e ilusões, como regra da lei natural, ao passo que Kardec estudou, nas milhares de comunicações com os Espíritos, os fundamentos desse e de outros aspectos da lei natural.

Quando Kardec afirma que o Espírito não experimenta fadiga nem necessidade de repouso ou de nutrição, quer dizer que, como aspecto da lei natural, realmente, o Espírito não tem NENHUMA das nossas necessidades físicas, nem emoções, que são do corpo, nem dor. Contudo, ele mesmo se comunicou com vários Espíritos que declaravam tais necessidades ou sensações. Na Revista Espírita de dezembro de 1858, o artigo Sensações dos Espíritos fala um pouco sobre isso, iniciando pela citação da comunicação de um Espírito que veio se reunir a eles, ao redor da lareira, reclamando de frio.

Acontece, é claro – e nisto eu insisto em chamar todos ao estudo – que o Espírito, como nós, cria para si próprio as sensações oriundas de seu estado de apego e/ou de sofrimento MORAL – repito: M-O-R-A-L! Assim como nós podemos criar dores e doenças pelo corpo, através do processo psicossomático, o Espírito sofredor ou apegado faz o mesmo com seu corpo espiritual – o perispírito – com a diferença que, para nós, o processo de reversão é mais dificultoso, ao passo que, para o Espírito, tudo depende tão-somente da mudança de seu pensamento.

Por todo o estudo sério e profundo de Allan Kardec, fica evidente que é – repito – o grau de apego às coisas da matéria e às falsas ideias, aliado, quase sempre, a um sofrimento moral, que cria tais ilusões ao Espírito, ilusões essas que são permitidas por Deus, já que Ele não nos faz progredir a golpes, mas garante o tempo e a autonomia a cada um.

Adiciono, por fim, que esse é o grande problema do M.E. atual: incutir nas ideias da massa os APEGOS à matéria, baseados não no estudo sério, mas nas opiniões isoladas, promovendo, assim, ao invés de um despertar do Espírito, um apego continuado às ideias da matéria, que ENTRAVAM o progresso espiritual, já que o Espírito, ao deixar a carne, ao invés de se ver consciente de si mesmo e buscar avaliar seu estado, suas escolhas, etc, pelo contrário, se coloca a pensar se vai para Nosso Lar ou Umbral, se vai ganhar uma casinha para descansar (sic!), se vai ganhar sopinha, se vai se alimentar de caldos ou da carninha que ele gostava… Entende o problema?

Enfim: é o tempo e a cabeça de cada um. Cito o artigo “Sobre os Espíritos que se creem ainda vivos”, da Revista Espírita de 1864:

“Nem tudo é prova na existência; a vida do Espírito continua, como já vos foi dito, desde seu nascimento até o infinito; para uns, a morte não é senão um simples acidente que não influi em nada sobre o destino daquele que morre. Uma telha caída, um ataque de apoplexia, uma morte violenta, muito frequentemente, não fazem senão separar o Espírito de seu envoltório material; mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo que acaba de sucumbir. Num dia de batalha, se eu pudesse vos abrir os olhos que possuis, mas dos quais não podeis fazer uso, veríeis muitas lutas continuarem, muitos soldados subir ainda ao assalto, defender e atacar os redutos; vós os ouviríeis mesmo produzir seus hurras! e seus gritos de guerra, no meio do silêncio e sob o véu lúgubre que segue um dia de carnagem; o combate acabou, eles retornam aos seus lares para abraçar seus velhos pais, suas velhas mães que os esperam. Algumas vezes, esse estado dura muito tempo para alguns; é uma continuação da vida terrestre, um estado misto entre a vida corpórea e a vida espiritual. Por que, se foram simples e sábios, sentiriam o frio do túmulo? Por que passariam bruscamente da vida para a morte, da claridade do dia à noite? Deus não é injusto, e deixa aos pobres de Espírito esse gozo, esperando que vejam seu estado pelo desenvolvimento de suas próprias faculdades, e que possam passar com calma da vida material à vida real do Espírito.”




Ciência e Espiritismo: matérias em dimensões opostas?

Obtivemos, recentemente, a seguinte observação de uma correspondente nossa, srta. A…:

A ciência hoje não confirma muito do que acreditamos ser o mundo espiritual e a intervenção no nosso plano. A própria mesa girante já foi acusada de ser apenas resultado do efeito ideomotor e não mensagens dos espíritos. Não temos comprovação científica de muitas coisas e mesmo assim acreditamos nelas. A ciência na época de Kardec evoluiu e não confirmou tudo. Espiritismo, por mais que tenha utilizado o método científico não é comprovado pela ciência, talvez no futuro seja. Mas ainda não é ciência. Podemos chamar de filosofia, religião baseado no método científico. Há coisas que sabemos que não são reais como o nome de quem deu certas mensagens em psicografias e nos é dito para apenas considerar o teor da mensagem dada e ignorar a suposta falsa identidade. Há coisas que preferimos não saber ou aceitamos ser estranhas mesmo. Mas quando vemos essas mesmas coisas em outras doutrinas e em outros grupos acusamos de falta de bom senso e de método científico.

Resumiremos a seguir nossa resposta a tais observações:

A prezada srta. A… disse bem: a ciência DE HOJE e, adicionamos, desde sempre, a ciência materialista, dogmática, não aceitam as constatações que os Espíritos vieram demonstrar. Porém, ainda antes de Kardec, muitos cientistas honestos constataram até mesmo a existência de algo além do corpo material. Diz Paulo Henrique de Figueiredo, em” Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal”:

“Os magnetizadores comprovaram muito cedo as relações dos sonâmbulos com seres invisíveis. Deleuze, discípulo de Mesmer, em sua correspondência mantida com o doutor G. P. Billot por mais de quatro anos, de março de 1829 até agosto de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim afirmou: “O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e a sua imortalidade; ele prova a possibilidade da comunicação das inteligências separadas da matéria com as que lhes estão ainda ligadas.” (BILLOT, 1839)”

Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se venham manifestar, para lhes transmitir salutares conselhos. Acabo de ter disto um exemplo.” (Ibidem)

“Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet (1809-1885), com coragem e determinação, conversou com os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, principalmente Adèle Maginot, registrando em sua obra mais de cento e cinquenta cartas assinadas por testemunhas que reconheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa da ciência espírita.”

Vemos, então, Rivail, educador emérito, anos antes, dizendo, a respeito da educação das crianças que, se fosse bem realizada, evitaria que elas acreditassem em almas do outro mundo ou em fantasmas; que elas não tomariam fogos-fátuos por Espíritos((RIVAIL, H.- L.- D. Discurso pronunciado na Distribuição de prêmios. Paris, 1834)). Veja a incrível mudança que se operou em suas ideias – não sem resistência, como podemos constatar no artigo “Pluralidade das existências“, da Revista Espírita de novembro de 1858 – para, já então como Kardec, dizer que “em geral, se faz uma ideia muito falsa do estado dos Espíritos. Eles não são, como alguns pensam, seres vagos e indefinidos, nem chamas, como fogos-fátuos, nem fantasmas, como nos contos de aparições. São seres semelhantes a nós, possuindo um corpo como o nosso, mas fluídico e invisível em estado normal((Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1864 > Abril > Resumo da lei dos fenômenos Espíritas))”.

Produziríamos um texto sem fim, buscando reafirmar os inúmeros pontos que demonstram a força da formação do Espiritismo como ciência – ciência, esta, aliás, desenvolvida sobre o Espiritualismo Racional((ver “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”, de Paulo Henrique de Figueiredo)) – tarefa que somente pode ser bem desempenhada e alcançada por aquele que, livremente, decida sair de suas pré-concepções e ESTUDAR o Espiritismo, em toda sua formação, o que se encontra facilmente na Revista Espírita e, depois, profundamente estabelecido em antologia, filosofia e moral nas obras O Céu e o Inferno e A Gênese (em suas versões originais, não adulteradas).

Vê-se que o caminho é longo e somente pode ser trilhado por aquele realmente interessado em sair da heteronomia, que congela o passo, para a autonomia, que nos coloca no comando do leme de nossa própria nau.

Veja, apenas para complementar, que o Espiritismo nasceu como toda ciência que conhecemos: pela observação metodológica e racional de fatos da natureza. Se ela ainda não atingiu o status de ciência reconhecida, não é por culpa sua, mas por conta do grande desvio que tomaram as ciências filosóficas espiritualistas no final do século XIX, que apagaram as luzes do raciocínio sustentado pela moral para nos deixar nas sombras do materialismo aristotélico, que contamina e define nossa sociedade até hoje em dia. Chegamos ao cúmulo de ver a Psicologia esquecida de sua própria definição – o estudo da alma – para olhar o homem apenas sob o ponto de vista behaviorista, materialista. Percebe o fosso que existe entre o ponto de vista atual e as ciências filosóficas, morais, psicológicas e racionais do passado?

O grande erro está em querer definir a ciência pelo entendimento atual, como se fosse apenas aquilo que se faz em laboratório, esquecendo-se de que, ainda hoje, a inferência e a elaboração de ideias através de hipóteses ainda faz parte do método científico. Incrível, então, será constatar que Kardec, corroborando com Mesmer e apoiado pela pesquisa espírita, já havia, naquele tempo, chegado aos conceitos de campo e onda, aproximando-se da Física Moderna((Ver A Gênese, editora FEAL)). Vemos, enfim, que a ciência natural é uma só, subdividida, porém, pelas especialidades dos homens.

Kardec diria, na Revista Espírita de janeiro de 1858:

Talvez nos contestem a denominação de ciência que damos ao Espiritismo. Ele não teria, sem dúvida e em nenhum caso, as características de uma ciência exata e precisamente nisso está o erro dos que o pretendem julgar e experimentar como uma análise química ou um problema de matemática; já é bastante que seja uma ciência filosófica. Toda ciência deve basear-se em fatos, mas estes, por si sós, não constituem a ciência. Ela nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. Chegou o Espiritismo ao estado de ciência? Se se trata de uma ciência acabada, sem dúvida será prematuro responder afirmativamente, mas as observações já são hoje bastante numerosas para permitirem pelo menos deduzir os princípios gerais, onde começa a ciência.

Quando a senhorita A… diz que “há coisas que preferimos não saber ou aceitamos ser estranhas mesmo”, fala apenas do seu ponto de vista, do qual não fazem parte nossas ideias. Não agimos dessa maneira. Não aceitamos, simplesmente. Pesquisamos, buscamos respostas. Se, realmente, não há respostas, ficamos no aguardo do dia que poderemos obtê-las, através do método científico necessário para estabelecer a comunicação com seres que não podemos julgar de outra forma senão pela razão. Se, hoje, o Movimento Espírita não prima por esse método, ainda uma vez, a culpa não é do Espiritismo, mas das deturpações realizadas no seio doutrinário, mas que, para quem tem boa vontade de estudar, estão sendo rapidamente corrigidas e anuladas, com a consequente restauração do Espiritismo verdadeiro.

Vamos fazer parte desse movimento?




Iremos para algum lugar após a morte? O que ensina o Espiritismo sobre a vida futura?

Por Suely G. O. Caine

Sabemos o quão é instintivo e data dos primórdios a ideia de continuidade da existência do espírito, após a morte do corpo. Os comentários à pergunta 148 de O Livro dos Espíritos destacam essa questão:

(…) O homem tem instintivamente a convicção de que tudo não se acaba para ele com a vida; tem horror ao nada; é em vão que se obstina contra a ideia da vida futura, e quando chega o momento supremo, são poucos os que não perguntam o que deles vai ser, porque a ideia de deixar a vida para sempre tem qualquer coisa de pungente. Quem poderia, com efeito, encarar com indiferença uma separação absoluta e eterna de tudo o que ama? 

(…)

Ninguém, costuma-se dizer, voltou de lá para nos dar conta do que existe. Isto, porém, é um erro, e a missão do Espiritismo é precisamente a de nos esclarecer sobre esse futuro, a de nos fazer, até certo ponto, vê-la e tocá-lo, não mais pelo raciocínio, mas através dos fatos. Graças às comunicações espíritas, isto não é mais uma presunção, uma probabilidade sobre a qual cada um imagina à vontade, que os poetas embelezam com suas ficções ou enfeitam de imagens alegóricas que nos seduzem. É a realidade que nos mostra a sua face, porque são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm contar a sua situação, dizer-nos o que fazem, permitem-nos assistir, por assim dizer, a todas as peripécias da sua nova vida e por esse meio nos mostram a sorte inevitável que nos está reservada, segundo os nossos méritos ou os nossos delitos.”

Pois bem! Não há que se considerar que ninguém tenha “voltado” para contar como se encontra no plano espiritual, eis que são inúmeros os relatos, estudos realizados em torno de narrativas obtidas em sessões mediúnicas, às vezes com ricos detalhes, que Kardec colheu e reuniu através de um método científico desenvolvido, e no capítulo VIII, As penas futuras segundo o Espiritismo, de o livro O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, esclarece:

“A Doutrina Espírita, no que se refere às penas futuras, não é mais fundada sobre uma teoria preconcebida do que suas outras partes. Em tudo ela se apoia sobre observações, sendo isso o que lhe dá autoridade. Ninguém então imaginou que as almas, após a morte, devessem se encontrar nesta ou naquela situação. São os próprios seres que deixaram a Terra que vêm hoje – com a permissão de Deus e porque a humanidade entra numa nova fase – nos iniciar nos mistérios da vida futura, descrever sua posição feliz ou infeliz, suas impressões e sua transformação na morte do corpo. Os espíritos vêm hoje, em suma, completar nesse ponto o ensino do Cristo.”

Mas… afinal… nos encontraremos em um lugar circunscrito na vida espiritual? A resposta é negativa; não há registros na doutrina espírita de locais reservados aos sofredores ou felizes e nem eventuais subdivisões.

O Espiritismo nos ensina que o espírito necessitado de progresso, que guarda apego à matéria, comunga do mundo ao qual, naturalmente, mantém afinidade, ao qual possui uma atração, ao passo que aquele que evoluiu, tendo se desapegado da matéria, percorre mundos diferentes. As respostas 232 e 233 de O Livro dos Espíritos esclarecem a questão:

232. No estado errante os Espíritos podem ir a todos os mundos? – Conforme. Quando o Espírito deixa o corpo, ainda não está completamente desligado da matéria e pertence ainda ao mundo em que viveu ou a um mundo do mesmo grau; a menos que, durante sua vida, tenha se elevado. Esse é o objetivo a que deve voltar-se, pois sem isso jamais se aperfeiçoaria. Ele pode, entretanto, ir a alguns mundos superiores, passando por eles como estrangeiro. Nada mais faz do que os entrever, e é isso que lhe dá o desejo de se melhorar, para ser digno da felicidade que neles se desfruta e poder habitá-los.

233. Os Espíritos já purificados vêm aos mundos inferiores? – Vêm frequentemente, a fim de os ajudar a progredir; sem isso, esses mundos estariam entregues a si mesmos, sem guias para os orientar.

Não obstante, frequentemente, nos depararmos com mensagens de espíritos que narram que se encontram em determinados locais de sofrimento, ou que experimentam sensações físicas, tais retratam as ilusões que o espírito apegado à matéria pode criar para si, mas que não passam de uma percepção pessoal do espírito que o narra, e que, portanto, não é universal. 

Do que podemos depreender é que o estado feliz ou infeliz é inerente ao grau da depuração ou das imperfeições do espírito, conforme podemos concluir através da leitura dos itens 1° até 25° do capítulo VIII As penas futuras segundo o Espiritismo, de o livro O Céu e o Inferno, ou a justiça divina segundo o Espiritismo, com destaque aos itens 1° ao 3° abaixo transcritos:

1°) A alma ou espírito sujeita-se, na vida espiritual, às consequências de todas as imperfeições das quais ela não se despojou durante a vida corporal. Seu estado feliz ou infeliz é inerente ao grau de sua depuração ou de suas imperfeições. 

2°) Sendo todos os espíritos perfectíveis, em virtude da lei do progresso, trazem em si os elementos de sua felicidade ou de sua infelicidade futura e os meios de adquirir uma e de evitar a outra trabalhando em seu próprio adiantamento. 

3°) A felicidade perfeita está ligada à perfeição, ou seja, à depuração completa do espírito. Toda imperfeição é uma causa de sofrimento, da mesma forma que toda qualidade adquirida é uma causa de satisfação e de atenuação dos sofrimentos; donde resulta que a soma da felicidade e da infelicidade está na razão da soma das qualidades boas ou más que possui o espírito.

Todavia, nos atentemos para o estudo da primeira edição de o livro O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo e de o livro A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, eis que sobre tal edição não pairam as adulterações constatadas nas 4ª e 5ª edições dos mencionados livros, respectivamente.

Outra informação obtida através do método da universalidade dos espíritos, e que compõe a doutrina espírita é que os espíritos se reúnem por uma espécie de afinidade (não associada à ideia de afinidade meramente material) e formam grupos, de acordo com a resposta 278 de O Livro dos Espíritos:

278. Os Espíritos de diferentes ordens estão misturados? – Sim e não; quer dizer, eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Afastam-se ou se aproximam segundo a semelhança ou divergência de seus sentimentos, como acontece entre vós. É todo um mundo, do qual o vosso é o reflexo obscuro. Os da mesma ordem se reúnem por uma espécie de afinidade, e formam grupos ou famílias de Espíritos unidos pela simpatia e pelos propósitos; os bons, pelo desejo de fazer o bem; os maus, pelo desejo de fazer o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se encontrarem entre os seres semelhantes a eles. Igual a uma grande cidade, onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e se encontram, sem se confundirem, onde as sociedades se formam pela similitude de gostos, onde o vício e a virtude se acotovelam, sem se falarem.

Na Revista Espírita maio/1858, sob o título Metades Eternas , o espírito São Luís também deixa interessantes apontamentos: 

“Não. Não existe uma união particular e fatal de duas almas. Existe a união entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes, segundo a posição que ocupam, isto é, segundo a perfeição adquirida: quanto mais perfeitos, mais unidos. Da discórdia brotam todos os males humanos; da concórdia resulta a felicidade completa.

(…) 3 ─ Uma vez unidos, dois Espíritos perfeitamente simpáticos permanecem unidos para a eternidade ou podem separar-se e unir-se a outros Espíritos? Todos os Espíritos estão unidos entre si. Falo dos que chegaram à perfeição. Nas esferas inferiores, quando um Espírito se eleva, não é mais simpático àqueles que deixou. 4 ─ Dois Espíritos simpáticos são o complemento um do outro ou essa simpatia é o resultado de uma perfeita identidade? A simpatia que atrai um Espírito para outro resulta da perfeita concordância de suas inclinações e de seus instintos. Se um devesse completar o outro, perderia sua individualidade.”

Essas são reduzidas reflexões a respeito do assunto. E quais são as suas? Quais textos você conhece que poderiam ampliar nossos estudos? Bora estudar conosco?!

Fontes de estudo:




Carta Psicografada do diretor da Chapecoense

Surgiu, recentemente, uma suposta carta psicografada do diretor da Chapecoense. O assunto é cansativamente repetitivo: sempre que acontece uma tragédia, seja individual, seja em grupo, que chama a atenção da sociedade, aparece uma suposta psicografia que, por falta de cuidado do Movimento Espírita, não por acaso vem repetir as falsas ideias ligadas aos dogmas da queda pelo pecado e do pagamento de dívidas, carma, castigo, lei do retorno, etc, já de muito superados pela ciência espírita desenvolvida pelos estudos de Allan Kardec.

Veja um trecho da suposta psicografia:

“O que parece ser injustiça, quando visto de cima, todas as ideias e conceitos sobre o divino são repensados, refeitos, colocados em testes, em refazimento. Quero primeiramente que saibam que nada acontece por acaso. Não existem vítimas no Universo. Colhemos o que plantamos. Aprendo aqui que esta é a lei universal e inalterável, (…) a lei da ação e reação […] Estávamos juntos em outras vidas e provocamos vários desastres aéreos no tempo das guerras. E a boa justiça divina nos chamou para o acerto!”.

Não cansamos de destacar o quão falsa é essa ideia, como já tratamos em extensão por mais de uma vez ((refira-se aos artigos “Lei de ação e reação, lei do retorno, carma: por que sofremos, segundo o Espiritismo?“, “Karma (ou carma), castigo, pecado e punição: como Kardec abordou tudo isso em A Gênese“, “O Espiritismo frente às guerras“)).

Não repetiremos aquilo que já dissemos nos artigos citados. Apenas lembraremos: cuidado, espíritas, pois os Espíritos enganam aos desavisados, a maioria dos médiuns e dos trabalhadores que não estudam a Doutrina Espírita. A esses, reproduzem comunicações carregadas de falsos conceitos, com um só objetivo: manter as mentes que as aceitam cegamente afastadas da verdadeira moral espírita, que é autônoma e que se pauta pelo princípio do progresso sucessivo.

São ideias repetidas por “professores” do Espiritismo, com canais e grupos repletos de centenas de milhares de pessoas, e que poderiam fazer um bem enorme a si mesmos e à sociedade, mas que escolhem vendar os olhos e tapar os ouvidos ao estudo necessário, por crerem já saber de tudo, posto que estão até mesmo “ensinando” os outros.

São, aliás, indivíduos que não pensam no grande mal que fazem ao Espiritismo e ao desrespeito a essas famílias, julgando os entes falecidos, quando lhes afirmam “criminosos do passado“.

A Justiça Divina não se pauta por cobrar dívidas, mas, sim, por permitir que todos os Espíritos cheguem ao destino, que é a perfeição relativa, pelo esforço próprio, consciente e autônomo. Portanto, supostas psicografias como essa suposta carta psicografada do diretor da Chapecoense só podem ser uma de três coisas:

  • Frutos de um Espírito obsessor ao qual o médium se entrega;
  • Frutos de um Espírito inferior, com quase nenhuma capacidade de compreensão do mundo espírita e apegado a velhas ideias religiosas;
  • Frutos da opinião do próprio médium.

Em qualquer do caso, a suposta psicografia deve ser sempre analisada por outras pessoas, conhecedoras do Espiritismo, e apenas colocadas a público quando verificadas importantes e racionais para o interesse geral.

O Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec repudia esse tipo de ato inconsequente, que a cada dia mais afasta do Espiritismo aqueles que, julgando pelo que veem reproduzido pelo Movimento Espírita, ausente dos estudos, não se conformam com tais disparates e com a ausência da razão e da caridade na Doutrina que diz primar por esses dois princípios fundamentais.




O silêncio do Movimento Espírita ante os temas sociais

Muitos tem falado num silêncio que o Movimento Espírita precisaria romper com relação à política. Devemos lembrar, é claro, que o silêncio do Movimento Espírita não se reflete tão-somente ao cunho político, mas é um silêncio generalizado ante à própria Doutrina, que recentemente se agita sob os estudos das obras originais de Kardec e das obras que retomam conhecimentos esquecidos no tempo.

É, claro que, no que tange à política, nós jamais estaremos apoiando quem quer que vise ligar o Espiritismo às ideologias, sobretudo quando essas ideologias não se pautam pelas ideias que expressaremos a seguir.

São várias as iniciativas que estão buscando se contraporem ao silêncio citado. Somente de grupos de estudos, conhecemos três ou quatro bastante fortalecidos, além dos papéis dos pesquisadores atuais, dentro os quais não é possível deixar de destacar Paulo Henrique de Figueiredo, em seu extenuado trabalho de recuperação das informações desconhecidas, principalmente aquelas relativas à moral autônoma e ao espiritualismo racional, bem como no trabalho tão importante que é retomar as obras originais de Kardec, não adulteradas.

Pois bem: esse trabalho, que prima pela questão da autonomia, toma por base inquestionável o poder de escolha autônoma que o Espírito deve ter. Não faltariam as citações, na obra de Kardec, dele e de Espíritos diversos, a esse respeito: o Espírito, para se modificar realmente, precisa agir por sua livre vontade e pela razão, sendo que esta dá base à outra. Não existe nenhuma iniciativa, política ou não, que tenha obtido sucesso em qualquer mudança social, duradoura e real, por menor que ela seja, com base na autoridade, apenas. É por isso que vejo sempre com muito cuidado o assunto da política atrelado a qualquer pensamento espírita: ele deveria, inexoravelmente, ser pautado pelo princípio da moral, aplicada às relações, desde os primeiros passos da criança sobre este planeta.

Não canso de destacar, e esta será sempre minha bandeira, após compreender o Espiritismo em sua essência: a transformação social somente se dará pela transformação do indivíduo, através da educação familiar e escolar. É para isso que precisamos voltar TODOS os nossos esforços, dentro e fora da política, sendo que o último seria um meio eficaz para fazer retornar à sociedade a moral pautada pelo Espiritualismo Racional, que compreende e distingue a diferença entre felicidade e infelicidade, que são características dos avanços da alma em direção ao bem, das emoções e dos prazeres, que são puramente materiais. É esse o entendimento que falta. O homem deixará de viver sob as pontes quando ele entender que depende de si mesmo, e de ninguém mais, seu progresso, e quando os demais compreenderem que a caridade é um dever moral e desinteressado, indo muito além da esmola que humilha as partes.

Voltemos nossas inteligências a esse propósito, prezados irmãos! As crianças continuam se tornando jovens e adultos repletos de imperfeições adquiridas, ou daquelas não corrigidas, em grande parte puramente pelos maus hábitos da educação, simplesmente porque ninguém está atento à necessidade urgente de chamar à razão a família e todos os funcionários da educação, pública e particular. Kardec via com olhos radiantes o futuro, porque acreditava que o modelo educacional, pautado pelo Espiritualismo Racional, continuaria a florescer e a se espalhar… Mas o apagar das luzes do século dezenove também jogaram nas sombras as filosofias que elevavam a alma acima da puerilidade da matéria.

Precisamos retroceder e entender Rousseau, Pestalozzi, Rivail, Biran, Janet e tantos outros livres-pensadores que jamais desejaram provocar as mudanças pela força, pois cedo perceberam que ela, em realidade, apenas produz agastamento e irritação. Diria Rivail, em seu “Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública”:

“A criança irritada, e não persuadida, se submete somente à força; nada lhe prova que ela agiu mal; ela sabe apenas que não agiu conforme a vontade do mestre; e esta vontade ele a considera, não como justa e razoável, mas como um capricho e uma tirania; ela se acredita sempre submetida ao arbítrio. Como se faz com que ela sinta comumente mais a superioridade física do que a superioridade moral, ela espera com impaciência ter ela própria bastante força para se subtrair a isso; daí este espírito hostil que reina entre os mestres e os seus alunos.”

Assim será, porque assim é, em qualquer aspecto do Espírito. Rivail não pensava nisso, quando escreveu essa obra, mas nós hoje sabemos, como ele veio a saber depois: a criança está animada do mesmo Espírito do adulto, apenas pouco mais limitado em suas percepções e capacidades. É o seu Espírito, portanto, e não seu corpo, que não se submete à força. Lembremos disso.

Paulo Degering Rosa Junior




O aborto e o Espiritismo: a REALIDADE sobre o assunto

Prezado leitor, o tema do aborto está em alta… E quantas opiniões absurdas, emitidas como “visão espírita do aborto”, chegamos a ver, sobre isso, no Movimento Espírita (que, hoje, não representa o Espiritismo)! “Mulheres que são inférteis é porque estão pagando por abortos em vidas passadas” é apenas um deles. Lembramos sempre: não existe carma, nem lei do retorno, nem pagamento de dívidas, nada disso.

Esses dias o tema voltou plenamente à ativa, por conta do caso da menina de Santa Catarina, que engravidou com 11 anos, e que dividiu a sociedade entre as opiniões, e não se deu menos no meio Espírita. Muitos, guiados por falsas ideias implantadas no Movimento, falam em pecado, carma, dívidas… Enfim, como já apontamos, nada disso existe em verdade, e o Espiritismo explica isso muito bem.

Vamos retomar O Livro dos Espíritos, verificando o que há, nele, sobre o assunto:

357. Que conseqüências tem para o Espírito o aborto?
“É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.”

358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja,
cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que
impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se
estava formando.”

359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe
dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe

KARDEC, Allan. Grifos meus.

No estudo do Espiritismo, jamais se pode tomar um trecho isolado como regra geral. É preciso entender o todo, pois os Espíritos superiores frequentemente respondem objetivamente a uma pergunta, complementando-a ou esclarecendo outros pontos em outro momento. Ao não realizar o estudo dessa maneira, veríamos contradições que, na verdade, não existem.

Os Espíritos, na época de Kardec, frequentemente utilizavam a palavra “crime” para destacar qualquer ato que tomamos contra a Lei Natural. Contudo, o Espiritismo não é uma doutrina de dogmas, mas, sim, uma doutrina científica e racional. Ora, sendo que o fato da gestação possa colocar em risco a mãe, não é mais justo preservar a vida da mãe, que, talvez, poderá inclusive tentar uma nova gravidez? É importante lembrar que o progresso do Espírito é ininterrupto e, se não for possível aquela existência, ele precisará escolher uma outra.

Há, porém, o pensamento materialista que impera atualmente, a respeito do aborto, e que, fazendo do ser humano simples máquina biológica, quer transformar a prática em algo banal. Isso é um erro, é claro, mas digamos que o fato se dê, e que se torne legal a realização do aborto pela simples vontade da mãe. Quais serão as consequências, então, para os envolvidos, perante a lei de Deus?

Já vimos que, para o Espírito do feto, haverá a necessidade de reiniciar o planejamento encarnatório, o que nunca é fácil. Mas e para a mãe, que pratica o ato? Ela, segundo lemos acima, estaria incorrendo em crime contra a lei divina. Haverá, portanto, condenação?

É preciso lembrar, caro leitor, que não existe condenação, e que a punição é sempre um efeito da consciência do Espírito sobre o ato praticado. Ao praticar um erro por muitas vezes, o Espírito pode adquirir uma imperfeição, que o fará sofrer e, eventualmente, se arrepender e buscar reparação (em si mesmo). Sobre esse assunto, recomendamos ao leitor assistir os estudos travados neste vídeo, com Paulo Henrique de Figueiredo. Mas, e se o indivíduo não está consciente daquilo que faz?

Uma mulher pode, por exemplo, sem planejar, engravidar. Estando afastada da compreensão das leis divinas, e não desejando ter aquele filho, pratica, então, o aborto, em qualquer estágio da gestação. Ela nem pensa sobre isso, porque, para ela, é algo simples e sem implicações. Tecnicamente, cometeu um “crime”, mas qual será seu sofrimento perante isso? Talvez nenhum, ao menos até que, pelo entendimento, seu pensamento mude. Mas, nesse caso, talvez, quando ela entenda o erro que fez, e que nunca mais tenha cometido, já esteja tão adiante, que somente restará um arrependimento, mas que não necessariamente gerará sofrimento. É um erro. Nós erramos em nosso progresso. O problema é repetir o erro conscientemente.

Outro caso seria o da mulher que, entregue às emoções, frequentemente, por ato inconsequente, engravide e que, toda vez que engravide, aborte. Ela estará, toda vez, abortando o planejamento de um Espírito, mas o quadro demonstra que o que ela faz surge de um desconhecimento e também de um afundamento nos prazeres da matéria. Vê o caminho que ela precisará percorrer, até alcançar o entendimento de que aquilo que ela faz é errado? Ela precisará “pagar” pelo que faz? Não, é claro, porque, presentemente, ela já sofre pelos efeitos de sua forma de pensar e agir, que a afastam do bem — mesmo que não esteja consciente disso. Pode ser que, quando adquira consciência e entenda seu erro, escolha um gênero de vida que lhe leve a lutar diretamente contra suas imperfeições, como também pode ser que, dependendo de suas crenças, se sinta tão culpada que escolha reencarnar sem a possibilidade de ter filhos, o que pode ser mais ou menos útil na sua expiação, isto é, no processo de vencer aquelas imperfeições.

E no que tange ao Espírito do feto abortado? Ficará triste, irritado? Odiará a ex-mãe? Desejará vingança? É claro que tudo isso depende do seus graus de entendimento e de evolução, tudo dependendo de suas escolhas.

Em tudo, no que tange às transgressões da lei divina ou natural, os efeitos e as possibilidades são infinitas, porque dependem do nível de consciência do indivíduo sobre o que faz. É fato que o aborto impensado e generalizado é um erro profundo para o Espírito, mas isso se dá, penso eu, muito menos pelo ato em si, e muito mais pelo contexto que leva o erro a existir, e que é sempre fruto de um completo desconhecimento da moral espiritualista. Quem pratica o aborto de forma inconsequente quase sempre demonstra um pensamento materialista que, com certeza, em diversos aspectos da vida, faz o indivíduo sofrer.

Muito melhor do que ficar querendo adivinhar, pela visão presente de um sofrimento, a infinitude de possibilidades pretéritas que o originou, é buscar estudar o Espiritismo, em Kardec, e espalhar o conhecimento. Se a maior parte do mundo conhecesse a Doutrina Espírita e a avaliasse racionalmente, não estaríamos aqui falando sobre isso. Enquanto, porém, a humanidade estiver mergulhada no materialismo ou no dogma, que leva ao materialismo, os mesmos erros e as suas consequências penosas continuarão sendo perpetrados.

É claro que o Espiritismo não pode ser a favor do aborto facilitado. De certa forma, não podemos ser a favor da legalização dessa prática. Mas, então, caímos na velha discussão: até que ponto o Estado pode interferir nas decisões individuais que, pelo menos sob a ótica materialista, afetam apenas o indivíduo em si? Constatamos, uma vez mais, que a luta política não modificará a sociedade pela imposição. A transformação tem que vir da base, desde a infância, através da educação, abarcando a moral e a racionalidade.




Conselhos para a formação de grupos espíritas, por Allan Kardec

Deixamos abaixo, pelo interesse despertado, os conselhos dados por Allan Kardec, em 1862, a respeito da formação de grupos Espíritas, dados em ocasião da Viagem Espírita de 1862.

Em várias localidades solicitaram-me conselhos para a formação de grupos espíritas. Tenho pouca coisa a dizer a respeito, além das instruções contidas em O Livro dos Médiuns. Acrescentarei apenas algumas palavras.

A primeira condição é formar um grupo de pessoas sérias, por mais restrito que seja. Cinco ou seis membros esclarecidos, sinceros, penetrados das verdades da Doutrina e unidos pela mesma intenção, valem cem vezes mais do que a inclusão, nesse grupo, de curiosos e indiferentes. Em seguida, que esses membros fundadores estabeleçam um regulamento que se tornará em lei para os novos aderentes.

Esse regulamento é muito simples e quase só comporta medidas de disciplina interior, pois não exige os mesmos detalhes requeridos para uma sociedade numerosa e regularmente constituída. Cada grupo pode, pois, estabelecer-se como bem o entenda. Todavia, para maior facilidade e uniformidade, darei um modelo, que poderá ser modificado conforme as circunstâncias e as necessidades do lugar. Em todo o caso, o objetivo essencial proposto deve ser o recolhimento, a manutenção da mais perfeita ordem e o afastamento de qualquer pessoa que não estivesse animada de intenções sérias e pudesse transformar-se numa causa de perturbação. Eis por que nunca se seria demasiado severo em relação aos novos elementos a serem admitidos. Não temais que essa severidade prejudique a propagação do Espiritismo. Muito ao contrário: as reuniões sérias são as que fazem mais prosélitos. As reuniões frívolas, as que não são conduzidas com ordem e dignidade, nas quais o primeiro curioso que aparece pode vir despejar suas facécias, não inspiram nem atenção, nem respeito e delas os incrédulos saem menos convencidos do que ao entrarem. Estas reuniões fazem a alegria dos inimigos do Espiritismo, ao passo que as outras são o seu pesadelo e eu conheço pessoas que veriam de bom grado a sua multiplicação, contanto que as outras desaparecessem. Felizmente, é o contrário que acontece. É preciso, além disso, persuadir-se de que o desejo de ser admitido nas reuniões sérias aumenta em razão da dificuldade. Quanto à propaganda, ela se faz bem menos pelo numero dos assistentes, que uma ou duas sessões não podem convencer, do que pelo estudo prévio e pela conduta dos membros fora das reuniões.

[…]

Tampouco deveis recear a admissão dos jovens. A gravidade da assembleia refletir-se-á em seu caráter; eles se tornarão mais sérios e ainda cedo poderão haurir, no ensino dos bons Espíritos, esta fé viva em Deus e no futuro, esse sentimento dos deveres da família, que os tornarão mais dóceis, mais respeitosos, e que modera a efervescência das paixões.

[…]

Recentemente formaram-se alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar: são os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou nada das manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos, de ‘O Livro dos Médiuns’ e de artigos da Revista Espírita((O estudo da Revista Espírita, sendo realizado por este grupo, pode ser melhor entendido aqui e acompanhado em nosso canal, aqui)).

Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados.

Para isso não se tem necessidade de ser orador ou professor; é uma leitura em família, seguida de algumas explicações sem pretensão à eloquência, e que está ao alcance de toda gente.

[…]

Espero que não achem ruim que eu indique essas obras como base do ensino, uma vez que são as únicas em que a ciência espírita está desenvolvida em todas as suas partes e de maneira metódica((Em 1862, essas eram as obras existentes e publicadas. Hoje, com a restauração das versões originais de O Céu e o Inferno e A Gênese (editora FEAL), recomenda-se também o estudos dessas, sobretudo para o entendimento da parte filosófica da Doutrina Espírita. O Grupo de Estudos Espiritismo Para Todos (EPT) está desenvolvendo um grande e rico trabalho de estudos dessas obras (conheça mais clicando aqui))).

[…]

Eis um outro hábito, cuja adoção não é menos útil. É essencial que cada grupo recolha e passe a limpo as comunicações obtidas, a fim de a elas facilmente recorrer em caso de necessidade. Os Espíritos que vissem desprezadas suas instruções logo abandonariam as reuniões; mas é necessário, sobretudo, que se faça à parte uma coletânea especial, organizada e clara, das comunicações mais belas e mais instrutivas, e reler algumas delas em cada sessão, a fim de aproveitá-las melhor.




Carta do Espírito de Allan Kardec a Gabriel Dellane

Poucos sabem, mas Kardec não ficou em silêncio após sua morte. O livro Beacoup de Lumiere (Muita Luz), de Berthe Fropo (clique aqui para baixar), apresenta algumas de suas comunicações pós-morte, sempre em tom de extrema concordância com sua forma de se expressar, sempre séria, mas gentil e fraterna.

Em 18 de maio de 1882, uma comunicação muito tocante, no que tange à Doutrina Espírita, foi dada a Gabriel Dellane, que reproduzimos abaixo na íntegra:

Por algum tempo eu estive convosco, feliz por vê-los resolvidos a retomar valentemente o vosso papel de propagador da fé espírita.

A doutrina, por assim dizer, ficou adormecida desde a minha partida. Era impossível que fosse de outra forma, já que meu desaparecimento súbito não me deu tempo para realizar os projetos que havia feito e que permitiria a uma coletividade homogênea continuar o trabalho que havia sido iniciado. Então, as desgraças que surgiram em nossa querida pátria obrigaram cada um a trabalhar materialmente para melhorar sua própria situação e a de nosso querido país. Pois deve-se admitir que a maior parte dos espíritas, sendo como os primeiros apóstolos, sem fortuna, tem o dever de prover as necessidades diárias de suas famílias.

Essa é uma obrigação da qual ninguém tem o direito de escapar. O trabalho é uma lei imposta ao homem pelo Criador, é importante realizá-lo. Por conseguinte, era preferível ao espiritismo que continuasse a se espalhar entre as famílias sem brilho, em vez de ser desviado do seu verdadeiro caminho, que é o estudo dos fatos e o reconhecimento das manifestações dos desencarnados que viveram na terra.

Não tenhais medo de chamá-los, não importa o quão grande eles vos possam parecer, e qualquer papel que possam ter realizado aqui embaixo; quanto mais evoluídos forem eles, mais fácil é que eles se entreguem ao vosso chamado, o envelope perispiritual do espírito tendo sido banhado no fluido ambiental do planeta, conserva nele, eternamente, a faculdade de ir a todos os lugares onde a lembrança o chama, e especialmente quando este espírito cumpriu um papel missionário em um desses mundos onde ele é desejado. Quanto mais o espírito é elevado, mais lhe é fácil atravessar os espaços. O espírito pode percorrer todos os mundos em que viveu, com tanta facilidade quanto é para vós ir de um país a outro, sem que sejais obrigados a deixar uma parte de vós mesmos no caminho; se, por exemplo, vós viajardes do norte para o sul, vós deixareis uma roupa quente para colocar uma nova fresca; vós vos ajustareis ao ambiente em que vos encontrais, e nada será capaz de se opor à vossa transformação transitória, se vós tiverdes sido precavidos. É o mesmo com os espíritos superiores, tendo adquirido a onipotência sobre a matéria, eles a transformam como desejam sem que nenhuma lei se oponha. Quem diz espírito superior, diz humildade, amor e caridade. Exemplo: Cristo veio encarnar em uma família humilde e pobre. Ele teve os seus motivos. Foi para nos mostrar que não devemos ter medo de chamá-lo para nós, pois era o ambiente que ele preferia. Não tenhais medo de chamar todos aqueles por quem tenhais grande simpatia. Eles sempre estarão felizes com vossaS evocações.

Estou jubiloso com o despertar que se opera e vos devo dizer que a ele não estou indiferente; tampouco ao novo conhecimento que vós fazeis desses caros amigos, repletos de boa vontade e que farão tudo o que lhes for possível para levar a obra a um bom fim. Mas eles precisam ser ajudados e assistidos.

É dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso; portanto, meus amigos, eu conto convosco. Sei o quanto amais nossa querida filosofia e o quanto desejais vê-la triunfar; eis porque vos disse essas coisas; são conselhos de amigo que vos dou, sabendo que vos agradarei, e que vós vos esforçareis para trabalhar pela obra de regeneração à qual me devotei, Sublime missão que é a de ensinar aos seus irmãos o caminho da felicidade que é aquela, como dizia o Cristo, “da vida eterna”.

Retornem, portanto, corajosamente à luta; quanto mais trabalharem pelos outros, mais lhes será dado por vós mesmos.

Somente se pode julgar uma causa quando se estudou bem sobre a mesma e quando a ela se está bem identificado. É o mesmo caso do trabalho. Para conhecer-se as leis, é necessário trabalhar por si mesmo, se se quer raciocinar com precisão e ajudar a resolver a maior questão do século, que é a compreensão do trabalho e do capital.

Ah! se os homens encarregados da marcha do progresso desejassem se ocupar seriamente do espiritismo, que poderosa alavanca eles teriam tido em suas mãos!

O capítulo das responsabilidades é o único capaz de fazer bem compreender os trabalhadores e cavalheiros que eles são semelhantes aos poderosos, mas que não é somente a si mesmos que devem a situação momentânea que ora ocupam, situação essa que eles poderão melhorar facilmente no dia em que compreenderem a lei de reencarnação. Trabalhai, portanto, incansavelmente e com coragem para o edifício social e moral de nossa doutrina; os meios vos serão dados. A hora chegou, a ocasião se apresenta hoje, secundai-a, queridos amigos, com toda a vossa força; apelai-nos. Organizai-vos em um comité. Lede, relede, comentai todos os fatos que vos sujeitem e cuidai bem para não serdes absolutos sobre qualquer outro ponto que não aqueles fundamentais, quer dizer, a crença nas manifestações e na reencarnação. Não avançai os fatos que estejam sob reserva. Em uma palavra, fazei como eu fiz. Vós me vistes ao trabalho.

Allan Kardec. Grifos meus.

Nada mais claro e belo. A Doutrina carece de defesa, e precisa do esforço individual de cada um de nós.

Em seguida a esta comunicação, houve este complemento:

Não desejo fatigar o médium. Entretanto, eu vos exorto a ir ver minha cara esposa. É necessário no interesse da doutrina (isto para vós, pessoalmente). É bem difícil julgar o coração humano, porque se ele tem suas horas de desfalecimento, também as tem de refazimento. Ide, pois, sem tardar, e vós me sereis muito agradáveis.

Allan Kardec

Cremos importante citar, também, os dois parágrafos seguintes, da autora, que dão complemento a essa comunicação apresentada:

Apesar dessa urgente injunção, o senhor e a senhora Delanne permitiram passar o mês de julho sem se perturbarem; somente no final do mês de agosto, a partir das novas comunicações, dizendo-lhes o quanto o retardo deles era prejudicial à doutrina, que eles foram lá e Madame Kardec acolheu-os com uma profunda alegria; ela viu, finalmente, o amanhecer daquela sociedade há muito tempo prometida. Eles lhe propuseram ser a presidente, mas ela recusou, em razão dela já estar bem doente. “De coração, estou convosco”, disse-lhes ela, porém, recusava-se a combater “e destruir a sociedade que fundamos, meu marido e eu. Eu vos darei uma presidente, minha melhor e mais fiel amiga, reflexo de mim mesma, e permanecerei neutra”.

Sr. Delanne lhe contou que na Bélgica temia-se uma cisão inquietante para a doutrina, que um espírita muito zeloso queria fazer do espiritismo uma religião com culto e cerimônias. Ela rejeitou essa ideia energicamente, dizendo: “Se o espiritismo transformar-se em uma religião, nós não seremos mais do que uma seita, e a doutrina, esta bela filosofia, perder-se- á”. Ela também rejeita a palavra federação, que soava mal aos ouvidos depois da comuna. Ficou estabelecido que nós faríamos um apelo a todos os espíritas sinceros, elaboraríamos o estatuto e que a sociedade receberia o título de “União Espírita Francesa“.

Berthe Fropo

Amigos, a comunicação e os fatos supracitados não poderiam ser mais contemporâneos. Quanto tempo mais deixaremos o tempo passar, sem fazer nada? Quanto tempo mais deixaremos no esquecimento o trabalho de Allan Kardec, tão sério e tão importante, na transformação da humanidade? Muito criticamos os Espíritos que desvirtuam o Espiritismo com suas falsas concepções da Doutrina, mas que seriam eles, senão meras vozes que poucos escutam, se a força da maioria estivesse sob o Espiritismo em sua essência – em outras palavras: se os espíritas estudassem?

Parafraseando Kardec, “é dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso“. E tanto nosso grupo, quanto o grupo amigo, Grupos de Estudos ESPIRITISMO PARA TODOS (EPT), carecemos de voluntários. Estamos bastante sobrecarregados!

Exemplos de auxílios que muito poderiam ajudar a todos nós:

  • compartilhamento de conteúdos nos grupos possíveis
  • criação de vídeos curtos, com trechos interessantes, para compartilhar nas plataformas de vídeos (tiktok, reels, etc).
  • criação de textos essenciais, linkando os vídeos de estudos e os textos abordados, de Kardec, para publicação nos nossos blogs (e outros)
  • extração de áudios para publicação nas plataformas de podcasts
  • outros

Se você puder ajudar e desejar se voluntariar a cooperar nesse importante trabalho, por favor, entre em contato através do WhatsApp: https://wa.me/5515998628392.

Mas, se você quer apenas estudar, clique aqui.