Karma e Espiritismo

Karma e Espiritismo são como água e óleo: não se misturam. Cuidado com as pessoas que pregam a doutrina do karma dentro do meio espírita, pois o entendimento da Doutrina Espírita vai no sentido oposto: não estamos encarnados para pagar nada a ninguém, porque não devemos nada a ninguém, muito menos a Deus!

Encarnamos para vivenciar nossas escolhas e com elas aprender, através de provas e dificuldades, mas também através de abençoadas oportunidades, qual é a de ter o contato com o Espiritismo, que alavanca nosso progresso em muitos degraus, quando bem entendido e vivenciado.

Tudo faz parte de escolhas nossas, inclusive, na maior parte das vezes, a nossa forma de morrer. Mas, nisso, não há Karma. “Mas Paulo, fulano disse que as pessoas morreram queimadas na Boate Kiss porque mataram outras queimadas em outras vidas!”

Sinto dizer, mas fulano está quase totalmente errado. Que Deus seria esse, que castiga a ignorância na mesma moeda, à moda de Talião, em uma forma que nada ensina a ninguém? Isto posto, quero dizer: sim, existem Espíritos que ESCOLHEM castigos, seja durante a vida, seja na forma de morrer, por ACREDITAREM no karma e não saberem lidar com a culpa sobre seus erros. Veremos isso em O Céu e o Inferno, Segunda Parte, Capítulo VIII: tendo matado sua esposa emparedada, na vida precedente, mesmo tendo sido por ela perdoada, PLANEJOU uma morte horrível a fim de tentar se livrar dessa culpa. Vejam: planejou! E precisava? Não, porque na vida atual, foi bom homem, ou seja, buscou APRENDER a ser uma pessoa melhor.

Entende? Não estamos aqui para pagar dívidas, mas para aprender a sermos Espíritos mais felizes, através do abafamento de nossas imperfeições através do aprendizado! E isso, muitas vezes, é feito através de duras penas, inclusive no contato difícil com uma pessoa a quem, no passado, fizemos algum mal, e que, ainda sofrendo seus efeitos, tentamos auxiliar em uma nova encarnação. Mas, vejam: é questão de escolha consciente.

É nesse sentido que a Terra está deixando de ser um planeta de provas e expiações para ser um planeta de regeneração, pois a expiação consiste justamente no tipo de escolha de Antonio B, ou do assassino Lemaire (capítulo VI), enquanto que Espíritos melhor esclarecidos escolhem não apenas sofrer na pele, mas, sim, oportunidades melhores de aprenderem. E, junto a isso, chegamos ao tema da educação proposta por Pestalozzi, a cada dia mais tão necessária e importante.

Portanto, chega de se culpar. É claro: se fizemos um mal que ainda existe no momento em que nossa consciência desperta sobre ele, busquemos, sim, repará-lo, mas através do trabalho, e não da auto-flagelação. E isso vale para qualquer momento, seja na carne, seja na erraticidade. O que realmente importa é aprender, desenvolver melhores hábitos, desenvolver em si a humildade e a caridade. Isso sim interrompe o ciclo do mal e da dor.




O Livro dos Espíritos é a “Bíblia dos Espíritas”?

Hoje cedo me deparei com exatamente essa opinião, em uma discussão em certo grupo do Youtube. Compreensível que muitas pessoas a tenham, por não entenderem o que é o Espiritismo, mas inquestionável que só pode emiti-la aquele que não se dedicou a ler, sequer, a introdução de O Livro dos Espíritos – que dirá as demais obras de Allan Kardec. Mas, antes de adentrar por tais caminhos, vamos aqui fazer uma introdução explicativa ao assunto.

A Bíblia

Em primeiro lugar, é preciso compreender o que é, de fato, a Bíblia: um compêndio doutrinário constituído de histórias, afirmações e opiniões do homem a respeito da divindade e da Espiritualidade. Não podemos objetar, porém, que não tenha sido adulterado em diversos pontos pelos interesses pessoais e de grupos diversos, como o fez a Igreja Católica Romana em episódios historicamente conhecidos. Assim, em resumo, é uma obra repleta de muita moralidade, mas também permeada de erros humanos por toda a parte, inclusive introduzidos por uma interpretação anacrônica tanto da história, como da cultura e da língua original. Sabemos, hoje, que sobretudo no Velho Testamento, mas também no Novo Testamento, a linguagem era repleta de neologismos e figuras que, para aquele povo, naquela época, faziam todo sentido.

Há, ainda, uma enorme diferença entre os dois livros que compõem a Bíblia – O Velho Testamento e O Novo Testamento – posto que, entre eles, há um espaço de séculos que introduziram nova mentalidade na humanidade. No primeiro momento, os “textos sagrados” são repletos de ideias ainda mais atrasadas e permeados de leis e afirmações humanas, inaceitáveis nos dias atuais, que, naquele tempo, tinham a finalidade de legislar com poderes divinos sobre um povo que não tinha a menor capacidade de entender conceitos que, mais tarde, seriam aceitáveis. Já o Novo Testamento carrega um enorme conteúdo moral, inatacável em sua essência, ensinado e exemplificado por um Espírito Puro, conhecido por nós como Jesus. Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, se ocupa apenas do Novo Testamento, por seu grau de elevação, deixando o Velho Testamento de lado.

A grande questão é que, através dos tempos, com adulterações ou não, a Bíblia, em seu todo, foi sempre utilizada como “palavra da salvação”, que deveria ser obedecida cegamente. Justamente aí as religiões encontraram largo campo para disseminarem as suas ideias próprias, introduzindo os diversos dogmas que, em verdade, não estavam lá, a fim de comandarem seus fieis segundo seus interesses políticos e materiais particulares.

O Espiritismo

Diferentemente da Bíblia, que nasceu de relatos e histórias de poucos homens, a teoria espírita, que constitui uma Ciência Filosófica, nasceu da observação racional dos fatos espalhados sobre todo o globo e por todos os tempos. É justamente sob essa autoridade que Kardec vê espaço e necessidade de buscar trazer à compreensão espírita os fatos ou as histórias narrados na Bíblia. O estudo aprofundado do Espiritismo nos demonstra, como sempre, que Allan Kardec não pode ser considerado “pai” ou “profeta” do Espiritismo, como nenhum outro poderia, pois sua qualidade foi apenas a de um pesquisador, como tantos outros, que, frente a uma “nova” descoberta, se coloca a analisá-la com paciência, persistência e método, juntando as peças de um quebra-cabeças para compor uma imagem que, em suas peças separadas, não pode ser compreendida ou que não faz sentido algum.

O Livro dos Espíritos foi a primeira obra por ele concluída, nascida de um vasto estudo sobre as diversas mensagens espirituais obtidas antes e após o início de seus estudos. Ainda assim, entre a primeira edição e a segunda há enormes diferenças, sobretudo em conceitos que foram posteriormente investigados mais a fundo e complementados ou corrigidos. Mas como Kardec realizava tal estudo?

O Estudo Metodológico do Espiritismo

O mundo dos Espíritos não pode ser vislumbrado como nós vemos o nosso mundo. Ele não produz os efeitos que em nossos sentidos produzem a matéria densa que constituem o nosso mundo: o ar, invisível aos olhos, através do vento é sentido pelo tato; o sabor é sentido pelas papilas gustativas; a luz é captada pelos olhos e processada pelo cérebro. Contudo, o mundo dos Espíritos só pode ser perebido por sentidos especiais, que constituem aquilo que chamamos mediunidade.

Na mediunidade existem diversos tipos de sentido – para fazer uma aproximação com o mundo que entendemos – e que dão, aos seus “portadores”, as capacidades de sentir e de se comunicar, ou de dar comunicação, aos seres que constituem esse mundo, sendo que esses seres são os Espíritos, mais ou menos libertos da matéria e mais adiantados e superiore ou bastante atrasados e inferiores. Através das mediunidades, podemos constatar a existência de algo acima do mundo material, de uma inteligência que sobrevive à matéria, sendo que algumas delas, como diversos pesquisadores, além do próprio Kardec, se mostram de forma apenas questionável pelo pior dos orgulhos, tais como são a mediunidade de efeitos físicos e o sonambulismo. A primeira obtem efeitos físicos sem grande extensão moral, enquanto que, na segunda, o conteúdo moral é muitas vezes vasto, totalmente fora das capacidades e dos conhecimentos do médium que a transmitem. Mas reservaremos esse assunto a outro artigo.

Importa dizer que era sobretudo nos médiuns sonambúlicos e nos psicógrafos mecânicos que Kardec mais buscava as comunicações, por percebê-las mais ricas e menos suscetíveis aos conteúdos próprios. Ainda assim, como pesquisador, Kardec sabia muito bem que não podia confiar apenas na opinião de um ou outro médium ou um ou outro Espírito: precisava buscar na generalidade e na concordância dos ensinamentos dos Espíritos a base inabalável da Doutrina Espírita:

Generalidade e concordância no ensino, esse o caráter essencial da doutrina, a condição mesma da sua existência, donde resulta que todo princípio que ainda não haja recebido a consagração do controle da generalidade não pode ser considerado parte integrante dessa mesma doutrina. Será uma simples opinião isolada, da qual não pode o Espiritismo assumir a responsabilidade.

Essa coletividade concordante da opinião dos Espíritos, passada, ao demais, pelo critério da lógica, é que constitui a força da doutrina espírita e lhe assegura a perpetuidade.

Allan Kardec – A Gênese

E não poderia ser diferente, afinal, do ponto de vista do pesquisador, o mundo dos Espíritos é inatingível e impossível de ser sondado e analisado. Façamos um breve esforço de imaginação: digamos que, querendo nos mudar para outro país, sem que o conheçamos, queiramos colher o máximo de informações a respeito desse lugar e do seu povo. Digamos que não tenhamos acesso à Internet e que dispomos apenas do meio telefônico. Pegamos um número de um habitante desse país e ligamos para ele – claro, pensamos que ambos falam uma mesma língua – a fim de obter um relato desse lugar: como são as pessoas lá? São boas ou más? Há violência ou não? Poderei contar com apoio ou não? Bem, é fácil se supor que o relato dessa única pessoa estará alinhado com sua capacidade de percepção cultural, política, educacional, histórica, social e mesmo com suas tendências e concepções próprias. Pode ser, aliás, que tenhamos inadvertidamente ligado para um criminoso, sem que o saibamos. Vamos, então, fiar nossa decisão ou nossa concepção daquele povo através de apenas um único relato? É claro que não: precisamos, nesse quadro, ligar para muitas outras pessoas, analisar obras bibliográficas e artísticas produzidas por seus habitantes, etc.

É exatamente o mesmo que Allan Kardec realizou, analisando incontáveis comunicações obtidas de todos os lados, por incontáveis médiuns e por incontáveis Espíritos, tirando, disso tudo, conclusões racionais e lógicas, postulados e, às vezes, teorias científicas, que somente estudos futuros poderiam sancionar ou derrogar.

Conclusão

Poderíamos, verdadeiramente, passar horas e horas falando muito mais sobre os estudos de Allan Kardec, mas o fato é que já existe muito material a respeito disso, sobretudo na obra do próprio Kardec que, como sempre demonstrava, não tinha um conteúdo nascido de suas próprias ideias. Deixamos ao leitor essa busca necessária. Nos limitamos a encerrar este artigo, depois de toda essa abordagem anterior, demonstrando que o Espiritismo não uma religião e que, como Ciência é uma Doutrina que apresenta seus estudos e suas conclusões, de forma racional e lógica, e deixa a cada um a tarefa que raciocinar por si mesmo sobre todo o conteúdo apresentado. Ora, como mesmo as Ciências Modernas, tão bem estabelecidas, encontram seus dissidentes com suas ideias mais absurdas, o Espiritismo não poderia esperar menos. Ainda assim, é questão de liberdade de cada um.

Nós, espíritas, acreditamos no Espiritismo não por medo ou imposição, mas, sim, porque compreendemos de forma natural a racionalidade contida nessa Doutrina Científica. Acreditamos na reencarnação não por provas incontundentes, mas por uma racionalidade incontundente; acreditamos na existência dos Espíritos e na sua comunicação conosco também pela razão, mas também pela seriedade dos pesquisadores que já se lançaram a estudar as manifestações com grande cuidado e que, por si próprios, constataram provas irrefutáveis de tal existência; mas não acreditamos de forma cega nos ensinamentos dos Espíritos, muito menos em qualquer suposto fenômeno. O próprio Kardec asseverava: O Espiritismo deve andar de mãos dadas com a Ciência. Se, um dia, esta desmentir alguns postulados de sua Doutrina, devemos abandoná-los e ficar com a Ciência. Ora, pelo contrário, a Ciência Moderna vem a cada dia mais se aproximando e dando confirmação aos postulados espíritas, assim como a Ciência do século XIX e início do século XX o fez.




Lei de ação e reação, lei do retorno, carma: por que sofremos, segundo o Espiritismo?

Talvez você que esteja lendo, como eu, já tenha feito aquela pergunta: “Deus, por que comigo?”

Esse questionamento, bastante natural quando ainda não temos plena compreensão dos ensinamentos dos Espíritos superiores através do Espiritismo, ainda encontra muitas explicações inexatas ou mesmo erradas, justamente por essa falta de compreensão, que nasce pela falta de estudo.

Vamos apresentar algumas dessas opiniões incongruentes com o Espiritismo:

  • Porque Deus quer
  • Porque estou pagando por um mal passado
  • Porque estou sendo castigado por um erro de outras vidas
  • Porque é o acaso
  • É karma (ou carma)
  • É a Lei de Ação e Reação (o que reflete um mal passado)
  • É “resgate” de outras vidas

Todas as explicações, exceto a que diz ser obra do acaso, refletem, no fundo, uma mesma opinião: se estou sofrendo é porque Deus está me submetendo a um castigo, já que eu errei. Uma opinião ainda vai além: Deus não gosta de mim.

Nós precisamos nos descolar um pouco mais dessas velhas concepções, de uma época em que a mentalidade humana não estava pronta para avançar alguns passos à frente e entender um Deus que é todo bondade e amor. No passado, acreditávamos que Deus era um ser cruel, vingativo, cheio de ira e de cólera, porque Lhe atribuíamos nossas imperfeições, por não conseguirmos entender um ser que não as tivesse. Hoje, contudo, não é mais dessa forma.

Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, apresenta uma face de Deus, obtida dos ensinamentos dos Espíritos superiores, nunca antes conhecida na face da Terra – pelo menos não como doutrina:

1. Que é Deus?

“Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas” *

2. Que se deve entender por infinito?

“O que não tem começo nem fim; o desconhecido; tudo que é desconhecido é infinito.”

3. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?

“Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para definir o que está acima de sua inteligência.”

[…]

13. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom, temos ideia completa de seus atributos?

“Do vosso ponto de vista, sim, porque credes abranger tudo. Sabei, porém, que há coisas que estão acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas ideias e sensações, não tem meios de exprimir. A razão, com efeito, vos diz que Deus deve possuir em grau supremo essas perfeições, porquanto, se uma lhe faltasse, ou não fosse infinita, já ele não seria superior a tudo, não seria, por conseguinte, Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus tem que se achar isento de qualquer vicissitude e de qualquer das imperfeições que a imaginação possa conceber.”

Sendo que nossa concepção de Deus evoluiu muito, como então podemos atribuir a ele a execução de castigos ou de cobranças, posto que Ele sabe que as imperfeições que temos são apenas momentâneas e que desaparecerão com a nossa evolução?

Mas, podemos objetar, fatos são fatos: se não há acaso, mas sofro, deve então haver uma razão para tais sofrimentos. Se não fui eu quem causou o sofrimento, então alguém está me submetendo a eles, portanto, só pode ser Deus.

Precisamos, porém, analisar essa cadeia de pensamentos de forma racional, que é o convite sempre feito por Kardec frente a quaisquer questões:

Em primeiro lugar, precisamos compreender que somos Espíritos encarnados e enquanto estivermos ligados ao corpo, sobretudo em estado tão denso, estaremos sujeitos às vicissitudes da matéria, incluindo as dores e os sofrimentos naturalmente causados por algo como, por exemplo, frio e calor.

Em segundo lugar, precisamos aprender a analisar e distinguir os gêneros de sofrimentos causados por nós mesmos, na presente encarnação, pelas nossas formas de agir e de pensar. Nesse sentido, Kardec nos chama à reflexão:

Remontando-se à origem dos males terrestres, reconhecer-se-á que muitos são consequência natural do caráter e do proceder dos que os suportam.

Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição!

Quantos se arruínam por falta de ordem, de perseverança, pelo mau proceder, ou por não terem sabido limitar seus desejos!

Quantas uniões desgraçadas, porque resultaram de um cálculo de interesse ou de vaidade e nas quais o coração não tomou parte alguma!

Quantas dissensões e funestas disputas se teriam evitado com um pouco de moderação e menos suscetibilidade!

Quantas doenças e enfermidades decorrem da intemperança e dos excessos de todo gênero!

Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os gérmens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles.

Interroguem friamente suas consciências todos os que são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes, não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não estaria em semelhante condição.

Allan Kardec – O Evangelho Segundo o Espiritismo – cap. V

Fica muito evidente que muitos sofrimentos há que nascem por conta de nossas ações, mesmo que em pensamento, e sobre os quais não podemos acusar senão a nós mesmos.

Mas, e a respeito dos sofrimentos que não causamos nesta vida? De onde vem eles então? Se não vem de hoje, muitos dirão, são reflexos de outras vidas. Estou apenas pagando por erros passados. Mas, refletiremos, se Deus não cobra nem nos castiga, quem é que está me cobrando por supostos débitos? Minhas vítimas do passado, alguns dirão. Supomos mesmo que, muitas vezes, vítimas nossas nos perseguem por mais de uma encarnação, buscando vingança. Mas seria isso uma regra? Não há os inúmeros casos dos Espíritos que perdoam seus algozes e seguem suas vidas? Quem, então, quem estaria nos cobrando e punindo? Onde estaria o tribunal?

Há, neste ponto, um ensinamento muitíssimo importante dado pelos Espíritos superiores, citado em O Livro dos Espíritos:

621. Onde está escrita a lei de Deus?

“Na consciência.”

Essa resposta é tão sucinta, mas tão completa, que nos espanta. Ora, já entendemos que o Espírito só passa a ter livre-arbítrio quando entra no reino da consciência. Antes disso, suas ações são maquinais, respondendo apenas aos instintos. Quando, consciente, porém, passa a ter a livre escolha sobre os seus atos e, por assim dizer, entre bem e mau.

Estou tomando uma linha de exposição bastante construtiva a fim de bem elaborar o pensamento: entendemos, então, que, a partir do momento em que desenvolvemos a consciência, a Lei de Deus passa a vigorar em nossa própria mente. Assim, enfim, chegamos à resposta crucial: quem nos persegue somos nós mesmos.

Quando fazemos de uma imperfeição, um hábito, passamos a cometer erros que, então, passam a nos fazer infelizes a partir do momento em que nos conscientizamos sobre eles. Quando no estado de erraticidade, então, avaliamos nossos atos e suas consequências, sobre nós e sobre os outros, e passamos a planejar novas encarnações com provas que visamos nos ajudem a aprender e a vencer essas imperfeições. Muitas vezes, contudo, perseguidos por uma grande culpa e ainda pouco desenvolvidos no entendimento, chegamos ao ponto de planejar grandes e dolorosas expiações, como a criança que, não sabendo lidar com a culpa por algum mal cometido, pede ao pai que a castigue.

Vemos, portanto, que as dificuldades e dores de nossas vidas, quando não oriundas de nossas ações presentes, são ricas oportunidades de aprendizado e reajuste. Outras vezes, tragédias e dores terríveis são planejadas pelo próprio Espírito para buscar aliviar sua consciência sobre algo passado. Contudo, fica uma lição muito importante: conforme entendemos mais profundamente a mecânica da evolução espiritual, faremos melhores planejamentos para nossas encarnações.

Ainda somos Espíritos muito ligados a essas concepções de pecado e castigo, chegando ao ponto de elaborar planejamentos reencarnatórios ligados à “Lei de Talião” — olho por olho, dente por dente. Mas, conforme compreendemos que o que realmente importa é identificar nossas imperfeições transformadas em maus hábitos e corrigi-las, entendendo que o castigo ensina pouco ou quase nada, buscaremos formas melhores de planejar novas oportunidades, nos desligando progressivamente da necessidade das expiações muito brutas para, então, buscar oportunidades mais ligadas a uma educação espiritual basilar, desde os primeiros passos da infância material, com vistas a fortalecer virtudes e a abafar imperfeições.

Afinal, queremos dizer: as dificuldades desta vida, por pior que pareçam, se não são efeito negativo de nossas ações presentes ou da própria Natureza, são oportunidades planejadas por nós mesmos para nossa elevação. Nos esforcemos, portanto, para encarar de forma diferente essas provações, buscando aprender com elas, nos apoiando sempre na prece e nos estudos do Espiritismo, que muito podem fazer por ajudar a mudar nossas concepções ainda nesta vida.

Para complementar esta leitura, sugerimos a leitura do artigo sobre Punição e Recompensa, publicado recentemente.


Sugestões de leitura:

  1. O caso de Antonio B, em O Céu e o Inferno
  2. Nossas reflexões sobre o artigo A Fatalidade e os Pressentimentos, apresentado na edição de Março da Revista Espírita de 1858
  3. O Assassino Lemaire, na Revista Espírita de Março de 1858



Júpiter e alguns outros mundos

Nesse artigo, muito conectado ao anterior, Kardec, se reportando à Escala Espírita, faz algumas outras conjecturas a respeito de como poderia ser um planeta todo habitado por Espíritos da nona (décima) classe, as dificuldades imensas, o estado geral de crime, de horror, de padecimentos físicos e morais.

Em seguida, conjectura um planeta habitado por Espíritos todos da terceira ordem – Espíritos impuros, levianos, pseudo-sábios e neutros. Dominaria, aí, ainda o mal, embora cada vez menos presente conforme se afastassem da nona (décima) classe tais Espíritos. O orgulho, o egoísmo, as paixões, a escravização e diversas outras imperfeições morais ainda aí dominariam.

NUMA TAL SOCIEDADE, SE DOMINAR, O ELEMENTO IMPURO ESMAGARÁ O OUTRO; CASO CONTRÁRIO, OS MENOS MAUS PROCURARÃO DESTRUIR OS SEUS ADVERSÁRIOS; EM TODO CASO HAVERÁ LUTA, LUTA SANGRENTA, DE EXTERMÍNIO, PORQUE SÃO DOIS ELEMENTOS QUE TÊM INTERESSES OPOSTOS. PARA PROTEGER OS BENS E AS PESSOAS, HAVERÁ NECESSIDADE DE LEIS, MAS ESSAS SERÃO DITADAS PELO INTERESSE PESSOAL E NÃO PELA JUSTIÇA; SERÃO FEITAS PELO FORTE, EM DETRIMENTO DO FRACO

Em seguida, Kardec nos convida a imaginar, no meio desses Espíritos, alguns da segunda ordem: veríamos, então, em meio às perversidades, algumas virtudes.

SE OS BONS FOREM MINORIA, SERÃO VÍTIMAS DOS MAUS; À MEDIDA, PORÉM, QUE SE ACENTUA SEU PREDOMÍNIO, A LEGISLAÇÃO TORNA-SE MAIS HUMANA, MAIS EQUITATIVA E A CARIDADE CRISTÃ DEIXA DE SER PARA TODOS LETRA MORTA. DESSE MESMO BEM NASCERÁ OUTRO VÍCIO. A DESPEITO DA GUERRA QUE OS MAUS DECLARAM INCESSANTEMENTE AOS BONS, ELES NÃO PODEM EVITAR ESTIMÁ-LOS EM SEU FORO ÍNTIMO. VENDO O ASCENDENTE DA VIRTUDE SOBRE O VÍCIO E NÃO TENDO FORÇA NEM VONTADE DE PRATICÁ-LA, PROCURAM PARODIÁ-LA E TOMAM A SUA MÁSCARA. DAÍ OS HIPÓCRITAS, TÃO NUMEROSOS EM TODA SOCIEDADE ONDE A CIVILIZAÇÃO É AINDA IMPERFEITA.

Afinal, Kardec chega, pela imaginação, a um mundo todo habitado por Espíritos da segunda ordem, para onde, pela simples leitura, gostaríamos de nos transportar neste exato momento. Não reina ali a igualdade absoluta, posto que a segunda ordem ainda abrange Espíritos de vários graus de desenvolvimento. Contudo, essa desigualdade não gera inveja do menos avançado nem orgulho do mais avançado: todos estariam unidos no propósito de aprendizado e elevação.

AS CONSEQUÊNCIAS QUE TIRAMOS DESTE QUADRO, EMBORA APRESENTADAS DE MANEIRA HIPOTÉTICA, NÃO SÃO MENOS RACIONAIS, E CADA UM PODE DEDUZIR O ESTADO SOCIAL DE UM MUNDO QUALQUER, CONFORME A PROPORÇÃO DOS ELEMENTOS MORAIS DE QUE O SUPOMOS CONSTITUÍDO.

VIMOS QUE, ABSTRAÇÃO FEITA DA REVELAÇÃO DOS ESPÍRITOS, TODAS AS PROBABILIDADES SÃO PARA A PLURALIDADE DOS MUNDOS. ORA, NÃO É MENOS RACIONAL PENSAR QUE NEM TODOS ESTEJAM NO MESMO GRAU DE PERFEIÇÃO E QUE, POR ISSO MESMO, NOSSAS SUPOSIÇÕES PODEM PERFEITAMENTE SER EXPRESSÃO DA REALIDADE.

Vemos, através desse exercício, em que momento espiritual a Terra se encontra e em quais já se encontrou. Baseados nesse pensamento e na Escala Espírita, vemos quais males ainda precisamos extirpar de nossas individualidades a fim de avançar para melhores posições.

Sobre alguns planetas vizinhos, Kardec informa que, segundo os Espíritos, Marte seria um planeta ainda mais atrasado que a Terra, onde se encarnariam Espíritos quase exclusivamente da nona (décima) classe. Mas, pelo fato de que não encontramos nada em Marte além de poeira devemos imaginar que os Espíritos enganaram Kardec? Ora, não! Apenas que essa encarnação deve se dar em estado fluídico, fora de nossos sentidos.

Segue Allan Kardec comentando alguns ensinamentos a respeito de outros planetas, sendo o mais interessante aqueles que falam a respeito de Júpiter, que seria um planeta de muito maior elevação espiritual que o nosso. Ali encarnariam, segundo relatos dos Espíritos, apenas Espíritos da segunda ordem. Retratam, esses Espíritos, cidades maravilhosas.

Será que um dia pousaremos lá uma sonda e constataremos uma civilização perceptível aos nossos sentidos e aparelhos? Talvez sim, talvez não. Pode ser que um dia pousemos lá e encontremos um planeta gélido e deserto, como pode ser que encontremos alguma forma de vida. Não sabemos e, caso se dê o primeiro caso, também poderemos supor que tais cidades e civilização se constituem, também, em matéria etérea, como já sabemos que mesmo nas circunvizinhanças de nossos planeta tal fato se dá.

De qualquer forma, são conjecturas de um tempo passado que, embora válidas em muitos sentidos, talvez possam ser um dia – quando os estudos metodológicos das comunicações dos Espíritos possam ser retomados – revisitadas e complementadas ou corrigidas.




A pluralidade dos mundos

A ciência da época de Kardec é algo bastante diferente do que é hoje. Muitos avanços científicos foram obtidos e, enquanto Kardec podia apenas imaginar como seriam os planetas vizinhos e mesmo lua, hoje já visitamos o último corpo celeste diversas vezes, já pousamos pelo menos 3 veículos autônomos em Marte e, há pouco, fizemos chegar à órbita de Mercúrio a primeira sonda humana. Enorme revolução, se comparada a uma época onde apenas se podia fazer cogitações, através de uma luneta.

Iniciamos assim de forma a nos colocar no tempo de Kardec, o que é imprescindível para entender suas conjecturas a respeito dos corpos astrais próximos. É muito importante, também, notar que há duas partes distintas na Doutrina Espírita a esse respeito: os conhecimentos e conjecturas humanos e os conhecimentos ensinados pelos Espíritos, da forma que o homem podia entender àquela época.

Da parte humana, Kardec, nesse artigo, faz diversas conjecturas a respeito de como seriam os outros mundos, baseado naquilo que a ciência humana de então já havia podido observar. Cria hipóteses, bastante plausíveis para o conhecimento de então, sobre as formações atmosféricas desses orbes distantes, conjecturando, então, a respeito das possíveis formas de vida que aí poderiam haver, inclusive aquelas não detectáveis pelos nossos cinco sentidos, ou seja, aquelas que poderiam estar em estados muito mais sutis da matéria.

Mas a intenção desse artigo de Kardec não é apenas fazer conjecturas filosóficas a respeito da vida, vista de forma científica, fora da Terra: é também fazer o leitor refletir a respeito da grandeza divina, que nada faz por acaso e que, também nesse sentido, não teria feito planetas apenas para a nossa apreciação. Aliás, Kardec faz essa abordagem baseado nos ensinamentos dos Espíritos, como podemos verificar em O Livro dos Espíritos:

55. SÃO HABITADOS TODOS OS GLOBOS QUE SE MOVEM NO ESPAÇO?

“SIM E O HOMEM TERRENO ESTÁ LONGE DE SER, COMO SUPÕE, O PRIMEIRO EM INTELIGÊNCIA, EM BONDADE E EM PERFEIÇÃO. ENTRETANTO, HÁ HOMENS QUE SE TÊM POR ESPÍRITOS MUITO FORTES E QUE IMAGINAM PERTENCER A ESTE PEQUENINO GLOBO O PRIVILÉGIO DE CONTER SERES RACIONAIS. ORGULHO E VAIDADE! JULGAM QUE SÓ PARA ELES CRIOU DEUS O UNIVERSO.”

[…]

57. NÃO SENDO UMA SÓ PARA TODOS A CONSTITUIÇÃO FÍSICA DOS MUNDOS, SEGUIR-SE-Á TENHAM ORGANIZAÇÕES DIFERENTES OS SERES QUE OS HABITAM?

“SEM DÚVIDA, DO MESMO MODO QUE NO VOSSO OS PEIXES SÃO FEITOS PARA VIVER NA ÁGUA E OS PÁSSAROS NO AR.”

Cientificamente, naquela época, já era possível constatar que a Lua não tinha atmosfera, que Mercúrio seria muito quente e que Saturno seria muito frio. Como, então, poderia haver vida nesses orbes? Sobre isso, temos duas hipóteses, adotadas por Allan Kardec:

  1. Os seres que ali vivem, se forem de constituição física de mesma densidade da nossa, poderiam ser adaptados a esses lugares, como na Terra existem seres vivos que sobrevivem ao frio e ao calor extremos ou mesmo a compostos químicos que nos matariam em pouco tempo, bem como existem animais adaptados a viverem a vida toda dentro da água e outros apenas na terra.
  2. Os seres que ali vivem são constituídos de matéria etérea, mais sutil que a nossa matéria e, por isso, vivem em condições totalmente adversas das nossas. Sobre isso, também em O Livro dos Espíritos, há um indício:

58. OS MUNDOS MAIS AFASTADOS DO SOL ESTARÃO PRIVADOS DE LUZ E CALOR, POR MOTIVO DE ESSE ASTRO SE LHES MOSTRAR APENAS COM A APARÊNCIA DE UMA ESTRELA?

“PENSAIS ENTÃO QUE NÃO HÁ OUTRAS FONTES DE LUZ E CALOR ALÉM DO SOL E EM NENHUMA CONTA TENDES A ELETRICIDADE, QUE, EM CERTOS MUNDOS, DESEMPENHA UM PAPEL QUE DESCONHECEIS E BEM MAIS IMPORTANTE DO QUE O QUE LHE CABE DESEMPENHAR NA TERRA? ADEMAIS, NÃO DISSEMOS QUE TODOS OS SERES SÃO FEITOS DE IGUAL MATÉRIA QUE VÓS OUTROS E COM ÓRGÃOS DE CONFORMAÇÃO IDÊNTICA À DOS VOSSOS.”

O que Kardec faz nesse artigo é, de posse de informações obtidos pela ciência humana e pela ciência espírita, raciocinar, junto ao leitor, sobre a possibilidade muito natural de haver vida, de alguma forma, em todos os orbes existentes no espaço e, inclusive, no espaço, isto é, no espaço “vazio”. Não há, nesse pensamento, nada de errado.

Contudo, podemos pensar: “já chegamos à Lua e a Marte e não encontramos nada daquilo que ele imaginava. Kardec, portanto, errou”. Ora, pela segunda hipótese, não, ele não errou. Podem ali existir seres em estado etéreo, como entre nós os Espíritos vivem, passeiam e interagem, através de seus perispíritos, sem que sequer os notemos (senão quando temos faculdades mediúnicas para tal). Outrossim, precisamos lembrar que Kardec nunca se disse dono da última verdade: apenas raciocinava com base no que a ciência lhe fornecia.

Pode ser que um dia pousemos num planeta próximo e lá encontremos novas formas de vida, sensíveis aos nossos sentidos, ou pode ser que estejam todos os planetas próximos vazios de vida biológica, talvez mesmo por sabedoria divina que, quem sabe, entenda que o homem apenas encontraria motivos para guerras se encontrasse outros seres vivos em planetas próximos. Agora, vocês vêem, sou apenas eu conjecturando.




Espiritismo e Política

Bate o horário da palestra no Centro Espírita. Sobe à tribuna o palestrante, aparentemente bem preparado e de linguagem eloquente e, em meio a temas relativos ao meio espírita atual, começa a emitir opiniões diversas a respeito de um suposto propósito do Espiritismo como alicerce de movimentos políticos.

Muito provavelmente você também, caro leitor, já presenciou tais feitos, ou já ouviu relatos próximos. E, é claro, tais opiniões – pessoais, lembramos – despertam simpatias e antipatias, porque, no campo político, há muito embate e discordância de ideologias.

Não vamos nomear lados, partidos, ideologias ou o que quer que seja. O que vamos defender, aqui, é que o Espiritismo não é e nem nunca será um movimento político. E quem envolve a Doutrina em tais assuntos, não a entendeu em sua profundidade e se baseia num entendimento distorcido para fundamentar suas próprias inclinações ideológicas políticas, afastando do Espiritismo as pessoas que não concordam com sua forma de pensar – quase sempre bastante fechada em um círculo específico de ideias.

O Espiritismo, lembramos, é uma ciência moral de aspecto filosófico, cuja teoria nasceu da observação dos fatos espíritas – isto é, da manifestação dos Espíritos. Sua essência, em sua clareza original, é voltada à reforma de ideias, no sentido de como o Espírito humano encara sua evolução, suas provas, suas dificuldades e suas oportunidades. Não é acaso, aliás, que Allan Kardec foi formado no Castelo de Yverdon, pelo método de Pestalozzi: é através da pedagogia da fraternidade e do amor, e não pela punição, que o Espírito realmente adquire um entendimento real a respeito de suas potencialidades e de suas imperfeições, se aperfeiçoando e deixando para trás seus maus hábitos.

Por que dizemos tudo isso? Porque as ideologias políticas, de todos os lados, contam com adeptos – à exclusão daqueles muitos apenas utilizam da política para benefício próprio – que visam a melhoria social. Quando esses adeptos são espíritas, muitas vezes são levados a acreditar, por um entendimento muito raso, que as ideias espíritas se aliam às suas ideologias políticas, e passam a divulgar a quatro ventos tais crenças, sem se importar com as antipatias que despertarão. A propósito, precisamos também lembrar: a maioria das ideologias políticas atropela as liberdades de pensamento individuais, sendo que o Espiritismo faz justamente o contrário.

E isso tudo, repito, por um entendimento muito raso, por não se aprofundar nos estudos da Doutrina a ponto de entender que o propósito do Espiritismo é reeducar o Espírito humano e, aliando-se à educação desde a infância, melhorar a forma como o Espírito encara a vida material, promovendo nele uma mudança de ideias sobre as dificuldades da vida e sobre a necessidade de abafar seus ímpetos de orgulho e egoísmo e de agir de forma caridosa, como obrigação moral, respeitando o livre-arbítrio que cada um tem.

Isso sim muda a sociedade, pois modifica a forma como o indivíduo encara a vida e o próximo. O Espiritismo nos oferece terreno comum, sendo uma ciência disponível para pessoas de todas as crenças e ideologias, desde entendam que a sua real proposta é a modificação individual, pela livre-consciência, e não por força de lei.

Da mesma forma que se afugenta um indivíduo que bate à porta do centro buscando consolação mas ouve as mais diversas abobrinhas, também se afugentam irmãos ao envolver temas políticos no meio espírita. Infelizmente, vejo muitos espíritas apoiando ideias e indivíduos que, direta ou indiretamente, ferem ou declaradamente desejam ferir o primeiro princípio básico da lei divina, sustentada pelo Espiritismo, que é o livre-arbítrio.

Não quero dizer que seja eu alguém tão digno de se fazer importante por sua presença ou ausência, mas penso que não sou o único a se afastar por conta desse tipo de viés que não deveria, segundo minha modesta opinião, fazer parte de estudos da Doutrina – pensando que, embora queiramos imprimir aos grupos nossas próprias personalidades e ideias, temos muita responsabilidade sobre os demais, da mesma forma que tem responsabilidade aquele que “acolhe” a mãe de um indivíduo portador de deficiências dizendo que ele é assim porque cometeu suicídio na vida passada e que, por isso, a afasta.

Portanto, não, o Espiritismo não pode jamais ser misturado a movimentos políticos quaisquer.

Para terminar, lembremos

Allan Kardec que, na Revista Espírita de Fevereiro de 1862, faz um alerta:

“Devo ainda chamar a atenção para outra tática de nossos adversários: a de procurar comprometer os espiritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da Doutrina, que é o da moral (grifo nosso), para abordarem questões que não são de sua competência e que poderiam, com toda razão, despertar suscetibilidade e desconfianças.

Também não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quanto disser respeito à política e às questões irritantes, nesse caso, as discussões não levarão a nada e apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém questionará a moral, quando eia for boa.

Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar; eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais verdadeiramente uteis serão uma consequência natural”.




Espiritismo e Saúde Mental

Hoje, 10 de outubro, é Dia Internacional da Saúde Mental. E, como assunto de tal importância, não poderíamos deixá-lo passar em branco.

Iniciamos afirmando que, por ser de extrema importância,  os menores sinais de inquietação e desequilíbrio, sejam eles de estresse descontrolado, melancolia/depressividade e outros transtornos, deveriam sempre motivar a busca por um acompanhamento psicológico profissional. Muitas de nossas inquietações partem não só de aspectos profundamente enraizados dentro de nós, mas também, muitas vezes, de desequilíbrios orgânicos. Somos Espíritos encarnados em um corpo, sendo que estes estão sujeitos às vicissitudes da matéria.

Isto colocado, avancemos para o aspecto espiritual de nossa saúde mental. Para nós, espíritas e, de forma global, para todo espiritualista, o cérebro não é apenas um reflexo químico e orgânico, mas é, antes, o órgão de expressão do Espírito, embora abafado em sua face real. Assim sendo, o Espírito – ou a alma – é quem preside à vontade, às escolhas e, numa palavra, ao livre-arbítrio.

Reconhecendo-nos, portanto, numa espécie de dualidade entre Espírito e matéria, compreendemos que todo tratamento que aborde a mente deveria abordar o indivíduo de forma holística, ou seja, integral, integrando corpo e Espírito. É claro que um bom acompanhamento psicológico profissional muito fará nesse sentido, mas não podemos negar que, ao abarcar a esfera espiritual existente, o tratamento sempre trará muito mais proveito nesse sentido.

O que estamos aqui tentando fazer é demonstrar que, em se tratando de saúde mental, não podemos ver tudo apenas pelo aspecto espiritual – sobretudo a respeito das prováveis obsessões espirituais – mas também pelo aspecto orgânico e fisiológico da questão. Por exemplo: podemos pensar que uma pessoa que vive estressada e que tenha eventos de descontrole emocional esteja sendo vítima de uma obsessão espiritual, quando, porém, ela apenas tem sintomas de pré-diabetes, o que lhe causa hipoglicemia, que leva a tais descontroles.

Não podemos, portanto, como espíritas, no acolhimento de quem e onde quer que seja tratar tudo como se fosse “problema espiritual”, o que seria muita irresponsabilidade. É sempre importante investigar o que se passa com o indivíduo, buscando saber se está fazendo acompanhamento psicológico, se está se tratando e, se não estiver, buscar encaminhar o irmão para tal tratamento.

Por outro lado, é importante destacar, sim, que o Espiritismo apresenta uma faceta importantíssima nesse aspecto, à medida que esclarece o indivíduo sobre as razões das dificuldades da vida e sobre a nossa relação constante com o mundo espiritual à nossa volta. Ora, quantos casos de loucura não se iniciam, também, por uma mente aberta e invigilante aos pensamentos de Espíritos da terceira ordem? Quantas vezes não somos alimentados, por conta de nossas imperfeições, nos mais sutis processos de alienação mental que, lentamente, vão nos provocando manias, medos e distúrbios variados?

Posto que somos Espíritos encarnados em um corpo e que quem comanda a nossa vontade é nosso Espírito, é claro que a raiz de todos os nossos problemas estará sempre no Espírito – mesmo no caso do pré-diabético, já que é por um mau hábito na alimentação, provocado por “seu Espírito”, que tal mal se instalou. Portanto, nesse sentido também, quanto mais o Espírito entende dos dispositivos e dos propósitos da vida, da necessidade da correção de suas imperfeições, do benefício da oração sobre a mente e do fato da associação mental, com encarnados e com desencarnados, segundo nossas inclinações mentais, mais lhe será fácil se manter mais equilibrado mentalmente.

Mas, e no caso de um processo de desequilíbrio já instalado? Aqui, como já dissemos, em primeira instância não podemos dispensar o tratamento psicológico profissional. Isso é imprescindível. Em segundo lugar, através do Espiritismo e do Magnetismo, podemos oferecer também um tratamento muito proveitoso:

  • Através da oração, buscar auxiliar o encarnado e os possíveis desencarnados na melhoria de seu campo mental;
  • Através do passe magnético, que pode ser feito inclusive pelos familiares, podemos buscar auxiliar diminuir os distúrbios e reflexos de tais desequilíbrios;
  • Afinal, porém, não podemos nos esquecer que o indivíduo que está passando por um grave distúrbio mental, como é o caso da esquizofrenia, pode ter uma necessidade em vivenciá-lo, fazendo mesmo parte de um planejamento reencarnatório, por razões como, por exemplo, fazê-lo se desligar um pouco de processos mentais antigos, que muito o afligem. Portanto, orar e buscar ajudar sempre, com fé, mas não esmorecendo ante à não cessação completa da doença.

Finalizando o assunto, gostaríamos de destacar que diferenciar os distúrbios patológicos dos casos de obsessão mediúnica é sempre muito importante, visto, como Kardec já identificou àquela época, que no último caso a medicação pode ser até prejudicial:

Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, tem as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito frequente, é independente de qualquer crença no Espiritismo e existiu em todos os tempos. Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial.

Allan Kardec – O que é o Espiritismo? 

Também não poderíamos de deixar de citar, aqui, na íntegra, o texto “O suicídio e a loucura”, de Allan Kardec, no cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo:

14. A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio. Com efeito, é certo que a maioria dos casos de loucura se deve à comoção produzida pelas vicissitudes que o homem não tem a coragem de suportar. Ora, se encarando as coisas deste mundo da maneira por que o Espiritismo faz que ele as considere, o homem recebe com indiferença, mesmo com alegria, os reveses e as decepções que o houveram desesperado noutras circunstâncias, evidente se torna que essa força, que o coloca acima dos acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, a conturbariam.

15. O mesmo ocorre com o suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura, aos quais se pode chamar de inconscientes, é incontestável que tem ele sempre por causa um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que se lhe apontem. Ora, aquele que está certo de que só é desventurado por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir, enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum termo divisa para os seus sofrimentos. E que é a vida humana, com relação à eternidade, senão bem menos que um dia? Mas, para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.

16. A incredulidade, a simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas, numa palavra, são os maiores incitantes ao suicídio; ocasionam a covardia moral. Quando homens de ciência, apoiados na autoridade do seu saber, se esforçam por provar aos que os ouvem ou leem que estes nada têm a esperar depois da morte, não estão de fato levando-os a deduzir que, se são desgraçados, coisa melhor não lhes resta senão se matarem? Que lhes poderiam dizer para desviá-los dessa consequência? Que compensação lhes podem oferecer? Que esperança lhes podem dar? Nenhuma, a não ser o nada. Daí se deve concluir que, se o nada é o único remédio heroico, a única perspectiva, mais vale buscá-lo imediatamente e não mais tarde, para sofrer por menos tempo.
A propagação das doutrinas materialistas é, pois, o veneno que inocula a ideia do suicídio na maioria dos que se suicidam, e os que se constituem apóstolos de semelhantes doutrinas assumem tremenda responsabilidade. Com o Espiritismo, tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições muito diversas; donde a paciência e a resignação que o afastam muito naturalmente de pensar no suicídio; donde, em suma, a coragem moral.

17. O Espiritismo ainda produz, sob esse aspecto, outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta-nos os próprios suicidas a informar-nos da situação desgraçada em que se encontram e a provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, que proíbe ao homem encurtar a sua vida. Entre os suicidas, alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em daqui sair, antes que Deus o haja ordenado. O espírita tem, assim, vários motivos a contra por à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura, em que, sabe-o ele, será tanto mais ditoso, quanto mais inditoso e resignado haja sido na Terra: a certeza de que, abreviando seus dias, chega, precisamente, a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que, com o matar-se, vai mais depressa para o céu; que o suicídio é um obstáculo a que no outro mundo ele se reúna aos que foram objeto de suas afeições e aos quais esperava encontrar; donde a consequência de que o suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios interesses. Por isso mesmo, considerável já é o número dos que têm sido, pelo Espiritismo, obstados de suicidar-se, podendo daí concluir-se que, quando todos os homens forem espíritas, deixará de haver suicídios conscientes. Comparando-se, então, os resultados que as doutrinas materialistas produzem com os que decorrem da Doutrina Espírita, somente do ponto de vista do suicídio, forçoso será reconhecer que, enquanto a lógica das primeiras a ele conduz, a da outra o evita, fato que a experiência confirma.




Manifestações de Espíritos – Respostas ao Sr. Viennet, por Paul Auguez

Sr. Paul Auguez foi um grande poeta e intelectual francês de sua época, além de um dos primeiros defensores do Espiritismo, tendo conhecido Kardec através do lançamento de sua primeira obra como tal – O Livro dos Espíritos.

O Sr. Paul Auguez responde de forma digna, séria, profunda e racional aos ataques sofridos, razão pela qual Allan Kardec sai em sua defesa na Revista Espírita de fevereiro de 1858.

Pelas numerosas citações que atestam um estudo sério e uma profunda erudição, ele prova que se os adeptos de hoje, apesar de sua cifra sempre crescente, e as pessoas esclarecidas de todos os países que a eles se ligam, são, como pretende o ilustre acadêmico, cérebros desequilibrados, tal enfermidade lhes é comum com a da maioria dos gênios que honram a humanidade.

Allan Kardec, [RE], 1858

É importante destacar que o Espiritismo não é uma teoria tirada da cabeça de uma pessoa, mas é uma ciência cuja teoria está apoiada na observação lógica dos fatos. É dessa observação, racional, lógica e séria, que surge a teoria, e não o contrário.

Diz Paulo Henrique de Figueiredo:

O Espiritismo atende, principalmente, a quem, por ter um pensamento racional incompatível com o misticismo, deseja compreender as leis da espiritualidade pelo uso da razão. Também àqueles que, educados pelo catecismo nas igrejas em sua formação primeira, estão desiludidos pelos dogmas, aceitos pela fé cega, que exigem submissão. A Doutrina Espírita é uma teoria organizada por conceitos fundamentais que formam uma estrutura lógica irrepreensível, explicando os fenômenos da vida moral por meio de leis naturais. Quem a estuda profundamente, e compreende sua mensagem original, encontra forças nos momentos difíceis, coragem para enfrentar seus próprios infortúnios, tem esperança no futuro e ganha a certeza de um mundo melhor, onde encontrará o seu lugar.

Figueiredo, Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, 2019

E completa: “Uma teoria apoiada sobre fatos é a própria definição de ciência, pois representa o que a diferencia de outras formas de pensar, como a conjectura ou a fé religiosa.”




Espiritismo é religião?

É muito comum ouvirmos dizer que “Espiritismo é religião”, incluindo comparando-o a outras religiões existentes. Será mesmo que ele é uma religião?

Bem, para isso, primeiramente, precisamos conceituar o termo religião.

O que é religião

Embora muitos o compreendam principalmente como um conjunto de crenças em uma ou mais divindades, existem mesmo as religiões ateias ou agnósticas. Assim, para evitar maiores confusões, vamos nos ater a duas formas principais de entender o termo religião:

  1. Um conjunto de princípios, crenças e práticas de doutrinas religiosas, baseadas em livros sagrados, comumente separada entre sacerdotes e fiéis, sendo que os primeiros se organizam através de hierarquias claramente distintas que culminam, no topo, em um sumo-sacerdote, que representa toda a Igreja e tem a palavra final, inquestionável.

2. Um sistema de regras e valores morais estabelecido por meio de crenças que caracterizam um grupo de indivíduos.

No primeiro aspecto, a doutrina religiosa é indiscutível pelos fieis e pelos níveis mais baixos da hierarquia sacerdotal. Uma mudança, se vier, vem de cima para baixo. Muito comumente, encontram-se, nelas, ideias que se debatem frente à ciência humana, de forma muitas vezes irracional.

Já o segundo aspecto vai mais em encontro à ideia de religião natural, que se entende pela nossa ligação natural a Deus e à Espiritualidade.

E em qual desses dois aspectos O Espiritismo se encaixaria mais?

Muito bem sabemos que o Espiritismo, em sua essência, jamais teve qualquer dos aspectos da primeira classificação. Mas… E quanto à segunda? Para discutir sobre isso, precisamos conceituar o Espiritismo em seu momento histórico.

O Espiritualismo Racional e o Espiritismo

Como já falamos neste artigo, o Espiritismo surgiu em meio ao movimento chamado Espiritualismo Racional. Esse Movimento foi adotado, na França, a partir da terceira década do século XIX, principalmente, como oposição ao movimento materialista e às velhas religiões escravizadoras do pensamento. Segundo Paulo Henrique de Figueiredo, na obra Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, o Movimento:

caracteriza- se pela adoção de metodologia científica, buscando fazer com o ser humano o que se conquistou com sucesso ao estudar a matéria: a compreensão das leis naturais que o fundamentam. Ou seja, substituiu a fé cega por uma fé racional, exigência dos novos tempos”.

FIGUEIREDO, Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

E, em outro trecho, destaca:

Em seu tempo, os espiritualistas racionais, distantes das religiões formais, faziam uso dos conceitos de religião e moral natural para estudar os atos da alma humana e de suas relações sociais.

ibidem

Assim, o conceito de religião natural era algo estudado de modo científico (pelas ciências morais) naquele contexto histórico no qual nasceu o Espiritismo. É por isso, e unicamente por isso, que Kardec admitia um aspecto religioso no Espiritismo, já que ele nasceu como desenvolvimento do Espiritualismo Racional, como destaca o próprio Kardec:

[…] toda defesa do Espiritualismo Racional abre caminho para o Espiritismo, que dele é o desenvolvimento, combatendo os seus mais tenazes adversários: o materialismo e o fanatismo.

KARDEC, [RE] 1868, p. 223

O Espiritismo não só nunca foi uma religião – conforme o primeiro conceito – como, muito pelo contrário, nasceu e cresceu como uma ciência moral de aspecto filosófico, galgada na observação dos fatos para dar suporte à dedução lógica e racional que baseiam a teoria:

Toda ciência deve estar baseada sobre fatos; mas só os fatos não constituem a ciência; a ciência nasce da coordenação e da dedução lógica dos fatos: é o conjunto de leis que os regem. O Espiritismo chegou ao estado de ciência? Se se trata de uma ciência perfeita, sem dúvida, seria prematuro responder afirmativamente; mas as observações são, desde hoje, bastante numerosas para se poder, pelo menos, deduzir os princípios gerais, e é aí que começa a ciência.

KARDEC, [RE] 1858, p. 3

O Espiritismo nunca foi uma nova religião

Vemos, afinal, que o Espiritismo, sendo um desenvolvimento do Espiritualismo Racional, e com os aspectos de uma ciência racional, nasceu diametralmente oposto às ideias de dogmatismo religioso que sempre imperaram na humanidade. A proposta principal da Doutrina dos Espíritos é justamente a de tirar o controle da fé humana dos grupos religiosos que, agindo por interesses diversos, escravizavam as consciências aos seus livros e rituais sagrados.

Contudo, muito importante dizer, o Espiritismo não é uma Doutrina que nasceu para brigar com as outras. Ele não vem para lançar anátema sobre as demais crenças, mas, sim, como ciência, para dar um campo neutro onde pessoas de todas as crenças podem se abrigar:

O Espiritismo vem, a seu turno, não como uma religião, mas como uma doutrina filosófica, trazer a sua teoria, apoiada sobre o fato das manifestações; não se impõe; não reclama confiança cega; candidata-se e diz: Examinai, comparai e julgai; se encontrardes alguma coisa melhor do que a que vos dou, tomai-a. Ele não diz: Venho saber os fundamentos da religião e substituí-la por um culto novo; ele diz: Eu não me dirijo àqueles que creem e que estão satisfeitos com a sua crença, mas àqueles que desertam de vossas fileiras pela incredulidade e que não soubestes ou não pudestes reter; venho lhes dar, sobre as verdades que repelem, uma interpretação de natureza a satisfazer sua razão e que lhes faz aceitá-la. (Ibidem)

KARDEC, [RE] 1862, p. 70

Mas o Espiritismo é uma religião

A contradição é proposital, porque quero que nos forcemos a entender a distinção que se dá ao termo religião conforme o entendimento que a ele se dá. Isso é imprescindível. Dependendo de como entendemos – se pelo aspecto filosófico de religião natural, relativo ao contexto histórico de Allan Kardec, ou se pelo aspecto de sistema religioso, que compreende rituais, sacerdotes e dogmas – então o Espiritismo pode ser dito como religião ou não. Kardec conceitua muito bem essa distinção na Revista Espírita de 1868:

[…] então o Espiritismo é uma religião?

“Ora, sim, sem dúvida, senhores; no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião[1], e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre as mais sólidas bases: as próprias leis da Natureza.”

Por que, então, temos declarado que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir duas ideias diferentes, e porque, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da ideia de culto; porque ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiserem, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; ele não o separaria das ideias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes a opinião pública se levantou.”

“Não tendo o Espiritismo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual do vocábulo, não podia nem devia enfeitar-se com um título sobre cujo valor as pessoas inevitavelmente ter-se-iam equivocado. Eis por que simplesmente se diz: doutrina filosófica e moral.”

KARDEC, [RE], 1868

Onde mora o problema, então?

Chegando aqui, já para encerrar, preciso reforçar o meu pensamento, que compactua com Kardec: não devemos chamar o Espiritismo de religião, muito menos o apresentar como uma, pois, na cabeça das pessoas, não existe essa distinção de entendimentos – sobretudo atualmente. Diga-se que ele é uma religião e, prontamente, se perguntará o adepto de alguma linha religiosa: “mas então será que eu posso ser espírita, já que sou católico/evangélico/hindu/etc?”. Ou, pior, afirmará: “já tenho minha religião. Essa outra não me interessa” .

Ora, não podemos negar que, ao tratar o Espiritismo como religião, segundo o entendimento popular dado ao termo, estaremos criando uma grande dificuldade de expansão da Doutrina Espírita nas massas, posto que entenderão que, se o Espiritismo é outra religião, então não podem deixar as suas próprias religiões para estudá-lo. Apresentemo-lo, porém, como a ciência de aspecto filosófico que ele é e estão desfeitas as dificuldades: todo mundo pode estudar o Espiritismo, sorvendo dos conhecimentos dados pelos Espíritos por todas as partes e dos estudos de Allan Kardec e de outros, sobre tais conhecimentos, sem a necessidade de deixar sua religião, seus rituais, etc. Aliás, sobre isso, o Espiritismo, seja nas palavras de Kardec ou nas palavras dos próprios Espíritos, sempre foi muito claro: ele não vem forçar ninguém a crer ou a mudar; apresenta, de forma lógica, suas ideias sobre as causas e os efeitos e deixa a cada um a liberdade de mudar ou não.

Aliás, o Espiritismo nem mesmo coloca a necessidade de visitar ou frequentar um centro espírita – embora, claro, não neguemos a grande utilidade que os centros espíritas podem ter – por conta de que o Espiritismo é uma Doutrina para ser estudada e vivida individualmente e no núcleo familiar.

Conclusão

Aqui, finalizando, chegamos a um ponto crucial: a forma como o Espiritismo se difundiu no Brasil. Por uma série de questões, sendo que a principal delas é o desconhecimento da real face do Espiritismo, por falta de estudo das obras de Kardec, mas também por desconhecimento das adulterações sofridas após a morte de Kardec, a Doutrina ganhou diversos aspectos de religião, “indo morar” em templos, atendendo a rituais e hierarquias e, principalmente, deixando para trás toda a metodologia de estudos baseada na evocação de Espíritos, como já tratamos neste artigo.

Contudo, assim como Jesus Cristo nunca fundou uma religião, mas, pelo contrário, tratou de toda a moral por ele trazida de forma natural – aí, sim, adquirindo os traços de uma “religião natural” – o Espiritismo nunca foi nem nunca será uma religião conforme hoje entendemos. Cabe, a nós, entende-lo profundamente, buscando restaurar sua verdadeira face, aplicando-o em nossas próprias vidas e espalhando-o, de forma fraterna e clara, a todos aqueles que possam dela obter algum proveito em suas vidas.

Adicionamos, para enriquecer, a entrevista a esse respeito com Paulo Henrique de Figueiredo:


  1. Veja que, quando Kardec diz que “no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião“, ele está se referindo ao Espiritismo como ciência moral de aspecto filosófico, sendo que tal ciência, nesse momento, abordava a religião natural, afastada dos dogmas das velhas religiões.



O Espiritismo sem os Espíritos

Hoje, 3 de outubro, é aniversário de nascimento de Allan Kardec – Hypolite Leon Denizard Rivail¹, seu nome de registro – e, por entendermos fundamental seu papel no estudo da Doutrina dos Espíritos, à qual denominou Espiritismo, vamos abordar um assunto importantíssimo, que, para quem estuda as obras de Kardec, até pode soar pueril, sem importância: o “Espiritismo sem Espíritos”.

Ora, não será raro aquele que já tenha ouvido as mais diversas afirmações ou que tenha conhecimento do pensamento difundido de que não devemos incomodar os Espíritos, evocando-os. Muitos se baseiam na conhecida frase de Chico Xavier, “o telefone toca de lá pra cá”, imputando a ela um entendimento distorcido e fazendo dela cláusula pétrea no código mediúnico: “não podemos evocá-los. Devemos esperar que eles nos busquem”. Nada mais afastado da verdade e mesmo do propósito do Espiritismo.

Digno de nota, a frase de Chico, pode ser assim interpretada: “podemos evocá-los, mas depende deles, e não de nós, se vão responder ou não”. Outrossim, precisamos lembrar que Chico estava constantemente cercado de milhares de pessoas em busca de uma mensagem de seus entes queridos já falecidos. Chico não podia garantir que poderia atender a todas, sendo levado a dizer, em minhas palavras: “irmãos, eu sou apenas um intermediário e não consigo, sozinho, atender a todos. Por isso, me coloco à disposição deles, permitindo suas comunicações, conforme os bons Espíritos julgarem melhor”.

Essa opinião, contudo, de que não devemos evocar os Espíritos, vêm de muito longe e, aliás, foi muito agradável àqueles que, após Kardec, não desejavam que o método da concordância universal dos ensinos dos Espíritos se mantivesse de pé, posto que colocaria abaixo suas opiniões pessoais. Isso é bem conhecido.

Allan Kardec, na Revista Espírita de Janeiro de 1866, em artigo de título idêntico ao nosso, faz a seguinte observação:

Examinemos agora a questão sob outro ponto de vista. Quem fez o Espiritismo? É uma concepção humana pessoal? Todo mundo sabe o contrário. O Espiritismo é o resultado do ensinamento dos Espíritos, de tal sorte que sem as comunicações dos Espíritos não haveria Espiritismo. Se a Doutrina Espírita fosse uma simples teoria filosófica nascida de um cérebro humano, ela não teria senão o valor de uma opinião pessoal; saída da universalidade do ensino dos Espíritos, tem o valor de uma obra coletiva, e é por isto mesmo que em tão pouco tempo se propagou por toda a Terra, cada um recebendo por si mesmo, ou por suas relações íntimas, instruções idênticas e a prova da realidade das manifestações.

E segue, criticando os inimigos da Doutrina que, por verem na universalidade do ensino dos Espíritos, um grande inimigo às suas ideias próprias:

Pois bem! É em presença deste resultado patente, material, que se tenta erigir em sistema a inutilidade das comunicações dos Espíritos. Convenhamos que se elas não tivessem a popularidade que adquiriram, não as atacariam, e que é a prodigiosa vulgarização dessas ideias que suscita tantos adversários ao Espiritismo. Os que hoje rejeitam as comunicações não parecem essas crianças ingratas que negam e desprezam os seus pais? Não é ingratidão para com os Espíritos, a quem devem o que sabem?

Onde o Movimento Espírita tomou um desvio

Após Kardec, como já sabemos, o Movimento Espírita sofreu enorme desvio, praticamente colocando o mestre lionês e seu método de estudo no esquecimento. Depois disso, chegado ao Brasil, já se encontrava o Movimento bastante alterado em suas bases, esquecido de que o Espiritismo sem os Espíritos é apenas sistema de ideias pessoais, ideias essas que se proliferaram dentre os Espíritas através de mais de um século.

Roustaing, um dos primeiros maiores adversários do Espiritismo, contemporâneo de Kardec, movido por enorme vaidade, através principalmente de Pierre-Gaëtan Leymarie, inseriu seus conteúdos no meio espírita que, se não bastassem serem contrários à Doutrina Espírita em muitos pontos, eram obtidos através de apenas um Espírito – ou seja, nada de universalidade de ensinos. Se houvessem estimulado tal método, veriam tais teorias desmentidas pelos próprios Espíritos, o que não seria interessante à vaidade pessoal do “escolhido”.

Estupefato, descobri, recentemente, que a própria FEB, no início do século XX, defendia as ideias roustainguistas como um complemento a Allan Kardec:

E foi por compreender a sua preponderante utilidade [do Evangelho] que a Federação instituiu o seu estudo nas sessões das terças-feiras, preferindo-o ao Evangelho segundo o Espiritismo [por Allan Kardec], que apenas contém os ensinos morais, Os quatro Evangelhos (Revelação da revelação), ditados a J.-B. Roustaing, por ser completa essa revelação, contendo, não somente o desenvolvimento daqueles ensinos, mas a explicação de todos os atos da vida de Jesus, com uma nova e esclarecedora orientação acerca da natureza e da sua missão messiânica.

(FEB, 1902, p. 1)

Vemos, portanto, desde quando tais ideias danosas se infiltraram no Espiritismo, sobretudo no Brasil, onde diversos médiuns – não questionando seus propósitos e seus valores – passaram a serem tomados como oráculos ou profetas – mais uma vez, nada de universalidade dos ensinos.

Mas será que precisamos disso, hoje?

Muitos, contudo, vão dizer: esse método de Kardec, baseado nas evocações, somente foi útil para o nascimento do Espiritismo. Hoje, não precisamos mais disso, pois já temos muito conteúdo que nos servem de base de ensinamento.

Sim, inquestionavelmente temos, hoje, tanta base de ensinamento moral que, se realmente os compreendêssemos, estaríamos anos-luz à frente em nossa evolução espiritual. Contudo, não se deu o mesmo com os ensinamentos do Cristo que, mesmo assim, nos enviou o Consolador Prometido – a Doutrina dos Espíritos. Por quê? Porque o Espírito avança primeiro em intelectualidade, para apenas depois avançar em moralidade. Como, então, diminuir essa distância? Apenas através da união da fé à ciência. E foi essa a missão de Kardec, tão bem realizada no estudo da Doutrina dos Espíritos.

Ora, não podemos esquecer: o Espiritismo é uma ciência de aspecto moral e filosófico, nascida do estudo e da observação das manifestações espíritas, obtendo, delas, o conhecimento, baseado na universalidade dos ensinamentos dos Espíritos – ou seja, a distribuição dos ensinamentos dos Espíritos por toda a parte, obtendo, desses ensinamentos, a concordância, sob a luz da razão. Chegamos, assim, em uma constatação:

Retirar, do Espiritismo, as evocações, é retirar dele a característica principal: o de uma ciência que, como sempre demonstrou e defendeu Kardec, deveria andar de mãos dadas com a ciência humana.

Então, somos forçados a constatar, também, que as evocações, com finalidade séria, são ainda necessárias e, talvez, sempre serão. Ou será que já sabemos de tudo a respeito das nossas relações com os Espíritos e do mundo dos Espíritos? Ou será que o avanço da ciência humana não trouxe, de um lado, tantas confirmações e, de outro, novas dúvidas, a respeito dessas relações e da nossa natureza espiritual? Ou será que as mistificações não passaram a inundar o Movimento Espírita?

Vamos ver, a respeito da última questão, o pensamento de Cláudio Bueno da Silva no portal O Consolador:

Quando se fala em mistificação, em desvios de rota do movimento espírita, impossível não citar os célebres e traumáticos “ismos”, que causaram tantas controvérsias: o Ubaldismo, de Pietro Ubaldi; o Ramatisismo, de Ramatis; o Roustainguismo, de J. B. Roustaing; o Armondismo, de Edgar Armond; o Divinismo, de Oswaldo Polidoro, e outros “ismos”. Todos eles com uma curiosa característica: em meio a verdades, muitos equívocos destoantes da Revelação Espírita, codificada por Allan Kardec. Embora algumas dessas proposições não tenham surgido propriamente dentro do movimento espírita, nele se infiltraram, deixando resquícios que perduram ainda em muitos centros e federações pelo país.

Mas as investidas das sombras não param. Há algum tempo, muitas casas espíritas foram “invadidas” pela teoria das crianças índigo, versão importada sobre a reencarnação de muitos “anjinhos” inteligentes, cheios de independência e malícia, mas cheios também de rebeldia e agressividade que, segundo a fantasia dos seus “criadores” norte-americanos, têm a missão de renovar (?) a Terra. Muitos espíritas ficaram encantados com a novidade e durante bom tempo não se falou de outra coisa dentro da casa espírita.

CLÁUDIO BUENO DA SILVA – http://www.oconsolador.com.br/ano6/285/claudio_bueno.html

Os próprios Espíritos defendem a nossa comunicação com eles

A leitura e o estudo da obra de Allan Kardec nos demonstra, sem cessar, que os Espíritos vêm de bom grado, sempre que possível, responder às evocações realizadas. Quando Espíritos bondosos ou sábios ficam felizes em transmitir bons ensinamentos; quando Espíritos, ainda inferiores, encontram alívio em exporem suas dificuldades ou em transmitir alguma palavra de conforto aos seus familiares. Outras vezes, conforme permitido, transmitem conselhos importantes, como podemos ver no artigo “Mamãe, aqui estou”, da R.E. de Janeiro de 1858:

Júlia: Mãe, por que te afliges? Sou feliz, muito feliz. Não sofro mais e vejo-te sempre.

A mãe: Mas eu não te vejo! Onde estás?

Júlia: Aqui ao teu lado, com a minha mão sobre a Sra. X (a médium) para que escreva o que te digo. Vê a minha letra (a letra era realmente a da moça).

A mãe: Dizes: minha mão. Então tens corpo?

Júlia: Não tenho mais o corpo que tanto me fez sofrer, mas tenho a sua aparência. Não estás contente porque não sofro mais e porque posso conversar contigo?

A mãe: Se eu te visse, te reconheceria, então?

Júlia: Sim, sem dúvida; e já me viste muitas vezes em teus sonhos.

A mãe: Eu realmente te revi nos meus sonhos, mas pensei que fosse efeito da imaginação, uma lembrança.

Júlia: Não. Sou eu mesma que estou sempre contigo e te procuro consolar; fui eu quem te inspirou a ideia de me evocar. Tenho muitas coisas a te dizer. Desconfia do Sr. Z… Ele não é sincero.

(Esse senhor, conhecido apenas da mãe, citado assim espontaneamente, era uma nova prova de identidade do Espírito que se manifestava.)

A mãe: Que pode fazer contra mim o Sr. Z?

Júlia: Não te posso dizer. Isto me é vedado. Posso apenas te advertir que desconfies dele.

Precisamos, portanto, lembrar que a mediunidade serve justamente para isso: intercâmbio entre os “dois planos”. Se não fosse assim, Deus não nos daria essa capacidade. Sim, é fato que devemos buscar caminhar com nossos próprios pés, sem ceder ao ímpeto de perguntar aos Espíritos sobre tudo. Mas também é fato de que, com seriedade e bom propósito, eles tem muito a nos ajudar, tanto nos assuntos pessoais quanto nos assuntos de importância geral. E isso, aliás, eles fazem constantemente, através da nossa intuição.

Mas, então, se julgamos precisar de comunicações mais claras, que fazer? Viver na dúvida?

Penso que, sobre isso, precisamos pensar com muito cuidado, a fim de realmente não ocuparmos médiuns e Espíritos com algo que nós mesmos podemos entender ou fazer, inclusive galgados nos ensinamentos já existentes no Espiritismo. Deveríamos agir como o estudante que, antes de fazer perguntas tolas, deveria sempre pesquisar o conhecimento já existente, caso contrário poderá ser mesmo repreendido pelo professor: “você não estudou com atenção. O conhecimento está lá; volte e releia”.

Sobre o resto, se há propósito sério, eles nos responderão dentro dos limites permitidos. Se, por outro lado, não houver propósito sério, poderão os bons Espíritos nos dar um belo puxão de orelha, no melhor dos casos; nos outros, poderão responder Espíritos maliciosos, com o intuito de nos provocar dificuldades e desvios, ou apenas de debocharem de nós.

Conclusão

Sendo data memorável, enfim, da vida desse Espírito que conhecemos por Allan Kardec, precisamos, em reconhecendo seu trabalho tão bem realizado e tão dedicado, recuperar a história real do Espiritismo, restaurando sua essência e afastando os escolhos que dela tomaram tão grande parte.

Espiritismo sem Espíritos, isto é, Espiritismo sem concordância universal dos ensinamentos dos Espíritos e, por conseguinte, sem a nossa busca pela comunicação com eles, não é Espiritismo: é apenas opinião pessoal.


  1. Entre os papéis de próprio punho de Allan Kardec há um esboço autobiográfico no qual ele corrige seu primeiro nome, normalmente grafado como Hippolyte, para a verdadeira grafia Hypolite. Canuto Abreu teceu considerações num artigo, que pode ser acessado pelo endereço em https://espirito.org.br/autonomia/allan-kardec-data-e-nome. assim como o manuscrito de Kardec. Também o ano de seu nascimento foi corrigido nesse mesmo documento, tendo nascido em 1803 e não em 1804 como as biografias posteriores registraram equivocadamente. [Paulo Henrique de Figueiredo- Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo]