Manifestações Físicas

Aqui tem algo que despertou minha atenção. Há um propósito muito mais profundo, na Revista, que não havíamos compreendido ainda: nela, Kardec, além de buscar a divulgação do Espiritismo às massas, busca também a concordância universal dos ensinamentos!

Bem sabemos que Kardec se utilizou de alguns poucos médiuns, psicógrafos automáticos, para a formulação principalmente das duas primeiras obras. Como, então, ele podia julgar se aquilo que os Espíritos respondiam teria concordância universal, além da concordância com a razão e a lógica? Além das cartas que ele enviava e recebia de vários lugares, com questionamentos e respostas dos Espíritos, também através da Revista Espírita ele encontrava grande fonte desses relatos. 

Assim como Ernesto Bozzano (que. na verdade, seguiu seus passos), Allan Kardec colhia relatos de todas as partes, analisando-os em sua essência e, nos casos mais interessantes, buscava verificar suas procedências, a seriedade dos envolvidos, o desinteresse, etc e, assim, confrontava os conteúdos e fatos dali obtidos com os ensinamentos que lhe eram ou foram transmitidos por meios mais diretos!

Agora falando deste capítulo especificamente, Kardec está abordando conceitos que, mais tarde, serão confirmados em O Livro dos Médiuns, como é o caso da constatação de que os fenômenos físicos são sempre executados por Espíritos Inferiores, como ele evidencia na resposta “Quem faz dançarem os macacos pelas ruas? Serão os homens superiores?” que Espíritos deram a tal questionamento. Isso quer dizer: assim como, naquele tempo, as pessoas que faziam macacos dançarem nas ruas, para ganharem dinheiro, eram pessoas de gênero mais embrutecido, iliteratos, talvez levianas, mas não necessariamento maldosas, assim também acontecia com os Espíritos que faziam as mesas “dançarem”.

Temos, aliás, uma forte evidência disso nos diversos casos de comunicações por pancadas e, principalmente, no caso das Irmãs Fox, onde a maior preocupação do Espírito que alí se comunicava era dar conhecimento de que ele havia sido assassinado naquela localidade, revelando seus despojos escondidos e o autor do crime cometido. Era, portanto, uma comunicação séria, mas não uma comunicação elevada ou sábia.

Kardec destaca que os ensinamentos obtidos através dos relatos na publicação “Le Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans” são muito concordantes com os ensinamentos obtidos também pode ele, dados pelos Espíritos Superiores: o de que um médium sério, bem desenvolvido e equilibrado oferece um ascendente moral sobre esses Espíritos, agindo em favor de atenuar suas manifestações e mesmo de os auxiliarem a encontrarem melhores reflexões.




Respostas dos Espíritos a algumas perguntas

Aqui Kardec faz uma abordagem sobre algumas respostas dos Espíritos a respeito de algumas questões básicas, pertinentes naquele momento. O propósito era demonstrar ao público a clareza, a profundidade e a exatidão dessas respostas, creio. Tomo, desse capítulo, alguns pontos:

  • O Espírito é alguma coisa, que ainda não podemos compreender de completo. Nos falta, ainda, a capacidade de depreender que um ser possa se manifestar sem uma aparência visual ou sem os efeitos que atingem nossos sentidos materiais. Contudo, já compreendemos que o Espírito é a essência, o ser real que, para interagir com a matéria, precisa de um intermediário, chamado de perispírito.
  • O Espírito liberto da matéria não encontra nela nenhum obstáculo nem influência, isto é, pode atravessar objetos e até mesmo o fogo, sem nada sofrer.
  • Apenas os Espíritos inferiores se ocupam de ruídos, movimentos de objetos, etc. Contudo, os Espíritos superiores por vezes se utilizam desses espíritos para atingir um fim útil, como chamar a atenção. Este é um ponto que vai se firmar e se definir claramente em O Livro dos Médiuns, mais à frente.
  • A prova de que um conteúdo vem dos Espíritos, e não apenas da mente do médium ou dos demais presentes, está em que, em grande parte das vezes, o conteúdo transmitido vai contra o pensamento dos encarnados reunidos.
  • Todos os Espíritos são capazes de dar manifestações inteligentes.
  • Nem todos os Espíritos estão aptos a compreender as perguntas que se lhes fazem, o que, contudo, não os impede de a elas responderem. Disto parte a necessidade de sempre buscar julgar os conteúdos espirituais sob a luz da razão e da concordância.

Além disso, surgiu a grande questão: poderia o próprio Deus entrar em contato diretamente conosco? Bem, nos baseando na forma como o próprio Kardec se expressava, que consideramos bastante justa e ponderada, não temos a consideração de dizer se Deus, ou mesmo Jesus, que é um Espírito de altíssima hierarquia, podem ou não realizar milagres ou tomar ações diretamente. O que o Espiritismo faz é mostrar que existem explicações racionais e mesmo bastante naturais para os fatos ditos milagrosos, deles não se ocupando além disso.

Minha consideração: Deus é Deus, e poderia fazer de tudo; contudo deixa à sua obra e às suas criaturas as tarefas necessárias à sua própria evolução, assim como um bom pai permite que o filho se encarregue ele mesmo de explorar um brinquedo ou de desenvolver uma tarefa em conjunto com outras criancinhas. Aliás, Jesus é justamente o maior exemplo disso, não como uma criancinha, mas como o filho mais velho, que já aprendeu muito, e que vem, em nome do Pai, ensinar aos outros irmãos.




Vários modos de comunicação

Os Espíritos se comunicam de várias formas. As primeiras delas se deram através dos fenômenos da tiptologia e da sematologia que são, respectivamente, as comunicações através de pancadas (por exemplo, 1 batida para sim e 2 para não) e aquelas através do movimento de objetos (por exemplo: o Espírito move uma mesa ou um lápis na direção da letra ou da palavra que deseja comunicar).

Esses, contudo, foram métodos muito rudimentares e mesmo extremamente cansativos para ambos os lados. Além disso, se prestaram muito mais a chamar a atenção para o fato das inteligências espirituais agindo por trás dos fênomenos do que para a transmissão de ensinamentos superiores, poste que se dão a tais fenômenos apenas Espíritos inferiores – embora possam estar “a serviço” de outros Espíritos mais elevados.

O uso do lápis amarrado à cestinha também foi uma forma de sematologia, mas, mais propriamente, é chamado por Kardec, pelo menos nesse momento, de escrita indireta. Muito rapidamente, porém, e a conselho dos próprios Espíritos, esse método foi substituído pela psicografia, onde o próprio médium segura o lápis ou a pena e cede o controle de sua mão ao Espírito comunicante.

A capacidade e a profundidade dessa escrita, obtida pela psicografia, depende muito da capacidade do próprio médium e do Espírito comunicante – em outras palavras, da sinergia entre eles. Alguns obtém longos manuscritos de ordem elevada; outros obtém escritas impossíveis de serem lidas senão pelos próprios médiuns, como se uma espécie de intuição os guiasse.

Também é importante lembrar que a psicografia pode ser mais intuitiva ou mais mecânica. Quando ela é mais mecânica, as mãos do médium podem ser agitadas, controladas, sem que este saiba sequer o que está escrevendo. É o contrário do que acontece no primeiro caso, onde a comunicação vem através da intuição.

Outro gênero de comunicação é o da palavra – aquilo que hoje nós conhecemos como psicofonia. O Espírito toma controle das cordas vocais do Encarnado e transmite sua comunicação. Às vezes, essas comunicações, porém, acontecem sem intermediação corpórea, quais são os casos de vozes que ouvimos no ar ou em nossos pensamentos, como explicaremos a seguir.

É interessante notar que a Revista Espírita nasceu antes de O Livro dos Médiuns, tendo, ela, alguns propósitos muito bem definidos e importantes: o primeiro deles, era propagar ao máximo possível o Espiritismo dentre as massas; o segundo seria o de poder obter relatos de todas as fontes, verificando os conteúdos de forma metodológica e buscando a tão necessária concordância universal. Muitos conteúdos tratados na Revista, de forma séria e sob tal metodologia, foram posteriormente reproduzidos e aprofundados em outras obras, como na citada.

Nesse contexto e nesse momento, Kardec utiliza um termo que nunca mais utilizou – daí a importância do entendimento acima: espiritologia, havendo, então, dois tipos desse fenômeno – o da espiritologia direta e o da espiritologia mediata. Seriam, respectivamente, os casos de comunicações verbais diretas, onde os Espíritos aparecem em estado de vigília, e os casos de comunicações onde palavras e frases soam em nossos pensamentos ou mesmo em nossos ouvidos.

Este é, enfim, um dos primeiros passos, quiça um esboço, de algo muito mais grandioso e profundo que, em pouco tempo, ganharia forma em O Livro dos Médiuns ou Guia dos Médiuns e dos Evocadores. Voltaremos a esse assunto futuramente, mas você, caro leitor, pode aprofunda-lo, como a tantos outros, no estudo dessa obra tão necessária e recomendada.




Introdução

Iniciamos os estudos da Revista Espírita de Janeiro de 1858 pelo começo, abordando aquilo que destacamos e compreendemos da Introdução da publicação.

Finalidade do Espiritismo

O Espiritismo tem, como finalidade suprema, a iluminação do ser humano, trazendo influência sobre o estado moral da sociedade. Ele o faz, contudo, através do estudo da ciência espírita, que se prolifera e contagia inevitavelmente, todo o mundo. Vemos, hoje, nas diversas religiões, seus traços de influência. Nas Igrejas Católicas, em grande parte, já não se fala mais em um diabo ou em um inferno, por já haver uma compreensão tácita, se não formalizada pela teologia, de que tais conceitos nasceram apenas de uma incapacidade de compreensão no passado. Desfazem-se, assim, muitos dogmas, ao passo que, com o avanço da inteligência humana e suas buscas por respostas, outros [dogmas] são criados e permanecem sem esclarecimento, pela interrupção dos estudos metodológicos do Espiritismo.

Magnetismo

Kardec cita o magnetismo, cuja compreensão, juntamente a outras ciências de sua época, nos permite constatar que o Espiritismo nasceu no tempo certo, nem antes nem depois do que deveria e que, ao invés do que muitos pensam, encontrou terreno fértil para sua rápida disseminação. Sobre isso, recomendo a leitura da obra Espiritismo e Magnetismo, de Carlos Alberto Loureiro. Espiritismo e magnetismo, ambos, são fenômenos naturais, e a compreensão do segundo, como fato científico, torna mais fácil ainda a compreensão do primeiro.

À época de Allan Kardec, o estudo dos fenômenos magnéticos eram bastante vastos e comuns. É por isso que Kardec, quando foi chamado a conhecer o fenômeno das mesas dançantes, dele não duvidou, mas supôs, inicialmente, que se tratava de fenômeno dessa ordem. Ao investigá-lo, mais tarde, como já sabemos, encontrou ali um fenômeno inteligente, que despertou seu interesse profundo.

O magnetismo era largamente utilizado para a produção de fenômenos hipnóticos sonambúlicos, dos quais se obtinha largo campo para estudos. Inclusive, sobre isso, os próprios Espíritos recomendam, em O Livro dos Espíritos, que o estudo desses fenòmenos daria ao homem grande fonte de conhecimentos:

445. Que deduções se podem tirar dos fenômenos do sonambulismo e do êxtase? Não constituirão uma espécie de iniciação na vida futura?

“A bem dizer, mediante esses fenômenos, o homem entrevê a vida passada e a vida futura. Estude-os e achará o aclaramento de mais de um mistério, que a sua razão inutilmente procura devassar.”

Com o passar do tempo, contudo, tais fenômenos passaram a ser colocados à conta de crendice ou superstição, e foram relegados ao esquecimento. Contudo, temos diariamente aos nossos olhos, nos diversos grupos das redes sociais, relatos pessoais que muito parecem levar a tais capacidades sonambúlicas que, se estudadas e bem aplicadas, talvez muito bem poderiam trazer.

Fato é que esse tema, tão esquecido e tão pouco compreendido, poderá nos fornecer grande campo de estudo. Destaco, por exemplo, os conteúdos produzidos em fartura pelo grupo chamado “Hospitais Espirituais do Nordeste”, fartamente encontrados em seu canal do Youtube, mas que, sobre alguns pontos, ainda produzem estranheza, por não nos ser possível, ainda, estudá-los sobre outras fontes.

Espiritismo é ciência

Cabe apenas citar, para compreensão geral, essa grande verdade: Espiritismo é ciência de aspecto filosófico. Relembramos que ciência não é apenas aquilo que se faz em laboratório.

Mais à frente, Kardec afirma que “a história da Doutrina Espírita é, de certo modo, a história do espírito humano”. Concordo totalmente. Kardec buscava, para a compreensão dessa ciência, estudá-la em toda parte, em todas as fontes, jamais dando palavra final sobre algo que não se tenha buscado estudar a fundo.

Os propósitos da Revista Espírita

Kardec deixa muito claro o propósito de acolher, na Revista, todas as observações dirigidas, procurando esclarecer os pontos obscuros, conforme o conhecimento já adquirido. Isso dá grande norte aos nossos próprios estudos, acredito, buscando fazer como propôs o codificador: “discutir, mas não disputar”, ou seja, buscar o estudo e o esclarecimento entre todos aqueles que busquem, de bom grado, compreender a natureza do Espiritismo e dele tirar bom proveito às suas próprias vidas.

Kardec cita o propósito de relatar os fenômenos patentes que testemunhasse ou que lhes fossem relatados. O propósito maior disso tudo vai ficar mais claro em nossa próxima reunião de estudos, quando iniciaremos pelo tema “Manifestações Físicas”.

Seguindo esses passos, decidimos também abrir um formulário, em nosso site, onde quem desejar possa submeter relatos pessoais, que, selecionados, poderão ser abordados em nossos próprios estudos. 

A seguir, Kardec afirma o tão necessário empenho de não se dar afirmações de ideias próprias, mas, sim, de buscar interpretar tudo à luz da Doutrina dos Espíritos. Com isso, aliás, buscaremos resolver quaisquer dificuldades dentro do nosso próprio grupo.

Sobre o espaço, na Revista, para a publicação de comunicações escritas ou verbais dos Espíritos, nos absteremos, por enquanto, de tal propósito de nossa parte, ou seja, não buscaremos tais comunicações pelos nossos próprios meios, pelas dificuldades já citadas. Estaremos abertos, contudo, se formos conduzidos a isso, já que é o propósito maior de nossa iniciativa




A adulteração em A Gênese e o “CSI do Espiritismo”

Para quem acompanha nosso trabalho e já se inteirou das informações desta iniciativa, sabe que ela nasceu, principalmente, por uma grande agitação pessoal causada após a leitura das obras “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, e “Nem céu nem inferno: As leis da alma segundo o Espiritismo”, por Lucas Sampaio e Paulo Henrique de Figueiredo. Após ter contato com essas obras, que, reitero e defendo, são extremamente bem fundamentadas na evidência dos fatos históricos, aliadas à irretorquível racionalidade de seus autores e demais envolvidos, fica claramente evidente que o Espiritismo sofreu grande revés, após a morte de Allan Kardec, com a adulteração na letra, em A Gênese e em O Céu e o Inferno, e no movimento espírita. Não é o que pensa Carlos Seth, do CSI do Espiritismo, mas já falaremos sobre isso.

Na letra, duas obras do professor Rivail (Allan Kardec) sofreram adulterações, após sua morte, inserindo-se nela conteúdos que causam entendimentos diferentes daqueles que o Codificador e os Espíritos Superiores anteriormente refletiram nessas obras.

No movimento espírita a adulteração foi no sentido de que, conforme planos de Kardec, esse deveria deixar de ser centralizado em uma pessoa ou grupo, espalhando-se sobre incontáveis grupos, solidários entre si, continuando os estudos nos mesmos moldes de lógica, razão, concordância universal e, sobretudo, caridade e fraternidade. Após sua morte, o movimento, sob a nomenclatura da Sociedade Espírita Parisiense, fundada por Kardec, e às custas de suas notórias imagem e contribuição prévias, passou a ser regido conforme as vontades particulares e os interesses pessoais. Tornou-se, a referida Sociedade, o templo repleto de vendilhões.

Antes de continuar, contudo, eu peço: não acredite apenas em mim. Leia você também as referidas obras, além da obra “Muita Luz”, de Berthe Fropo, facilmente encontrada em PDF, na Internet.

Creio que como Espíritas devemos buscar o exemplo probo e justo do grande mestre, professor Rivail, que nunca dava afirmativa ou negativa sobre qualquer assunto sem, antes, dele se inteirar completamente. E aqui, não podemos fazer diferente, se realmente queremos ser leais à Doutrina Espírita que, para espalhar luz, carece de ser confirmada e compreendida por toda a parte.

Pois, bem! Regido por esse impulso, cheguei até uma página no Facebook chamada “CSI do Espiritismo“, onde, dentre alguns artigos, um há bastante especial, de Carlos Seth, do dia 04/11/2020, tratando a respeito de uma carta manuscrita, com a letra inconfundível de Allan Kardec, que daria a entender que, “sem sombra de dúvidas”, a obra “A Gênese” não teria sido adulterada em sua 5.ª edição, mas, sim, produzida pelo próprio Allan Kardec.

Quero adiantar que acho estranho um artigo de uma página supostamente espírita e que, pelo próprio nome, dá a entender o grande compromisso com a investigação, se basear apenas em um dos lados da história, não indo a fundo na citação e na análise das afirmações contrárias, como é o caso daquelas apresentadas largamente pela autora Simoni Privato na obra anteriormente citada e, depois, por Paulo e Lucas na obra “Nem céu nem inferno”.

É muito estranho, na verdade. Parece haver uma pressa, uma ansiedade mesmo, muito grande, em encontrar sequer uma fonte que dê embasamento, embora enviesado, à tese de que toda essa enorme quantidade de informações que apontam para adulterações não passariam, na verdade, de engano, ou que os autores tiveram mero descuido na análise peremptória de todo esse material.

É totalmente diferente do que fazia e do que recomendava Allan Kardec, que, por inúmeras vezes, apresentava e discutia as ideias contrárias, mesmo aquelas que poderiam, em um primeiro golpe de vista, conquistar simpatias contrárias ao Espiritismo. Ele, porém, não estava preocupado com isso. Sua preocupação era a verdade, haurida na verificação da lógica dos fatos e da razão.

De minha parte, não pretendo cometer o mesmo engano e, por isso, reproduzo abaixo alguns trechos desse artigo, que pode ser conferido na íntegra através deste link.

O artigo da página CSI do Espiritismo e minhas considerações

Vou destacar os trechos mais importantes do artigo citado, fazendo minhas considerações logo abaixo de cada trecho.

É informado por Allan Kardec (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito) que a tradução devia ser feita a partir da nova edição da obra (A Gênese), que estava naquele momento – em setembro de 1868 – sendo reimpressa e que esta continha correções e acréscimos importantes.

Isso não prova que se tratava de uma nova edição, mas, sim, da reimpressão, muito provavelmente da mesma edição – a 4a, em estágio de finalização naquele momento. Ora, não podemos supor que Kardec, metódico e sempre extremamente cuidadoso com tudo, haveria submetido uma nova edição para impressão sem que se houvesse realizado o depósito legal junto à Biblioteca Nacional, o que ainda era exigido por lei e que foi estritamente cumprido para todas as novas edições de todas as obras por ele produzidas.

Temos, ainda, aqui, algo muito substancial: em “O Legado de Allan Kardec”, de Simoni Privato, a autora faz uma profunda explicação sobre como funcionavam as impressões naquele tempo. De forma resumida, enquanto a edição de uma obra não estivesse concluída, isto é, ainda houvessem correções a serem realizadas, elas eram feitas sobre tipos móveis, com a impressão de poucos exemplares. Após a finalização das correções e dos ajustes, os tipos móveis eram utlizados para a fundição de matrizes, que funcionavam como moldes para a produção de tipos fixos, em metal, para a produção em larga escala.

Acontece que existe uma declaração, do Sr. Rouge, tipógrafo das seis primeiras edições de A Gênese, afirmando que as matrizes da obra foram realizadas ao final de 1868 e cobradas do Sr Rivail (Kardec), ou seja, pouco após a citada carta em que ele fala em reimpressão da obra, por conter erros e acréscimos. Ou seja: a edição estava em fase final de elaboração, tendo sido concluída logo após!

Notamos que seria claramente possível a reimpressão de novas edições sem alterações. O contrário  (a realização de alterações) demandaria a submissão de novo registro na Biblioteca Nacional Francesa, sem o qual o autor estaria agindo ilegalmente e poderia enfrentar reações do próprio governo, então sob o Segundo Império, de Napoleão III.

A obra referida (A Gênese) teve 3 edições feitas com Kardec em vida. A 1ª edição da obra veio à luz, em Paris, no dia 6 de janeirode 1868, seguindo-se, nesse mesmo ano, a publicação da 2ª e da 3ª edições, absolutamente idênticas,
meras reimpressões da 1ª edição (é por isso que há apenas dois depósitos legais da obra: a primeira edição e a 4ª edição).

A 4ª edição, embora contendo na capa e na folha de rosto o ano de 1868, só foi publicada no primeiro semestre de 1869, já desencarnado o Codificador, mas guardando as mesmas características das três primeiras edições, com as quais não se diferencia em ponto algum, ou seja, produzida sobre as matrizes encomendadas pelo próprio Kardec ao final de 1868.

No manuscrito consta a informação de que as folhas impressas da nova edição (A Gênese) seriam enviadas por Allan Kardec (ao destinatário da carta para a tradução), além de dizer que existia cerca de metade delas (referência às folhas impressas com o conteúdo da nova edição) já prontas, comprovando que o mestre havia concluído o texto alterado da nova edição.

Eu não compreendo Francês, muito menos entendo a letra de Kardec. Tenho que considerar o que o autor do texto está dizendo e, aqui, me pergunto: afinal, se tratava de uma REIMPRESSÃO ou de uma NOVA EDIÇÃO? Contudo, ao buscar nos textos transcritos do francês (disponíveis aqui) não há, até onde vi, a palavra “édition” relacionada à obra A Gênese, tampouco à obra “O Céu e o Inferno”.

NOTA: após leitura cuidadosa, notei que, sim, a palavra “édition” – “nouvelle édition – nova edição – existe na carta original. Ainda assim, nesse momento, isso não prova que a suposta 5a edição, de 1869, seja integralmente das mãos de Kardec.

Considerando que as “provas impressas” já estavam sendo feitas pela tipografia em setembro de 1868, e se elas seriam enviadas para a tradução em alemão, podemos afirmar que temos um reforço substancial à hipótese da Declaração de Impressão de 04/02/1869 se referir à 5ª edição “revista, corrigida e aumentada”. Além disso, se as matrizes de impressão estavam praticamente prontas em setembro de 1868 – visto que a gráfica já estava imprimindo as folhas – a tentativa de quaisquer interferências no conteúdo da obra após o falecimento de Kardec, e antes da publicação da 5ª edição de 1869 – grifo meu – (abril, maio ou junho), seria bastante improvável. Como justificar qualquer alteração para o tipógrafo? Quem assumiria este custo de fazer uma nova diagramação de todo o livro e da confecção de novas matrizes? Por que? Que provas existem sobre esta hipótese?

A quinta edição somente foi publicada oficialmente em 1872. Existe, até o momento, UM exemplar de uma suposta quinta edição, de 1869, mas que se mostra evidentemente clandestina, como se pode observar aqui: https://espirito.org.br/artigos/sobre-5a-edicao-clandestina-genese-de-1869/

No manuscrito da carta de 25/09/1868 temos, também, a importante informação de que o livro “O Céu e o Inferno” iria, igualmente, ser reimpresso com correções (vide parte em negrito na tabela contendo a transcrição/tradução do manuscrito)

Mesmo caso. Reimpressão não é nova edição.

Ela é a fonte primária que comprova((Argumento falacioso, visto que parte da análise de apenas um lado dos fatos, e de forma enviesada.)) que Allan Kardec efetuou alterações no livro A Gênese, com correções e acréscimos importantes. Além de indicar que o mestre já havia iniciado o processo de reimpressão da nova edição da 5ª edição, já em setembro de 1868((Iniciar é diferente de finalizar. Naquela época, principalmente, o processo envolvia a impressão de exemplares para análise e correção. Apenas ao final disso, com a edição finalizada, fundia-se a matriz para a impressão em massa – o que nunca aconteceu, conforme relata Privato)). O manuscrito da carta confirma que pelo menos metade das folhas de impressão dos textos da edição revisada já estariam prontas naquela data((Isso apenas dá suporte à tese de que a nova edição estava em andamento, em pleno processo de revisão e correção, mas não finalizada.)).

Considerações finais

Apenas ao final do artigo citado, aparentemente como uma forma de “descansar” a consciência, há uma muito breve citação ao nome de Simoni Privato, com um agradecimento por seu trabalho fraternal (?), não havendo qualquer citação anterior, seja de sua obra, como bibliografia, a fim de buscar comparar as evidências por ela apontadas.

A página em questão, CSI do Espiritismo, vêm sendo largamente indicada como “fonte confiável”, como a última palavra a respeito dessas investigações, por diversas outras entidades, individuais ou representativas, como é o caso da FEB, em seu artigo “A propósito da suposta adulteração do livro O céu e o inferno, de Allan Kardec”. Acontece, porém, que não está havendo o necessário estudo metodológico e concordante, submetido à razão, sequer sobre esses FATOS:

  1. Constitui adulteração e, por isso mesmo, se torna ilegal, qualquer alteração em obra, realizada postumamente, que não seja para a atualização gramatical necessária. Kardec não estava vivo para dizer se queria aquela obra publicada daquela forma, ainda que ela tenha sido produzida por sua própria mão.
  2. Pelo simples fato de que não há depósito legal, por Allan Kardec, da 5a edição de A Gênese, nem da 4a edição de O Céu e o Inferno, cujas alterações, aliás, compreendem a eliminação do prefácio da obra, o que sequer faz sentido à razão, deveríamos nos manter, por segurança, com a 4a Edição de A Gênese e a 3a Edição de O Céu e o Inferno.
  3. A Sociedade Espírita de Paris, comandada por Leymarie, se distanciou totalmente dos propósitos de Kardec, deixando-se, esse infeliz senhor, sucumbir pela tentação da vaidade e do dinheiro. Chegou ao ponto de expulsar, de um dos apartamentos destinados por Allan Kardec a fins de caridade, um casal de idosos, por simples atraso nos pagamentos do aluguel, quando o mesmo e a Sociedade contavam com grandes somas de posses e dinheiro. Além disso, colocou de lado os planos para a continuidade do movimento espírita, com a multiplicação dos grupos de estudos e das “investigações” espíritas, regidas sob a metodologia necessária – ora, como poderiam aplicar tal medotologia aqueles que se veriam desmentidos por ela, não é mesmo?
  4. Uma das provas mais utilizadas para afirmar que a 5a edição foi de autoria integral do próprio Kardec, a tal 5a edição de 1869, apresenta em sua capa, como endereço de impressão, o novo endereço da sede da Sociedade Espírita Parisiense: “Librairie Spirite et des Sciences Psychologiques”, em “7, rue de Lille”.

Sabemos que Kardec morreu antes do estabelecimento da Sociedade no novo endereço, o que comprova que tal edição somente foi impressa após sua morte. Leia mais clicando aqui.

Algo muito grave, também, é que, indiretamente, está se imputando ao sr. Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec) um crime grave: o de ter realizado uma nova edição, com alterações, sem a ter submetido legalmente, através do depósito legal necessário, como sempre o fez, afirmando-o, também, irresponsável. Ora, quem em sã consciência estudou Kardec um pouco mais aprofundadamente, facilmente verificará que uma coisa que ele jamais deixou de fazer foi agir séria e legalmente, tomando todos os cuidados para assegurar um futuro seguro para a Doutrina Espírita.

Aliás, de posse dos manuscritos de Kardec, disponibilizados pelo CDOR, da FEAL, foi possível identificar que:

Algumas cartas manuscritas demonstram que, em fevereiro de 1868, Kardec estava interessado em acrescentar trechos em A Gênese, pois era de seu costume, depois de um tempo do lançamento, revisar suas obras. Para isso, pediu conselhos aos espíritos para organizar esse trabalho.

Alguns amigos espirituais deram orientações para uma revisão da obra, com a expressa indicação para não alterar em nada as questões doutrinárias, como se percebe pelos seguintes trechos desta comunicação:

Minha opinião é que não há absolutamente nada de doutrina a ser retirado; tudo aí é útil e satisfatório sob todos os aspectos” e

É necessário deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público”.

No caso, além da demonstração jurídica da adulteração de A Gênese, também esta comunicação reforça o fato em razão das alterações doutrinárias identificadas na obra, com a supressão de diversos trechos em que Kardec critica a moral heterônoma do fanatismo religioso, dentre outras manipulações.

Ainda nesta comunicação, o espírito sugeriu também que ele trabalhasse sem pressa e sem dedicar muito tempo:

Sobretudo, não se apresse demais. (…) Comece a trabalhar imediatamente, mas não de forma exagerada. Não se apresse”.

https://espirito.org.br/autonomia/ncni-conselhos-sobre-a-genese/

Chega a ser um absurdo. Essas cartas acima citada estão disponíveis, no mínimo, desde 2020, e os confrades do “CSI do Espiritismo” nem tocam nesse assunto!

Esses fatos, somados a inúmeros outros, que, hoje, podem ser facilmente colhidos e verificados pelo trabalho dos autores citados, deveriam acender um grande, um enorme sinal de alerta nas instituições espíritas brasileiras, provocando a busca por uma profunda análise do passado, sem vieses (porque não basta tomar apenas um lado da história – aquele que mais agrada a determinadas opiniões) mas, sobretudo, pela recuperação dos projetos de continuidade e do modelo exemplar de Allan Kardec, esses sim esquecidos pelo tempo e, obviamente, por conta das adulterações no Movimento.

Essa sim, sem sofismas, é a verdadeira forma de prestar homenagem a esse homem, professor Hippolyte Leon Denizard Rivail, que, junto à sua esposa, Amélie Gabrielle Boudet, dedicaram seus tempo, felicidade, tranquilidade e saúde em nome da causa da caridade e da difusão da doutrina consoladora pela Europa e pelo mundo.




Como serão nossos estudos

Iniciaremos, nesta semana, os estudos da Revista Espírita, em nosso encontro virtual. Esse primeiro encontro ficará apenas gravado, mas os próximos, se tudo der certo, contarão com live (transmissão ao vivo), em nosso Canal do Youtube, para participação de demais interessados.

Nós abordaremos o conteúdo da Revista Espírita de forma sequencial, semana a semana, abordando aquilo que couber dentro do espaço aproximado de 01 hora de nosso encontro. Depois disso, a live, se tiver existido, não estará mais disponível. Mas não se preocupe: publicaremos no Youtube vídeos sobre os temas abordados em cada semana, além de produzirmos artigos em nosso site. Assim, todo mundo terá ao seu alcance uma grande fartura de conteúdos para acompanhar os estudos deste grupo.

Para não perder nada, assegure-se de se inscrever em nosso grupo e em nosso Canal do Youtube. Você também pode entrar em nosso Grupo no Facebook e curtir nossa página, também no Facebook.




Primeiro Encontro Virtual

Queridos irmãos,

Realizamos hoje nosso primeiro encontro virtual, com apresentação do grupo e outros detalhes. Podem acompanhar os detalhes no vídeo abaixo.

A partir da próxima semana, nos encontraremos todas as quintas-feiras, às 19:30 (horário de Brasília), por vídeo. Quem quiser acompanhar os encontros, por gentileza, se inscreva no grupo do Telegram, pelo link https://t.me/joinchat/aEn4tUMbSKowY2I5


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