Estudos Semanais da Obra Revolução Espírita, com o Grupo de Estudos Espiritismo para Todos

O Espiritismo “é uma revolução total que se opera nas ideias; revolução maior e mais poderosa porquanto não se restringe a um povo nem a uma casta, pois alcança simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos” (Allan Kardec – A Gênese)

Para chegar a essa revolução de ideias, que parte do indivíduo para seu círculo social e, daí, para o mundo, é necessário o estudo e o conhecimento, que alimenta e dá base à transformação individual e autônoma. Portanto, vamos estudar!

Nós nos reunimos semanalmente, às quartas-feiras, 15:00h (horário de São Paulo, GMT -3), a partir do dia 03/08/22.

Atenção: Começaremos no dia 03/08/22.

Acordo de boa conduta

A obra em questão toca em temas bastante polêmicos, pois analisa vários dos problemas sociais e dos sistemas de reforma social, dentre eles o marxismo e o socialismo. Seguindo os passos de Kardec, destacamos que não será de nossa intenção fazer análises profundas sobre esses temas; nos limitaremos a amadurecer, junto ao autor, o entendimento da filosofia espírita em sua aplicação educacional, já que o Espiritismo promove uma revolução de ideias, que vão do indivíduo para a sociedade, respeitando a autonomia e a consciência de cada um, diferentemente do que propõe a maioria desses sistemas. Adentrar o caminho do debate dessas questões, que facilmente se torna um debate político apaixonado, não deve ser nosso propósito, e será, sempre, refreado, em nome do bom andamento de nossos estudos.

Formulário de inscrição

Para participar da sala de estudos, preencha o formulário abaixo. Você receberá no seu e-mail uma confirmação, que deve ser encaminhada para o endereço geolegadodeak@gmail.com.

De início, os estudos serão gravados, para posterior avaliação e postagem no Youtube (você deve concordar com isso). Contudo, não realizaremos transmissão simultânea desses estudos, de forma a melhor avaliar o conteúdo gravado.




Evento de Estudos: A Filosofia Espírita e a Educação, com Paulo Henrique de Figueiredo

O mundo só vai mudar quando a sociedade mudar, e essa só vai mudar quando o indivíduo conhecer e compreender a moral do bem, que é a Lei de Deus. Como atingir isso, senão pela educação de base, dentro e fora do lar? E como a moral do Espiritismo pode alavancar essa mudança?

Venha fazer parte desse estudo tão importante e especial. Dia 19 de SETEMBRO de 2022, às 19h de Brasília (GMT -3).

Você pode acompanhar a live pelo nosso canal do Youtube – https://youtu.be/vW8TeJoKASE – ou pelo Facebook – https://fb.me/e/1xarUPHXF – mas também pode participar da sala de bate-papo. Para receber o link de acesso, basta preencher o formulário abaixo.

Recomendamos, para esse evento, acompanhar, com atenção, o vídeo seguinte:


Formulário de inscrição para participação ativa na sala de bate-papo do Zoom




O silêncio do Movimento Espírita ante os temas sociais

Muitos tem falado num silêncio que o Movimento Espírita precisaria romper com relação à política. Devemos lembrar, é claro, que o silêncio do Movimento Espírita não se reflete tão-somente ao cunho político, mas é um silêncio generalizado ante à própria Doutrina, que recentemente se agita sob os estudos das obras originais de Kardec e das obras que retomam conhecimentos esquecidos no tempo.

É, claro que, no que tange à política, nós jamais estaremos apoiando quem quer que vise ligar o Espiritismo às ideologias, sobretudo quando essas ideologias não se pautam pelas ideias que expressaremos a seguir.

São várias as iniciativas que estão buscando se contraporem ao silêncio citado. Somente de grupos de estudos, conhecemos três ou quatro bastante fortalecidos, além dos papéis dos pesquisadores atuais, dentro os quais não é possível deixar de destacar Paulo Henrique de Figueiredo, em seu extenuado trabalho de recuperação das informações desconhecidas, principalmente aquelas relativas à moral autônoma e ao espiritualismo racional, bem como no trabalho tão importante que é retomar as obras originais de Kardec, não adulteradas.

Pois bem: esse trabalho, que prima pela questão da autonomia, toma por base inquestionável o poder de escolha autônoma que o Espírito deve ter. Não faltariam as citações, na obra de Kardec, dele e de Espíritos diversos, a esse respeito: o Espírito, para se modificar realmente, precisa agir por sua livre vontade e pela razão, sendo que esta dá base à outra. Não existe nenhuma iniciativa, política ou não, que tenha obtido sucesso em qualquer mudança social, duradoura e real, por menor que ela seja, com base na autoridade, apenas. É por isso que vejo sempre com muito cuidado o assunto da política atrelado a qualquer pensamento espírita: ele deveria, inexoravelmente, ser pautado pelo princípio da moral, aplicada às relações, desde os primeiros passos da criança sobre este planeta.

Não canso de destacar, e esta será sempre minha bandeira, após compreender o Espiritismo em sua essência: a transformação social somente se dará pela transformação do indivíduo, através da educação familiar e escolar. É para isso que precisamos voltar TODOS os nossos esforços, dentro e fora da política, sendo que o último seria um meio eficaz para fazer retornar à sociedade a moral pautada pelo Espiritualismo Racional, que compreende e distingue a diferença entre felicidade e infelicidade, que são características dos avanços da alma em direção ao bem, das emoções e dos prazeres, que são puramente materiais. É esse o entendimento que falta. O homem deixará de viver sob as pontes quando ele entender que depende de si mesmo, e de ninguém mais, seu progresso, e quando os demais compreenderem que a caridade é um dever moral e desinteressado, indo muito além da esmola que humilha as partes.

Voltemos nossas inteligências a esse propósito, prezados irmãos! As crianças continuam se tornando jovens e adultos repletos de imperfeições adquiridas, ou daquelas não corrigidas, em grande parte puramente pelos maus hábitos da educação, simplesmente porque ninguém está atento à necessidade urgente de chamar à razão a família e todos os funcionários da educação, pública e particular. Kardec via com olhos radiantes o futuro, porque acreditava que o modelo educacional, pautado pelo Espiritualismo Racional, continuaria a florescer e a se espalhar… Mas o apagar das luzes do século dezenove também jogaram nas sombras as filosofias que elevavam a alma acima da puerilidade da matéria.

Precisamos retroceder e entender Rousseau, Pestalozzi, Rivail, Biran, Janet e tantos outros livres-pensadores que jamais desejaram provocar as mudanças pela força, pois cedo perceberam que ela, em realidade, apenas produz agastamento e irritação. Diria Rivail, em seu “Plano Proposto para a Melhoria da Educação Pública”:

“A criança irritada, e não persuadida, se submete somente à força; nada lhe prova que ela agiu mal; ela sabe apenas que não agiu conforme a vontade do mestre; e esta vontade ele a considera, não como justa e razoável, mas como um capricho e uma tirania; ela se acredita sempre submetida ao arbítrio. Como se faz com que ela sinta comumente mais a superioridade física do que a superioridade moral, ela espera com impaciência ter ela própria bastante força para se subtrair a isso; daí este espírito hostil que reina entre os mestres e os seus alunos.”

Assim será, porque assim é, em qualquer aspecto do Espírito. Rivail não pensava nisso, quando escreveu essa obra, mas nós hoje sabemos, como ele veio a saber depois: a criança está animada do mesmo Espírito do adulto, apenas pouco mais limitado em suas percepções e capacidades. É o seu Espírito, portanto, e não seu corpo, que não se submete à força. Lembremos disso.

Paulo Degering Rosa Junior




O princípio da felicidade e da infelicidade

No que tange ao nosso estado de Espírito, os sentimentos que mais nos afetam são aqueles de felicidade e infelicidade… Ou, pelo menos, assim acreditamos. Dessa forma, a sociedade em geral vivem em uma busca da felicidade, quase sempre sem resultados duradouros, felicidade esta que, quando não alcançada, remete aos estados gerais que frequentemente conduzem aos abismos da depressão ou da melancolia.

Começo dizendo, prezado leitor, que a quase total ausência de rumo e de entendimento atuais se devem ao esquecimento do Espiritualismo Racional. Tendo transformado o homem em máquina biológica, ausente de uma alma, o materialismo tirou, da moral, a sua essência primordial, que o Espírito em seu papel de causa primeira de tudo o que se passa na matéria.

Paulo Henrique de Figueiredo diz:

As doutrinas religiosas e também o pensamento materialista são heterônomos, pois partem do princípio de que a moral estaria fundamentada na dor e no prazer, que são impulsos inatos e ligadas ao instinto e à sobrevivência, são sensações que surgem de alterações fisiológicas, próprias do corpo biológico. A falsa ideia do castigo divino para a criatura culpada aponta dogmaticamente a existência da dor física após a morte, causada pelo ambiente do inferno, por toda a eternidade. Por outro lado, prazeres e eterna contemplação para os eleitos no Céu. Já o Espiritismo vai demonstrar, pela primeira vez, em sua moral autônoma, a existência de sensações íntimas próprias do espírito, que são a felicidade e a infelicidade, dando a esses termos definições específicas

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEAL, 2021. Nota do Editor.

O Espiritismo, que se desenvolveu do Espiritualismo Racional – “movimento” que formou os mais ilustres pensadores do século XIX, tinha, de forma muito resumida((recomendo, para melhor compreensão, o estudo da obra O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, pela editora FEAL, com comentários de Paulo Henrique de Figueiredo, e da obra “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo”, do mesmo autor. Outra sugestão é procurar os vídeos com participação do Paulo, no YouTube)), na moral, os conceitos de felicidade e infelicidade muito bem definidos como conquistas da alma, ao passo que, do corpo ou da matéria, fazem parte as emoções, sejam elas o medo, a tristeza, a alegria, a raiva, etc. Também, no aspecto da matéria, devemos citar as sensações, como o prazer e a dor, que são o resultado imediato da impressão física captada pelos nervos e conduzida ao cérebro.

Como Espíritos encarnados, estamos todos sujeitos às condições da matéria. Por mais evoluído que um Espírito possa ser, o fato de receber uma martelada na mão vai causar muita dor, talvez a mesma que para todos os outros, mas o detalhe é que o Espírito superior não vai se apegar àquela dor ou ao indivíduo que eventualmente a tenha provocado — o que é um muito importante.

Temos, assim, bem separados, o que é do Espírito e o que é da matéria. De forma muito simplória, e contando com a boa vontade do leitor em acreditar que isso que estou dizendo está baseado nos estudos das obras originais de Allan Kardec, pelo que ele pode conferir por si mesmo, concluímos que as emoções do corpo não tem nada a ver, a priori, com os sentimentos da alma ou do Espírito. A felicidade tem a ver com as conquistas do Espírito, ao passo que a infelicidade tem a ver com a inferioridade dele. Um Espírito, encarnado, pode ser muito infeliz, apesar de rico e com todos os recursos de prazeres e alegrias ao seu alcance, ao passo que outro pode ser muito feliz morando num casebre de barro. Um Espírito encarnado num corpo são pode ser muito depressivo ou raivoso, ao passo que outro, num corpo deformado ou doente, pode ser muito calmo, feliz e bondoso.

Para formar um entendimento melhor, vamos falar sobre a infelicidade. Ela é muitas vezes confundida com as emoções e as dores humanas, mas, como vimos, não reside nelas. A infelicidade, na verdade, é o quanto o Espírito está afastado da felicidade. Parece bem óbvio isso, mas deixe-me explicar: a felicidade é viver sob a lei de Deus, isto é, viver no bem. A ausência dela, a infelicidade, é viver afastado do bem, sob o império das imperfeições que nos conduzem ao erro e ao sofrimento, sendo este o resultado das ações realizadas, e não uma punição divina.

Eis aí a grande chave para o entendimento da moral e da busca necessária, do ser humano, pela felicidade: ela não reside nas coisas passageiras da matéria, nem nos prazeres, nem nas paixões. Ela reside na alma, como resultado de uma conquista interior, individual e intransferível.

Diz Paulo Henrique, na mesma obra:

Já na lei que rege o espírito humano, que tem no mundo espiritual sua vida principal, o aperfeiçoamento das faculdades por seu esforço é a sua meta, fazendo uso das reencarnações como meio de progresso. A felicidade não é como a sensação fisiológica do prazer; é um estado ou sensação íntima do espírito, inerente ao seu aperfeiçoamento intelecto-moral. A todo ato do bem corresponde uma sensação de felicidade, e o desenvolvimento de virtudes, conhecimento e habilidades torna essa condição progressiva, até a felicidade plena dos espíritos puros. Por outro lado, a condição de imperfeição é inerente ao sofrimento moral, que vai durar até que o espírito supere a imperfeição por seu esforço. Trata-se de estados e sentimentos íntimos do espírito, em nada dependentes de algo que lhes seja exterior. Essas são as leis da alma, que regem o mundo moral. Assim Kardec se expressou, no item 2o, do Capítulo VIII:

“Sendo todos os espíritos perfectíveis, em virtude da lei do progresso, trazem em si os elementos de sua felicidade ou de sua infelicidade futura e os meios de adquirir uma e de evitar a outra trabalhando em seu próprio adiantamento. (p. 132)”

Os elementos da sua felicidade ou da sua infelicidade estão no próprio espírito; depende dele proporcionar-se um ou outro. Desse modo, a felicidade não é uma concessão ou uma graça divina, mas uma conquista do próprio ser. Tampouco a infelicidade é um castigo, mas uma condição criada quando o espírito desenvolve uma imperfeição que termina quando ele próprio a desfaz.

Ibidem

Podemos ficar muito alegres por vivenciar momentos descontraídos e divertidos com os amigos, mas, cessados esses momentos, o que permanece é o nosso estado de Espírito. Podemos ficar contentes comprando coisas para nos vestir bem ou comendo iguarias saborosas… Mas, cessadas essas ações, permanece, ainda, o mesmo estado de alma. E aqui chegamos a algo muito importante: essa constante perseguição pela felicidade nas coisas e nas ocasiões, ao invés de buscá-la na conquista interior, frequentemente nos conduz às imperfeições!

O homem, ao buscar a satisfação de seus desejos e instintos, confundindo essa busca com a busca pela felicidade, pode “exagerar na dose”. Tomemos o exemplo da compra de bens materiais: uma pessoa que vincule as posses à sensação da felicidade, quando não puder atender a essa vontade com seus próprios recursos, pode ser levada a cometer o crime do roubo ou do furto, a fim de satisfazê-la. Apenas nesse exemplo, temos a cobiça e o egoísmo sendo cultivados. Se repetidos, formando hábitos, poderão se instalar na alma, como imperfeições, que produzirão sofrimentos que, para serem superados, terão que ser compreendidos e enfrentados ativamente, pela vontade do Espírito, o que, comumente, leva mais de uma encarnação para ser alcançado.

Continua Paulo Henrique:

Toda imperfeição é fruto da livre escolha do espírito, que, por apego à matéria, usa as faculdades da alma para agir de forma a conquistar prazer (sensação) e alegria (emoção). Esse ato de abuso, transformado em hábito, é a imperfeição, que tem como consequência inerente o sofrimento moral, ou infelicidade (sensação do espírito). Essa condição é transitória, pois, superando as imperfeições, o espírito retorna ao caminho do bem e liberta-se da infelicidade

Ibidem

O contrário também é verdadeiro: o Espírito que confunde a infelicidade com as dores e as emoções negativas da matéria, para se ver longe delas, pode se lançar numa busca sem fim, que, frequentemente, também lhe coloca em contato com maus hábitos que poderão fazer surgir uma imperfeição.

Essa compreensão, que parece muito simples, em princípio, e que é de suma importância, não é muito fácil de ser internalizada. Como ela o será? Pelo estudo, que leva ao conhecimento, que fortalece a razão. O Espírito só se modifica, de verdade, quando entende suas imperfeições e seus erros e quando, ativamente, por vontade própria, passa a buscar vencê-los. Por isso, fica o convite aos estudos, sendo que aquele sendo realizado pelo Grupo de Estudos Espiritismo para Todos (EPT), sobre a obra O Céu e O Inferno (editora FEAL, baseado na 1.ª edição do original, não adulterado) é um dos melhores, nesse sentido.

Aqui, antes de terminar, temos mais uma reflexão. Falamos a respeito da formação das imperfeições surgindo dos maus hábitos… Por isso, não podemos deixar de falar da educação infantil. A criança, por força de um mau hábito, ensinado ou reforçado desde o berço, pode, também, adquirir uma imperfeição, da qual muito custará a se desvencilhar. Portanto, pais, é passada a hora de se debruçar sobre o estudo da moral e da educação, de modo a melhor educar os filhos, desde seus primeiros atos na vida material, auxiliando-os, pela caridade que nos compete, a auxiliar esses Espíritos a alcançarem, mais cedo, a felicidade, como nós desejaríamos ter alcançado.

Esperamos que muito em breve possamos iniciar uma série de artigos ligados a esse tema. Não deixe de se inscrever em nossa lista de e-mails para recebê-los também – basta informar o seu e-mail em “ASSINE NOSSA NEWSLETTER”, ao lado ou abaixo do artigo!

Sugerimos ao leitor assistir ao vídeo:




O aborto e o Espiritismo: a REALIDADE sobre o assunto

Prezado leitor, o tema do aborto está em alta… E quantas opiniões absurdas, emitidas como “visão espírita do aborto”, chegamos a ver, sobre isso, no Movimento Espírita (que, hoje, não representa o Espiritismo)! “Mulheres que são inférteis é porque estão pagando por abortos em vidas passadas” é apenas um deles. Lembramos sempre: não existe carma, nem lei do retorno, nem pagamento de dívidas, nada disso.

Esses dias o tema voltou plenamente à ativa, por conta do caso da menina de Santa Catarina, que engravidou com 11 anos, e que dividiu a sociedade entre as opiniões, e não se deu menos no meio Espírita. Muitos, guiados por falsas ideias implantadas no Movimento, falam em pecado, carma, dívidas… Enfim, como já apontamos, nada disso existe em verdade, e o Espiritismo explica isso muito bem.

Vamos retomar O Livro dos Espíritos, verificando o que há, nele, sobre o assunto:

357. Que conseqüências tem para o Espírito o aborto?
“É uma existência nulificada e que ele terá de recomeçar.”

358. Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação?

“Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja,
cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, por isso que
impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se
estava formando.”

359. Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe
dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda?

Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe

KARDEC, Allan. Grifos meus.

No estudo do Espiritismo, jamais se pode tomar um trecho isolado como regra geral. É preciso entender o todo, pois os Espíritos superiores frequentemente respondem objetivamente a uma pergunta, complementando-a ou esclarecendo outros pontos em outro momento. Ao não realizar o estudo dessa maneira, veríamos contradições que, na verdade, não existem.

Os Espíritos, na época de Kardec, frequentemente utilizavam a palavra “crime” para destacar qualquer ato que tomamos contra a Lei Natural. Contudo, o Espiritismo não é uma doutrina de dogmas, mas, sim, uma doutrina científica e racional. Ora, sendo que o fato da gestação possa colocar em risco a mãe, não é mais justo preservar a vida da mãe, que, talvez, poderá inclusive tentar uma nova gravidez? É importante lembrar que o progresso do Espírito é ininterrupto e, se não for possível aquela existência, ele precisará escolher uma outra.

Há, porém, o pensamento materialista que impera atualmente, a respeito do aborto, e que, fazendo do ser humano simples máquina biológica, quer transformar a prática em algo banal. Isso é um erro, é claro, mas digamos que o fato se dê, e que se torne legal a realização do aborto pela simples vontade da mãe. Quais serão as consequências, então, para os envolvidos, perante a lei de Deus?

Já vimos que, para o Espírito do feto, haverá a necessidade de reiniciar o planejamento encarnatório, o que nunca é fácil. Mas e para a mãe, que pratica o ato? Ela, segundo lemos acima, estaria incorrendo em crime contra a lei divina. Haverá, portanto, condenação?

É preciso lembrar, caro leitor, que não existe condenação, e que a punição é sempre um efeito da consciência do Espírito sobre o ato praticado. Ao praticar um erro por muitas vezes, o Espírito pode adquirir uma imperfeição, que o fará sofrer e, eventualmente, se arrepender e buscar reparação (em si mesmo). Sobre esse assunto, recomendamos ao leitor assistir os estudos travados neste vídeo, com Paulo Henrique de Figueiredo. Mas, e se o indivíduo não está consciente daquilo que faz?

Uma mulher pode, por exemplo, sem planejar, engravidar. Estando afastada da compreensão das leis divinas, e não desejando ter aquele filho, pratica, então, o aborto, em qualquer estágio da gestação. Ela nem pensa sobre isso, porque, para ela, é algo simples e sem implicações. Tecnicamente, cometeu um “crime”, mas qual será seu sofrimento perante isso? Talvez nenhum, ao menos até que, pelo entendimento, seu pensamento mude. Mas, nesse caso, talvez, quando ela entenda o erro que fez, e que nunca mais tenha cometido, já esteja tão adiante, que somente restará um arrependimento, mas que não necessariamente gerará sofrimento. É um erro. Nós erramos em nosso progresso. O problema é repetir o erro conscientemente.

Outro caso seria o da mulher que, entregue às emoções, frequentemente, por ato inconsequente, engravide e que, toda vez que engravide, aborte. Ela estará, toda vez, abortando o planejamento de um Espírito, mas o quadro demonstra que o que ela faz surge de um desconhecimento e também de um afundamento nos prazeres da matéria. Vê o caminho que ela precisará percorrer, até alcançar o entendimento de que aquilo que ela faz é errado? Ela precisará “pagar” pelo que faz? Não, é claro, porque, presentemente, ela já sofre pelos efeitos de sua forma de pensar e agir, que a afastam do bem — mesmo que não esteja consciente disso. Pode ser que, quando adquira consciência e entenda seu erro, escolha um gênero de vida que lhe leve a lutar diretamente contra suas imperfeições, como também pode ser que, dependendo de suas crenças, se sinta tão culpada que escolha reencarnar sem a possibilidade de ter filhos, o que pode ser mais ou menos útil na sua expiação, isto é, no processo de vencer aquelas imperfeições.

E no que tange ao Espírito do feto abortado? Ficará triste, irritado? Odiará a ex-mãe? Desejará vingança? É claro que tudo isso depende do seus graus de entendimento e de evolução, tudo dependendo de suas escolhas.

Em tudo, no que tange às transgressões da lei divina ou natural, os efeitos e as possibilidades são infinitas, porque dependem do nível de consciência do indivíduo sobre o que faz. É fato que o aborto impensado e generalizado é um erro profundo para o Espírito, mas isso se dá, penso eu, muito menos pelo ato em si, e muito mais pelo contexto que leva o erro a existir, e que é sempre fruto de um completo desconhecimento da moral espiritualista. Quem pratica o aborto de forma inconsequente quase sempre demonstra um pensamento materialista que, com certeza, em diversos aspectos da vida, faz o indivíduo sofrer.

Muito melhor do que ficar querendo adivinhar, pela visão presente de um sofrimento, a infinitude de possibilidades pretéritas que o originou, é buscar estudar o Espiritismo, em Kardec, e espalhar o conhecimento. Se a maior parte do mundo conhecesse a Doutrina Espírita e a avaliasse racionalmente, não estaríamos aqui falando sobre isso. Enquanto, porém, a humanidade estiver mergulhada no materialismo ou no dogma, que leva ao materialismo, os mesmos erros e as suas consequências penosas continuarão sendo perpetrados.

É claro que o Espiritismo não pode ser a favor do aborto facilitado. De certa forma, não podemos ser a favor da legalização dessa prática. Mas, então, caímos na velha discussão: até que ponto o Estado pode interferir nas decisões individuais que, pelo menos sob a ótica materialista, afetam apenas o indivíduo em si? Constatamos, uma vez mais, que a luta política não modificará a sociedade pela imposição. A transformação tem que vir da base, desde a infância, através da educação, abarcando a moral e a racionalidade.




O ENTENDIMENTO DO BEM E DO MAL

Existem, no Universo, duas forças — o bem e o mal? É o mal algo, uma criação divina? Existem doutrinas que dizem que sim, e que a vida do ser humano seria uma eterna dualidade dessa luta de potências.

“Durante muito tempo, o homem compreendeu apenas o bem e o mal físicos. A concepção
do bem e do mal de natureza moral marcou um progresso para a inteligência humana, pois
somente a partir daí pode o homem entrever a espiritualidade, compreendendo que o poder
sobre-humano está fora do mundo visível, e não nas coisas materiais”.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Editora FEAL, 2021.

Acompanhe esse estudo no vídeo abaixo:




Conselhos para a formação de grupos espíritas, por Allan Kardec

Deixamos abaixo, pelo interesse despertado, os conselhos dados por Allan Kardec, em 1862, a respeito da formação de grupos Espíritas, dados em ocasião da Viagem Espírita de 1862.

Em várias localidades solicitaram-me conselhos para a formação de grupos espíritas. Tenho pouca coisa a dizer a respeito, além das instruções contidas em O Livro dos Médiuns. Acrescentarei apenas algumas palavras.

A primeira condição é formar um grupo de pessoas sérias, por mais restrito que seja. Cinco ou seis membros esclarecidos, sinceros, penetrados das verdades da Doutrina e unidos pela mesma intenção, valem cem vezes mais do que a inclusão, nesse grupo, de curiosos e indiferentes. Em seguida, que esses membros fundadores estabeleçam um regulamento que se tornará em lei para os novos aderentes.

Esse regulamento é muito simples e quase só comporta medidas de disciplina interior, pois não exige os mesmos detalhes requeridos para uma sociedade numerosa e regularmente constituída. Cada grupo pode, pois, estabelecer-se como bem o entenda. Todavia, para maior facilidade e uniformidade, darei um modelo, que poderá ser modificado conforme as circunstâncias e as necessidades do lugar. Em todo o caso, o objetivo essencial proposto deve ser o recolhimento, a manutenção da mais perfeita ordem e o afastamento de qualquer pessoa que não estivesse animada de intenções sérias e pudesse transformar-se numa causa de perturbação. Eis por que nunca se seria demasiado severo em relação aos novos elementos a serem admitidos. Não temais que essa severidade prejudique a propagação do Espiritismo. Muito ao contrário: as reuniões sérias são as que fazem mais prosélitos. As reuniões frívolas, as que não são conduzidas com ordem e dignidade, nas quais o primeiro curioso que aparece pode vir despejar suas facécias, não inspiram nem atenção, nem respeito e delas os incrédulos saem menos convencidos do que ao entrarem. Estas reuniões fazem a alegria dos inimigos do Espiritismo, ao passo que as outras são o seu pesadelo e eu conheço pessoas que veriam de bom grado a sua multiplicação, contanto que as outras desaparecessem. Felizmente, é o contrário que acontece. É preciso, além disso, persuadir-se de que o desejo de ser admitido nas reuniões sérias aumenta em razão da dificuldade. Quanto à propaganda, ela se faz bem menos pelo numero dos assistentes, que uma ou duas sessões não podem convencer, do que pelo estudo prévio e pela conduta dos membros fora das reuniões.

[…]

Tampouco deveis recear a admissão dos jovens. A gravidade da assembleia refletir-se-á em seu caráter; eles se tornarão mais sérios e ainda cedo poderão haurir, no ensino dos bons Espíritos, esta fé viva em Deus e no futuro, esse sentimento dos deveres da família, que os tornarão mais dóceis, mais respeitosos, e que modera a efervescência das paixões.

[…]

Recentemente formaram-se alguns grupos especiais, cuja multiplicação jamais deixaríamos de encorajar: são os denominados grupos de ensino. Neles, ocupam-se pouco ou nada das manifestações, mas, sim, da leitura e da explicação de O Livro dos Espíritos, de ‘O Livro dos Médiuns’ e de artigos da Revista Espírita((O estudo da Revista Espírita, sendo realizado por este grupo, pode ser melhor entendido aqui e acompanhado em nosso canal, aqui)).

Algumas pessoas devotadas reúnem com esse objetivo certo número de ouvintes, suprindo para eles as dificuldades de ler e estudar por si mesmos. Aplaudimos de todo o coração essa iniciativa que, esperamos, terá imitadores e não poderá, em se desenvolvendo, deixar de produzir os mais felizes resultados.

Para isso não se tem necessidade de ser orador ou professor; é uma leitura em família, seguida de algumas explicações sem pretensão à eloquência, e que está ao alcance de toda gente.

[…]

Espero que não achem ruim que eu indique essas obras como base do ensino, uma vez que são as únicas em que a ciência espírita está desenvolvida em todas as suas partes e de maneira metódica((Em 1862, essas eram as obras existentes e publicadas. Hoje, com a restauração das versões originais de O Céu e o Inferno e A Gênese (editora FEAL), recomenda-se também o estudos dessas, sobretudo para o entendimento da parte filosófica da Doutrina Espírita. O Grupo de Estudos Espiritismo Para Todos (EPT) está desenvolvendo um grande e rico trabalho de estudos dessas obras (conheça mais clicando aqui))).

[…]

Eis um outro hábito, cuja adoção não é menos útil. É essencial que cada grupo recolha e passe a limpo as comunicações obtidas, a fim de a elas facilmente recorrer em caso de necessidade. Os Espíritos que vissem desprezadas suas instruções logo abandonariam as reuniões; mas é necessário, sobretudo, que se faça à parte uma coletânea especial, organizada e clara, das comunicações mais belas e mais instrutivas, e reler algumas delas em cada sessão, a fim de aproveitá-las melhor.




Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec – estudo da obra

O grupo irmão, Grupo de Estudos Espiritismo para Todos (EPT) está desenvolvendo estudos de uma obra muito interessante e importante, em seu Youtube. Semanalmente, aos sábados, se debruçam sobre o livro “Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec”, obra em que Wilson Garcia vai fundo e esmiúça os caminhos que levaram o Movimento Espírita atual a ser esse movimento religioso, dogmático, afastado da ciência e avesso à razão e à lógica.

Não temos outra forma de dizer: Wilson Garcia realmente coloca o dedo na ferida, numa ação necessária a inadiável, seguindo o caminho iniciado há muitas décadas, por outros estudiosos da Doutrina Espírita e, mais recentemente, pelos trabalhos de Simoni Privato e Paulo Henrique de Figueiredo.

Destacaremos um pequeno trecho, da introdução do livro, para, em seguida, vincular os vídeos dos estudos do EPT, que você pode acompanhar ou mesmo participar.

Certamente, o espiritismo tem sido seriamente afetado em sua credibilidade pela proliferação de charlatães e especuladores que se exibem como curandeiros, videntes ou ledores da sorte, que usam o nome da doutrina de modo impróprio e abusivo. De semelhante, contribui com o descrédito a publicação de panfletos e livros repletos de mensagens estranhas carregadas de um anacrônico misticismo religioso, temperado com supostas revelações e profecias apocalípticas, anunciadas por entidades de origem ou categoria heterogênea. É necessário acrescentar a este pandemônio a proliferação de obras de tendências espiritualistas ou esotéricas que rondam as áreas limítrofes do pensamento espírita, em cujas páginas desponta de maneira velada ou explícita a afirmação de que superam o espiritismo, por ser supostamente portadoras de conhecimentos mais atuais ou modernos.

Todo esse caos semântico e conceitual, do qual a doutrina fundada e sistematizada por Kardec é absolutamente alheia, afeta em maior ou menor grau a marcha do movimento espírita desde suas origens até os dias atuais, na França e em outros lugares da Europa, assim como no Brasil e em inúmeros países do continente americano. Basta lembrar os esforços insistentes que são feitos nas hostes do kardecismo para demarcar e proteger-se das influências geradas pelo ramatisismo, o monismo ubaldista, o trincadismo, o culto Basilio, o emanuelismo, a umbanda e outros sincretismos, e, claro, o roustainguismo, denominação que recebe o conjunto de teorias e crenças reunidas na obra Os quatro Evangelhos […]

GARCIA, Wilson. Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec. Editora EME, 2020.

Se você desejar informações sobre como participar ativamente dos estudos, entre em contato.

Clique abaixo para assistir aos vídeos da playlist desse estudo.




Carta do Espírito de Allan Kardec a Gabriel Dellane

Poucos sabem, mas Kardec não ficou em silêncio após sua morte. O livro Beacoup de Lumiere (Muita Luz), de Berthe Fropo (clique aqui para baixar), apresenta algumas de suas comunicações pós-morte, sempre em tom de extrema concordância com sua forma de se expressar, sempre séria, mas gentil e fraterna.

Em 18 de maio de 1882, uma comunicação muito tocante, no que tange à Doutrina Espírita, foi dada a Gabriel Dellane, que reproduzimos abaixo na íntegra:

Por algum tempo eu estive convosco, feliz por vê-los resolvidos a retomar valentemente o vosso papel de propagador da fé espírita.

A doutrina, por assim dizer, ficou adormecida desde a minha partida. Era impossível que fosse de outra forma, já que meu desaparecimento súbito não me deu tempo para realizar os projetos que havia feito e que permitiria a uma coletividade homogênea continuar o trabalho que havia sido iniciado. Então, as desgraças que surgiram em nossa querida pátria obrigaram cada um a trabalhar materialmente para melhorar sua própria situação e a de nosso querido país. Pois deve-se admitir que a maior parte dos espíritas, sendo como os primeiros apóstolos, sem fortuna, tem o dever de prover as necessidades diárias de suas famílias.

Essa é uma obrigação da qual ninguém tem o direito de escapar. O trabalho é uma lei imposta ao homem pelo Criador, é importante realizá-lo. Por conseguinte, era preferível ao espiritismo que continuasse a se espalhar entre as famílias sem brilho, em vez de ser desviado do seu verdadeiro caminho, que é o estudo dos fatos e o reconhecimento das manifestações dos desencarnados que viveram na terra.

Não tenhais medo de chamá-los, não importa o quão grande eles vos possam parecer, e qualquer papel que possam ter realizado aqui embaixo; quanto mais evoluídos forem eles, mais fácil é que eles se entreguem ao vosso chamado, o envelope perispiritual do espírito tendo sido banhado no fluido ambiental do planeta, conserva nele, eternamente, a faculdade de ir a todos os lugares onde a lembrança o chama, e especialmente quando este espírito cumpriu um papel missionário em um desses mundos onde ele é desejado. Quanto mais o espírito é elevado, mais lhe é fácil atravessar os espaços. O espírito pode percorrer todos os mundos em que viveu, com tanta facilidade quanto é para vós ir de um país a outro, sem que sejais obrigados a deixar uma parte de vós mesmos no caminho; se, por exemplo, vós viajardes do norte para o sul, vós deixareis uma roupa quente para colocar uma nova fresca; vós vos ajustareis ao ambiente em que vos encontrais, e nada será capaz de se opor à vossa transformação transitória, se vós tiverdes sido precavidos. É o mesmo com os espíritos superiores, tendo adquirido a onipotência sobre a matéria, eles a transformam como desejam sem que nenhuma lei se oponha. Quem diz espírito superior, diz humildade, amor e caridade. Exemplo: Cristo veio encarnar em uma família humilde e pobre. Ele teve os seus motivos. Foi para nos mostrar que não devemos ter medo de chamá-lo para nós, pois era o ambiente que ele preferia. Não tenhais medo de chamar todos aqueles por quem tenhais grande simpatia. Eles sempre estarão felizes com vossaS evocações.

Estou jubiloso com o despertar que se opera e vos devo dizer que a ele não estou indiferente; tampouco ao novo conhecimento que vós fazeis desses caros amigos, repletos de boa vontade e que farão tudo o que lhes for possível para levar a obra a um bom fim. Mas eles precisam ser ajudados e assistidos.

É dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso; portanto, meus amigos, eu conto convosco. Sei o quanto amais nossa querida filosofia e o quanto desejais vê-la triunfar; eis porque vos disse essas coisas; são conselhos de amigo que vos dou, sabendo que vos agradarei, e que vós vos esforçareis para trabalhar pela obra de regeneração à qual me devotei, Sublime missão que é a de ensinar aos seus irmãos o caminho da felicidade que é aquela, como dizia o Cristo, “da vida eterna”.

Retornem, portanto, corajosamente à luta; quanto mais trabalharem pelos outros, mais lhes será dado por vós mesmos.

Somente se pode julgar uma causa quando se estudou bem sobre a mesma e quando a ela se está bem identificado. É o mesmo caso do trabalho. Para conhecer-se as leis, é necessário trabalhar por si mesmo, se se quer raciocinar com precisão e ajudar a resolver a maior questão do século, que é a compreensão do trabalho e do capital.

Ah! se os homens encarregados da marcha do progresso desejassem se ocupar seriamente do espiritismo, que poderosa alavanca eles teriam tido em suas mãos!

O capítulo das responsabilidades é o único capaz de fazer bem compreender os trabalhadores e cavalheiros que eles são semelhantes aos poderosos, mas que não é somente a si mesmos que devem a situação momentânea que ora ocupam, situação essa que eles poderão melhorar facilmente no dia em que compreenderem a lei de reencarnação. Trabalhai, portanto, incansavelmente e com coragem para o edifício social e moral de nossa doutrina; os meios vos serão dados. A hora chegou, a ocasião se apresenta hoje, secundai-a, queridos amigos, com toda a vossa força; apelai-nos. Organizai-vos em um comité. Lede, relede, comentai todos os fatos que vos sujeitem e cuidai bem para não serdes absolutos sobre qualquer outro ponto que não aqueles fundamentais, quer dizer, a crença nas manifestações e na reencarnação. Não avançai os fatos que estejam sob reserva. Em uma palavra, fazei como eu fiz. Vós me vistes ao trabalho.

Allan Kardec. Grifos meus.

Nada mais claro e belo. A Doutrina carece de defesa, e precisa do esforço individual de cada um de nós.

Em seguida a esta comunicação, houve este complemento:

Não desejo fatigar o médium. Entretanto, eu vos exorto a ir ver minha cara esposa. É necessário no interesse da doutrina (isto para vós, pessoalmente). É bem difícil julgar o coração humano, porque se ele tem suas horas de desfalecimento, também as tem de refazimento. Ide, pois, sem tardar, e vós me sereis muito agradáveis.

Allan Kardec

Cremos importante citar, também, os dois parágrafos seguintes, da autora, que dão complemento a essa comunicação apresentada:

Apesar dessa urgente injunção, o senhor e a senhora Delanne permitiram passar o mês de julho sem se perturbarem; somente no final do mês de agosto, a partir das novas comunicações, dizendo-lhes o quanto o retardo deles era prejudicial à doutrina, que eles foram lá e Madame Kardec acolheu-os com uma profunda alegria; ela viu, finalmente, o amanhecer daquela sociedade há muito tempo prometida. Eles lhe propuseram ser a presidente, mas ela recusou, em razão dela já estar bem doente. “De coração, estou convosco”, disse-lhes ela, porém, recusava-se a combater “e destruir a sociedade que fundamos, meu marido e eu. Eu vos darei uma presidente, minha melhor e mais fiel amiga, reflexo de mim mesma, e permanecerei neutra”.

Sr. Delanne lhe contou que na Bélgica temia-se uma cisão inquietante para a doutrina, que um espírita muito zeloso queria fazer do espiritismo uma religião com culto e cerimônias. Ela rejeitou essa ideia energicamente, dizendo: “Se o espiritismo transformar-se em uma religião, nós não seremos mais do que uma seita, e a doutrina, esta bela filosofia, perder-se- á”. Ela também rejeita a palavra federação, que soava mal aos ouvidos depois da comuna. Ficou estabelecido que nós faríamos um apelo a todos os espíritas sinceros, elaboraríamos o estatuto e que a sociedade receberia o título de “União Espírita Francesa“.

Berthe Fropo

Amigos, a comunicação e os fatos supracitados não poderiam ser mais contemporâneos. Quanto tempo mais deixaremos o tempo passar, sem fazer nada? Quanto tempo mais deixaremos no esquecimento o trabalho de Allan Kardec, tão sério e tão importante, na transformação da humanidade? Muito criticamos os Espíritos que desvirtuam o Espiritismo com suas falsas concepções da Doutrina, mas que seriam eles, senão meras vozes que poucos escutam, se a força da maioria estivesse sob o Espiritismo em sua essência – em outras palavras: se os espíritas estudassem?

Parafraseando Kardec, “é dever de todo espírita sincero evitar que a doutrina seja desviada de seu verdadeiro curso“. E tanto nosso grupo, quanto o grupo amigo, Grupos de Estudos ESPIRITISMO PARA TODOS (EPT), carecemos de voluntários. Estamos bastante sobrecarregados!

Exemplos de auxílios que muito poderiam ajudar a todos nós:

  • compartilhamento de conteúdos nos grupos possíveis
  • criação de vídeos curtos, com trechos interessantes, para compartilhar nas plataformas de vídeos (tiktok, reels, etc).
  • criação de textos essenciais, linkando os vídeos de estudos e os textos abordados, de Kardec, para publicação nos nossos blogs (e outros)
  • extração de áudios para publicação nas plataformas de podcasts
  • outros

Se você puder ajudar e desejar se voluntariar a cooperar nesse importante trabalho, por favor, entre em contato através do WhatsApp: https://wa.me/5515998628392.

Mas, se você quer apenas estudar, clique aqui.




Primeiras lições de moral da infância

Foto de samer daboul: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-de-criancas-felizes-1815257/

Quem já se aventurou a conhecer um pouquinho mais da história de Allan Kardec, sabe que ele foi educado pelo método de Pestalozzi, sendo um de seus mais exemplares discípulos. Para seu mestre, a educação deve ser pautada pelos princípios da fraternidade e do amor, afastada dos conceitos de pecado e castigo, o que moldou demais a forma de pensar de Kardec, que, depois, se fundamentou ainda mais plenamente pelo Espiritualismo Racional e, posteriormente, pelo Espiritismo. Sabemos também que o caráter investigativo e humilde do professor Rivail também foi formado basilarmente por essa educação, pautada pela exploração das ciências naturais através do método científico, e isso, é claro, explica muito a maneira pela qual ele agia frente ao Espiritismo.

Tudo isso – a fraternidade, o aprendizado pelos princípios morais do bem e das leis de Deus, a caridade desinteressada, que é fruto desse aprendizado, a humildade, que nasce do coração daquele que jamais toma por princípio que a sua palavra é a última, enfim, tudo aquilo que está encerrado na metodologia pestalozziana – dá base a uma educação de muito melhor qualidade, desde os primeiros passos do ser humano sobre a Terra. Ela é, não hesito em dizer, uma das maiores ferramentas para a (trans)formação da sociedade, complementada grandemente pelo entendimento das leis que o Espiritismo veio demonstrar. As duas, juntas, têm o maior poder de, desde a infância, impedir a instalação ou o desenvolvimento dos mais danosos hábitos para o indivíduo e para a sociedade – o egoísmo e o orgulho – mas, até hoje, nenhuma delas ganhou o espaço merecido, por conta do apego humano aos falsos conceitos que, de cara, parecem agradar, mas que, no fundo, causam apenas infelicidade e atraso.

Para exemplificar tudo isto, nada melhor do que reproduzir, na íntegra, o conteúdo do artigo homônimo de Allan Kardec, apresentado na Revista Espírita de fevereiro de 1864.

De todas as chagas morais da Sociedade, parece que o egoísmo é a mais difícil de desarraigar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais é alimentada pelos próprios hábitos da educação. Parece que se toma a tarefa de excitar, desde o berço, certas paixões que mais tarde tornam-se uma segunda natureza. E admiram-se dos vícios da Sociedade, quando as crianças o sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.

Numa família de nosso conhecimento há uma menina de quatro a cinco anos, de uma inteligência rara, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, isto é, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão qualquer coisa, o que os pais cuidam bem de corrigir, porque fora esses defeitos,segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles se conduzem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.

Um dia trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu o comerás se fores boazinha”. Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não dizem a uma criança que não comerá tal petisco se chorar. “Faze isto, ou faze aquilo”, dizem, “e terás creme” ou qualquer outra coisa que lhe apeteça, e a criança se constrange, não pela razão, mas em vista de satisfazer a um desejo sensual((Desejo dos sentidos)) que a aguilhoa.

É ainda muito pior quando lhe dizem, o que não é menos frequente, que darão o seu pedaço a uma outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe dizem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem dar-lhe uma lição de generosidade? Então lhe dizem: “Dá esta fruta ou este brinquedo a fulaninho”. Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: “Eu te darei um outro”, de modo que a criança não se decide a ser generosa senão quando está certa de nada perder.

Certo dia testemunhamos um fato bem característico neste gênero. Era uma criança de cerca de dois anos e meio, a quem tinham feito semelhante ameaça, acrescentando: “Nós o daremos ao teu irmãozinho, e tu ficarás sem nada.” Para tornar a lição mais sensível, puseram o pedaço no prato do irmãozinho, que levou a coisa a sério e comeu a porção. À vista disso, o outro ficou vermelho e não era preciso ser nem o pai nem a mãe para ver o relâmpago de cólera e de ódio que partiu de seus olhos. A semente estava lançada: poderia produzir bom grão?

Voltemos à menina, da qual falamos. Como ela não se deu conta da ameaça, sabendo por experiência que raramente a cumpriam, desta vez foram mais firmes, pois compreenderam que era necessário dominar esse pequeno caráter, e não esperar que com a idade ela adquirisse um mau hábito. Diziam que é preciso formar cedo as crianças, máxima muito sábia e, para a pôr em prática, eis o que fizeram: “Eu te prometo, disse a mãe, que se não obedeceres, amanhã cedo darei o teu bolo à primeira menina pobre que passar.” Dito e feito.

Desta vez queriam manter a promessa e dar-lhe uma boa lição. Assim, no dia seguinte, de manhã, tendo visto uma pequena mendiga na rua, fizeram-na entrar e obrigaram a filha a tomá-la pela mão e ela mesma lhe dar o seu bolo. Então elogiaram a sua docilidade. Moral da história: A filha disse: “Se eu soubesse disto teria me apressado em comer o bolo ontem.” E todos aplaudiram esta resposta espirituosa. Com efeito, a criança tinha recebido uma forte lição, mas de puro egoísmo, da qual não deixará de aproveitar-se uma outra vez, pois agora sabe quanto custa a generosidade forçada. Resta saber que frutos dará mais tarde esta semente quando, com mais idade, a criança fizer a aplicação dessa moral em coisas mais sérias que um bolo.

Sabe-se todos os pensamentos que este único fato pode ter feito germinar nessa cabecinha? Depois disto, como querem que uma criança não seja egoísta quando, em vez de nela despertar o prazer de dar e de lhe representar a felicidade de quem recebe, impõem-lhe um sacrifício como punição? Não é inspirar aversão ao ato de dar e àqueles que necessitam?

Outro hábito, igualmente frequente, é o de castigar a criança mandando-a comer na cozinha com os criados. A punição está menos na exclusão da mesa do que na humilhação de ir para a mesa dos serviçais. Assim se acha inoculado, desde a mais tenra idade, o vírus da sensualidade, do egoísmo, do orgulho, do desprezo aos inferiores, das paixões, numa palavra, que com razão são consideradas como as chagas da Humanidade.

É preciso ser dotado de uma natureza excepcionalmente boa para resistir a tais influências, produzidas na idade mais impressionável, na qual não podem encontrar o contrapeso nem da vontade, nem da experiência. Assim, por pouco que aí se ache o germe das más paixões, o que é o caso mais ordinário, dada a natureza da maioria dos Espíritos que se encarnam na Terra, ele não pode deixar de desenvolver-se sob tais influências, ao passo que seria preciso observar-lhe os menores traços para reprimi-los.

A falta, sem dúvida, é dos pais, mas é preciso dizer que muitas vezes estes pecam mais por ignorância do que por má vontade. Em muitos há, incontestavelmente, uma culposa despreocupação, mas em muitos outros a intenção é boa, no entanto, é o remédio que nada vale, ou que é mal aplicado.

Sendo os primeiros médicos da alma de seus filhos, os pais deveriam ser instruídos, não só de seus deveres, mas dos meios de cumpri-los. Não basta ao médico saber que deve procurar curar, é preciso saber como agir. Ora, para os pais, onde estão os meios de instruir-se nesta parte tão importante de sua tarefa? Hoje dá-se muita instrução à mulher; fazem-na passar por exames rigorosos, mas algum dia foi exigido da mãe que soubesse como fazer para formar o moral de seu filho?

Ensinam-lhe receitas caseiras, mas foi iniciada aos mil e um segredos de governar os jovens corações?

Os pais, portanto, são abandonados sem guia à sua iniciativa. É por isto que tantas vezes seguem caminhos errados. Assim recolhem, nos erros dos filhos já crescidos, o fruto amargo de sua inexperiência ou de uma ternura mal compreendida, e a Sociedade inteira lhes recebe o contragolpe.

Considerando-se que o egoísmo e o orgulho são reconhecidamente a fonte da maioria das misérias humanas; que enquanto eles reinarem na Terra não se pode esperar nem paz, nem caridade, nem fraternidade, então é preciso atacá-los no estado de embrião, sem esperar que fiquem vivazes.

Pode o Espiritismo remediar esse mal? Sem dúvida nenhuma, e não hesitamos em dizer que ele é o único suficientemente poderoso para fazê-lo cessar, pelo novo ponto de vista com o qual ele permite perceber a missão e a responsabilidade dos pais; dando a conhecer a fonte das qualidades inatas, boas ou más; mostrando a ação que se pode exercer sobre os Espíritos encarnados e desencarnados; dando a fé inquebrantável que sanciona os deveres; enfim, moralizando os próprios pais. Ele já prova sua eficácia pela maneira mais racional empregada na educação das crianças nas famílias verdadeiramente espíritas. Os novos horizontes que abre o Espiritismo fazem ver as coisas de outra maneira. Sendo o seu objetivo o progresso moral da Humanidade, ele forçosamente deverá iluminar o grave problema da educação moral, primeira fonte da moralização das massas. Um dia compreender-se-á que este ramo da educação tem seus princípios, suas regras, como a educação intelectual, numa palavra, que é uma verdadeira ciência. Talvez um dia, também, será imposta a toda mãe de família a obrigação de possuir esses conhecimentos, como se impõe ao advogado a de conhecer o Direito.

Kardec dá todo o peso à responsabilidade que temos perante as crianças e seus hábitos. O Espiritismo mostra a origem das tendências inatas infantis, mas demonstra, também, que o Espírito encarnado numa criança pode não ser forte, ainda, para resistir a um mau hábito que seus pais ou cuidadores lhes ensinem desde os primeiros passos. Criam-se, assim, imperfeições que muito poderão custar a serem vencidas…

Comumente, na carne, o fruto dessas imperfeições levará esses a perguntarem: “o que foi que eu fiz para merecer isso?”, ou então “onde foi que eu errei?”. Contudo, basta que a razão fale um pouquinho mais alto à consciência para que se joguem em pesadas lamentações, nascidas do fruto da constatação de que o sofrimento pelo qual o filho poderá ter passado não só por uma, mas por muitas vidas terrestres, se originou, senão em tudo, mas ao menos em parte, na primeira semente lançada e cultivada por aqueles que lhes deveriam auxiliar a se desenvolver sob a moral do bem, e não a dele se afastarem.

Portanto, pais e cuidadores, muito mais atenção para com os Espíritos que Deus lhes confiou como filhos. Serão as suas próprias consciências, e não Deus, quem vai lhes cobrar, amanhã…