A joia cristalina, ofuscada pelo descuido

Ao iniciante espírita, disse assim uma colega:

– Comece pelas obras do Kardec. Depois Chico Xavier com André Luiz! Os livros do Luiz Sérgio também possuem grandes informações do mundo espiritual.

Ao que respondo:

– Se o “comece por Kardec” for realizado com um estudo sério, por anos a fio, passando inclusive pela Revista Espírita, ótimo, pois assim o indivíduo poderá entender e identificar os erros trazidos nas comunicações isoladas, a ponto de, por exemplo, compreender que Vale dos Suicidas, umbral e a Nosso Lar não passam de uma ilusão ou de uma criação de Espíritos em perturbação. Também poderá verificar que, apesar de muitos acertos, a obra de André Luiz tem erros, e que o livro Brasil, Coração do Mundo foi ditado por um ou mais Espíritos com a clara intenção de causar dano à Doutrina.

Como é muito difícil que o neófito espírita tome esse caminho compenetrado de estudos, eu, hoje, me abstenho totalmente de indicar qualquer coisa fora da “codificação”, preferindo recomendar que NÃO sejam lidas, senão depois do processo mencionado.

A Doutrina tem sofrido muito pela falta de empenho e de cuidado daqueles que dizem professa-la, de forma que, hoje, algo que antes era uma ciência, fácil de ser compreendida por aquele de boa vontade, tornou-se uma joia recoberta de inúmeras camadas de carvão e rochas, representadas pelo misticismo e pelos erros de opiniões, que precisam ser removidas para uma mera aceitação de se dedicar a estudá-la.

Desculpe, mas é isso. Tínhamos uma joia dilapidada, mas, por falta de cuidado e empenho, escolhemos recobri-la novamente, a ponto de quase não se enxergar mais seu brilho.

A prezada colega replica:

– Entendo sua opinião, mas tenho estudado muito essas obras e o que vejo é que uma obra prova a veracidade de outras! Mas sei que tem uma legião de espíritos inferiores influenciando e tentando acabar com a religião! Quando digo, Kardec, falo no Pentateuco!

Ao que respondo:

– Cuidado, pois a concordância dos Espíritos não é o único fator para construir a Doutrina. Muitos Espíritos podem passar a partilhar de uma mesma ideia errada, quando estão ainda na faixa de apego à matéria. Além disso, temos o problema das ideias fixadas paulatinamente no meio espírita e nos médiuns, que passam a traduzir as ideias do Espírito conforme as suas próprias.

Também não estamos falando de religião, mas de ciência espírita. Por isso a necessidade de cuidado, que não parte de uma opinião minha, mas dos fatos exaustivamente demonstrados por Kardec.

Revista Espírita, prezada amiga: lá está a compreensão da formação da Doutrina, dos passos tomados por Kardec, de suas observações sobre a psicologia dos Espíritos… Inclusive, lá ele conta que recebia milhares de comunicações espirituais, das quais, analisadas frente ao Espiritismo, poucas dezenas ou centenas eram aproveitáveis.

Essa ciência é seríssima, pois detém a chave para o avanço moral da humanidade. Atualmente, essa chave está bem enferrujada, por descuido.

E eu te provo esse ponto, em Kardec. Hoje a noite estudaremos a evocação do Espírito de Humboldt, apresentada na RE de junho de 1859. Em certa altura, temos o seguinte:

39. ─ A Geologia achará um dia os traços materiais da existência do homem na Terra antes do período adâmico?

─ A Geologia, não; o bom-senso, sim.

Esse Espírito, que foi um explorador, um cientista, não tinha informações ainda de que existiam os fósseis humanos datados de milhões de anos. Isso porque o Espírito não ganha sabedoria e conhecimento não adquiridos previamente, simplesmente por desencarnar. Assim, se suas palavras fossem levadas como regra, estaríamos, hoje, negando a existência desses fósseis.

E esse Espírito era até que bem esclarecido, humilde e em paz consigo mesmo. Imagine se ele estivesse em estado de perturbação, apegado a certas imperfeições e atavismos. Imagine o tipo de ideia e de ilusão ele poderia dizer. Imagine, enfim, pelo meio de que palavras o faria.

Espiritismo não se constrói sem metodologia racional de investigação. Esse é o problema que sempre temos alertado, relembrando o que Kardec demonstrou na prática.


Kardec não imaginou, não supôs, não pressupôs, não buscou opiniões sobre a forma como agiam os Espíritos e os cuidados que seriam necessários na comunicação com eles. Não: ele aprendeu na prática, e deixou esse aprendizado registrado para todos que queiram aprender, na Revista Espírita, de 1858 a 1869.

Kardec nem sequer supunha a existência de Espíritos após a morte do corpo. Foi a investigação dos fatos, que ele relutou em fazer, que o levou a essa constatação. Como, então, sondar algo que não se pode ver nem ouvir diretamente? Através da metodologia. Foi através da investigação cuidadosa que Kardec verificou que a reencarnação, cuja ideia ele relutou em aceitar, era um princípio fundamental, e foi através da mesma investigação que ele constatou que o Espírito que deixa a matéria não ganha sabedoria e conhecimento que não possuía. Repito: constatou.

Constatou, da mesma forma, que os Espíritos podem mentir, podem falar do que acham que sabem, sem realmente saberem, podem falar de suas ilusões que os perturbam, podem falar do que realmente sabem, por mais limitado que seja, e podem falar, quando são realmente superiores, de uma sabedoria superior, o que se atesta pela concordância, pela lógica e pela razão.

O Movimento Espírita está ruindo e, nesse processo, causando grande entrave na propagação do Espiritismo, justamente por não observar esse ponto mais que fundamental da psicologia espírita! É todo um prédio construído sobre pilares apoiados na argila, que, enquanto racha e afunda, compromete o solo abaixo.

Cada um tem a liberdade, garantida por Deus, de acreditar e concluir conforme a razão lhe convenha, ou mesmo conforme os apegos que escolhe cultivar. Contudo, ao dar compartilhar informações erradas sobre algo tão sério, torna-se responsável pelo efeito de suas ações, sobretudo quando o não conhecer deve-se a uma resistência em estudar e se flagrar errado.

É passada a hora de mudar essa mentalidade estagnada, mesquinha e egoísta. Queremos fazer o bem? Então, se temos, ao nosso alcance, a oportunidade de conhecer, conheçamos, porque, se podemos nos desculpar, ante nossa própria consciência, por produzir o mal por impossibilidade de acesso ao conhecimento, já não podemos fazer o mesmo quando esse conhecimento é constantemente apresentado em nosso caminho e, muitas vezes por vaidade e orgulho, escolhemos não conhecer, para continuar falando com base em nossas próprias opiniões.




Monólogos e Diálogos

Psicografia recebida:

Socorro! Necessito de ajuda! As trevas me consomem. Tirei minha própria vida e, agora, sinto-me perseguido por aqueles que me acusam de pecador. Meu pescoço dói muito e minha mente não consegue sair daquela cena fatídica, quando saltei da banqueta, em meio ao jardim, com uma corda no pescoço. Sofro muito! Sinto agora muita falta de ar… Estou no fundo do abismo! Será que nada fará parar essa dor? Padeço no inferno. Ajuda, ajuda…

Ante a isso, os ouvintes logo associaram a fala do Espírito com a ideia do Vale dos Suicidas e saíram a contar, por todo canto, sobre essa terrível comunicação de um Espírito que veio confirmar esse triste destino para aqueles que tiram a própria vida. Os dirigentes do grupo colocaram o nome desse Espírito em preces, esperando que possam auxiliá-lo, de alguma forma.


A mesma comunicação, em outro grupo espírita, dá lugar ao que segue:

Tomamos a decisão de evocar esse Espírito, a fim de nos esclarecermos sobre seu estado e, quem sabe, auxiliá-lo em alguma compreensão. Utilizamos, para isso, o método de Kardec, baseados no conhecimento haurido na Doutrina Espírita.

Evocação:

P. Ao Espírito-guia do grupo: seria proveitoso evocar o Espírito de Dimas, que se comunicou conosco no dia tal?

R. Sim, ele poderá oferecer uma boa oportunidade de aprendizado, que há de ser salutar para ele também.

[Ao Espírito de Dimas]

P: Gostaríamos de entender um pouco melhor sua situação, se lhe for possível descrevê-la.

R: Sofro, sofro muito… O inferno está ao meu redor… Me falta o ar…

P: Poderia nos dizer o porque de estar nessa situação?

R: Sou castigado pelo pecado de me tirar a própria vida.

P: Diz sofrer dores, mas como pode, se já não tem o corpo?

R: Não sei dizer, apenas sei que sinto o sofrimento vir do fundo de minha alma.

P: Arrepende-se do que fez?

R: Muito, o tempo todo! É um sofrimento incessante… Meus filhos me acusam e deploram a tragédia que impus sobre eles.

P: Poderia explicar o porquê de ter se imposto esse final trágico?

R: Eu sofria em vida, sofria por ter traído a confiança dos meus. A vergonha me avassalava a mente e eu não mais podia conviver com isso.

P: E sentiu algum alívio após o ato?

R: Não, tudo aumentou, aumentou muito! As cenas vexatórias me perseguem, e agora este inferno que me dilacera sem cessar…

P: Acaso já refletiu o motivo de seu erro primeiro, esse que te causa motivos de vexame?

R: Não… Espera… Eu era muito impulsivo. Não soube controlar os ímpetos materiais e me lancei aos braços de outra… Destruí meu lar! Oh! Não quero mais falar sobre isso.

P: De sua posição consegue avaliar melhor nossos intuitos?

R: Um pouco. Seu Espírito-guia me auxilia. Percebo que não vocês não têm curiosidade vazia e que são benevolentes.

P: Talvez pense um pouco demais de nós. De qualquer forma, não é nosso intuito julgá-lo, pois temos nossos próprios erros a lamentar.

R: Sim, entendo isso. Sinto-me mais confortável.

P: Perguntávamos sobre sua reflexão sobre o erro que te persegue. Perdoe-nos por tocar ainda nesse ponto, mas você por acaso o fez por vontade, isto é, de caso pensado?

R: Não… Não exatamente. Eu era fraco. Não refleti e me deixei levar pelos prazeres da matéria. Oh!, que vergonha!

P: Não cometeu de caso pensado. Se tivesse mais controle e mais conhecimento, pensa que teria resistido a esse erro e, depois, ao erro fatídico?

R: Muito provavelmente, mas é difícil dizer do que não conquistei.

P: Queremos dizer que, no fundo, nos parece que você cometeu ambos os erros por ausência de maior conhecimento e progresso, e não por mal.

R: Sim. Minha última vida foi muito voltada ao aspecto material, que era minha única preocupação. Não me dediquei a qualquer desenvolvimento espiritual, nem muito menos conhecia esse tal Espiritismo do qual se ocupam… Eu não quis fazer mal, apenas fui ignorante.

P: Não pensa, portanto, que esse sofrimento seja criado por você mesmo, que se persegue por remorso.

R: Sim, é possível…

P: Você disse que se arrepende, não é?

R: Sim, eu gostaria de não ter tomado as atitudes que tomei, mas me faltaram as forças…

P: Temos certeza que, com a ajuda dos bons Espíritos, você poderá encontrar novas forças e uma nova compreensão para, no futuro, escolher uma nova vida, onde poderá se dedicar a trabalhar sobre aquilo que te levou ao erro. Deus não é vingativo, e a punição é simplesmente o reflexo de nossas próprias ações.

R: Começo a perceber algo novo. Esperança, talvez.

P: Vê alguma modificação em seu estado?

R: Ainda é muito cedo para dizer, mas sinto algo diferente. Com a ajuda do seu Espírito-guia, entendo um pouco melhor o que me falou.

P: Ficamos muito felizes em poder partilhar daquilo que nos reconforta e nos reconduz ao bem. Diga-nos apenas mais uma coisa: aquela imagem descrita no início, quando disse estar no fundo do abismo, no inferno… Você se referia a uma paisagem real?

R: Não em todo. Usei de linguagem figurada, embora a descrição do inferno, para mim, fosse muito autêntica para o que vivo. Percebo agora que é tudo efeito da minha situação moral.

P: Então não era uma situação material.

R: Seu Espírito-guia me auxilia. Não em tudo, isto é, não era uma situação material como a que vocês imaginam, mas, dado que o Espírito materializa o que pensa, através do Fluido Cósmico Universal, pode moldar realidades perturbadoras, enquanto acreditar nelas.

P: Não desejamos mais importuná-lo com nossas perguntas.

R: Longe disto. Me ajudaram muito e, quem sabe, possam ter aprendido um pouco com minha infeliz história. Orem por mim, pois meu caminho de correção apenas começou.

P: Estará em nossas preces. Reconheça em nós amigos sinceros que se encontram no mesmo caminho evolutivo, tentando, acertando e errando. O importante é continuar.


Prezado leitor: as duas situações são hipotéticas e foram apenas criadas para demonstrar as formas de agir de cada grupo, sendo a primeira de um grupo que se guia por aquilo que tem dito o Movimento Espírita, e a segunda de um grupo muito bem compenetrado do estudo da Doutrina Espírita, sobre as obras de Kardec.

Qual foi o grupo que fez o bem com mais profundidade? Onde houve uma situação de real aprendizado para ambos os lados? Será que o médium que serviu a essa comunicação terminou passando mal, como dizem, ou, pelo fato de estar servindo ao bem, terminou como todos os médiuns que Kardec utilizada — apenas, talvez, fatigado pelo exercício físico? Será que devemos tomar como regras, frases descontextualizadas ou ausentes de conhecimentos? Você já viu que Kardec conversava com os Espíritos como se estivesse falando com uma pessoa qualquer, sem cerimônias, sem rituais, sem orações rebuscadas, com palavras enfeitadas de um amor que nem sequer se compreende? Por que tratamos os Espíritos como se fôssemos mudos? Por que não conversamos com eles? Por que, enfim, não estudamos, quando estamos envolvidos numa ciência tão profunda como é o Espiritismo?

Aos estudos. O bem nos aguarda!




E essa resistência, como anda?

E então, meu amigo, como anda essa resistência? Sim, essa mesma, de mergulhar sobre Kardec. Não mentiremos: não é fácil. Mas quem disse que aprender é fácil? Leva tempo e esforço, sim. Ah, falta tempo? Será que falta, mesmo? E esse tempo que você deve estar gastando vendo vídeos no Facebook ou no Instagram? Não, de forma alguma dizemos que relaxar de mente “vazia” não seja importante, sobretudo após um longo dia de trabalho… Mas será que não daria para encaixar uma leitura antes de dormir? Meia horinha, que seja, já ajuda muito. Ah, você aprende melhor ouvindo? Resolvido: hoje, os aplicativos como Google Books e Amazon Alexa fazem leitura instantânea, em voz, para você.

Não, de forma alguma nos colocamos na condição do aluno exemplar. Longe disso. Tem gente que está muito mais à frente, muito mais envolvida, muito mais dedicada. Mas cada um faz o que pode. A questão é que o “não posso”, muitas vezes, simplesmente dá lugar à ocupação inútil do tempo… E você já conhece aquele ditado: “mente vazia é oficina do diabo”. Não do diabo, propriamente, mas vai saber o tipo de companhia que nos rodeia quando nossa mente está apenas mergulhada nessa materialidade do dia-a-dia…

Será que, no fundo, o que existe não é uma resistência? Analise-se — não precisa contar para ninguém. Será que o que existe não é uma acomodação, porque é mais fácil acreditar no pouco que se sabe — nas próprias luzes, diria Kardec — ou naquilo que te dizem? Bom, aqui temos uma má notícia: a Criação é fundamentada na autonomia, e só existe um ser no espaço universal capaz de te fazer progredir — e não é Deus: é você mesmo. O progresso, porém, é feito de dois componentes: inteligência e moral. Para o Espírito progredir em moral, é necessário haver inteligência — não essa inteligência de um Einstein, mas a inteligência que raciocina, baseada em conhecimentos. E eis que a Doutrina Espírita, formada pelo estudo científico de Kardec (sim, científico) nos trouxe um conhecimento incrivelmente profundo e transformador.

Sim, eu sei: ler romances e histórias sobre lugares fantásticos é muito gostoso e ativa a imaginação. Mas será que a ausência dos estudos de Kardec, preferindo os romances, não se deve também a uma resistência de sua parte, ligada, quem sabe, a uma pontinha de orgulho em imaginar que detém a verdade — sobretudo quando se estudou essa “verdade” por décadas a fio?

Sim, eu também sei: é uma droga estar errado. Ninguém gosta de se constatar em erro. Mas, ei!, é assim mesmo: a evolução é baseada em tentativa e erro, ou em acerto. “Errar é humano”. O problema é se apegar ao erro. E, outra má notícia: ao estudar Kardec, sim, veremos que estamos, muitas vezes, apegados a uma série de erros flagrantes. Sim, é chato verificar que gastamos longas décadas aprendendo Espiritismo do jeito errado, mas, bem, quem não erra? Além disso, muito dificilmente teremos errado por vontade. Muitas vezes, a própria força das circunstâncias nos leva a isso: crescemos no meio, que aprendeu também da forma errada. O que tínhamos ao nosso alcance era o produto dessa cultura. Ok, acontece.

Não, a finalidade do Espiritismo não é a mediunidade, sobretudo essa mediunidade que só serve como telefone à espera de um chamado, bem como não é analisar a vida alheia para identificar se fulano está passando por tal dificuldade por ter, como muitos supõem, “chutado cachorro” na vida passado. Não.

Então, chegando a esse ponto, eu novamente pergunto: e essa resistência? Por que essa resistência? Os próprios Espíritos superiores — sim, também sinto dizer, mas a gente está bem lá no fim da fila, bem no primeiro degrau da escala evolutiva consciente — eles próprios dedicam um esforço muito grande, por caridade desinteressada, por dever moral, para nos ajudar a compreender. E a codificação está aí para isso. Mas — caramba, outra má notícia! — não basta ler O Livro dos Espíritos como código sagrado, nem abrir O Evangelho Segundo o Espiritismo aleatoriamente, seguindo as comunicações dos Espíritos como tábua da salvação, sem raciocinar. Não, sinto dizer. Espiritismo é ciência e, como ciência, é progressiva.

– Quer dizer que os Espíritos não deram algo pronto para seguirmos?

Não, de forma alguma, nunca. E isso está muito bem demonstrado naquela tal publicação que você certamente já ouviu falar, mas continua resistente em estudar: a Revista Espírita. Pois é. Essa publicação mensal, de 1858 a 1869, foi elaborada por Kardec com uma finalidade muito sábia: após O Livro dos Espíritos, ele precisava de uma forma de disseminar o conhecimento, ao mesmo tempo em que pudesse firmar correspondência com gente de toda parte, recebendo, assim, de toda parte, as confirmações ou as negações das comunicações dadas isoladamente pelos Espíritos. A Revista Espírita era o laboratório de Kardec, onde podemos compreender muito bem a formação da Doutrina Espírita, culminando, enfim, nas suas duas obras finais — O Céu e o Inferno e A Gênese.

Então, novamente, por que a resistência em estudá-la? Sim, já disse: eu sei que não é fácil, sobretudo se for sozinho, mas hoje temos a facilidade da comunicação instantânea pela Internet. Será que é mesmo assim tão impossível encontrar uma horinha da semana para um estudo em grupo? Reflita. Mas já adianto: não existe professor de Espiritismo. Cada um tem a liberdade de tomar conclusões racionais sobre o que conhece, sem dar, contudo, palavras finais sobre o que não está estabelecido. Isso não passaria de opinião, e opinião não é ciência, nem constrói nada além de erros religiosos, no sentido aqui abordado.

Mas será que essa resistência é medo? Medo de se ver em erro? Medo de perceber que já falou coisas erradas para outras pessoas? Medo, talvez, de notar que agiu errado e afastou pessoas da Doutrina, por expressar coisas erradas? Talvez? Bem, medo de se flagrar em erro é apego, e é uma capa protetora para algo muito mais profundo: o orgulho. Já dissemos: todo mundo erra. De nossa parte, você não faz ideia de quanto já erramos! Mas, de nossa parte, podemos dizer: como é bom perceber o erro em tempo, reconhecê-lo e, quem sabe, retomar contato com essas pessoas, dizendo: “eu estava errado, e tudo ou quase tudo o que eu te disse sobre o Espiritismo era falso. Veja, esta é a realidade.”.

No caminho da evolução, sempre haverá tempo. Nunca será tarde. Mas o apego nos faz viver por mais tempo afastados da felicidade. Fomos ensinados que estamos aqui pagar dívidas, como se a encarnação fosse um castigo? Bom, se o Espiritismo não apenas diz, mas demonstra o contrário, que ótimo! Fomos ensinados sobre uma vida plenamente material no mundo dos Espíritos, mas o Espiritismo demonstra ser isso uma ilusão do Espírito apegado? Bom, então não quero desenvolver esse apego! Fomos ensinados que não podemos evocar, mas apenas aguardar a comunicação dos Espíritos, às quais tomamos pela verdade, mas o Espiritismo demonstra que não é assim que funciona? Bom, então vamos corrigir e nos colocar no caminho novamente. Fomos ensinados que só se pratica Espiritismo no centro, mas Kardec demonstra uma realidade totalmente oposta — resguardada a necessidade de seriedade, conhecimento e propósito para isso? Bom, vamos perseguir essa realidade.

Podemos dizer, de nós: não temos medo de atestar nossa ignorância. Na verdade, o que tem se desacortinado à nossa frente sobre o Espiritismo, a nós, que mal podemos nos dizer estudantes aplicados, é maravilhoso, é empolgante, afasta o sobrenatural, derruba o misticismo e mostra que o Espiritismo tem uma profundidade nunca antes compreendida.

Vamos estudar? Estamos aqui para ajudar com o que pudermos! Quer dicas? Quer estudar conosco? Quer criar um canal de dúvidas e debate sobre aquilo que cada grupo estuda? Quer sugestões de como e por onde começar? Estamos aqui. Estamos longe de possuirmos o modelo ideal que se aplique a qualquer situação, mas já passamos por algum aprendizado, nesses quase dois anos de estudos. Conte conosco.

O estudo da Revista Espírita, logo no primeiro ano, desconstrói muitos erros inseridos no meio espíritas, sendo o mais sério e presente deles o hábito de nos guiar cegamente pelas opiniões de Espíritos isolados, mas também nos mostra muitas verdades antes desconhecidas, além de nos deixar com muitas dúvidas sobre outras coisas, dúvidas essas que somente serão respondidas com o estudo continuado dessa obra. Por isso a recomendação de que ninguém se coloque na posição de ter a palavra final, nem de tomar conclusões precipitadas. Conjecturar, com base em conhecimentos prévios, não é proibido. Chegar a conclusões distintas, também não é proibido. O que importa é buscar a construção conjunta do entendimento, em cooperação, e não em disputa. O importante é que o único meio de conhecer o Espiritismo é esse: estudando Kardec, de preferência de posse do conhecimento do contexto científico no qual a Doutrina Espírita se desenvolveu (vide Obras Recomendadas).

Você já parou para refletir sobre as oportunidades perdidas? No dia-a-dia, tendemos a esquecer que não estamos esquecidos, e que existe um bom Espírito frequentemente nos inspirando. Quantas vezes será que ele já não te levou ao contato de estudos importantes, e quantas vezes será que você já não deixou de lado essa oportunidade? Dizemos isso de nossa própria parte.

Então, chega de resistência, chega de culpar o que é externo, e vamos estudar?


Ps: não custa dizer que, na ilustração da capa, o diabinho é nosso próprio apego, que nos conduz ao mal, e não uma figura externa qualquer. Da mesma forma que escolhemos, por nossa própria vontade, não ouvir os bons conselhos dos Espíritos superiores, escolhemos ouvir ou não ouvir os maus conselhos dos Espíritos imperfeitos que afeiçoam a nós pelos nossos apegos.




CSI do Espiritismo: o órgão oficial da Verdade

CSI do Espiritismo, de Carlos Seth, tornou-se órgão oficial da Verdade.

por Paulo Degering R. Junior


Ao contrário de respeitar a lei mundial, no que tange ao direito moral do autor e que classifica, peremptoriamente, sob ponto de vista jurídico, a quarta edição de O Céu e o Inferno e a quinta edição de A Gênese como adulterações fácticas, indiscutíveis, o grupo conhecido como CSI do Espiritismo, através de uma argumentação repleta de furos e falta de lógica, dando palavras finais sobre o assunto e atropelando o ordenamento jurídico, diz que não houve adulterações.

Lá, no CSI do Espiritismo, de Carlos Seth, Adair Ribeiro e Luciana Farias, não se discute mais sobre o assunto. Apesar de o registro legal da publicação da quinta edição de A Gênese datar apenas de 1872, como eles encontraram um (só um) suposto exemplar dessa edição, mas com a data de 1869, numa biblioteca da Suíça (não da França, mas da Suíça), logo ligaram esse exemplar perdido ao fato de Kardec ter declarado estar preparando uma nova versão — como se isso pudesse ser utilizado como prova de conclusão e de correspondência. E, no balaio, junto vai a afirmação de que a grotesca — e evidente — adulteração de O Céu e o Inferno não existiu!

A lógica da Verdade absoluta (CSI do Espiritismo) é esta: se Kardec declarou estar preparando uma nova edição de A Gênese e se um exemplar, datado de 1869, com alterações no mínimo estranhas, foi encontrado (na Suíça), então é evidente que ele só pode ter sido publicado pelas mãos de Kardec (apesar dos problemas, logo na capa), e mente quem disser o contrário!

É claro que aqui existe um detalhe: o fato de que, tendo o Depósito Legal da 5.ª edição sido realizado apenas em 1872, quase três anos após a morte de Kardec, isso, per se, classifica uma questão legal importante — a de que qualquer alteração realizada após a morte de um autor implica em adulteração. Mas é claro que o Ministério da Verdade tem a resposta: o exemplar único, sabe-se lá por que, esquecido numa biblioteca suíça (e não francesa) é a prova cabal contra a questão jurídica (não é)!

Tem também o fato de a esposa de Kardec ter assinado a ata de 1873 (se não me engano) onde estaria dando ciência da publicação daquela edição… Mas que essa senhora de mais de 70 anos, em luto, tenha sido afastada de suas funções, por Leymarie, como demonstra Simoni Privato, e que essa edição não tenha sido publicada na França, nos primeiros anos, é claro que não vem ao caso. Parece-nos que foi tudo pensado para que essa adulteração não ficasse em evidência no território francês.

Seria lógico, para um pensador incauto, imaginar que o fato de não ser possível encontrar, na França, exemplares dessa nova edição, “Revisada, Corrigida e Aumentada”, deva-se ao fato de que, na França, isso poderia ser considerado uma contravenção — já que ela não tinha depósito legal — mas não para quem aceita a Verdade Inquestionável.

Como eles encontraram diversas evidências de que Kardec, antes de morrer, havia encomendado uma nova edição de A Gênese; como encontraram evidências de que essa nova edição havia começado a ser impressa; como eles verificaram que a própria viúva de Kardec, três anos depois, assinou um documento dando ciência sobre a distribuição dessa nova edição, eles concluíram, é claro, que seria absolutamente impossível que alguém tomasse os tipos móveis, após a morte de Kardec, e produzisse uma segunda versão, apresentando cada uma conforme conveniência, ou que tivessem dado sumiço na versão alterada por Kardec, ficando apenas com uma versão adulterada. Não, nada disso pode ter acontecido, segundo o CSI do Espiritismo.

Evidências, agora, são suporte para dar a palavra final sobre algo que não pode ser provado — e que eles afirmam que não pode ser provado. O que precisamos entender e aceitar, “de nosso lado”, é que Kardec ficou — ele que me perdoe — gagá, nos seus últimos anos! Que, apesar de ter realizado obras tão profundas e sábias, em termos científicos e filosóficos — O Céu e o Inferno e A Gênese — pouco após isso, deve ter tido algum tipo de síncope que o deixou lesado, a ponto de ir contra a direção dos Espíritos, que diziam que a obra estava ótima e que NADA deveria ser removido.

Minha opinião é que não há absolutamente nada de doutrina a ser retirado; tudo aí é útil e satisfatório sob todos os aspectos

[…]

É necessário deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público”.

No caso, além da demonstração jurídica da adulteração de A Gênese, também esta comunicação reforça o fato em razão das alterações doutrinárias identificadas na obra, com a supressão de diversos trechos em que Kardec critica a moral heterônoma do fanatismo religioso, dentre outras manipulações.

Ainda nesta comunicação, o espírito sugeriu também que ele trabalhasse sem pressa e sem dedicar muito tempo:

Sobretudo, não se apresse demais. (…) Comece a trabalhar imediatamente, mas não de forma exagerada. Não se apresse”.

AUTONOMIA. NCNI – Conselhos sobre A Gênese. Disponível em: https://espirito.org.br/autonomia/ncni-conselhos-sobre-a-genese/. Acesso em: 24 abr. 2023.

Kardec não só removeu pontos importantíssimos das obras, como o prefácio da nova edição de OCI (afinal, quem é que precisa de um prefácio explicando o caráter da obra e a propriedade que ela tem, como resultado do estudo da ciência espírita?), como fez um verdadeiro Frankenstein de AG, trocando ideias fundamentais antes declaradas e fazendo até mesmo referências a postulados que haveria de remover na nova edição de OCI. Logo ele, que, com uma habilidade assustadora, era capaz de conduzir uma linha de pensamentos perfeitamente encadeada entre vários números da Revista Espírita! Removeu um capítulo de OCI e transformou em lei do pós-morte aquilo que outrora dizia não ser possível tomar como lei — sem dar nenhuma explicação sobre isso!

Coitado do Kardec, deve ter soltado um parafuso de tanto falar com Espíritos. Segundo essa linha de pensamentos — a da Verdade Inquestionável — ele, por pouco, poderia ter se tornado um novo discípulo de Roustaing, tanto é que, segundo o Ministério da Verdade, devemos aceitar como fruto da mão de Kardec a inserção, no Cap. VII, item 10 do “Código Penal de Vida Futura” (sic), a ideia de que todas as vicissitudes que sofremos seriam expiações! Logo tu, Kardec, que sempre afirmou, consonante com os Espíritos, que a encarnação não é um castigo e que mesmo o Espírito que sempre escolheu o bem, ainda assim, precisa encarnar e passar por vicissitudes! Queria muito que Carlos Seth Investiga explicasse essa completa incongruência… Mas não precisa: devemos aceitar suas verdades sem questionar.

Pior: além de gagá, Kardec ficou MEDROSO. Ora, é a única coisa que podemos depreender da inquestionável verdade do CSI do Espiritismo, já que fez, n’A Gênese, pesadas assertivas sobre os adversários do Espiritismo, para depois removê-las na nova edição:

Dizer que a humanidade está madura para a regeneração não significa que todos os indivíduos estejam no mesmo degrau, mas muitos têm, por intuição, o germe das ideias novas que as circunstâncias farão desabrochar. Então, eles se mostrarão mais avançados do que se possa supor e seguirão com empenho a iniciativa da maioria. Há, entretanto, os que são essencialmente refratários a essas ideias, mesmo entre os mais inteligentes, e que certamente não as aceitarão, pelo menos nesta existência; em alguns casos, de boa-fé, por convicção; outros por interesse. São aqueles cujos interesses materiais estão ligados à atual conjuntura e que não estão adiantados o suficiente para deles abrir mão, pois o bem geral importa menos que seu bem pessoal — ficam apreensivos ao menor movimento reformador. A verdade é para eles uma questão secundária, ou, melhor dizendo, a verdade para certas pessoas está inteiramente naquilo que não lhes causa nenhum transtorno. Todas as ideias progressivas são, de seu ponto de vista, ideias subversivas e, por isso, dedicam a elas um ódio implacável e lhe fazem uma guerra obstinada. São inteligentes o suficiente para ver no Espiritismo um auxiliar das ideias progressistas e dos elementos da transformação que temem e, por não se sentirem à sua altura, eles se esforçam por destruí-lo. Caso o julgassem sem valor e sem importância, não se preocupariam com ele. Nós já o dissemos em outro lugar: “Quanto mais uma ideia é grandiosa, mais encontra adversários, e pode-se medir sua importância pela violência dos ataques dos quais seja objeto”.

KARDEC, Allan. A GÊNESE, 4.ª EDIÇÃO — EDITORA FEAL

Vai ver Kardec recebeu alguma carta ameaçadora — mais ameaçadora que as dezenas que deveria receber com ameaças. Ou então Kardec notou, enfim, seu erro em julgar que o Espiritismo fosse assim tão potente a ponto de despertar esse ódio implacável ao qual se referiu.

Bem, além de aceitarmos a Verdade Inquestionável do CSI do Espiritismo, aprendendo a deixar de lado esse negócio de “razão”, precisamos também aprender a enterrar certos autores, que nem sequer são citados pelo órgão representativo da verdade divina na Terra. Podemos até mesmo criticá-los, como fez Carlos Seth, mas não podemos, de forma alguma, utilizar seus vastos trabalhos de anos de pesquisa sobre Magnetismo, Espiritualismo Racional e Espiritismo. Jamais! Ao criticá-los, não devemos nem sequer citar nomes – vai que as pessoas despertem o interesse em ler as insanidades que diz esse tal “Paulo Henrique de Figueiredo”. Afinal, esse autor tem a ousadia de questionar o Ministério da Verdade, utilizando essa tal da “razão” e, afirmando que não consegue ver um Kardec tresloucado, diz que encontrou a plena concordância das ideias tratadas nas obras e na Revista Espírita com as primeiras edições dessas obras — edições essas que também não devem ser citadas.

Passemos uma régua por cima de todo esse imbróglio, e não mais falemos sobre isso. As evidências do “outro lado”, esse que “acredita” numa adulteração, devem ser sumariamente esquecidas, junto aos seus autores. Diferentemente do que dizia Kardec — que não podemos dar palavra final sobre aquilo que não pode ser provado — nós devemos aceitar a palavra final do CSI do Espiritismo. Desde que as evidências por eles encontradas tornaram-se expressão final da verdade inquestionável, todos — repito: todos — os argumentos do “outro lado” tornam-se automaticamente nulos! Aquele “caminhão” de argumentos trazidos por Simoni Privato em “O Legado de Allan Kardec”? N-U-L-O, pois diz Carlos Seth Investiga: “Nós demonstramos com FATOS que TODAS as evidências utilizadas para provar que “A Gênese” poderia ter sido adulterada NÃO se sustentaram”. Há quem discorde.

Ah, o FATO de Leymarie ter adulterado uma comunicação espiritual, em Obras Póstumas, removendo justamente o trecho em que o Espírito recomendava que Kardec não retirasse nenhuma ideia na nova edição de A Gênese também foi prontamente anulado pelas evidências do órgão da Verdade Inquestionável.

Também não devemos nem sequer trazer à tona esses argumentos contrários, pois do que é que vale, contra algumas evidências materiais, uma enorme quantidade de argumentos lógicos e o fato de que o registro, após a morte do autor, de uma edição alterada, configura adulteração? ? Absolutamente nada!

É claro que isso traz um “pequeno” problema, já que o Espiritismo não pode ser provado senão por meio da racionalidade, mas não devemos temer: o Ministério da Verdade com certeza terá uma solução para isso. Assim que o Espiritismo estiver um tanto mais minado pela desconfiança colocada sobre Kardec (quem, lembre-se, só pode ter ficado gagá) e pela descoberta de “fofocas da época”, obtidas mediante opiniões dos médiuns dissidentes, encontradas em documentos antigos, poderemos, quem sabe, passar um rodo sobre o Espiritismo “de Kardec” e fundar uma nova era de estudos históricos (não doutrinários, não morais, mas históricos, que é só o que importa para a Verdade Absoluta).

Mas não é tudo: devemos, além de declarar a nulidade de qualquer argumento em contrário, sem apresentá-los ao público, combater também qualquer ideia que venha da direção contrária, criticando obras sem nenhuma necessidade de compromisso científico. Se cometermos falácias, não tem problema. Afinal, estaremos combatendo a mentira e, para isso, devemos usar todas as armas.

Diz Carlos Seth, do CSI do Espiritismo:

Em meados de 1890 houve a consolidação da divisão entre o Espiritismo consolador e o Espiritismo científico, conforme já apontou o colega John Monroe.

A história se repetiu entre 2016 e 2020 agora no campo da moral, com o lançamento de livros que procuraram trazer pensamentos de Kant, Maine de Biran e Victor Cousin para dentro do Espiritismo, mesmo que para isso precisassem deturpar as ideias de Allan Kardec.

BASTOS, Carlos Seth. Bônus adicional – O final. Espíritos sob investigação. Disponível em: <https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L193.pdf>. Acesso em: 15/04/2023.

Sem sombra de dúvidas, Seth não leu absolutamente nada do que esse povo doido está falando por aí sobre o Espiritualismo Racional, nem leu a Revista Espírita, que é onde está firmada a base científica do Espiritismo, que ele parece criticar. Justamente na Revista Espírita, onde Kardec parece ter “perdido a cabeça”, ao afirmar o Espiritismo sendo um desenvolvimento do Espiritualismo Racional! Interessante é que a leitura (e o cuidado em não criticar o que não se conhece) faz se tornar evidente que o Espiritualismo Racional deu base ao Espiritismo, havendo um grande intercâmbio entre essas duas ciências, sendo que o Espiritismo vem dar a chave para aquilo que o Espiritualismo Racional não tinha como responder. Mas é aí que mora o problema: esse assunto é tratado por um autor cujo nome o Ministério da Verdade (CSI do Espiritismo) não permite nem sequer que seja citado — esse tal “Figueiredo”. Cito até a obra: “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”. Mas, por favor, não leiam esse livro, repleto de sandices! Devemos apenas colocá-la na sombra da inexistência, junto ao seu autor que, segundo o Ministério, está causando uma divisão no Espiritismo, “agora no campo moral”!

Se a Verdade Inquestionável age assim, é porque tem um motivo muito sério: é que esse autor pode dar aval às subversivas ideias da adulteração. Mostrando suas intenções malévolas e colocando seus livros no esquecimento, com algumas inofensivas e nada levianas afirmações falaciosas, age a Verdade em nome do Bem. Essas ideias de autonomia e Espiritualismo Racional — “racional” — se são tratadas por esse autor, ou são fruto de erro, ou devem apenas ser esquecidas, a fim de que, repetimos, não levem as pessoas a lerem as obras proibidas.

Preste muita atenção: a controvérsia sobre a adulteração das obras O Céu e o Inferno e A Gênese se mostrou inexistente! Sim, porque, para nós que aceitamos a Verdade Inquestionável do CSI do Espiritismo, o outro lado nem sequer existe! Como aceitamos evidências como provas (embora ciência seja sobre teorias, e não provas) e fazemos uma inferência que para muitos pode parecer forçada — mas o Ministério da Verdade afirma que não é — todo o restante torna-se automaticamente nulo. Apaguemos também a história, que nem sequer devemos citar. Sobre os autores que corroborem essa ideia de um complô ao redor de Kardec, não podemos fazer nada mais do que mostrá-los como são — impulsivos e levianos, embora tenham se dedicado a longos anos de pesquisas — para que, enfim, possamos guiar as pessoas pelo caminho correto — o da Verdade Inquestionável — não pela razão, mas pela coerção, já que a maioria é incapaz de pensar por si própria. Aquela história de deixar ao tempo e ao público julgar o que é correto — essas ideias malucas de Kardec — caem por terra, pois temos evidências que podem ser tomadas como provas cabais, segundo nossas teorias.

Aqueles, enfim, que não aceitam a Verdade Inquestionável, devemos tratá-los como são: resistentes e de mente fechada, que não aceitam as evidências que lhes apontamos. Preferem acreditar que Kardec jamais poderia ter realizado tais alterações, pois, dizem eles, não são racionais nem condizem com o método que ele teria utilizado por anos, nem muito menos com o restante da obra. Balela! Declaremos guerra a essas ideias sem nenhum nexo e proibamos, o quanto possível, que sejam sequer suscitadas, pois causam um mal gigantesco ao atiçarem, no povo, essa vontade absurda de pensar pela razão — tão absurda que não aceitam as evidências históricas como fato irrefutável da não adulteração. Aliás, devemos nomeá-los como tal: negacionistas, de modo que sejam desmoralizados onde quer que falem e não despertem a curiosidade de ninguém.

Ficam, assim, definidos alguns passos a serem seguidos para o restabelecimento da Verdade, segundo o CSI do Espiritismo:

  • Utilizar todo espaço possível, nas redes sociais e nos canais do Youtube, para afirmar que todos os argumentos contrários foram vencidos, sem nenhuma intenção de diálogo.
  • Escrever documentos e artigos mostrando uma série de evidências materiais que corroboram a tese, digo, a prova evidencial da Verdade — novamente, sem cogitar de apresentar argumentos contrários.
  • Escrever artigos que desmereçam autores e ideias em contraste à posição do Ministério do CSI do Espiritismo, sem se aventurar a conhecê-los, o que é óbvio, e sem nenhuma preocupação em cometer falácias. Lembre-se: tudo pelo Bem!
  • Criar espaços para estudos. Do Espiritismo? Não. De seu contexto científico? Muito menos! Para estudar as cartas antigas e investigar quem foram os médiuns que Kardec insistentemente dizia que não deviam ser colocados em relevância.
  • Ante qualquer discussão sobre a forma de ação do Ministério da Verdade, conduzir rápida e habilmente o assunto para a questão da adulteração, onde temos o total controle, já que o outro lado, já desmoralizado pelo enquadramento no negacionismo, não poderá sustentar fiabilidade ante o público.

Dizem eles que manchamos a imagem de Kardec e o próprio Espiritismo ao agir assim. Ora, a busca é pela Verdade, e tudo aquilo que sustente aquilo que temos como certeza, desde o início, deve ser exaltado, doa a quem doer. Mas chega desse assunto, pois não o discutiremos mais, agora que estamos de posse da Verdade Inquestionável do CSI do Espiritismo.


Explicações

Prezado leitor,

É claro que, se você estuda Kardec e nos acompanha, notou que o texto é apenas uma crítica, em tom de sátira, ao comportamento absurdo adotado por algumas pessoas que decidiram tomar, para elas, a verdade, deixando fatos importantes de lado. Sinto por ter te feito ler tudo isso. De nossa parte, não desejamos impor a nossa verdade ou as nossas conclusões. Deixamos a cada um a liberdade de julgar por si mesmo, de posse de evidências e fazendo uso da própria razão. O que nos entristece é que muitos, deixando-se conduzir, abstraem-se totalmente de conhecer obras como as de Paulo Henrique de Figueiredo e de Simoni Privato, que têm trazido uma contribuição ímpar para a compreensão do Espiritismo.

Qual é o cerne da questão, enfim? É que a 5.ª edição, com alterações, tem depósito legal realizado apenas em 1872. Isso, legalmente, configura adulteração. O restante, as evidências encontradas pelo “CSI do Espiritismo”, apontam apenas para o fato de que Kardec preparava uma nova versão, mas não prova que essa versão chegou a ser impressa. Constituem inferências forçadas todos os esforços no sentido de apontar que aquele único exemplar encontrado na Suíça corresponde a essa nova edição, apenas porque corresponde ao exemplar referente ao depósito legal de 1872, da 5.ª edição, feito por Leymarie. Esse é o ponto.

O que temos por segurança, sem nenhuma sombra de dúvida: Kardec realizou uma edição de A Gênese, da qual encomendou quatro reimpressões, sendo que cada uma delas configurava uma nova edição, embora iguais à primeira. A prova disso está no fato de ele não ter realizado depósito legal para as demais edições.

Também é um fato que Kardec preparava uma nova edição dessa obra e de O Céu e o Inferno. Mas não existe prova que de ele as concluiu, sendo outra inferência forçada afirmar que o pedido de reimpressão de dois mil exemplares de A Gênese, feito em fevereiro de 1869, refira-se à impressão dessa nova edição. Pode ser que sim, pode ser que não. Se sim, pode ser que essa edição tenha sido destruída, para, então, alguém realizar uma adulteração. Para o argumento sobre o tempo hábil para fazê-lo, basta lembrar que, naquele tempo, as pessoas tinham muito mais tempo que nós temos hoje e que, além disso, não existe prova de que a versão adulterada não tenha sido impressa apenas mais tarde; para o argumento da necessidade de convencimento do impressor, basta supor que seria necessário apenas dizer, por exemplo, que foi um pedido de Kardec, feito pouco antes de morrer, e que, não sendo aquilo uma edição final, mas apenas uma edição para avaliação e correções, não seria necessário o depósito legal (o que é um fato).

Um ponto importante, aliás: qual é o sentido de Kardec mudar o título de sua obra (A Gênese), inserindo o subtítulo “revisada, corrigida e aumentada”, se nunca fez isso antes, para nenhuma das outras obras? A meu ver, mais parece algo feito, por um adulterador, no sentido de reforçar que aquela edição seria uma importante “alteração”.

A comunicação espiritual, onde o Espírito afirma, através do médium Sr. M. Desliens, que Kardec não deveria remover nada, mas apenas condensar aquilo que possivelmente tenha ficado claro em outros pontos (que você pode conferir aqui), foi adulterada por P. G. Leymarie, quando foi incluída com cortes e alterações em Obras póstumas, organizada por ele, e publicada em 1890: segunda parte, capítulo: “A minha iniciação no Espiritismo”, item: “Minha nova obra sobre A Gênese” (onde “Minha” seria uma referência a Kardec, falando de si mesmo).

Ora, por que essa sanha de Leymarie em dar suporte, por intermédio de uma flagrante adulteração, à ideia de que a 5.ª edição de A Gênese foi produzida por Kardec?

Enfim, deixemos cada um a seu tempo e as suas escolhas, mas não nos ausentemos de apresentar a real proposta da ciência espírita, totalmente autônoma e libertadora e, conforme concluímos, muito afastada dos conceitos transformados em “Código Penal da Vida Futura”, naquilo que, para nós, somente pode ser configurado como uma adulteração.

Fato é que Carlos Seth, na busca por tudo o que possa suportar sua ideia, tem distorcido, ele mesmo, ideias e palavras, utilizando de falácias e argumentos lógicos, algumas vezes inválidos, para forçar conclusões. Foi leviano e deselegante ao afirmar, com grande desconhecimento, que “certo autor” estaria provocando uma divisão no Espiritismo, “agora no campo moral”, ao trazer, para dentro da Doutrina, o Espiritualismo Racional (já tratamos disso no artigo Espiritualismo Racional e Espiritismo – uma nova divisão no meio Espírita?) e é igualmente deselegante ao utilizar seus meios de comunicação para denegrir aqueles que, pela razão e pelos fatos, concluem diferentemente dele, imputando a eles os termos “negacionistas”.

Ademais, apresentamos um argumento final: o próprio Carlos Seth afirma que não tem prova de que as obras não foram adulteradas. Resta, portanto, espaço para alguma dúvida e, assim sendo, não seria muito mais prudente ficar com a primeira edição dessas obras, de quando Kardec era vivo, onde temos a total confiança de que tudo, absolutamente tudo o que existe ali, foi produzido por suas mãos? Isso, é claro, sem tratarmos as outras edições como inexistentes, pois elas servem, a nosso ver, justamente para demonstrar o tom das alterações e o que foi que elas removeram ou inseriram no pensamento de Kardec.

Deixamos ao leitor a reflexão.




Um diálogo interessante

– Ah, você é Espírita? Que legal. Frequenta algum centro?

– Sim, frequento um perto da minha casa.

– E o que vocês fazem lá?

Ah, a gente assiste palestra sobre o Evangelho, depois toma passe… Aí a gente faz algumas preces, e vai embora. Tem também a evangelização infantil.

– Aaah… Então é tipo uma igreja católica.

– Não! Porque o Espiritismo não tem ritual.

– Ué?! Mas é igualzinho. Na igreja, você chega, houve o sermão sobre o Evangelho, depois recebe a hóstia, depois reza, e vai embora. As crianças participam da catequese.

– Não, mas…

– Admita, é igualzinho. Até a evangelização, que eu sei que tem um aspecto positivo, é feito dessa forma meio impositiva, não? Mas o que me estranha é que eu já estudei um pouco do Espiritismo, só que nunca frequentei um centro… E, pelo que estudei, não tinha nada disso no Espiritismo. Por exemplo: vocês fazem evocação de Espíritos para ajudá-los?

– Não, não pode evocar Espíritos, porque você pode terminar obsedado.

– Nossa! Quem te disse isso?

– Ué?! Todo mundo do centro! A própria FEB diz isso!

– Ah, a FEB… Mas… Se o próprio Kardec evocava Espíritos para aprender com eles, Espíritos até de suicidas, e muitas vezes terminava ajudando-os a refletir?!

– Ah, mas isso era em um grupo controlado, e esses Espíritos já estavam mais tranquilos. E era Kardec.

– Não foi o que eu li. E não era só Kardec que evocava. Você sabia que, naquela época, as pessoas praticavam estudos, com evocações até de Espíritos perturbados, em seus lares, em pequenos grupos?

– Nossa, e eles não ficavam obsedados, se sentindo mal, por esses Espíritos inferiores?

– Olha, inferior todos somos, em relação aos Espíritos mais adiantados. E não, não ficavam obsedados nem passavam mal. Na verdade, muitas vezes ajudavam esses Espíritos, enquanto aprendiam com eles.

Tem uma evocação, por exemplo, desse suicida, que foi apenas alguns dias após sua morte, e ele demonstrou estar em plena perturbação. Kardec fez algumas perguntas, tentando entender o que se passava com esse Espírito e, com essas perguntas, ele entendeu alguma coisa. Depois pediu preces e se despediu, porque não queria falar mais. Concordo que é necessário seriedade e controle, mas nunca Kardec mencionou nenhum dos médiuns ficando obsediado enquanto tentavam aprender, com a análise da situação de Espíritos como esse, e até de assassinos!

– Assassinos?!

– Sim! Tem uma evocação do Assassino Lemaire, procure lá na Revista Espírita de 1858, é muito interessante.

– E você disse que evocavam DIAS após a morte?

– Sim. Algumas vezes, horas depois!

– Horas?! Mas eu sempre ouvi que, além de não poder evocar, tem que esperar com paciência para esse Espírito ganhar a luz e vir se comunicar por vontade própria.

– Isso não é verdade. Tudo depende da finalidade. Como a intenção era analisar esses Espíritos de forma psicológica, não havia problema. Além disso, é claro que eles respeitavam a vontade dos Espíritos. Muitas vezes eles não queriam falar dos seus sofrimentos. Tem outro problema aí: Kardec sempre demonstrou que ficar à disposição de qualquer Espírito traz o perigo de comunicações sem finalidade, muitas vezes enganosas.

Mas então vocês não fazem evocações no centro?

– Não. Até tem uma reunião de médiuns, mas é fechada para o público.

– Ah, natural. Mas lá eles evocam, então, para aprender e ajudar?

– Não, não. Eles ficam à disposição de qualquer Espírito que queira se comunicar. Esses dias mesmo, receberam a comunicação do Apóstolo João!

– Como eles sabem que era João, e não outro? Eles depois questionaram o Espírito guia do grupo?

– Espírito guia? Não, o Espírito DISSE que era João, o apóstolo, e falou em Jesus e sobre a necessidade de fazermos muita prece, porque a data limite está chegando.

– Ah… Mas… E se esse Espírito estivesse usando o nome do apóstolo e palavras bonitas para passar ensinamentos errados?

– Ah, mas…

– E em casa, vocês praticam o Espiritismo?

– Como assim, praticar?

– Estudar, evocar Espíritos para fins de aprendizado com a análise das situações deles…

– Se a gente não evoca nem no centro, acha que vamos evocar em casa? Sai fora! Vai que um Espírito resolve ficar por lá?

– Como assim, “ficar por lá”? Os Espíritos estão por toda parte. Com certeza tem alguns aqui agora mesmo.

– Valha-me Deus!

– Sim, claro! E eles são atraídos por afinidade de pensamentos. Se a evocação é feita com intuito sério e com conhecimento, não há problema. O errado é evocar por brincadeira ou com leviandade. Se quem evoca é orgulhoso, por exemplo, um Espírito leviano pode se apresentar e dizer coisas que alimentem esse orgulho. Aí, sem estudo, e com vontade de cultivar o próprio orgulho, o sujeito entra na do Espírito e termina fascinado. Esse é o perigo, mas isso pode acontecer até pela intuição, de forma indireta.

– Nossa, não sabia disso. Eu já tinha ouvido que, se evocar um Espírito perturbado, ele “cola” em você.

– Não, claro que não. Depende da intenção e do preparo. Bom, mas pelo menos existe estudo nesse centro? Tipo, estudar as obras de Kardec, a Revista Espírita…

– Revista Espírita? Que é isso? Não, a gente estuda obras do Chico e do Divaldo, até porque a gente sabe que as obras de Kardec estão ultrapassadas em muitos pontos, né?!

– Ultrapassadas? Meu amigo, eu sei que até tem coisas bonitas e corretas nessas obras mediúnicas, mas elas foram resultados de comunicações sem controle. Como, sem estudar Kardec, eles recomendam o estudo de obras mediúnicas? Espiritismo é ciência!

– Ciência? Não! Espiritismo é religião!

– Não era o que Kardec demonstrava. Você já leu A Gênese?

– Nossa, já dei uma folheada, mas muito difícil e, como eu disse, ultrapassada! Imagine que eles acreditavam que tinha vida na lua!!

– Mas, amigo, isso era coisa da ciência humana da época. Só que tem a parte da ciência espírita.

– Ciência Espírita?

– Sim, aquilo que foi desenvolvido pelo estudo metodológico de Kardec, com o uso da razão e com a necessidade da confirmação universal dos ensinamentos dos Espíritos. Mas, assim, se existe um grupo de médiuns na casa, como ele se formou?

– Ah, eles são médiuns bem antigos da casa, e o grupo é fechado.

– Mas e a mediunidade das outras pessoas?

– Ah, se aparecer algum médium “bom” por lá, ele tem que passar por um curso de 5 anos de Espiritismo!

– Mas que curso, se não estudam Kardec?

– Não, aí, lá, tem umas cartilhas da FEB, onde aborda Kardec…

– Pelo menos alguma coisa!

– E aí tem o complemento com obras mediúnicas. Você já viu as obras do Ramatis, sobre mediunidade??

– Meu Deus…

– Quê?

– Amigo, Ramatis é um pseudossábio.

– Pseudo o que?

– Quer dizer que ele se faz passar por sábio, mas tem vários absurdos nessas obras. A gente nem sabe, na verdade, se é só um Espírito, porque qualquer um pode usar esse nome.

– Mas eu já vi algumas coisas dele, pareciam coerentes

– Coerentes? Bom, sendo um Espírito, é claro que alguma coisa ou outra haverá de verdade… Mas o problema é que aceitam o que esse ou esses Espíritos dizem sem nem raciocinar! Essas obras são misticistas, e não doutrinárias.

– Como não são doutrinárias? A mesma coisa que ele diz, muitos outros também dizem. Não é isso?

– Não só isso. É preciso submeter isso à razão, o que demanda conhecimento. Aquilo que já está estabelecido por esse processo, só pode ser desfeito pelo mesmo processo, isto é, não basta que digam a mesma coisa em todo lugar, quando não há controle, nem método, nem racionalidade. Por exemplo: Ramatis fala sobre sete corpos espirituais, o que é místico – sabe aquelas coisas de números bíblicos, cabalísticos? Então!

Kardec já demonstrou, pelos estudos junto aos Espíritos e de forma científica, que o que existe é o perispírito, formado pelo fluido cósmico universal. Só isso. Essa história de sete corpos, além de tudo, é materialista.

– Amigo, eu não tô é entendendo mais nada! Quer dizer que tudo o que me disseram é errado?

– Nem tudo, mas grande parte. Quando o Espiritismo foi disseminado no Brasil, o Movimento Espírita já estava desgastado e enfraquecido, por uma adulteração de princípios após a morte de Kardec.

Bom, a pergunta é a seguinte: você tem vontade de estudar, ou está confortável com o que vive nesse centro?

– Ah, eu me sinto bem, e é tão difícil tentar entender Kardec!

– Realmente, tem coisas difíceis de entender em Kardec. Mas o estudo dedicado da Revista Espírita, de 1858 a 1864, ajuda a entender muito! Além disso, existem muitos grupos de estudo, e eu mesmo participo de um. Mas, veja, são grupos de estudo. Não tem professor, nem é curso.

Dê uma chance, estude, e sua razão te levará, com a intuição dos bons Espíritos, pelo caminho mais adequado a você.

– É… Vou pensar…

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Não quis dar título a esse texto. Não precisamos dar nomes taxativos. Basta que entendamos a distância que existe entre o Movimento Espírita e o Espiritismo. Essa distância precisa ser vencida pelo diálogo, pelos fatos, mas somente por aqueles abertos ao diálogo e ao aprendizado. Não adianta lutar contra os renitentes.




Umbral e a base doutrinária

“O que é umbral?”; “quem vai para o umbral?”; “qual é o significado de umbral?”; “o que o Espiritismo diz do umbral?”. Os adeptos do movimento espírita estão tão preocupados com algo que, em verdade, não tem razão de ser – não como eles imaginam que seja.

Penso que se perde muito tempo sobre esse assunto, o “Umbral”, que é ponto pacífico na Doutrina (portanto, resultado do método científico de pesquisa): não passa de criação mental de Espíritos apegados, em sofrimento, quando não são ideias intencionalmente cultivadas e transmitidas com o fim de atrasar. Tanto isso é fato, que, antes do Espiritismo, o Espírito se diria sofrendo no fogo do inferno e, antes do catolicismo, diria estar no Tártaro. Não são locais, são estado de alma e, se você busca fazer o bem, com todas as suas forças e com todo o seu entendimento, não deve se preocupar com esse sofrimento moral.

Portando, a pergunta “o que é o umbral” fica assim respondida: é uma alegoria, uma figura de linguagem, representando um estado de alma. Também pode ser uma alegoria para representar essa camada espiritual mais densa, dos Espíritos mais ligados à matéria. Esse é o significado de “umbral” e, “quem vai para o umbral”, é todo aquele que esteja apegado às imperfeições, à materialidade, sabendo, contudo, que essa é uma ideia alegórica para ilustrar um estado anterior.

Quando se foca no que se quer, por ideias prévias, deixa-se passar os detalhes importantes da obra. Eis o que vamos demonstrar. Este é um trabalho simplório de análise do artigo “Umbral, há base doutrinária para sustentá-lo?”, de Paulo da Silva Neto Sobrinho, por Paulo Degering Rosa Junior.

O estudo de Paulo Neto sobre o umbral

No estudo apresentado por Paulo Neto, “Umbral, há base doutrinária para sustentá-lo?”, há alguns problemas iniciais. Verifiquemos, por exemplo, as diferenças muito sensíveis entre a primeira edição de O Céu e o Inferno e a edição utilizada por ele. Na primeira edição:

Na maioria dos casos, ele é infeliz neste mundo por sua própria culpa, mas, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir para a Terra, onde expia não apenas as faltas atuais, mas as faltas anteriores que não foram reparadas, sofre numa vida de provas o sofrimento imposto a outros numa outra existência. As vicissitudes que o homem experimenta são simultaneamente um castigo temporário e uma advertência quanto às imperfeições de que se deve desfazer para evitar desditas futuras e progredir para o bem.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, 1868 (edição original).

Já na edição citada por Paulo Neto:

[…] Na maior parte das vezes ele [o homem] é infeliz por sua própria culpa; porém, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não reparadas. Sofre em uma vida de provações o que fez sofrer a outrem em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, ao mesmo tempo, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar males futuros e progredir para o bem. […].

NETO, Paulo. Umbral: Há base doutrinária para sustentá-lo?. Disponível em: http://www.paulosnetos.net/artigos/send/6-ebook/806-umbral-ha-base-doutrinaria-para-sustenta-lo. Acesso em: 20 abr. 2023.

Consegue notar que a diferença no emprego do verbo expiar causa toda uma mudança de ideias? Na primeira versão, de Kardec, é claro que o homem expia na Terra. Na versão utilizada por Neto, é possível depreender que a expiação começa antes de vir à Terra, o que não seria verdade, segundo as conclusões doutrinárias.

Não só: essa edição, de Paulo Neto, não condiz nem sequer com a 4a edição em francês, já adulterada:

Le plus souvent, il est malheureux ici-bas par sa propre faute ; mais s’il est imparfait, c’est qu’il l’était avant de venir sur la terre ; il y expie non seulement ses fautes actuelles, mais les fautes antérieures qu’il n’a point réparées ; il endure dans une vie d’épreuves ce qu’il a fait endurer aux autres dans une autre existence. Les vicissitudes qu’il éprouve sont à la fois un châtiment temporaire et un avertissement des imperfections dont il doit se défaire pour éviter les malheurs futurs et progresser vers le bien.


Na maioria das vezes, ele é infeliz aqui embaixo por sua própria culpa; mas se ele é imperfeito, é porque o era antes de vir à terra; ele expia ali não apenas suas faltas atuais, mas as antigas faltas que não reparou; ele suporta em uma vida de provações o que fez os outros suportarem em outra existência. As vicissitudes que ele experimenta são ao mesmo tempo um castigo temporário e um aviso das imperfeições das quais ele deve se livrar para evitar futuros infortúnios e progredir para o bem.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina Segundo o Espiritismo. 4ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2019. Disponível em: https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/886/o-ceu-e-o-inferno-ou-a-justica-divina-segundo-o-espiritismo. Acesso em: 20 abr. 2023.

É evidente notar que Kardec, na primeira edição e também na quarta, reafirma que a expiação se dá na Terra, e depreender o contrário seria supor que o Espírito expie, materialmente, no mundo espiritual, o que está intrinsecamente ligado às ideias de inferno, purgatório, umbral e etc.

Sigamos.

Revista Espírita

Um dos artigos mais interessantes da RE é o “Sobre os Espíritos que se creem ainda vivos”, da Revista Espírita de 1864:

Nem tudo é prova na existência; a vida do Espírito continua, como já vos foi dito, desde seu nascimento até o infinito; para uns, a morte não é senão um simples acidente que não influi em nada sobre o destino daquele que morre. Uma telha caída, um ataque de apoplexia, uma morte violenta, muito frequentemente, não fazem senão separar o Espírito de seu envoltório material; mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo que acaba de sucumbir. Num dia de batalha, se eu pudesse vos abrir os olhos que possuis, mas dos quais não podeis fazer uso, veríeis muitas lutas continuarem, muitos soldados subir ainda ao assalto, defender e atacar os redutos; vós os ouviríeis mesmo produzir seus hurras! e seus gritos de guerra, no meio do silêncio e sob o véu lúgubre que segue um dia de carnagem; o combate acabou, eles retornam aos seus lares para abraçar seus velhos pais, suas velhas mães que os esperam. Algumas vezes, esse estado dura muito tempo para alguns; é uma continuação da vida terrestre, um estado misto entre a vida corpórea e a vida espiritual. Por que, se foram simples e sábios, sentiriam o frio do túmulo? Por que passariam bruscamente da vida para a morte, da claridade do dia à noite? Deus não é injusto, e deixa aos pobres de Espírito esse gozo, esperando que vejam seu estado pelo desenvolvimento de suas próprias faculdades, e que possam passar com calma da vida material à vida real do Espírito.

Temos, em O Livro dos Espíritos, a conhecida questão 1012, que, a meu ver, Neto desconsiderou em total para focar apenas em “já respondemos essa pergunta”, fazendo uma suposição de que ela se referiria à questão 87. Essa questão, por sua vez, interpretou como quis, não levando em consideração a linguagem muitas vezes figurativa utilizada pelos Espíritos:

1012. Haverá no universo lugares circunscritos para as penas e gozos dos Espíritos, segundo seu merecimento? “Já respondemos a essa pergunta. As penas e os gozos são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais ou menos felizes ou desgraçados, conforme seja mais ou menos adiantado o mundo em que habitam.”

a) — De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?

“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e desditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são perfeitos.”

A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência infinita não lhe é possível compreender.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 1ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 2019. Disponível em: https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos. Acesso em: 20 abr. 2023.

87. Ocupam os Espíritos uma região determinada e circunscrita no espaço?

“Estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos. Vós os tendes de contínuo a vosso lado, observando-vos e sobre vós atuando, sem o perceberdes, pois que os Espíritos são uma das potências da natureza e os instrumentos de que Deus se serve para a execução de seus desígnios providenciais. Nem todos, porém, vão a toda parte, pois há regiões interditas aos menos adiantados.”

Recorrendo à questão 87, note: “Os Espíritos estão por toda parte. Povoam infinitamente os espaços infinitos”. Espaço não é Universo. O Espaço é infinito; o Universo, não. Universo é material, cíclico, tem começo e tem fim, assim como a matéria. O Espaço, não.

Quando, ao final, ele assevera que “há regiões interditas aos menos adiantados“, Neto tomou uma frase figurativa por uma frase literal. Ainda assim, se considerarmos o fato de que os menos adiantados não se desprendem do cenário material com facilidade, podemos facilmente supor a dificuldade de viver em regiões materiais que dão lugar a encarnações de Espíritos mais adiantados.

De volta à RE, temos em 1858, “O Tambor de Berezina”:

28. ─ Vês outros Espíritos ao teu redor?

─ Sim, muitos.

29. ─ Como sabes que são Espíritos?

─ Entre nós, vemo-nos tais quais somos.

30. ─ Com que aparência os vês? ─ Como se podem ver Espíritos, mas não pelos olhos.

31. ─ E tu, sob que forma aqui estás?

─ Sob a que tinha quando vivo, isto é, como tambor.

32. ─ E vês os outros Espíritos com as formas que tinham em vida?

─ Não. Nós não tomamos uma aparência senão quando somos evocados. Fora disso vemo-nos sem forma.

Ainda no mesmo ano, em “Palestras de além-túmulo — Senhora Schwabenhaus. Letargia Extática”:

29. ─ Sob que forma estais entre nós?

─ Sob minha última forma feminina.

30. ─ Vós nos vedes tão distintamente quanto se estivésseis viva?

─ Sim. 31. ─ Desde que aqui vos encontrais com a forma que tínheis na Terra, é pelos olhos que nos vedes?

Não, o Espírito não tem olhos. Só me encontro sob minha última forma para satisfazer às leis que regem os Espíritos quando evocados e obrigados a retomar aquilo a que chamais perispírito.

Na Revista Espírita de março de 1860, Kardec, conversando (via médiuns) com três Espíritos distintos, questiona um deles, o Espírito de Charles Dupont, aquele envolvido na “História de um Danado”, Espírito inferior, bastante atrasado e muito ligado ainda à matéria. Kardec pergunta sobre como ele vê o Espírito do Dr. Vignal, pessoa viva, evocado para aquele estudo:

53. ─ Vedes o Espírito do doutor, com o qual conversamos?

─ Sim.

54. ─ Como o vedes?

─ Vejo-o com um envoltório menos transparente que o dos outros Espíritos.

55. ─ Como percebeis que ele ainda está vivo?

Os Espíritos comuns não têm forma aparente. Este tem uma forma humana; está envolto numa matéria semelhante a uma névoa, que repete sua forma humana terrena. O Espírito dos mortos não tem mais esse envoltório, pois está desprendido dele.

Ou seja: os Espíritos continuam afirmando que, para eles, a forma não é nada. No último caso, o Espírito de Charles Dupont, sendo inferior, ele mesmo afirma o mesmo princípio: os Espíritos comuns (desapegados) não têm forma aparente. Kardec percebe, baseado em tudo isso, que, quando afirmam em contrário, estão em estado de sofrimento. Sempre. O grande erro, me permita repetir, é querer dizer que, fora do estudo metodológico, basta colher algo que se diga em todo canto e isso se torna verdadeiro. Fosse assim, deveríamos incluir duendes, fadas e sereias na Doutrina Espírita.

Não basta e não podemos simplesmente acreditar nos Espíritos

Daí em diante, Paulo Neto passa a catalogar diversas afirmações de Espíritos, após Kardec — dentre eles André Luiz — e outras conclusões de Espíritas ou Espiritualistas que, colocando de lado a Doutrina, ficaram com suas conclusões parciais.

É um problema muito grande pressupor que basta a comunicação universal dos Espíritos para a aceitação de uma nova ideia doutrinária. Não: ela deve também atender à razão e respeitar aquilo que já foi galgado pelo mesmo método. Assim, quando muita gente lê um livro que fala em “umbral”, muita gente passa a aceitar essa ideia, que se torna ilusão no pós morte; que se torna ilusão em “desdobramentos”; que o médium insere, enfim, pelas próprias ideias, ao traduzir um pensamento de um Espírito, durante uma comunicação.

É notável constatar que, no meio espírita, existe grande preocupação se, ao morrer, vai-se para “Nosso Lar” ou para o “Umbral”. Como “Nosso Lar” não poderia suportar bilhões de Espíritos em seus leitos e lares, logo surgiram centenas de novas “colônias”, cada uma situada, asseveram, sobre certas cidades ou regiões da Terra. O espírita deixou de estar preocupado com sua moral, mediante seu progresso espiritual, para estar preocupado se será castigado com o umbral ou premiado com uma cama confortável e sopa quente em Nosso Lar ou em outra “colônia” qualquer!

Neto interpreta de forma incorreta os conceitos de expiação e punição. Digo isso com segurança, porque Kardec e os Espíritos estavam se utilizando de conceitos presentes naquela época, galgados no Espiritualismo Racional, para se expressarem.

Quando o autor cita o artigo “O Dia de Todos-os-Santos”, na RE de 1862, temos um trecho destacado em negrito: “[…] infelizes Espíritos que suportam as angústias da punição e do isolamento”. Acontece que “punição” era considerada a consequência legítima do mal, e não uma ação externa de uma força punitiva. A punição do pai irresponsável, por exemplo, é ver seu filho amado seguir um mau caminho. Se o pai é responsabilizado pela justiça humana e preso por sua irresponsabilidade, isso, talvez, para ele não signifique absolutamente nada, frente à real punição que ele próprio sofre. A punição não é algo externo, imposto, senão pela decorrência da Lei natural. Entendemos, assim, o Espiritismo sob outro ponto de vista, muito mais congruente.

Por não entender essa ideia fundamental, Neto infere que sofrimento ou prazer, no mundo espiritual, é uma condição externa, materialista, como já demonstrei.

Em seguida, Neto dá enfase ao trecho seguinte:

“Meu caro irmão, que horríveis tormentos para todos esses [aqueles que escolheram o caminho do materialismo]! É exatamente como diz a Escritura: “Haverá choro e ranger de dentes”. Eles serão mergulhados no abismo profundo das trevas. Esses infelizes são vulgarmente chamados os danados e, posto seja mais exato chamá-los os punidos, nem por isso sofrem menos as terríveis torturas que se atribuem aos danados em meio às chamas. Envoltos nas mais espessas trevas de um abismo que lhes parece insondável, posto não seja circunscrito, como vos ensinam, experimentam sofrimentos morais indescritíveis, até abrirem o coração ao arrependimento.”

Nesse trecho, Neto se atém à ideia de “abismo profundo de trevas”, sem se atentar para o fato de que esse abismo, se lhes parece insondável e não é circunscrito, não pode existir senão como criação mental de Espíritos sofredores, sendo, portanto, efêmero. Evoquemos esses Espíritos e lhes auxiliemos a entender que suas dores são morais, e não físicas, e desaparecem os abismos, a lama, etc., para dar lugar à consciente compreensão de seu estado, à reflexão e, por conseguinte, à escolha pela expiação, onde terão a nova oportunidade de trabalharem sobre seus apegos passados.

Você sabia que existem Espíritos que se colocam em tais circunstâncias por terem cometido um erro e por acreditarem na Doutrina do Pecado? Sim. Pode, por exemplo, um indivíduo ter matado outro, porque acreditou que o outro vinha lhe tirar a vida. Crê que isso é um pecado e, assim, se submete mentalmente a esse sofrimento, que externaliza em criações fluídicas (que não são matéria como a nossa, mas, sim, algo muito mais sutil, formada pela “condensação” do Fluido Cósmico Universal). Faça-o entender que esse aparente erro nasceu de uma reação instintiva; que Deus não pune; que ele pode buscar, em novas vidas, trabalhar esse instinto, para dominá-lo pela vontade; que, enfim, aquele que ele matou não tem nada contra ele, pois entende seu erro, e esse Espírito se desvencilhará de tais ideias, realmente perturbadoras.

O próprio André Luiz deixa isso transparecer quando cita o caso da moça que, havendo morrido, seu Espírito não queria sair de dentro do caixão, pois acreditava que o próprio Cristo viria lhe tirar dali, submetendo-a ao julgamento.

No mais, o autor, por uma ideia prévia, adota um paradigma que o leva a entender todos os exemplos dados segundo o que lhe convém. Ao citar “esferas espirituais”, “camadas espirituais”, não percebe que se trata de uma linguagem figurada e, nesse último caso, em referência à classificação dos Espíritos por “camadas”, como é feito na Escala Espírita. Aliás, isso está bem claro na questão nº 1017 de OLE, que o prezado Paulo Neto não incluiu em sua apreciação (grifos meus):

1017 [1016]. Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o quinto céus, etc. Que queriam dizer com isso?

“Se lhes perguntais que céu habitam, é que formais ideia de muitos céus dispostos como os andares de uma casa. Eles, então, respondem de acordo com a vossa linguagem. Mas por estas palavras quarto e quinto céus exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um Espírito se está no inferno. Se for desgraçado, dirá sim, porque, para ele, inferno é sinônimo de sofrimento. Sabe, porém, muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria estar no Tártaro.”

O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como: cidade das florescidade dos eleitos, primeira, segunda ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras, quer, algumas vezes, por ignorância da realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas.

Quando se foca no que se quer, por ideias prévias, deixa-se passar os detalhes importantes da obra.

A Condessa Paula – O Céu e o Inferno

Muita gente usa o caso desse Espírito, da Condessa Paula, apresentado em O Céu e o Inferno, para dar base às suas teorias de “cidades astrais”.

O que são os vossos palácios e os vossos salões dourados ante as moradas aéreas, o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?

Como os vossos concertos mais melodiosos são tristes e ruidosos, ante esta harmonia que faz vibrar os fluidos do éter e todas as fibras da alma? Como as vossas grandes alegrias são tristes e insípidas ante a inefável sensação de felicidade que incessantemente satura o nosso ser à maneira de um eflúvio benfazejo, sem nenhuma mescla de inquietação, nenhuma preocupação, nenhum sofrimento! Aqui tudo respira amor e confiança e sinceridade. Por toda parte corações amantes, por toda parte vemos amigos, nada de invejosos e ciumentos. Esse é o mundo em que me encontro, meu amigo, e todos vós o atingireis infalivelmente seguindo o caminho certo.

Infelizmente, muitos param nas leituras dos pontos que lhes interessam. Quando o Espírito fala em “moradas aéreas”, pronto, isso já é suficiente para afirmarem que ela falava das cidades espirituais! A que ponto levam os vieses adotados com pressa…

Logo em seguida à citação de “moradas aéreas”, ele continua:

[…] o vasto campo do espaço matizado de cores que fariam empalidecer o arco-íris? Que são os vossos passeios passo a passo nos parques, ante a viagens através da imensidão, mais rápidas do que o relâmpago? O que são os vossos horizontes limitados e carregados de nuvens, ante o grandioso espetáculo dos mundos a se moverem no universo sem limites, sob a poderosa mão do Altíssimo?

Esse Espíritos está falando do Espaço! Não está falando de cidades astrais, mas do Espaço! “Moradas aéres” é uma linguagem figurada para dizer do Espaço, “acima” de nós!

Ela continua:

Entretanto uma felicidade uniforme logo aborreceria. Não penses que a nossa felicidade esteja livre de vicissitudes. Não se trata de um concerto perpétuo, nem de uma festa sem fim, nem de beatífica contemplação através da eternidade. Não. É o movimento, a vida, a atividade. As ocupações, embora isentas de fadigas, apresentam incessante variedade de aspectos e de emoções, pelos mil incidentes que as continham. Cada qual tem a sua missão a cumprir, seus protegidos a assistir, amigos da Terra a visitar, processos da Natureza a dirigir, almas sofredoras a consolar. Há um vaivém, não de uma rua para outra, mas de um mundo para outro. As criaturas se reúnem, se separam para novamente se juntarem; encontram-se aqui e ali, conversam sobre o que fazem, felicitam-se pelos sucessos obtidos; entendem-se, assistem-se mutuamente nos casos difíceis. Enfim, asseguro-te que ninguém dispõe de um segundo de tempo para se enfadar.

O que existe “do lado de lá”, para os Espíritos desapegados, é a atuação na criação divina! É o trânsito pelo Espaço infinito, onde se reúnem, aqui e ali, com outros Espíritos, para atuar nos processos da Natureza, no consolo às almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas! É isso, e não uma vida limitada por paredes e falsas necessidades fisiológicas!

Conclusão

É importante destacar, porém, que, se tais criações existem, é porque Deus permite. Na verdade, isso é algo ligado à própria benevolência divina, que garante, a cada um, o desenvolvimento gradual e sem choques. No artigo “Sobre os Espíritos que se creem ainda vivos”, da Revista Espírita de 1864, consta uma importante comunicação espiritual, da qual tiramos o seguinte trecho:

Nem tudo é prova na existência; a vida do Espírito continua, como já vos foi dito, desde seu nascimento até o infinito; para uns a morte não é senão um simples acidente que não influi em nada sobre o destino daquele que morre. Uma telha caída, um ataque de apoplexia, uma morte violenta, muito frequentemente, não fazem senão separar o Espírito de seu envoltório material; mas o envoltório perispiritual conserva, pelo menos em parte, as propriedades do corpo que acaba de sucumbir. Num dia de batalha, se eu pudesse vos abrir os olhos que possuis, mas dos quais não podeis fazer uso, veríeis muitas lutas continuarem, muitos soldados subir ainda ao assalto, defender e atacar os redutos; vós os ouviríeis mesmo produzir seus hurras! e seus gritos de guerra, no meio do silêncio e sob o véu lúgubre que segue um dia de carnagem; o combate acabou, eles retornam aos seus lares para abraçar seus velhos pais, suas velhas mães que os esperam. Algumas vezes, esse estado dura muito tempo para alguns; é uma continuação da vida terrestre, um estado misto entre a vida corpórea e a vida espiritual. Por que, se foram simples e sábios, sentiriam o frio do túmulo? Por que passariam bruscamente da vida para a morte, da claridade do dia à noite? Deus não é injusto, e deixa aos pobres de Espírito esse gozo, esperando que vejam seu estado pelo desenvolvimento de suas próprias faculdades, e que possam passar com calma da vida material à vida real do Espírito.

Vemos, portanto, que a existência de tais “lugares” é um fato, permitido pela benevolência divina, àqueles que ainda não estão desenvolvidos para compreender algo acima e fora da matéria e das necessidades materiais.

Lembramos aquilo que está estampado em nossa página inicial:

Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade.

Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ao demais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade.Allan Kardec – A Gênese

Kardec deu o guia seguro para o método de pesquisa, frequentemente apresentando-o na RE. Atuais resgates da ciência de então permitem aprofundar esse conhecimento. O espírita precisa aprender a estudar, do mesmo jeito que, quem não estuda as Ciências, termina acreditando em teorias como as da Terra plana. Defendo que o mais interessante é retomar Kardec, entender a ciência espírita (o que depende de entendimento científico de seu contexto e da atualidade) e, então, retomar o contato com os Espíritos. Havendo desapego de ideias próprias e o firme propósito de pesquisa, será muito fácil retomar o passo, desanuviando essa confusão causada no Movimento Espírita com um único propósito: atraso do progresso moral.




Não falamos ao Movimento Espírita

Terminei um dos últimos artigos falando a respeito do Movimento Espírita, apegado aos erros que foram lenta e continuamente sendo admitidos no meio dele, apagando, lentamente, o conhecimento doutrinário ora adquirido pelos estudos de Kardec.

Erros? Ah, vários. As ideias de lugares na erraticidade; a ideia da reencarnação como pagamento de dívidas; a proibição de conversar com os Espíritos fora do centro espírita; a aceitação cega de comunicações isoladas, sem passar pelo crivo da ciência já adquirida e da razão; a igrejização dos centros espíritas, que passaram a adotar rituais e fórmulas, enfim, uma série de contrariedades àquilo que já havia sido estabelecido pelo estudo científico do Espiritismo.

E quem sou eu para apontar tais erros? Bem, sou um mero estudante da Doutrina que, depois de ter contato com uma série de fatos históricos e mergulhar no estudo da Revista Espírita, encontrou tanta disparidade. Mas, dizia eu, não é ao Movimento Espírita, resistente ao desapego das ideias fixadas por anos, às vezes décadas, de leituras de romances espíritas, sem passar, antes, pelo estudo da Doutrina Espírita. Também não àqueles que, em sua simplicidade, estão muito tranquilos em se dizerem adeptos da Doutrina, mas que dela não fazem estudos, nem tampouco se dedicam a divulgá-la. Não.

Tal como na época de Kardec, com as diferenças resguardadas, nós nos direcionamos aos estudiosos, pesquisadores e cientistas de boa-fé (e não de fé cega) que se interessem em conhecer aquilo que lhes é desconhecido. São esses que vão buscar entender e que, quando houverem entendido, espalharão as ideias que nasceram com Mesmer e com o Espiritualismo Racional e que encontraram pleno desenvolvimento com o Espiritismo. São esses que terão os olhos brilhando e, quem sabe, terminem emocionados como nós outros, ao constatarem no Espiritismo uma vasta profundidade de conhecimentos filosóficos, metafísicos, científicos e morais. O matemático, o físico, o químico, enfim, todos aqueles, de bom-senso, verão, maravilhados, a extensão da doutrina formada pelos estudos de Kardec, cuja figura ascenderá às mais elevadas condições de destaque entre os nomes que mudaram o mundo…

Estamos aqui, enfim, ansiosos e esperançosos pelo desenrolar dos últimos estudos, das últimas pesquisas. Enquanto não temos acesso aos conteúdos das últimas pesquisas que valiosos companheiros estão realizando, nos resta falar do que sabemos, do que entendemos até aqui, produzindo algo que, esperamos, seja útil amanhã, quando a Ciência começar a deixar o dogma e retomar a metafísica racional, o espiritualismo racional, mas, desta vez, com um enorme lastro de conhecimentos que tocam em todas as áreas do conhecimento humano, com seus já conhecidos aspectos filosóficos e morais.

Estamos muito contentes pelo caminho que se abre à nossa frente. E esperamos que você, sentido-se contagiado, também esteja. O Espiritismo voltará à sua condição de ciência, afastado do misticismo e do dogma. Quanto aos resistentes e aos dissidentes, o tempo encarregará de mostrar onde está a verdade, com a diferença que, quando a Ciência admitir o Espiritismo, isso, desta vez, será definitivo, e mudará o mundo.

Prezado leitor: se você sentir-se compelido, participe dos estudos, mas também ajude na divulgação do que já temos em mãos. São conhecimentos que tocam em todas as áreas e que poderão contar com a familiaridade de cada um. Vídeos são bons, mas não bastam, porque ainda não são pesquisáveis, isto é, aquilo que se trata em um vídeo, falando, não está acessível às ferramentas de busca. O texto está.

Esperamos você.




A dogmática ciência moderna: Ciência versus Espiritismo

Acabo de responder uma objeção relacionada ao tema sobre Ciência versus Espiritismo (o sujeito quis imputar Espiritismo à imaginação). Achei interessante reproduzi-la aqui:

“X, está evidente que você fala do que acha que é, ou seja, fala de opinião própria. Isso não é ciência. Provavelmente o amigo desconhece que a Ciência (com “C” maiúsculo) foi formada juntamente à metafísica, e que os grandes gênios do passado, foram, também, grandes filósofos, tratando da questão de Deus e da Criação afastados, porém, da teologia, dogmática e retrógrada. Natural, pois a Ciência, tornando-se tão dogmática quanto a Igreja, virou as costas para a metafísica, tachando de supersticioso, místico ou louco aquele que ouse tocar no assunto sobre Deus ou sobre a espiritualidade, ainda que de forma racional. Pois bem, amigo. Foi justamente o que fizeram aqueles que deram início ao Espiritualismo Racional, no séc XIX, e foi precisamente o que fez Kardec no estudo de certos fenômenos que, apesar de atravessarem a humanidade, eram tratados e forma dogmática, tanto pela Igreja, quanto pela Ciência.

O que a Ciência moderna não percebe, porque colocou no esquecimento esse conhecimento, é que, ao agir como age, age como a Igreja. Enquanto esta conduzia o homem pelo dogma da queda pelo pecado e do castigo, aquela conduz o homem pelo dogma do materialismo. Tanto uma, quanto a outra, tornam-no ausente de suas responsabilidades: a última, porque submete o homem à vontade de terceiros — age-se mau pela influência do diabo e age-se bem pela influência do cristo — e a primeira porque torna o homem essa máquina que age desta ou daquela forma simplesmente por força das sensações, agindo quimicamente sobre seu cérebro ((não excluindo daqui, é claro, a influência que a “química corporal” e mesmo a genética tem sobre o indivíduo. Apenas destaca-se que não são os únicos fatores, porque, frente a uma grande tentação, o indivíduo pode escolher, por sua vontade, não ceder a ela.)). Caem no mesmo erro de certos cientistas antigos, que atribuíam o bom e o mau proceder à bile branca e à bile negra. A diferença, apenas, é que a ciência moderna não trata o psicológico com sanguessugas, mas com comprimidos.

Dizia eu que a Ciência, no passado, tratava da metafísica, de forma racional (e, lógico, nada misticista). Acontece que, para ela, faltava uma chave, assim como faltava para a psicologia de então, que investigava o homem como alma encarnada apenas pelos processos de indução e extrapolação lógicas. Essa chave, quem veio dar, foi o Espiritismo, não esse falso “espiritismo”, colhido nas entrelinhas de falsas ideias, surgida de erros e opiniões de supostas obras mediúnicas, mas o Espiritismo estudado por Kardec, com metodologia, aquele Espiritismo que, há mais de 150 anos, adiantou conhecimentos, ou caminhos para eles, que apenas agora a Ciência moderna passa a constatar. Importante, claro, separar os erros, naturais da parte humana, galgados na ciência da época (como a teoria dos fluidos), dos acertos da parte que tange à lei natural. O que Kardec fez foi investigar as causas de certos efeitos, de onde depreendeu uma Doutrina, que toca não apenas na questão de certos fenômenos materiais, mas que é toda de aspecto moral.

O pesquisador e o cientista que tivessem a boa-fé de investigar as obras “O Céu e o Inferno” e “A Gênese” (com o cuidado de referir-se às recentes edições da FEAL, onde temos segurança de serem as obras originais de Kardec, intocadas) encontrariam, com grande surpresa, algo muito diverso daquilo que pensavam que era o Espiritismo, e, por mais que pudessem terminar discordando, ao imputar a Kardec seja lá o que for, não poderiam concluir esse estudo sem constatar que ele se lançou com muita seriedade a essa pesquisa, que constituiu algo que, diferentemente do que você acha, não foi uma religião.”




Existe alguma outra forma de verificar a existência da alma sem experimentos?

A questão foi proposta em uma discussão, no Facebook, a respeito da resistência da ciência em investigar a alma, imputando o assunto ao misticismo e ao sobrenatural. Destaco, abaixo, minhas considerações sobre a possibilidade de verificar a existência da alma:

“Diga-me: o átomo é observável? Dirá que sim, e isso é fato: por meio de um instrumento, é possível observar o átomo, cuja investigação do comportamento leva os cientistas a teorizar em várias hipóteses.

Sem o microscópio, no passado, o homem, certamente, diria que isso é loucura ou sobrenatural. A questão é sempre atribuir ao sobrenatural aquilo que não compreendemos: esse é o ponto.

Será que somos assim, tão conhecedores de tudo, a ponto de podermos descartar o corpo como instrumento da alma?

Infelizmente, por uma virada materialista nos paradigmas filosóficos, após o final do século XIX, muitas verdades foram colocadas no esquecimento. Hoje, quando se fala em Psicologia, não se cita Victor Cousin ou Paul Janet; quando o assunto é física quântica, ninguém fala de Mesmer, que, taxado de louco, no passado, vislumbrou teorias em acordo com a física moderna.

O erro, sempre, é associar Ciência apenas com o que é observável, esquecendo-se de que a investigação científica avança, também, pela elaboração de teorias sobre hipóteses galgadas em observações racionais. Quer ver?

“A matéria negra é uma forma de matéria hipotética que os cientistas acreditam existir no universo devido a observações astronômicas. Ela é chamada de “negra” porque não emite, absorve ou reflete luz ou outras formas de radiação eletromagnética, tornando-se invisível para nossos telescópios.

Acredita-se que a matéria negra compõe cerca de 85% da matéria do universo, mas ainda não foi detectada diretamente. Os cientistas inferem a sua existência a partir de efeitos gravitacionais que ela causa em objetos observados, como galáxias e aglomerados de galáxias.

Apesar de muitos estudos e experimentos terem sido realizados para tentar identificar a matéria negra, sua natureza ainda é desconhecida. Várias hipóteses foram propostas, incluindo partículas exóticas ainda não detectadas, buracos negros primordiais, e teorias alternativas da gravitação. A pesquisa sobre a matéria negra continua sendo uma das áreas mais importantes e intrigantes da física e da astronomia modernas.”

Diríamos que os cientistas são loucos, ao perseguirem algo que não pode ser observável por nossos instrumentos (e que talvez nunca seja), simplesmente porque observaram certos efeitos? Partindo-se do censo comum, poderíamos dizer que a matéria negra seria algo sobrenatural?

E isso para não adentrar no escopo das teorias de universos paralelos, que são uma consequência lógica de algumas teorias da mecânica quântica.

Veja: a ciência busca respostas em algo não observável, baseada meramente em efeitos. Busca a causa de um efeito. E será mesmo que os efeitos, no escopo humano, são inobserváveis – ou será que a tendência a tratar qualquer forma de espiritualismo como misticismo ou sobrenatural é apenas um preconceito em um campo onde preconceito não deveria entrar?

Diz Paulo Henrique de Figueiredo, em ”Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal”:

Os magnetizadores comprovaram muito cedo as relações dos sonâmbulos com seres invisíveis. Deleuze, discípulo de Mesmer, em sua correspondência mantida com o doutor G. P. Billot por mais de quatro anos, de março de 1829 até agosto de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim afirmou: “O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e a sua imortalidade; ele prova a possibilidade da comunicação das inteligências separadas da matéria com as que lhes estão ainda ligadas.” (BILLOT, 1839)”

[…]

Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se venham manifestar, para lhes transmitir salutares conselhos. Acabo de ter disto um exemplo.” (Ibidem)

[…]

“Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet (1809-1885), com coragem e determinação, conversou com os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, principalmente Adèle Maginot, registrando em sua obra mais de cento e cinquenta cartas assinadas por testemunhas que reconheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa da ciência espírita.

Vemos, portanto, que a alma é tão observável quanto a matéria negra: pelos seus efeitos inteligentes. A diferença é que o Espírito (sinônimo de alma) age por sua própria vontade.




Espiritualismo Racional e Espiritismo – uma nova divisão no meio Espírita?

Parece que alguns Espíritas – aqueles que não entenderam a proposta do Espiritismo – trabalham pela divisão, e não pela construção colaborativa. Encontram em todos os lugares e em todas as pessoas um objeto de suas críticas que, se podem ter algum fundamento, quase sempre perdem-se em razão da notória falta de aprofundamento e de uma real e sólida argumentação, que apresente ponto e contraponto, não dando sentença final sobre nada que não possa ser provado ou suficientemente elaborado pela razão. Interessante, porque, justamente, são (somos) adeptos de uma Doutrina inteiramente fundada na lógica e na razão, onde evidências e hipóteses corroboram teorias, não se dando a posse sobre a verdade. Não agindo assim, Carlos Seth Bastos, do “CSI do Espiritismo”, vem dizer que o tema Espiritualismo Racional e Espiritismo seria uma nova divisão no movimento espírita, sem ter a coragem (ou a vontade) de citar o nome do autor ao qual se refere.

A história se repetiu entre 2016 e 2020 agora no campo da moral, com o lançamento de livros que procuraram trazer pensamentos de Kant, Maine de Biran e Victor Cousin para dentro do Espiritismo, mesmo que para isso precisassem deturpar as ideias de Allan Kardec.

Sua propagação, a pretexto de convencer as pessoas avessas à religião, nos parece o mesmo discurso de Marius George (Surpreso que a ideia espírita tinha recrutado tão poucos adeptos do exército de republicanos, foi finalmente levado a ver que o obstáculo era inteiramente devido ao disfarce místico sob o qual Allan Kardec o havia apresentado) e Émile Blin (Até que tenhamos trazido à Sociedade parisiense um número suficiente de membros para entrar neste caminho de pesquisa, devemos, para ver nossas fileiras aumentarem, convidar a vir até nós os incrédulos e os descrentes para, pela palavra, deixá-los conhecer nossas intenções, provar-lhes nosso desinteresse e persuadi-los de nossa boa fé e honestidade; então, por experiências tão simples quanto possível, por em suas mãos os meios de adquirir para si a certeza de que tudo o que propomos é real e, de fato, a doutrina imortalista é a única que, sem misticismo e sem orações, dá ao homem a consolação e a coragem no presente, e a esperança e a fé no futuro).

Pelo menos estes discursos não se sustentaram na falácia de uma improvável adulteração das obras de Allan Kardec.

BASTOS, Carlos Seth. Bônus adicional – O final. Espíritos sob investigação. Disponível em: <https://www.luzespirita.org.br/leitura/pdf/L193.pdf>. Acesso em: 15/04/2023.

Divisão no Espiritismo?

Em primeiro lugar, importa destacar que o Espiritismo não se divide. Sendo uma verdade natural, é una. Colocadas à parte as dificuldades encontradas nas comunicações feitas sem controle, o Espiritismo é um só, em todos os tempos. O que, sim, pode se dividir, é o Movimento Espírita – e essa divisão é incontável. Através do tempo, depois de Kardec, dividiu-se com a “roustainguização” e, depois, com incontáveis outras, por diversos motivos que não cabe citar aqui, mas que Simoni Privato, Paulo Henrique de Figueiredo e Wilson Garcia, dentre outros, contam bem em suas obras (refira-se a Obras Recomendadas).

Segundo Carlos Seth, “cabeça” do CSI do Espiritismo, agora a divisão se dá no campo moral, porque Paulo Henrique de Figueiredo – esse o autor das referidas obras, de 2018 e 2020, a quem Seth nem sequer se digna a fazer referência – estaria distorcendo falas de Kardec para implantar, na Doutrina, algo que nada tem a ver com ela. Veremos.

Em segundo lugar, importa abordar a sentença “a pretexto de convencer as pessoas avessas à religião”. Como se fazer esforços legítimos e bem embasados para atrair o interesse de “pessoas avessas à religião” fosse um demérito, já que (1) o Espiritismo não é uma religião, (2) desenvolveu-se a partir de uma ciência, como uma ciência e (3) foi precisamente no meio não religioso que encontrou, em sua origem, a maior aderência – justamente porque grande parte dos cientistas que se tornaram adeptos do Espiritismo estavam bem compenetrados do desenvolvimento do Espiritualismo Racional e de suas constatações científicas.

Termina o autor novamente atacando quem, por outras evidências e argumentos lógicos e racionais, conclui pela probabilidade da adulteração ((A teoria da não-adulteração (de O Céu e o Inferno e A Gênese) tem também evidências e argumentos, mas não apresenta prova cabal. Arvora-se numa falácia para atacar outra (segundo defende), esquecendo-se das valiosas sugestões de Kardec: nunca tomar por final senão aquilo que pode ser provado.))

Kardec defendeu o Espiritualismo Racional, mas Seth parece não saber disso

Antes de mais nada, porém, precisaremos evocar Kardec e questionar o porquê de ele ter defendido o tal Espiritualismo Racional – movimento filosófico-científico encabeçado por pessoas como Maine de Biran e Victor Cousin ((Por A + B, se o Espiritualismo Racional estava instituído oficialmente no ensino francês e se era um movimento sólido, fundamentado principalmente pelos autores citados, é fácil concluir, com certeza, que Kardec refere-se ao mesmo movimento, e não a outro qualquer)). Ora, vemos, na Revista Espírita de 1868, que:

A obra do Sr. Chassang é a aplicação dessas ideias à arte em geral, e à arte grega em particular. Reproduzimos com prazer o que dela diz o autor da crítica da Patrie, porque é uma prova a mais da enérgica reação que se opera em favor das ideias espiritualistas e que, como o dissemos, toda defesa do espiritualismo racional franqueia o caminho do Espiritismo, que é o seu desenvolvimento, combatendo os seus mais tenazes adversários: o materialismo e o fanatismo.

O Sr. Chassang é o autor da história de Apolônio de Tiana, à qual nos referimos na Revista de outubro de 1862.

“Esse livro, de um caráter todo especial, não foi feito por ocasião dos recentes debates sobre o materialismo e, sem a menor dúvida, é independentemente da vontade do autor que as circunstâncias lhe vieram dar uma espécie de atualidade. Escrevendo-o, o Sr. Chassang não pretendia fazer obra de metafísico, mas de simples literato. Não obstante, como as grandes questões de metafísica estão atualmente, como sempre, na ordem do dia, e toda obra literária verdadeiramente digna desse nome supõe sempre algum princípio filosófico, esse livro, de uma inspiração espiritualista muito decidida, se acha em correlação com as preocupações do momento.

KARDEC, Allan. Revista Espírita, novembro de 1868

Sendo que a metafísica era um dos campos de estudo das ciências filosóficas, oficialmente instituída na Universidade de Sorbonne:

Imagem extraída do Tratado Elementar de Philosophia, de Paul Janet

E isso não é tudo. Antes disso, em 1863, Kardec diz, no artigo intitulado “Noticias bibliográficas – O Espiritualismo racional pelo Sr. G. H. Love, engenheiro”:

Este livro notável e consciencioso é obra de um distinto cientista, que se propôs tirar da própria Ciência e da observação dos fatos a demonstração da realidade das ideias espiritualistas. É mais uma peça em apoio à tese que sustentamos acima. É mais ainda, porque é um primeiro passo, quase oficial, da Ciência, na via espírita; aliás, em breve será seguido ─ e disto temos certeza ─ por outras adesões mais ressonantes ainda, que levarão os negadores e adversários de todas as escolas a refletir seriamente

KARDEC, Allan. Revista Espírita, outubro de 1863

Que sandice, senhor Kardec! Defendendo ideias que, segundo algumas pessoas, não tem nada a ver com o Espiritismo! Afirmando que o Espiritualismo Racional, ao qual se refere, no texto, apenas como “ideias espiritualistas” (o que nos leva a crer que, em outras referências do tipo – “espiritualismo”, “espiritualistas”, etc – ele se referia ao mesmo Espiritualismo Racional) seria algo obtido da observação científica dos fatos! Ora, onde já se viu ciência e espiritualismo andarem juntos? Só se foi no passado, no tempo do “doido” Kardec.

Maior sandice, na verdade, é a de Paulo Henrique de Figueiredo, que resolveu investigar a fundo e descobriu que a metafísica, ao tempo de Kardec, era uma das áreas de estudo das Ciências Morais oficialmente ensinadas na Universidade de Paris e também na Escola Normal (refira-se a “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”, desse autor). Tudo isso contido em obras que, até então, eram desconhecidas ou esquecidas pelo mundo moderno.

A grande dificuldade, porém, será que todos nós, que acompanhamos o trabalho de Paulo Henrique e inclusive ele, teremos que negar a realidade, negar os documentos históricos e as obras existentes, censurar as obras de Paul Janet, negar Kardec, negar suas conclusões e suas afirmações, tudo a fim de não provocarmos uma nova cisão, “agora no campo moral”. Em outras palavras: apaguemos e adulteremos a verdade, para que a moral, da forma que eles entendem, permaneça intocada. Bem, essa sanha de tomar a verdade para si, ignorando fatos, parece um hábito do Carlos Seth Investiga do Espiritismo, como demonstramos no artigo “CSI do Espiritismo: o órgão oficial da Verdade“.

Também precisamos evocar o Espírito do Sr. Love e ter uma séria conversa com ele, a fim de esclarecer sua ousadia em, sendo um espiritualista racional, afirmar que encontrou a mesma moral obtida em suas observações, justamente no Espiritismo “de Kardec”:

A moral, tal qual a compreendo e a deduzi de noções científicas ─ não temo reconhecê-lo ─ tem numerosos pontos de contacto com aquela transmitida pelos médiuns do Sr. Allan Kardec. Também não estou longe de admitir que se nas páginas por eles escritas muitas há que não ultrapassam o alcance ordinário do espírito humano, inclusive o deles, deve havê-las, e as há, de um tal alcance que lhes seria impossível escrever outras idênticas nos seus momentos ordinários.

LOVE, G. H. apud KARDEC, Allan. Revista Espírita, outubro, 1863.

Creio não ser necessário seguir adiante. Deixo ao leitor a liberdade e a tarefa, se assim desejar, de buscar obter informações que o permitam chegar, pelo seu próprio raciocínio, às suas respostas. Apenas gostaria de citar mais uma vez Carlos Seth:

A doutrina espírita é progressiva, mas seu estudo é a chave. Saibamos aguardar novos dados em vez de recusarmos alguns de seus aspectos, como por exemplo a ação dos Espíritos nos fenômenos da natureza. Se ainda assim, determinada característica, como a religiosa, nos incomoda a ponto de não conseguirmos pô-la de lado, deixemos de ser espíritas kardecistas para então seguirmos quaisquer outras seitas oriundas do Espiritismo original. Apesar de recorrente na história,
é isso que hoje presenciamos mais uma vez com laicos, ecléticos e sincréticos.

BASTOS, Carlos Seth. Ibidem. Grifos meus.

Ah, se o sr. Carlos houvesse seguido seu próprio ensinamento e estudado. Se soubesse aguardar, antes de pular precipitadamente às tolas conclusões apressadas… Teria visto Paulo Henrique afirmar, em Revolução Espírita, o quão evidente é que o Espiritismo complementa e desenvolve aquilo que o Espiritualismo Racional não pôde estudar, resolvendo, aliás, muitos de seus erros, contradições e incertezas. Ah, essa pressa de certos “pesquisadores renomados”…

Por que Kardec não deu mais detalhes sobre o Espiritualismo Racional?

Cabe destacar que, à objeção do porquê Kardec não ter dado mais informações sobre algo para ele tão importante, precisamos responder o seguinte: o mesmo se deu com o Magnetismo, ciência que ele declara ter estudado por mais de 35 anos. Ele simplesmente não se aprofundou sobre algo que estava tão profundamente estabelecido em seu contexto, da mesma forma que, hoje, para falar sobre astronomia, não dedicamos tempo a narrar todo o contexto científico atual, nos limitando a falar, por exemplo, da teoria do Big Bang. Se, porventura, essa teoria fosse colocada no esquecimento, por encontrar-se superada ou pela adoção de outra teoria, não necessariamente correta, um leitor qualquer, no futuro, precisaria buscar resgatar esse conhecimento para bem compreender nossas teorias, suposições e doutrinas.

Devo apenas mencionar que, ao me pronunciar sobre o caso, solicitam-me provas de Kardec teria, como eu disse, defendido amplamente o Espiritualismo Racional. Eis minha resposta:

X, se os autores do artigo (PDF), de bom grado, tivessem se dedicado a estudar a obra desse autor, antes de criticar, teriam entendido muito facilmente todo esse contexto, de modo que eu não tivesse que ficar repetindo aqui toda a informação que já existe.

Já citei uma das vezes em que Kardec citou, com ênfase, e nomeadamente, “Espiritualismo Racional”, afirmando que toda defesa dele seria favorável ao Espiritismo. Em outubro de 1863 (RE) você terá DOIS artigos muito interessantes sobre o assunto. Cito o início do segundo, ao final do número (“O Espiritualismo racional pelo Sr. G. H. Love, engenheiro”):

“Este livro notável e consciencioso é obra de um distinto cientista, que se propôs tirar da própria Ciência e da observação dos fatos a demonstração da realidade das ideias espiritualistas. É mais uma peça em apoio à tese que sustentamos acima. É mais ainda, porque é um primeiro passo, quase oficial, da Ciência, na via espírita”.

Vá até o Google e coloque assim: “site:kardecpedia.com espiritualismo”, e encontrará muita coisa.

Ora, se Kardec falava de fluidos (vital, elétrico, magnético, etc) não nos cabe investigar o que é isso, ao invés de adotar, cegamente, teorias erradas? Vamos então verificar que era um conceito da ciência da época, superada pela ciência atual e, ao que tudo indica, abandonada por Kardec, após convencer-se da veracidade da teoria de Mesmer. Sem fazer isso, caio no erro de dizer que Mesmer e Espiritismo não tem nada a ver, sem saber que Kardec TAMBÉM defendeu o Magnetismo de Mesmer.

Afinal, que linha de pesquisa é essa, para a qual querem dar tantos ares de seriedade e confiança, mas que comete um erro tão grave e absurdo como tal, com o agravante de dar sentenças finais sobre este ou aquele assunto, influenciando o meio espírita para uma nova cisão que não existe senão em suas mentes, apegadas a uma discordância inicial ((Refiro-me à discordância entre ter havido ou não adulterações nas obras O Céu e o Inferno e A Gênese))?

Terminam por cair no ridículo e no descrédito aqueles que assim agem. Não que não estejamos livres, de nossa parte, de incorrer em erros do gênero ou outros piores, mas o estudo do Espiritismo e do proceder científico de Kardec muito nos tem ajudado nesse sentido.

O monopólio do bom-senso

Termino com uma observação de Kardec, feita sobre o artigo “A bibliotecária de Nova York”, na Revista Espírita de maio de 1860. Não é relacionado ao tema principal, mas, quem sabe, nos sirva de reflexão. Os grifos são meus, como sempre:

Sobre o artigo, faremos uma primeira observação: é a displicência com que os negadores dos Espíritos se atribuem o monopólio do bom-senso. “Os espiritualistas, diz o autor, aí veem um exemplo a mais das manifestações do outro mundo. As pessoas sensatas não vão buscar a explicação tão longe e reconhecem claramente os sintomas de uma alucinação”. Assim, conforme esse autor, só são sensatas as pessoas que pensam como ele; as demais não têm senso comum, mesmo que fossem doutores, e o Espiritismo os conta aos milhares. Estranha modéstia, na verdade, a que tem como máxima: ninguém tem razão, salvo nós e nossos amigos!

KARDEC, Allan. Revista Espírita, maio de 1860

Os documentos que eles encontraram, corroborando uma hipótese de não adulteração, são, segundo eles, comprobatórios, dão sentenças finais – mesmo sendo nada mais que evidências que não explicam muitas coisas. Fora disso, segundo eles, é tudo descartável, falácia ou invenção.

O questionamento é natural, salutar e necessário. Ele nos instiga a pesquisar, a reler, a estudar. Mas seria ainda mais produtivo se a opinião discordante nascesse, sempre, de um profundo embasamento bibliográfico e científico, de modo a não terminar como os Srs. Schiff e Jobert (Revista Espírita, junho, 1859) que, tendo descoberto no estalar de um músculo a confirmação de uma hipótese, terminaram por afirmar categoricamente, com palavra final, contra todos os fenômenos espíritas. Bem, basta ler o artigo para certificar-se do ridículo no qual caíram frente aos fatos apresentados por Kardec.

Isso é ciência. Isso é desapego. Isso é compromisso com a verdade. Por todo esse compromisso, longe de configurar como um ataque, mas como uma defesa, faço o que eles não fizeram, e dou nome e sobrenome àqueles que atacam de maneira leviana o trabalho de outros.

Estranhamente, Seth vê uma divisão ao tratar do movimento que deu base ao surgimento do Espiritismo, mas não vê problema algum em ficar fuçando e trazendo à tona fofocas da época, lançada por médiuns que não quiseram se adequar àquilo que a Doutrina Espírita demandava. Vai entender…