O carma não existe: as leis da alma segundo o Espiritismo

Conforme a obra original de Allan Kardec, O Céu e o Inferno, antes da adulteração ((A obra original, da Editora FEAL, pode ser baixada clicando aqui )), as leis da alma são simples, lógicas e totalmente condizentes com a bondade divina. Não existe carma, lei do retorno, etc.

Resumidamente:

Felicidade e Infelicidade

Alegria, dor, prazer, medo, tristeza, são emoções geradas por reações fisiológicas. Bons e maus Espíritos passam por todas elas, de maneira que pode-se ser bom e estar triste ou mau e estar alegre.

Felicidade e infelicidade são condições do Espírito. Felicidade é estar no bem — única coisa existente na Criação Divina — correspondente a estar no estado de colaboração: aprender, auxiliar, ajudar, ensinar.

A caridade verdadeira, portanto, é fazer o bem por dever moral, sem esperar retorno nem tentar controlar o resultado. Por isso Kardec diz que o lema do Espiritismo seria “fora da caridade não há salvação”.

O problema é persistir no erro

No processo do desenvolvimento, errar faz parte, sendo oriundo da escolha, da tentativa. O problema é persistir no erro, por vontade.

Quando o indivíduo persiste no erro, por agradar suas falsas ideias, se afasta do bem. Surgem o orgulho, o egoísmo e todas as demais imperfeições deles oriundas. Nem todo mundo faz isso.

Ao repetir o erro, o indivíduo adquire uma imperfeição que nele se instala. Afastado do bem, onde existe a felicidade, torna-se infeliz, pois não pode encontrar satisfação. Pode estar alegre, distraído pelas coisas da matéria, mas não é feliz. Não raro, chega a cometer o sui…

É nesse estado que o mal existe, e apenas nele: para o indivíduo afastado do bem, ENQUANTO estiver afastado do bem.

A consciência: nosso único juiz e carrasco

A lei divina está gravada em nossa consciência (O Livro dos Espíritos, q. 621). O indivíduo fica nesse estado, sabendo que está errando, mas ignorando a consciência, por mais ou menos tempo, até que ela desperta por algum motivo.

Quando a consciência desperta, vem o remorso, a consciência de ter cometido o erro. Isso traz grande sofrimento moral e, pior ainda, quando se erra por vontade.

O sofrimento moral causado pelo remorso dura quanto tempo o Espírito se recusar ao arrependimento sincero. Pode durar séculos.

O arrependimento reconduz o Espírito à felicidade

Quando o Espírito se arrepende sinceramente, o sofrimento moral acaba e a felicidade ressurge com a vontade de retornar ao bem, com decisão. Chega a necessidade da reparação.

A reparação consiste na ESCOLHA de uma nova encarnação, com certas provas e oportunidades, visando superar a imperfeição criada pela própria vontade. Isso é a expiação, não sendo, portanto, um castigo divino.

Reparar não significa NECESSARIAMENTE renascer com suas vítimas, pois elas podem já estar muito longe, enquanto você ficou pra trás, apegado ao erro. Reparar é corrigir o desvio tomado, no esforço do desapego.

Dessa maneira, vemos que a autonomia e o livre-arbítrio são a única regra da lei divina. Tudo de acordo com nossas escolhas e nosso tempo, dentro da lei divina. Mas a Lei determina que todos alcançaremos a felicidade, sem exceção.

Ensinamentos de Jesus

Vemos, aí, a figura da parábola do filho pródigo: a despeito dos alertas do pai, o filho vai ao mundo dos prazeres. Perde tudo, entra no remorso, sofre, se arrepende e, então, volta ao lar, humilhado…

Seu pai o recebe não com um castigo, mas de braços abertos, E AINDA DÁ UMA FESTA, para então RETOMAR O TRABALHO. Seu filho já teve a punição, causada por sua própria consciência, verdadeiro juiz e carrasco de nós mesmos.

Jesus sempre demonstrou um Deus de amor pleno, e não um Deus de vingança. Foi assim com o ladrão pregado na cruz ao lado, foi assim com a mulher adúltera e com tantos outros…

O Espiritismo, como resultado da ciência espírita, apenas reforça o que Jesus já demonstrava: não existe carma, não existe um Deus punitivo. A punição é feita pelo próprio indivíduo, por decidir se afastar do bem.

O verdadeiro Espiritismo não ensina carma, não julga o passado do indivíduo com base nos seus sofrimentos físicos presentes, não afirma que o sofrimento físico seja merecimento ou resgate de débitos.

Livros Recomendados

– O Céu e o Inferno, da editora FEAL (edição não adulterada – link na bio)

– Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Herinque de Figueiredo

– Nem Céu, Nem Inferno: as leis da alma segundo o Espiritismo, de Paulo Herinque de Figueiredo e Lucas Sampaio


Foto de Olga: https://www.pexels.com/pt-br/foto/mulher-de-vestido-amarelo-em-pe-no-campo-de-flores-de-petalas-rosa-1146242/




Enchentes no Rio Grande do Sul: resgate coletivo? Débitos de outras vidas? Carma? O que diz o Espiritismo?

Mais uma vez, com certa inquietação, nos vemos obrigados a vir a público defender as vítimas desses desastres e suas famílias, bem como o Espiritismo, dos verdadeiros absurdos proferidos por certas bocas irresponsáveis. Desta vez, não escaparam as vítimas desse terrível desastre relacionado às enchentes no Rio Grande do Sul:

Ou seja: a ideia, para esses indivíduos descuidados, é que as pessoas que perderam suas vidas ou que sofreram os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, seriam Espíritos culpados, envolvidos com a Guerra dos Farrapos e que, agora, estariam “pagando seus débitos” através desse sofrimento. Terrível pensamento, ausente de caridade, de lógica e de racionalidade, proferido por indivíduos muito carentes do verdadeiro conhecimento do Espiritismo! Esquecem, eles, que muitos dos soldados envolvidos em todas as batalhas sequer queriam estar lá? Que foram obrigados a matar para não morrer?

Já falamos diversas vezes sobre o tema, direcionando o presado leitor à apreciação dos artigos seguintes:

Limitamo-nos, aqui, a reforçar que faz parte de nosso estágio evolutivo, encarnados neste planeta, estarmos sujeitos às calamidades naturais, que acometem bons e maus, sem distinção, provocando mudanças, aprendizado, etc. e que, conforme demonstrado nos artigos citados, nossa relação com Deus não é de débito e crédito, erro e castigo, etc.

Cabe recuperar, aqui, as questões importantes e claras sobre o tema, conforme O Livro dos Espíritos:

737. Com que fim fere Deus a humanidade por meio de flagelos destruidores?

“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.” (744.)

738. Para conseguir a melhora da humanidade não podia Deus empregar outros meios, que não os flagelos destruidores?

“Sim, e os emprega diariamente, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário, portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.”

a) — Mas nesses flagelos tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?

“Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real (85). Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.”

b) — Mas nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de o ser.

“Se considerásseis a vida qual ela é, e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância daríeis a isso. Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.”

Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo.

Se, pelo pensamento, pudéssemos elevar-nos de maneira a contemplar toda a humanidade e abrangê-la em seu conjunto, esses tão terríveis flagelos não nos pareceriam mais do que passageiras tempestades no destino do mundo.

739. Têm os flagelos destruidores utilidade do ponto de vista físico, não obstante os males que ocasionam?

“Têm; mudam, por vezes, as condições de uma região. Mas em muitos casos o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.”

740. Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, provas que os põem a braços com as mais aflitivas necessidades?

“Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus, e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se não estiver dominado pelo egoísmo.”

Voltamos a reforçar: o Espiritismo demonstra que não existe carma, lei do retorno, Deus punitivo, etc. Oferecemos nossas preces por todas as vítimas dessas tragédias, declaramos nossa perplexidade ante aqueles que estão deliberadamente dificultando o trabalho de salvamento, realizado pelos cidadãos, e pedimos a Deus que possa iluminar o pensamento desses que zombam da tragédia ou desejam o mal para os outros, pois o caminho de retorno ao bem lhes será custoso.

Nossos sinceros sentimentos às vítimas fatais das enchentes no Rio Grande do Sul e àqueles que tudo perderam. Que não percam de vista, jamais, o que seja o verdadeiro bem, cuja face temos visto nas atitudes dos cidadãos ali atuando.




A mais dura comunicação mediúnica recebida por Kardec: Plano de campanha contra o Espiritismo

No dia 10 de novembro de 1867, pelo médium Sr. T…, Kardec recebeu uma comunicação muito séria, a respeito do papel dos inimigos na luta contra o Espiritismo. Reproduzimos o artigo abaixo, na íntegra, dada a sua importância para todos os seriamente interessados no Espiritismo, já que ela demonstra os artifícios do plano de campanha contra o Espiritismo.

Plano de campanha — Era nova — Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

(Paris, 10 de novembro de 1867 — Médium: Sr. T… Em sono espontâneo)

NOTA: Nessa sessão, nenhuma pergunta prévia provocara o assunto que foi tratado. A princípio o médium se havia ocupado de saúde, depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões cuja análise damos a seguir. Ele falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.

Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um terror que eles não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer… A criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram para si mesmos que em breve estariam com a razão… Mas, como se costuma dizer, o menino tinha vida dura. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às troças. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros renovos… Para cada um que destruíam, surgiam cem outros.

A princípio empregaram contra ele as armas de outra época, as que outrora davam resultado contra as ideias novas, porque essas ideias eram apenas clarões esparsos que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância, e que ainda não tinham criado raízes nas massas… hoje é outra coisa; tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se emociona com as ameaças que amedrontam as crianças; o diabo, tão temido por nossos avós, já não mete medo: rimos dele.

Sim, as armas antigas entortaram-se na couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça-forte guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de prejudicá-lo, seus esforços só serviam para dar-lhe autoridade.

Para lutar com vantagem contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas, pois mas o menos não pode vencer o mais.

Então, não podendo triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… De lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semear a desordem, a divisão, a confusão. Porque chegaram a lançar a perturbação nalgumas fileiras, cedo de mais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente, a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram o alarido… Não a vedes perpassar tudo, nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo na cátedra? Ela trabalha todas as consciências; ela arrasta os Espíritos para novos horizontes; é encontrada no estado de intuição mesmo naqueles que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que a cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que ela é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade… Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, esforçar-se-ão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la ante o que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques, nesses fenômenos que surgem de todos os lados como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente supera a geração que se vai… Ainda alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando depois de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas para deter o impulso do espírito humano, que avança a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar o desabrochar do novo período humanitário… com apoios que se vão erguer em favor da nova doutrina cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores por sua autoridade.

Oh! Como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quanta ruína eles verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes abrir-se-ão à sua frente!… Será como a aurora afugentando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! O século XX será um século abençoado, porque verá a era nova anunciada pelo Cristo.

NOTA: Aqui o médium para, dominado por indizível emoção, e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, ele retoma:

─ O que eu vos dizia eu então? ─ Vós nos faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois falastes da era nova. ─ Continuo.

Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Eles renunciaram pouco mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são onipotentes neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que resistiu à ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à adulação, ao gosto do bem-estar material… Prometem pão ao que o não o tem; trabalho ao artesão; freguesia ao negociante; promoção ao empregado; honras aos ambiciosos, se renunciarem às suas crenças. Ferem-no em sua posição, em seus meios de existência, em suas afeições, se forem indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns o seu efeito ordinário. Entre esses encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os manobra se esconde… Há também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisso; sua renúncia é apenas aparente; eles se vergam, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, aqueles que no mais alto grau têm a verdadeira coragem da fé, enfrentam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos bons Espíritos… Alguns, ah!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do Céu; eles ficam, pela forma, ligados à doutrina, e sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que eles fazem, e que pagarão bem caro!

Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, felizes aqueles sobre os quais se estender a proteção dos bons Espíritos, porque jamais ela foi tão necessária!… Orai pelos irmãos desgarrados, a fim de que aproveitem os curtos instantes de moratória que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo pese sobre eles… Quando eles virem rebentar a tempestade, mais de um pedirá graça!… Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinamentos? Como médiuns, não escrevestes centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz e não a aproveitastes! Nós vos tínhamos dado um abrigo; por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido às seduções estendidas ao vosso amor-próprio e à vossa vaidade. Então acreditastes poder no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabei, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos.

Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? Que seja para oferecer um alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não. Desenganei-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, este deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente. A mediunidade, sob todas as formas, será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, por assim dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de frustrar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos que eles julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, repercutem nessas almas sensíveis como num Espelho, e se desvelam por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que os conheçam.

Feliz aquele que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

OBSERVAÇÃO: O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento era anunciado há já algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas dessa faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve muitos no momento da revolução; os Calvinistas das Cévènes, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, eram qualificados de iluminados; hoje começa-se a compreender que a visão à distância e independente dos órgãos da visão pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo a explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero de tal modo se multiplicaram, que já nos admiramos menos; o que outrora a alguns parecia milagre ou sortilégio é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se estancam uma fonte, ele ressurge por outros caminhos.

Então, esta faculdade não é nova, mas ela tende a se generalizar, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas também como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo endêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deverá produzir no organismo modificações que facilitarão a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Assim, é bom manter-se em guarda contra a charlatanice que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la e, por todos os meios possíveis, assegurar-se a boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno e ver se nada oferecem de suspeito.




Se o Espiritismo é apenas uma crença, pedimos que provem!

Algumas pessoas, avessas à ideia da existência da alma ou do Espírito, dizem, do Espiritismo (sem conhecê-lo): é apenas uma crença, e nada mais! Pedimos encarecidamente que essas pessoas provem o que dizem e que, além disso, substituam o Espiritismo, na sua eventual derrocada, por algo melhor.

Este artigo tem ligação com o artigo precedente, sobre as lives de Daniel Gontijo que refletem muitas inverdades sobre o Espiritismo.

Allan Kardec, na Revista Espírita de setembro de 1860, já falava sobre esse assunto, com uma elegância e uma propriedade de fazerem inveja a qualquer um:

Para combatê-la [à Doutrina Espírita] com eficácia, ele só tem um meio, que lhe indicamos com prazer. Não se destrói uma árvore cortando-lhe os galhos, mas a raiz. É necessário, pois, atacar o Espiritismo pela raiz e não pelos ramos, que renascem à medida que são cortados. Ora, as raízes do Espiritismo, deste desvario do século dezenove, para nos servirmos de sua expressão, são a alma e os seus atributos. Que prove, portanto, que a alma não existe e não pode existir, porque sem almas não há mais Espíritos. Quando tiver provado isto, o Espiritismo não terá mais razão de ser e nós nos confessaremos vencidos. Se o seu ceticismo não vai a tanto, que prove, não por uma simples negação, mas por uma demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica ou qualquer outra:

1. ─ Que o ser que pensa durante a vida não mais pensa após a morte;

2. ─ Que, se pensa, não mais deve querer comunicar-se com aqueles a quem amou;

3. ─ Que, se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;

4. ─ Que, se está ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco;

5. ─ Que, por seu envoltório fluídico, não pode agir sobre a matéria inerte;

6. ─ Que, se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser animado;

7. ─ Que, se pode agir sobre um ser animado, não pode dirigir-lhe a mão para escrever;

8. ─ Que, podendo fazê-lo escrever, não pode responder às suas perguntas e lhe transmitir o seu pensamento.

Quando os adversários do Espiritismo nos tiverem demonstrado ser isto impossível, baseados em razões tão patentes quanto aquelas pelas quais Galileu demonstrou que não é o Sol que gira em torno da Terra, então poderemos dizer que suas dúvidas são fundadas. Infelizmente, até este dia, toda a sua argumentação se reduz a isto: não creio; logo, é impossível. Sem dúvida dirão que a nós cabe provar a realidade das manifestações; nós lhas provamos pelos fatos e pelo raciocínio. Se não admitem nem uns nem o outro e se negam o que veem, a eles cabe provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis.

Repetimos, portanto, as mesmas recomendações de Kardec e solicitamos que consigam provar, peremptoriamente, que o Espírito não existe e não pode existir ou que, do contrário, que ele existe, mas não pode se relacionar conosco. Até lá (aguardamos essa prova há mais de 150 anos), ficaremos com os princípios lúcidos, lógicos, racionais e, acima de tudo, de inatacável elevação e consequências morais, que o Espiritismo nos dá – com o benefício, ainda, de sabermos que isso não nasceu como fruto das ideias pré-concebidas de ninguém.

Adiciono as palavras de Kardec em O Céu e o Inferno (versão original, não adulterada):

Pela crença no nada, o homem inevitavelmente concentra seu pensamento na vida presente. Não haveria, com efeito, por que se preocupar com um futuro do qual nada se espera. Essa preocupação exclusiva com o presente o leva naturalmente a pensar em si antes de tudo; é, portanto, o mais poderoso estímulo ao egoísmo. O incrédulo é coerente quando chega à conclusão: “Desfrutemos enquanto aqui estamos, desfrutemos o máximo possível, pois, depois de nós, tudo estará acabado; gozemos depressa, porque não sabemos quanto tempo durará”, assim como a esta outra, bem mais grave aliás para a sociedade: “Desfrutemos, não importa à custa de quem; cada um por si; a felicidade, cá embaixo, é do mais astuto”. Se o escrúpulo religioso restringe a ação de alguns, que freio terão aqueles que em nada creem? Para estes, a lei humana somente alcança os tolos, e por isso dedicam seu talento a maneiras de dela se esquivarem. Se há uma doutrina nociva e antissocial é certamente a do neantismo ((Neantismo (néantisme). Segundo essa ideia metafísica do nada, não haveria lei moral ou direito natural, nem existência após a morte, portanto nada a temer ou esperar. A escolha estaria ligada ao resultado e não à intenção de uma ação, consagrando a postura egoísta. Na época de Allan Kardec havia poucos partidários, mas desde o século 20, a comunidade científica e a cultural em geral adotaram esse relativismo moral ou incredulidade enquanto senso comum, sendo que as instituições sociais se estruturaram pelo individualismo. (N. do E.) )), porque rompe os verdadeiros laços de solidariedade e de fraternidade, alicerce das relações sociais.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, 3a edição (original). Editora FEAL

Pedimos, então, que, se não puderem provar que o Espiritismo seja apenas uma crença, ao menos possam produzir algo melhor em seu lugar: algo que faça o ser humano não focar toda a sua energia em regozijar o presente, em detrimento de outros; que o leve a agir de maneira caridosa com seu semelhante, empregando seus recursos em nome do bem e não do acúmulo; que faça o indivíduo abandonar as lamentáveis ideias do suicídio, não por medo de um castigo, mas pela compreensão do motivo de estarmos aqui e pela maneira de ver as dificuldades por outros olhos. Além disso, que possam substituí-lo por uma outra crença (usando a palavra que eles usam), que dê à mãe a consolação de saber que seu filho, morto quando ainda tentava superar certos erros, não está perdido, e que seus esforços não foram em vão. Que, aliás, não provoque na humanidade a descrença no esforço em se melhorar, coisa que o dogmatismo materialista tem produzido com muita força. Que faça, enfim, o ser humano respeitar a todos, a despeito de etnia, sexo, cor, idade, classe social, e que não produza justamente o contrário de tudo isso, como o materialismo tem produzido, chegando ao ponto de dar base às lamentáveis ideias de genocídio, como aquele realizado por Hitler.

Aguardamos avidamente para conhecer essa nova doutrina.




Daniel Gontijo e os ex-espíritas

Daniel Gontijo, materialista e ateu, em seu canal do Youtube, intitulado “Prof. Daniel Gontijo”, escolheu dar destaque a análises muito superficiais sobre o Espiritismo, ciência filosófica que, infelizmente, ele não conhece. Para isso, faz quórum com “ex-espíritas”, pessoas que também não conhecem o Espiritismo, e acaba emitindo ou repercutindo opiniões que terminam por refletir uma falsa ideia da Doutrina Espírita, com base em opiniões colhidas na superfície dos reflexos que, infelizmente, o Movimento Espírita produz.

Daniel Gontijo é graduado em Psicologia pela Universidade FUMEC (2009), além de mestre (2013) e doutor (2019) em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar de tantos títulos, age em maneira absolutamente contrária à do bom pesquisador, que somente emite opinião após buscar conhecer muito bem o assunto, coisa que ele nunca fez (ele mesmo diz, em seus vídeos: “lembro de tal coisa por cima, porque uma vez certa pessoa disse que tem algo mais ou menos assim em uma das Revistas Espíritas”).

Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos

Longe de minhas intenções, porém, buscar fazer uma imagem de um carrasco maldoso. Não, pelo contrário: Daniel se mostra como uma pessoa alegre e afável. É isso, porém, o que me parece mais incongruente, porque, dessa leveza, não parte a necessária tarefa do bom pesquisador, que a tudo investiga, a tudo analisa, para poder depois emitir uma opinião. Infelizmente, com o apoio da opinião de pessoas que nunca chegaram a conhecer o Espiritismo verdadeiro, baseia-se nos erros do Movimento Espírita para julgar o Espiritismo, assim como muitos, levianamente, julgam a Jesus pelos absurdos feitos em seu nome.

É interessante notar que o Daniel seja graduado em Psicologia, em primeiro lugar. Será que ele nunca ouviu falar, nem leu, que a Revista Espírita carrega o subtítulo “Jornal de estudos psicológicos” em sua capa? E, se viu, será que não se interessou nem por um momento em saber o porquê desse nome?

Com certeza, Daniel Gontijo não sabe que a Psicologia, no tempo de Kardec, estava inscrita sob os estudos do Espiritualismo Racional, na grade das Ciências Morais do ensino francês (que se espalhou pelo mundo): para isso, seria necessário ler Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo. Ele provavelmente não conhece a história do desenvolvimento dessas ciências através da observação racional, culminando na racional conclusão de que a Vontade seja o atributo essencial da alma. Muito menos deve saber que, muito antes de Kardec se colocar a investigar a ciência espírita, pesquisadores ligados ao magnetismo animal e ao Espiritualismo Racional já colhiam, em certos estudos com pessoas em transe hipnótico induzido, centenas de “cartas” atribuídas a outras personalidades já mortas, dando detalhes confirmados por familiares ainda vivos:

Os magnetizadores comprovaram muito cedo as relações dos sonâmbulos com seres invisíveis. Deleuze, discípulo de Mesmer, em sua correspondência mantida com o doutor G. P. Billot por mais de quatro anos, de março de 1829 até agosto de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim afirmou: “O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e a sua imortalidade; ele prova a possibilidade da comunicação das inteligências separadas da matéria com as que lhes estão ainda ligadas.” (BILLOT, 1839)

Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se venham manifestar, para lhes transmitir salutares conselhos. Acabo de ter disto um exemplo.” (Ibidem)

Foi com estas palavras que Deleuze introduziu a narração do caso de uma sonâmbula cujo falecido pai se manifestou por duas vezes a fim de aconselhá-la sobre a escolha do futuro marido da jovem. Em sua História crítica, ele já havia escrito: “Todos os sonâmbulos, deixados livres no transe, dizem-se esclarecidos e assistidos por um ser que lhes é desconhecido.” (DELEUZE, 1813) Por sua vez, Billot declarava receber instruções dos espíritos superiores, por intermédio dos magnetizados em transe sonambúlico, em suas pesquisas.

O tema da comunicação com os espíritos passou a fazer parte das discussões dos magnetizadores e das páginas de seus periódicos. Um estudo das obras de Chardel, Charpignon, Ricard, Teste e Aubin Gauthier revela diversas descrições de fenômenos experimentais que revelam a comunicação entre vivos e desencarnados.

Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet (1809-1885), com coragem e determinação, conversou com os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, principalmente Adèle Maginot, registrando em sua obra mais de cento e cinquenta atas assinadas por testemunhas que reconheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa da ciência espírita. Para Gabriel Delanne, “Era um lutador soberbo esse trabalhador, que teve a glória de se fazer o que foi: um dos pioneiros da verdade.” (DELLANE, 1899)

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

Certamente, Daniel também não conhece os fatos que levaram a Psicologia a deixar o Espiritualismo Racional e a se organizar sob o materialismo dogmático, cheio de afirmações categóricas e não científicas! Ele com certeza ainda não conhece os fatos que levaram Comte a tornar-se inimigo de Victor Cousin, tendo, depois, conseguido o que tanto queria: afirmar seus dogmas, após a queda forçada do Espiritualismo Racional. Para ele, Daniel, hoje talvez seja descabido sequer imaginar a existência de um Espiritualismo Racional, mas ele existiu. Digo mais: abriu caminho ao Espiritismo, que é seu desenvolvimento, formado através das características mais básicas da ciência — a observação racional — e do axioma científico — todo efeito tem uma causa e todo efeito inteligente tem uma causa inteligente (restando saber que causa é essa, sendo mesmo possível e investigada a fraude).

Houvesse estudado as Revistas Espíritas, ainda que para concluir em contrário (já que, em ciências, pessoas podem chegar a conclusões ou teorias diferentes), veria que, de todas as discordâncias possíveis, não se pode afirmar o trabalho da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, conduzido por Allan Kardec, como algo raso, sem seriedade ou sem metodologia científica. Muito menos se poderia afirmar Kardec sendo ingênuo ou tolo, mas muito pelo contrário: veria todas as considerações cuidadosas de Kardec a esse respeito, algo, aliás, que ninguém mais depois dele soube fazer:

Sem dúvida, dizem alguns contraditores, vós estáveis imbuídos de tais ideias e por isso os Espíritos concordaram com vossa maneira de ver. É um erro que prova, mais uma vez, o perigo dos julgamentos apressados e sem exame. Se, antes de julgar, tais pessoas se tivessem dado ao trabalho de ler o que escrevemos sobre o Espiritismo, ter-se-iam poupado ao trabalho de uma objeção tão leviana. Repetiremos, pois, o que já dissemos a respeito, isto é, que quando a doutrina da reencarnação nos foi ensinada pelos Espíritos, ela estava tão longe de nosso pensamento, que havíamos construído um sistema completamente diferente sobre os antecedentes da alma, sistema aliás partilhado por muitas pessoas. Sobre este ponto, a doutrina dos Espíritos nos surpreendeu. Diremos mais: ela nos contrariou, porque derrubou as nossas próprias ideias. Como se vê, estava longe de ser um reflexo delas.

Isto não é tudo. Nós não cedemos ao primeiro choque. Combatemos; defendemos a nossa opinião; levantamos objeções e só nos rendemos ante a evidência e quando notamos a insuficiência de nosso sistema para resolver todas as questões relativas a esse problema.

KARDEC, Allan. Revista Espírita de novembro de 1858.

Encerro com a grande questão: será que Daniel Gontijo tem essa vontade de conhecer o que desconhece, ainda que termine concluindo de maneira divergente? Ou será que continuará dando “prova de leviandade e triste mostra de falta de critério”? Veremos.

Fiz uma análise em vídeo sobre o último caso do canal citado e sobre a resposta dele ao meu vídeo. Você pode conferir:

Foto de cottonbro studio: https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-conselhos-orientacoes-assistencia-4100672/




Que fazem os Espíritos após a morte?

O que fazemos na vida além-túmulo? Essa é uma pergunta que muitos se fazem. Além disso, outra: “se não há colônias espirituais, então o que existe após a morte? Não pode ser nada.”

Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, pela ocasião da morte do Sr. Sanson, faz uma linda prece, da qual extraímos o seguinte trecho:

Não tendes mais o véu que oculta, aos nossos olhos, os esplendores da vida futura; doravante, podereis contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda estamos mergulhados nas trevas. Ireis percorrer o espaço e visitar os mundos com toda liberdade, ao passo que nós rastejamos penosamente sobre a Terra, onde nos retém nosso corpo material, semelhante para nós a um pesado fardo. O horizonte do infinito vai se desenrolar diante de vós, e em presença de tanta grandeza compreendeis a vaidade de nossos desejos terrestres, de nossas ambições mundanas e das alegrias fúteis das quais os homens fazem suas delícias.

A morte não é, entre os homens, senão uma separação material de alguns instantes. Do lugar de exílio, onde nos retém ainda a vontade de Deus, assim como os deveres que temos a cumprir neste mundo, nós vos seguiremos, pelo pensamento, até o momento em que nos será permitido reunir-nos a vós, como vos reunistes com aqueles que vos precederam.

Se nós não podemos ir junto a vós, podeis vir perto de nós. Vinde, pois, entre aqueles que vos amam e que amastes; sustentai-os nas provas da vida; velai sobre aqueles que vos são queridos; protegei-os segundo o vosso poder, e abrandai seus lamentos pelo pensamento de que sois mais feliz agora, e a consoladora certeza de estar um dia reunidos a vós num mundo melhor.

KARDEC, Allan. Revista Espírita de maio de 1862

Decerto, a vida após a morte não se dá em um espaço vazio, já que o nada, nada é. A grande questão é que nossa mentalidade está tomada de uma materialização do mundo dos Espíritos, promovida sobretudo pela admissão irrefletidas das ideias do Espírito de André Luiz, apresentadas em Nosso Lar e outras.

Volte ao trecho anterior e preste atenção às ideias reverberadas por Kardec nessa singela e tocante prece: “[…] podereis contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda estamos mergulhados nas trevas”; “Ireis percorrer o espaço e visitar os mundos com toda liberdade, ao passo que nós rastejamos penosamente sobre a Terra”; “o horizonte do infinito vai se desenrolar diante de vós, e em presença de tanta grandeza compreendeis a vaidade de nossos desejos terrestres, de nossas ambições mundanas e das alegrias fúteis das quais os homens fazem suas delícias.”

Muito longe do que buscam fazer, não existe uma relação de inerência entre as ideias de André Luiz e a Ciência Espírita, sobre um mundo pós-morte todo fantástico, onde até ônibus voador os Espíritos já relativamente tranquilos, passados da fase de perturbação, teriam que tomar. Caridade é dever moral e não aguarda recompensa. O Espírito desligado do materialismo serve à Criação, atuando no Espaço Infinito, colaborando para a execução das Leis Naturais, seja na Natureza, seja aprendendo e auxiliando, em contato com outros Espíritos, encarnados e desencarnados.

Antes do trecho acima, Kardec diz o seguinte:

“Deixastes o envoltório grosseiro, sujeito às vicissitudes e à morte, e não conservastes senão o envoltório etéreo, imperecível e inacessível aos sofrimentos. Se não viveis mais pelo corpo, viveis da vida dos Espíritos, e esta vida está isenta das misérias que afligem a Humanidade.”

Dor, fome, frio, calor, sede, medo, cansaço? Apenas para Espíritos apegados à materialidade, que criam essas falsas sensações, que não conseguem suprir, ao seu redor. Esta afirmação é muito importante, e vem não de Kardec, mas dos próprios Espíritos superiores:

970. Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?

“São tão variados como as causas que os determinaram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: invejarem o que lhes falta para ser felizes e não o obterem; verem a felicidade e não a poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desesperança quanto ao que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.”

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

Portanto, a ideia de uma “Colônia Espiritual”, criada por Espíritos Superiores, para satisfazer as falsas necessidades dos Espíritos apegados, inferiores, não só contraria o bom-senso, como também a própria Doutrina Espírita!

Lembremos, para terminar, que podemos encontrar, nas obras de Kardec, outros exemplos de Espíritos que, libertos da matéria, demonstram os afazeres do pós-morte, atuando no bem, para os Espíritos desapegados:

  • A Condessa Paula, apresentada em O Céu e o Inferno, abordada em artigo recente.
  • A Senhora Schwabenhauss, na Revista Espírita de setembro de 1858.
  • Os artigos O Gênio das Flores e Perguntas sobre o gênio das flores, na Revista Espírita de março de 1860.
  • O artigo O Anjo das Crianças, na Revista Espírita de abril de 1860.

Isso é o que podemos apresentar até o momento e que, baseando-nos ainda em A Gênese, podemos concluir por evidência suficiente da falsidade das ideias sistematizadas sobre “Colônias Espirituais”, onde se perpetuaria o egoísmo e a ideia da caridade por interesse. Lembramos que já fizemos um estudo mais extenso sobre a materialidade de além-túmulo, que você pode encontrar clicando aqui.




A verdade sobre a lei de Causa e Efeito: um axioma científico

A lei de Causa e Efeito, na verdade, não é uma lei: é um axioma científico((Evidência cuja comprovação é dispensável por ser óbvia; princípio evidente por si mesmo; Expressão que contém um sentido moral ou geral; provérbio, máxima ou sentença.)): todo efeito tem uma causa. É assim que se teoriza, pelo método de observação racional, por exemplo, o Big Bang e a Matéria Escura: observando-se certos efeitos, remonta-se à causa. Não tem absolutamente nada a ver com a ideia de “lei do retorno” que, de fato, não existe.

No campo da moral, se uma pessoa sofre, isso tem uma causa, decerto. Qual é a causa? O Movimento Espírita generalizou, baseando-se na adulteração de O Céu e o Inferno, e passou a dizer: é a punição por erros de vidas passadas. Mas, em verdade, se esquece que a causa do sofrimento pode ser as ações presentes, os efeitos da própria vida material que nos impões vicissitudes naturais e, além disso, a escolha do Espírito em passar por uma provação para mero aprendizado ou, ainda, por missão, ajudando outros com sua passagem.

Ainda que a causa do presente sofrimento sejam erros de vidas passadas, é necessário entender o seguinte: a pessoa pode estar sofrendo, ainda, os efeitos dos seus apegos íntimos. Ela pode, por exemplo, ter desenvolvido a imperfeição do egoísmo em vida passada e, nessa, continuando seus atos egoístas, sofre por seus efeitos naturais (aliás, diga-se de passagem: ela pode, hoje, estar sendo menos egoísta que na vida anterior, o que já é um progresso). Pode, também, estar sofrendo, nesta vida, provações por ela escolhidas, visando o exercício do desapego, por ter entendido que o seu apego a afastou do bem e da felicidade, desejando então voltar a ser feliz, útil, enfim: voltar ao bem.

Essa é a verdadeira moral espírita, que foi contrariada e distorcida pela adulteração de O Céu e o Inferno. Nada a ver com “lei do retorno” ou carma. Nada a ver com um Deus punitivo. O original de O Céu e o Inferno, com notas de rodapé importantíssimas, você pode baixar aqui: https://bit.ly/3vVYQhu




O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.

No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:

“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”

Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:

Conselhos sobre A Gênese

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.

Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?

Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.

Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:

Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:

Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:

– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:

– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.

Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.

Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/03/alteracoes-ocorridas-no-cap-1-da-5-ed.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/05/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5_15.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/02/comentarios-sobre-as-alteracoes-do-cap.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5a.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/01/natureza-e-materia-nao-sao-sinonimos.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/09/comentarios-sobre-o-capitulo-xv-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/11/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/12/inconsistencias-doutrinarias-da-5.html

Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.

Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição

Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.

Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).

Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições




“Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”? – Uma análise crítica

“Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho”? – Uma análise crítica é uma produção de Leonardo Marmo Moreira e Jorge Hessen. O texto abaixo foi extraído integralmente do prefácio da obra, no intuito de salvaguardar um estudo tão importante como esse, replicando-o em nosso site. O texto completo, que deu base a esse artigo, está disponível em PDF, aqui.

PREFÁCIO

Jorge Hessen

Nas minhas sondagens históricas encontrei confrades que me afiançaram na sede da FEB que Chico Xavier jamais advertiu a tal “tenda de Ismael” (sede da FEB no DF) sobre as possíveis e alegadas interpolações ideológicas em “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. Desconhecemos maiores detalhamentos dos bastidores desse intercâmbio entre o médium e velhos ex-diretores da FEB.

Encontrei aqueles que atestam a anuência do Chico sobre a inserção de Roustaing no capítulo 22 de “Brasil coração do mundo pátria do evangelho” demonstrando supostas correspondências entre o Chico e o Wantuil de Freitas, contidas na obra “Testemunhos de Chico Xavier”. Todavia, descobrimos que foram repassadas para a autora da obra Suely Caldas Schubert (que não tem trajetória roustanguista) apenas algumas fontes secundárias, fragmentos datilografados das cartas e intencionalmente selecionadas e elaboradas pelos docetistas Zeus Wantuil e Francisco Thiesen.

Foi forjada uma autenticidade da inserção do Roustaing no livro “sagrado” do (im)”Pacto áureo”, quando antigos ex-diretores da FEB visitaram o Chico Xavier a fim de que médium mineiro pudesse “autenticar” o livro ou a página do capítulo 22 de “Brasil coração do mundo pátria do evangelho” para corroborar a autenticidade da psicografia original (que foi inexplicavelmente incinerada pela FEB), porém Chico “autenticou” o capitulo 22 com a “robusta” confirmação: “Com um abraço do servidor menor Chico Xavier”. Ou seja, não confirmou nada! Chico sabia que a obra fora corrompida.

O golpe do (im)“Pacto Áureo” foi uma agenda com dezoito itens, sendo que no primeiro constava: “Cabe aos espíritas do Brasil colocarem em prática a exposição contida no livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”. Aqui abrimos um parêntese por entendermos que neste dispositivo houve uma proposição passível de consequência indesejável, considerando o foco da unidade entre os espíritas. Ora, o mais razoável seria constar no primeiro item que os espíritas colocassem em prática a exposição contida no Evangelho Segundo o Espiritismo, de maneira a acelerar e consolidar a marcha evolutiva do Evangelho.

Há os que dizem que a adoção do livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”, pode ter dois pretextos, o primeiro porque um grupo dos que discutiram a questão queria adotar “Os Quatro Evangelhos” de Roustaing, o segundo porque os “partidários” da CEPA (Confederação Espírita Pan-Americana) não aceitavam e nem aceitam o Evangelho Segundo O Espiritismo, nesse caso ,portanto, o livro de Humberto de Campos estaria na linha de equilíbrio e colocava o Brasil uma posição central da expansão do Evangelho.

Será mesmo? Foi isso que os levou a assinar sem discussão o pacto do qual Herculano Pires batizou de “bula papalina”? Ou será que o excesso de misticismo criara sentimento de culpa e os pactuantes passaram a admitir infalibilidade no presidente da FEB? Ou será que a presença autocrática de Wantuil (que foi uma espécie de “único dono” da FEB) teria entorpecido a consciência dos signatários ? Ou será que careciam todos os pactuantes de maior amadurecimento doutrinário? Uma coisa, porém, temos certeza absoluta: se Herculano Pires, Deolindo Amorim, Júlio Abreu Filho tivessem participado da “encantada” reunião febiana de 1949 outro teria sido o rumo das definições doutrinárias para o Brasil.

Pois é! Volvamos aos signatários do Pacto que concluíram sem melhor DEBATE e maturação de que o livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”continha dados interessantes e demonstrava qual seria a missão do Espiritismo no Brasil. Porém os pactuantes não se preocuparam com os detalhamentos ufanistas e controversos do livro, talvez aí o “X” da questão.

Não levantamos este ponto para contestar os conteúdos originais da obra (os que não foram supostamente alterados pelos docetistas febiano). É muito óbvio que é difícil provar fisicamente a adulteração porque a psicografia original foi incinerada pela FEB. Urge ressaltar aqui que amamos a literatura de Humberto de Campos (sem as inserções febianas, lógico!), e tem mais, urge apartar bem as coisas, pois a ingênua entronização de Roustaing pelo suposto “autor espiritual” contraria o pensamento de Kardec contido no Cap. XV da obra A Gênese.

A questão é que o suposto “Humberto de Campos” evoca “as tradições do mundo espiritual”, conforme o próprio autor espiritual assevera na Introdução do livro “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. Obviamente esse argumento de “tradições de além” não esclarece, e sequer abona, as ingerências da obra. E isso fica claro se compararmos o livro “Brasil, coração.do mundo…” com “Crônicas de Além-Túmulo” e “Boa Nova” de autoria do mesmo Espírito, nos quais Humberto de Campos utiliza de algumas informações obtidas das chamadas “tradições do mundo espiritual”, mas sem cometer os vários lapsos presentes em “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”. A propósito da obra “Crônicas de Além-Túmulo” no capítulo 21 intitulado “O Grande Missionário”, publicado antes de “Brasil, coração do mundo…”, são citados como colaboradores de Allan Kardec somente os missionários Camille Flammarion, Léon Denis e Gabriel Delanne, sem nenhuma menção a Roustaing. Isso indica provável interpolação maliciosa na obra “Brasil coração do mundo pátria do evangelho”.

Este é o meu parecer.

Brasília, 10 de abril de 2018

Jorge Hessen




Abaixo-assinado: A FEB não representa o Espiritismo!

A Federação Espírita Brasileira (FEB) assumiu um caráter muito distante e, em muitos pontos, diametralmente oposto aos princípios fundamentais do Espiritismo, tão bem demonstrados pelos estudos extenuados de Allan Kardec, que a eles entregou seu tempo, seus recursos, sua saúde e, ao final, sua vida. A FEB recomenda a não evocação, quando ela é ferramenta indispensável para a Doutrina; desaconselha as reuniões particulares, quando os próprios Espíritos superiores as incentivaram, sempre; publica tudo sem a necessária análise doutrinária, produzindo obras contrárias mesmas ao Espiritismo e chegando ao ponto de causar vexame à Doutrina, etc.

Orientado pela FEB, a maior parte do Movimento Espírita, desconhecendo a origem roustainguista (ou rustenista) dessa instituição, entrou por um caminho absurdamente distorcido. Uma rápida leitura de “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, de Wilson Garcia, para entendermos a razão de toda essa distorção: pessoas oriundas do Grupo Sayão, um grupo declaradamente roustainguista, dominou a FEB desde o final do século XIX, inserindo nela e, por conseguinte, no Movimento Espírita Brasileiro, suas características contrárias ao método e à organização necessários para a continuidade do desenvolvimento da ciência espírita, como podemos verificar especialmente nos seguintes artigos da Revista Espírita: ORGANIZAÇÃO DO ESPIRITISMO, de dezembro de 1861, e CONSTITUIÇÃO TRANSITÓRIA DO ESPIRITISMO, dezembro de 1868.

Em sua essência filosófica e moral, o Espiritismo brasileiro também está muito distante da verdadeira face do Espiritismo Consolador, como podemos compreender através da leitura de “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”.

Não bastasse tudo isso, agora temos evidências diversas de adulterações significativas em obras psicografadas por Chico Xavier, alterando completamente, em alguns pontos, o sentido original do texto. Além disso, temos a grande incógnita chamada “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, cuja psicografia original foi incinerada pela FEB e que, não por acaso, insere diversos absurdos contra a Doutrina, afirmando Roustaing como um grande trabalhador do Espiritismo, junto a Kardec, e o “Anjo” Ismael, Espírito que originalmente mistificava no Grupo Sayão, como um grande dirigente espiritual da pátria brasileira.

Por essas e muitas outras, nós, abaixo assinado, declaramos, para fins de registro, que não nos sentimos representados pela FEB e pelo Movimento Espírita Brasileiro, destacando, assim, o necessário retorno às origens do Espiritismo, devidamente contextualizado pelo entendimento complementar do Espiritualismo Racional e do Magnetismo Animal, de modo a prepararmos o terreno para a futura retomada do Espiritismo como ele realmente é, com a retomada de seu desenvolvimento através da colaboração entre os pequenos grupos, sem instituições acima deles, conforme demonstrado necessário por Kardec, nos artigos anteriormente citados.

O Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec inaugura este esforço meramente para fins de registro, sem nenhuma intenção de disputa ou de proibições, desejando logo ver o Espiritismo sendo entendido e reconhecido como Ciência Filosófica de consequências morais, com seus método e organização restabelecidos e afastado da característica de religião a ele imputada pela FEB, coisa que ele nunca foi (Sessão anual comemorativa dos mortos, RE68).

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