Um Oficial Superior morto em Magenta

Este artigo é continuação DESTE ARTIGO

Após a evocação do Zuavo de Magenta, Kardec faz evocação de outro oficial da mesma batalha. Neste caso ele era um conhecido deles, como podemos observar na questão numero 4,

1. ─ (Evocação).

─ Eis-me aqui.

2. ─ Poderíeis dizer como atendestes tão prontamente ao nosso apelo?

─ Eu estava prevenido do vosso desejo.

3. ─ Por quem fostes prevenido?

─ Por um emissário de Luís.

4. ─ Tínheis conhecimento da existência de nossa sociedade?

─ Vós o sabeis.

NOTA DE A.K.: O oficial em questão tinha realmente ajudado a sociedade a ser registrada.

5. ─ Sob que ponto de vista consideráveis a nossa sociedade, quando ajudastes na sua formação?

─ Eu não estava ainda inteiramente decidido, mas me inclinava muito a crer. Sem os acontecimentos que sobrevieram, certamente teria ido instruir-me no vosso círculo.

6. ─ Há muitas grandes notabilidades que comungam as ideias espíritas, mas não o confessam de público. Seria desejável que pessoas influentes arvorassem abertamente essa bandeira?

─ Paciência. Deus o quer, e desta vez a expressão corresponde à verdade.

7. ─ De que classe influente da sociedade pensais que deverá partir o exemplo?─ De todas as classes. Inicialmente de algumas, depois de todas.

8. ─ Do ponto de vista do estudo, poderíeis dizer-nos, embora morto mais ou menos na mesma época em que foi morto o zuavo que há pouco aqui esteve, se vossas ideias são mais lúcidas do que as dele?

─ Muito. Aquilo que ele vos pôde dizer testemunhando uma certa elevação foi-lhe soprado. Ele é muito bom, mas muito ignorante, e um pouco leviano.

9. Ainda vos interessais pelo sucesso das nossas armas?

─ Muito mais do que nunca, pois hoje conheço o objetivo.

10. ─ Podeis definir o vosso pensamento? O objetivo sempre foi confessado publicamente e, sobretudo em vossa posição, deveríeis conhecê-lo?

─ O objetivo estabelecido por Deus, vós o conheceis?

NOTA DE A.K. : Ninguém ignorará a gravidade e a profundidade desta resposta. Quando vivo, ele conhecia o objetivo dos homens, como Espírito, vê o que há de providencial nos acontecimentos.

11. ─ De um modo geral, que pensais da guerra?

─ Meu desejo é que progridais rapidamente, para que ela se torne tão impossível quanto inútil.

12. ─ Credes que chegará o dia em que ela será impossível e inútil?

─ Penso que sim, e não duvido. Posso dizer-vos que esse momento não está tão longe quanto pensais, embora não vos dê a esperança de que o vejais.

13. ─ No momento da morte vos reconhecestes imediatamente?

─ Reconheci-me quase que imediatamente, graças às vagas noções que tinha do Espiritismo.

14. ─ Podeis dizer algo a respeito do Sr… também morto na última batalha?

─ Ele ainda está nas redes da matéria. Tem mais trabalho em se desvencilhar. Seus pensamentos não se tinham voltado para este lado.

NOTA de A.K.: Assim, o conhecimento do Espiritismo em vida auxilia no desprendimento da alma após a morte e abrevia o período de perturbação que acompanha a separação. Isto é compreensível, pois o Espírito conhecia antecipadamente o mundo em que se encontra.

Para Pensar: Se esse conhecimento é tão importante, como conceber que justamente no momento em que o Espiritismo era estudado cientificamente, no melhor momento possível, nada foi falado a respeito dessa materialidade que hoje domina as comunicações?

15. ─ Assististes à entrada de nossas tropas em Milão?

─ Sim, e com alegria. Fiquei encantado com a ovação que acolheu as nossas tropas, a princípio por patriotismo, depois, pelo futuro que as aguarda.

16. ─ Como Espírito podeis exercer alguma influência sobre os planos estratégicos?

─ Credes que isto não tenha sido feito desde o princípio e tendes dificuldades de imaginar por quem?

17. ─ Como foi que os austríacos abandonaram tão rapidamente uma praça forte como Pavia?

─ Por medo.

OBSERVAÇÃO: A Sardenha buscava expandir seu território e estabelecer uma posição mais forte no cenário político europeu, enquanto a França via a guerra como uma oportunidade para aumentar sua influência na Itália e consolidar sua posição como potência europeia. Por sua vez, o Império Austríaco buscava manter sua posição dominante na região e evitar a fragmentação de seu império.

18. ─ Então estão desmoralizados?

─ Completamente. Ademais, se agimos sobre os nossos num sentido, deveis pensar que sobre eles age uma influência de outra natureza.

NOTA de A.K.: Aqui a intervenção dos Espíritos nos acontecimentos é inequívoca. Eles preparam as vias para a realização dos desígnios da Providência. Os Antigos teriam dito que era obra dos Deuses. Nós dizemos que é obra dos Espíritos, por ordem de Deus.

19. ─ Podeis dar a vossa opinião sobre o General Giulay como militar, pondo de lado qualquer sentimento nacionalista?

─ Pobre, pobre general!

OBSERVAÇÃO: Ferenc Gyulai de Marosnémeti et Nádaska (Peste, 1 de setembro de 1799 — Viena, 1 de setembro de 1868) foi um general húngaro exército austro-húngaro. Em 1849 foi nomeado ministro da Guerra pelo imperador Francisco José I, porém permaneceria no cargo somente um ano. Como militar se destacou por sua participação na invasão do Piemonte durante a Reunificação da Itália. Comandando suas tropas atravessou o rio Ticino em 29 de abril de 1859, invadindo o território piemontês. Nesta invasão sofreu duas duras derrotas: na Batalha de Montebello e na Batalha de Magenta, perdendo em ambas milhares de homens e pendendo a guerra a favor do lado italiano. Depois da derrota em Magenta foi destituído de seu cargo, retornando à Áustria-Hungria, onde morreu nove anos mais tarde.

20. ─ Voltaríeis com prazer se vos pedíssemos?

─ Estou à vossa disposição e prometo vir, mesmo sem o vosso chamado. Deveis acreditar que a simpatia que tinha por vós não pode senão aumentar. Adeus.




Materialidade de além-túmulo: o Zuavo de Magenta

Apresentamos na ultima LIVE uma das Conversas Além Túmulo da Revista Espírita de 1859, tratando do tema Materialidade de além-túmulo.

Desta vez, eles conversam com um soldado morto em batalha.

O governo permitiu que os jornais apolíticos dessem notícias da guerra*. Como, porém, são abundantes os relatos sob todas as formas, seria inútil repeti-los aqui. A maior novidade para os nossos leitores é uma história vinda do outro mundo.

Embora não seja extraída da fonte oficial do Moniteur, nem por isso oferece menos interesse do ponto de vista dos nossos estudos. Assim, pensamos interrogar algumas das gloriosas vítimas da vitória, presumindo que daí pudéssemos extrair alguma instrução útil. Semelhantes temas de estudo, e principalmente de atualidade, não se apresentam a cada passo. Não conhecendo pessoalmente nenhum dos participantes da última batalha, rogamos aos Espíritos que nos assistem que nos enviassem alguém. Chegamos a pensar que a presença de um estranho seria preferível à de amigos ou de parentes dominados pela emoção. Dada uma resposta afirmativa, obtivemos as seguintes comunicações.

RE 1859 O Zuavo de Magenta

Isso se passou na Segunda Guerra Italiana de Independência. A guerra ocorreu em 1859, e foi travada entre o Reino da Sardenha, liderado por Camillo di Cavour, e a França, liderada pelo Imperador Napoleão III, contra o Império Austríaco. Exporemos alguns trechos dessa longa conversa além túmulo.

1. ─ Rogamos a Deus Todo Poderoso permita ao Espírito de um militar morto na batalha de Magenta vir comunicar-se conosco.

─ Que quereis saber?

2. ─ Onde vos encontráveis quando vos chamamos?

─ Não saberia dizer.

3. ─ Quem vos preveniu que desejávamos conversar convosco?

─ Alguém mais sagaz do que eu.

4. ─ Quando em vida duvidáveis que os mortos pudessem vir conversar com os vivos?

─ Oh! Isso não.

5. ─ Que sensação experimentais por estardes aqui?

─ Isto me causa prazer. Segundo me dizem, tendes grandes coisas a fazer.

6. ─ A que corpo do exército pertencíeis? (Alguém diz a meia-voz: Pela linguagem parece um “zuzu”)

─ Ah! Bem o dizes!

7. ─ Qual era o vosso posto?

─ O de todo o mundo.

8. ─ Como vos chamáveis?

─ Joseph Midard.

9. ─ Como morrestes?

─ Quereis saber tudo sem pagar nada?

10. ─ Ainda bem que não perdestes a jovialidade. Dizei, dizei; nós pagaremos depois. Como morrestes?

─ De uma ameixa [projétil] que recebi.

11. ─ Ficastes contrariado com a morte?

─ Palavra que não! Estou bem, aqui.

12. ─ No momento da morte percebestes o que houve?

─ Não. Eu estava tão atordoado que não podia acreditar.[nota a seguir]

NOTA de A. K.: Isto está de acordo com o que temos observado nos casos de morte violenta. Não se dando conta imediatamente da sua situação, o Espírito não se julga morto. Este fenômeno se explica muito facilmente. É análogo ao dos sonâmbulos, que não acreditam que estejam dormindo. Realmente, para o sonâmbulo, a ideia de sono é sinônima de suspensão das faculdades intelectuais. Ora, como ele pensa, não acredita que dorme. Só mais tarde se convence, quando familiarizado com o sentido ligado a esse vocábulo. Dá-se o mesmo com um Espírito surpreendido por uma morte súbita, quando nada está preparado para a separação do corpo. Para ele, a morte é sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, desde que ele vive, sente e pensa, entende que não está morto. É preciso algum tempo para reconhecer-se.

13. ─ No momento de vossa morte, a batalha não havia terminado. Seguistes as suas peripécias?

─ Sim, pois como vos disse, não me julgava morto. Eu queria continuar batendo nos outros cães.

14. ─ Que sensação experimentastes então?

─ Eu estava encantado, pois me sentia muito leve.

15. ─ Víeis os Espíritos dos vossos camaradas deixando os corpos?

─ Eu nem pensava nisso, pois não me acreditava morto.

16. ─ Em que se transformava, nesse momento, a multidão de Espíritos que perdia a vida no tumulto da batalha?─ Creio que faziam o mesmo que eu

17. ─ Encontrando-se reunidos nesse mundo dos Espíritos, que pensavam aqueles que se batiam mais encarniçadamente? Ainda se atiravam uns contra os outros?

─ Sim. Durante algum tempo, e conforme o seu caráter.

18. ─ Reconhecei-vos melhor agora?

─ Sem isto não me teriam mandado aqui.

19. ─ Poderíeis dizer-nos se entre os Espíritos de soldados mortos há muito tempo ainda se encontravam alguns interessados no resultado da batalha? (Rogamos a São Luís que o ajudasse nas respostas, a fim de que, para nossa instrução, fossem tão explícitas quanto possível).─ Em grande quantidade. É bom que saibais que esses combates e suas consequências são preparados com muita antecedência e que os nossos adversários não se envolveriam em crimes, como fizeram, se a isto não tivessem sido compelidos em razão das consequências futuras, que não tardareis a conhecer.

20. ─ Deveria haver ali Espíritos que se interessavam no sucesso dos austríacos. Haveria então dois campos de batalha entre eles?

─ Evidentemente.

OBSERVAÇÃO: Não parece que estamos vendo aqui os deuses de Homero tomando partido, uns pelos Gregos, outros pelos Troianos? Na verdade, quem eram esses deuses do paganismo, senão os Espíritos que os Antigos haviam transformado em divindade? Não temos razão quando dizemos que o Espiritismo é uma luz que esclarecerá diversos mistérios, a chave de numerosos problemas?

21. ─ Eles exerciam alguma influência sobre os combatentes?

─ Muito considerável.

22. ─ Podeis descrever-nos de que maneira eles exerciam tal influência?

─ Da mesma maneira que todas as influências dos Espíritos se exercem sobre os homens. [pelo pensamento]

OBSERVAÇÃO: É fato, como fica cada vez mais constatado, que a mentalidade do Espírito cria cenários de matéria fluídica ao seu redor. Outra coisa também pode ser possível: eles continuam no campo de batalha terreno, provavelmente com algumas “adições fluídicas”. Tudo isso deve ser indistinguível, de início, quando no estado de perturbação. Contudo, não é regra, ou seja, não constitui uma verdade geral para todo soldado, morto em guerra (vide O Tambor de Beresina, RE, julho de 1858). O erro, sempre, é tomar as palavras de Espíritos quaisquer sem analisar o seu fundo, principalmente quando o Espírito está em perturbação pós-morte ou é pouco esclarecido, o que se denota de suas próprias ideias. Eis o longo trabalho de Psicologia Experimental de Kardec!

23. ─ Que esperais fazer agora?

─ Estudar mais do que o fiz em minha última etapa.

24. ─ Ides voltar como espectador aos combates que ainda serão travados?

─ Ainda não sei. Tenho afeições que me prendem no momento. Contudo, espero de vez em quando dar uma fugida, para me divertir com as surras subsequentes.

25. ─ Que gênero de afeição vos retém ainda?

─ Uma velha mãe doente e sofredora, que chora por mim.

26. ─ Peço que me desculpeis o mau pensamento que me atravessou o espírito, relativamente à afeição que o retém.

─ Não tem importância. Digo bobagens para vos fazer rir um pouco. É natural que não me tomeis por grande coisa, tendo em vista o regimento medíocre a que pertenci. Ficai tranquilos, eu só me engajei por causa dessa pobre mãe. Mereço um pouco que me tenham mandado a vós.

27. ─ Quando vos encontráveis entre os Espíritos, ouvíeis o rumor da batalha? Víeis as coisas tão claramente como em vida?

─ A princípio eu a perdi de vista, mas depois de algum tempo via muito melhor, porque percebia todas as artimanhas. [está falando no sentido dos pensamentos]

28. ─ Pergunto se escutáveis o troar do canhão.

─ Sim.

29. ─ No momento da ação, pensáveis na morte e naquilo em que vos tornaríeis, caso fosseis morto?

─ Eu pensava no que seria de minha mãe.

30. ─ Era a primeira vez que entráveis em fogo?

─ Não, não. E a África?

31. ─ Vistes a entrada dos franceses em Milão?

─ Não.

32. ─ Aqui sois o único dos que morreram na Itália?

─ Sim.

33. ─ Pensais que a guerra durará muito tempo?

─ Não. É fácil e por isso mesmo pouco meritório fazer tal predição.

34. ─ Quando vedes, entre os Espíritos, um dos vossos chefes, ainda o reconheceis como vosso superior?

─ Se ele o for, sim; se não, não. [nota a seguir]

NOTA de A. K. : Na sua simplicidade e no seu laconismo, esta resposta é eminentemente profunda e filosófica. No mundo espírita, a superioridade moral é a única reconhecida. Quem não a teve na Terra, fosse qual fosse a sua posição, não tem, de fato, superioridade nenhuma. Lá o chefe pode estar abaixo do soldado e o patrão abaixo do servidor. Que lição para o nosso orgulho!

35. ─ Pensais na justiça de Deus e vos inquietais por isso?

─ Quem não pensaria nisso? Felizmente não tenho muito o que temer. Eu resgatei, por algumas ações que Deus considerou boas, as poucas leviandades que cometi como “zuzu”, como dizeis.

36. ─ Assistindo a um combate, poderíeis proteger um de vossos companheiros e desviar dele um golpe fatal?

─ Não. Não podemos fazer isso. A hora da morte é marcada por Deus. Se tem que acontecer, nada o impedirá, do mesmo modo ninguém poderá atingi-la se sua hora não tiver soado.

37. ─ Vedes o General Espinasse?

─ Não o vi ainda. Mas espero vê-lo em breve.

SEGUNDA CONVERSA

(17 DE JUNHO DE 1859)

38. (Evocação).

─ Presente! Firme! Em frente!

39. ─ Lembrai-vos de ter vindo aqui há oito dias?

─ Como não?!

40. ─ Disseste-nos que ainda não tínheis visto o General Espinasse. Como poderíeis reconhecê-lo, já que ele não levou consigo seu uniforme de general?─ Não, mas eu o conheço de vista. Ademais, não temos uma porção de amigos junto a nós, prontos a nos revelar a senha? Aqui não é como no quartel. A gente não tem medo de dar um encontrão com alguém, e eu vos garanto que só os velhacos ficam sozinhos.

41. ─ Sob que aparência aqui vos encontrais?

─ Zuavo.

42. ─ Se vos pudéssemos ver, como o veríamos?

─ De turbante e culote.

43. ─ Pois bem! Suponhamos que nos aparecêsseis de turbante e culote. Onde teríeis arranjado essas roupas, desde que deixastes as vossas no campo de batalha?

─ Ora, ora! Não sei como é isto, mas tenho um alfaiate que me as arranja.

44. ─ De que são feitos o turbante e o culote que usais? Não tendes ideia?

─ Não. Isto é lá com o trapeiro.

NOTA de A. K. : Esta questão da vestimenta dos Espíritos, como várias outras não menos interessantes, ligadas ao mesmo princípio, foram completamente elucidadas por novas observações feitas no seio da Sociedade. Daremos notícias disso no próximo número. Nosso bom zuavo não é suficientemente adiantado para resolver sozinho. Foi-nos preciso, para isso, o concurso de circunstâncias que se apresentaram fortuitamente e que nos puseram no caminho certo.

45. ─ Sabeis a razão pela qual nos vedes, ao passo que nós não vos podemos ver?

─ Acredito que vossos óculos estão muito fracos.

46. ─ Não seria por essa mesma razão que não vedes o general em seu uniforme?

─ Sim, mas ele não o veste todos os dias.

47. ─ Em que dias o veste?

─ Ora essa! Quando o chamam ao palácio.

48. ─ Por que estais aqui vestido de zuavo se não vos podemos ver?─ Simplesmente porque ainda sou zuavo, mesmo depois de cerca de oito anos, e porque entre os Espíritos conservamos essa forma durante muito tempo. Mas isso apenas entre nós. Compreendeis que quando vamos a um mundo muito diferente, como a Lua ou Júpiter, não nos damos ao trabalho de fazer essa toalete toda.

OBSERVAÇÂO: Isso aqui é muito interessante. O que eu entendo é que ele está se referindo ao fato de Espírito adotar uma forma perispiritual de acordo com o mundo onde vão e de acordo com a existência de uma personalidade nesse mundo, sem nem perceberem. Se tivesse vivido em um mundo distante como, por exemplo, um vendedor de animais, ao ser lá evocado, se apresentaria dessa forma.

49. ─ Falais da Lua e de Júpiter. Porventura já lá estivestes depois de morto?

─ Não. Não estais me entendendo. Depois da morte nos informamos de muitas coisas. Não nos explicaram uma porção de problemas da nossa Terra? Não conhecemos Deus e os outros seres muito melhor do que há quinze dias? Com a morte, o Espírito sofre uma metamorfose que não podeis compreender.

50. ─ Revistes o corpo deixado no campo de batalha?

─ Sim. Ele não está bonito.

51. ─ Que impressão vos deixou essa vista?

─ De tristeza.

52. ─ Tendes conhecimento de vossa existência anterior?

─ Sim, mas não é suficientemente gloriosa para que possa me pavonear.

53. ─ Dizei-nos apenas o gênero de vida que tínheis.

─ Simples mercador de peles de animais selvagens.

54. ─ Nós vos agradecemos a bondade de ter vindo pela segunda vez.

─ Até breve. Isto me diverte e me instrui. Já que sou bem tolerado aqui, voltarei de boa vontade.

OBSERVAÇÂO: A tolerância é uma das consequências da caridade. O zuavo se sentiu “acolhido” na comunicação.

A próxima publicação trará a evocação do oficial superior que estava na mesma batalha que este zuavo.




O que deve ser a História do Espiritismo

O século XIX foi o Século da Razão! Isso quer dizer que não havia brecha para misticismo muito menos para dogmas. O dogma só desaparece quando debruçamos sobre o estudo dedicado e contínuo. Este Artigo que trazemos aqui é da Revista Espírita, outubro de 1862, “O que deve ser a história do Espiritismo“.

“A propósito dessa história, sobre a qual dissemos algumas palavras, várias pessoas nos perguntam o que compreenderia ela, e com esse objetivo nos enviaram diversos relatos de manifestações. Aos que pensaram assim trazer uma pedra ao edifício, agradecemos a intenção, mas diremos que se trata de algo mais sério que um catálogo de fenômenos espíritas encontradiço em muitas obras. Tendo o Espiritismo que marcar presença nos fastos da Humanidade, será interessante para as gerações futuras saber por que meios ter-se-á ele estabelecido. Será, pois, a história das peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão oposto; de sua marcha progressiva no mundo inteiro.

O verdadeiro mérito é modesto e não busca impor-se. É preciso que a Humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros da obra, daqueles cuja abnegação e devotamento merecerão ser inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na vanguarda; dos que sofreram pela causa, a fim de que sejam abençoados; dos que fizeram sofrer, a fim de que orem por eles, para que sejam perdoados. Numa palavra, de seus amigos dedicados e de seus inimigos confessos ou ocultos.

É preciso que a intriga e a ambição não usurpem o lugar que lhes não pertence, nem um reconhecimento e uma honra que não lhes são devidos. Se há Judas, é preciso que eles sejam desmascarados.

Uma parte, que não será a menos interessante, será a das revelações que sucessivamente anunciaram todas as fases dessa era nova e os acontecimentos de toda ordem que as acompanharam.

Aos que acharem a tarefa presunçosa, diremos que não teremos outro mérito senão o de possuir, por nossa posição excepcional, documentos que não estão em poder de ninguém, e que estão ao abrigo de quaisquer eventualidades. Considerando-se que o Espiritismo está sendo chamado, incontestavelmente, a desempenhar um grande papel na História, é importante que esse papel não seja desnaturado, e que seja mostrada a história autêntica, em oposição às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderia fabricar.

Quando aparecerá ela? Não será tão cedo, e talvez não em nossa vida, pois não se destina a satisfazer à curiosidade do momento. Se dela falamos por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e seja anotada a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está em seu começo, e muitas outras coisas acontecerão até lá. Então, é preciso esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.” (grifos nossos)

Observação: É interessante notar como parece que Allan Kardec já sabia do que aconteceria no futuro. Tanta oposição nas historias apócrifas e tanto interesse pessoal fabricado nas costas do Espiritismo… Por garantia ele guardou documentos para essas eventualidades que volta e meia são publicados! Fiquemos atentos ao que mais interessa

Hoje percebemos que essa história ainda está em pleno desenvolvimento. Estamos ainda aprendendo a passos lentos os ensinamentos que os Espíritos trouxeram na época de Kardec. Que todos usemos da Vontade e da Imaginação para alcançar esse entendimento tão apoiado na Razão!




RESUMO DA LEI DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS por Allan Kardec

RESUMO DA LEI DOS FENÔMENOS ESPÍRITAS é uma das obras de Kardec não tão divulgadas (clique aqui para baixar). Ela foi escrita em 1864, e seria um resumo do resumo do Livro dos Espiritos e Livro dos Médiuns, penso eu. Por ser uma obra compacta, apenas 20 páginas, passa o conceito bem geral do que é a Doutrina Espirita e os Fenômenos Espiritas.

Ela é dividida em 5 partes: Observações Preliminares, Dos Espíritos, Manifestações dos Espíritos, Dos Médiuns, Das Reuniões Espíritas.

Destaco, a título de exemplo, um dos itens que faz pertence a parte “Manifestações dos Espíritos”:

23. As evocações espíritas não consistem, como alguns imaginam, em fazer voltar os mortos com um aspecto lúgubre da tumba. Não é senão nos romances, nos contos fantásticos de fantasmas e no teatro que se vêem os mortos descarnados saírem de seus sepulcros vestidos de lençóis e fazendo estalar seus ossos. O Espiritismo, que jamais fez milagres, tanto esse como outros, jamais fez reviver um corpo morto; quando o corpo está na cova, aí está definitivamente; mas o ser espiritual, fluídico, inteligente, aí não está metido com seu envoltório grosseiro; dele se separou no momento da morte, e uma vez operada a separação não tem mais nada de comum com ele.”

Resumo da Lei dos Fenômenos Espiritas, pag 12, A. Kardec

Vale a pena conhecê-la ou simplesmente enviar para aquele amigo que quer entender o que é o Espiritismo de Kardec em poucas palavras…




O homem é solidário do homem

Ao fazermos o estudo do livro O Céu e o Inferno (( https://mundomaior.com.br/produtos/ceu-inferno-allan-kardec-feal/#:~:text=O%20C%C3%A9u%20e%20o%20Inferno%20%C3%A9%20uma%20das%20cinco%20obras,a%20respeito%20de%20seu%20destino. )), nos chamou a atenção a Nota do Editor 149 ((

Com a teoria moral autônoma espírita, deixam de ter qualquer sentido os prejulgamentos, os privilégios, o orgulho, o egoísmo, o fanatismo, a incredulidade, próprios do mundo velho. A competição, que destaca os mais capazes, demonstra-se injusta, devendo ser substituída pela cooperação que integra solidariamente a todos. Os recursos da educação devem ser investidos mais amplamente entre as almas mais simples, para que participem ativamente da sociedade. Por esse caminho, a humanidade encontrará a felicidade: “O homem é solidário do homem. É em vão que procura o complemento do seu ser, quer dizer, a felicidade em si mesmo ou naquilo que o cerca isoladamente: ele não pode encontrá-lo senão no HOMEM ou na Humanidade. Não fazeis, pois, nada para ser pessoalmente felizes, enquanto a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte de vós mesmos, possa vos afligir”

Allan Kardec. O Céu e o Inferno , NE 149 (p. 368). Edição do Kindle.)) .

Esta nota ele se refere a um artigo que está na Revista Espírita de março de 1867. Ele é uma das Dissertações Espiritas desta edição.

Ele é particularmente interessante por mostrar enfaticamente a importância da solidariedade na nossa humanidade. Além disso, há um boa reflexão quanto aos caminhos que levam a felicidade.

Compartilhamos integralmente com vocês:

A SOLIDARIEDADE

(Paris, 26 de novembro de 1866 – Médium: Sr. Sabb…)

Glória a Deus e paz aos homens de boa vontade!
O estudo do Espiritismo não deve ser vão. Para certos
homens levianos, é uma diversão; para os homens sérios, deve ser
sério.

Antes de tudo refleti numa coisa. Não estais na Terra
para aí viver à maneira dos animais, para vegetar à maneira de
gramíneas ou de árvores. As gramíneas e árvores têm a vida
orgânica, mas não têm a vida inteligente, como os animais não têm
a vida moral. Tudo vive, tudo respira em a Natureza, mas só o
homem sente e se sente.

Como são lamentáveis e insensatos aqueles que se
desprezam a ponto de se compararem a um pé de erva ou a um
elefante! Não confundamos os gêneros nem as espécies. Não são
grandes filósofos e grandes naturalistas que, por exemplo, vêem no
Espiritismo uma nova edição da metempsicose e, sobretudo, de
uma metempsicose absurda. A metempsicose não é outra coisa

senão o sonho de um homem de imaginação. Um animal, um
vegetal produz o seu congênere, nada mais, nada menos. Que isto
seja dito para impedir velhas ideias falsas de serem novamente
acreditadas, à sombra do Espiritismo.

Homem, sede homem; sabei de onde vindes e para
onde ides. Sois o filho amado dAquele que tudo fez e vos deu um
fim, um destino que deveis realizar sem o conhecer absolutamente.
Éreis necessário aos seus desígnios, à sua glória, à sua própria
felicidade? Questões inúteis, porque insolúveis. Vós sois; sede
reconhecidos por isto; mas ser não é tudo; é preciso ser segundo as
leis do Criador, que são as vossas próprias leis. Lançado na
existência, sois ao mesmo tempo causa e efeito. Ao menos quanto
ao presente, não podeis determinar o vosso papel, nem como
causa, nem como efeito, mas podeis seguir as vossas leis. Ora, a
principal é esta: O homem não é um ser isolado, é um ser coletivo.
O homem é solidário do homem. É em vão que procura o
complemento de seu ser, isto é, a felicidade em si mesmo ou no que
o cerca isoladamente; não pode encontrá-lo senão no homem ou na
Humanidade. Então nada fazeis para ser pessoalmente feliz, tanto
quanto a infelicidade de um membro da Humanidade, de uma parte
de vós mesmo, poderá vos afligir.

Mas, direis, é a moral que ensinais. Ora, a moral é um
velho lugar-comum. Olhai em torno de vós: que há de mais
ordinário, de mais comum que a sucessão periódica do dia e da
noite, que a necessidade de vos alimentardes e de vos vestirdes? É
para isto que tendem todos os vossos cuidados, todos os vossos
esforços. E é necessário, pois assim o exige a parte material do
vosso ser. Mas a vossa natureza não é dupla, e não sois mais espírito
do que corpo? Como, pois, vos é mais difícil ouvir lembrar as leis
morais do que as leis físicas, que aplicais a todo instante? Se fôsseis
menos preocupados e menos distraídos essa repetição não seria tão
necessária.

Não nos afastemos de nosso assunto. Bem
compreendido, o Espiritismo é, para a vida da alma, o que o
trabalho material é para a vida do corpo. Ocupai-vos dele com este
objetivo e ficai certos de que quando tiverdes feito, para o vosso
melhoramento moral, a metade do que fazeis para melhorar a vossa
existência material, tereis feito a Humanidade dar um grande passo.

Um Espírito

adjomargonzalez – pixabay



Escala Espírita: que Espírito sou eu?

Kardec construiu e apresentou, na Revista Espírita de 1858 e no livro dos Espíritos, a Escala Espírita (clique aqui para Escala Espírita de 1858 ). Ele a elaborou para nós identificarmos melhor os Espíritos que se comunicavam pelos médiuns, facilitando, assim, o entendimento e teor das comunicações.

Porém, ao se deparar com o item 100 do Livro dos Espíritos com a Escala Espírita, todo mundo fica procurando seus defeitos e qualidades nela… E se pergunta: Qual classe eu estou? Serei um Espírito que tenho muito a evoluir ou serei eu um Espírito já apto para ensinar e arriscar novos horizontes?

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Alguns pontos importantes podem ser esclarecidos para nós entendermos melhor em qual estágio nos encontramos. Vamos a eles…

Deus é o criador de todas as coisas.

Segundo as comunicações dos Espíritos, há 3 elementos gerais no Universo: Deus, a matéria e os Espíritos.

Deus, a matéria e os Espíritos. Essas três coisas são o princípio de tudo o que existe, a trindade universal.

Kardec, O Livro dos Espíritos, questão 27

Os Espíritos também nos ensinaram, a partir das diversas comunicações, o entendimento da criação contínua da matéria e dos Espíritos por Deus:

Assim se faz a criação universal. É, pois, correto dizer que as operações da natureza, sendo a expressão da vontade divina, Deus sempre criou, cria incessantemente e nunca deixará de criar.

Allan Kardec. A GÊNESE – Os milagres e as Predições Segundo o Espiritismo, capítulo 2 – Deus – item 18

Podemos deduzir, então que na Antiguidade, na época de Cristo, na idade média, Renascimento, enfim, SEMPRE existiram entre nós almas de todas as classes: desde as mais simples ignorantes até os Espíritos mais adiantados, superiores. Isso significa que sempre vamos ter no nosso convívio almas encarnadas que nos ensinam a sermos Espíritos melhores, assim como há outras inferiores a nós que podemos auxiliar para seu progresso. As almas que são do mesmo grau de adiantamento nos acompanham no nosso aprendizado, sempre em cooperacão.

São Vicente de Paula diz exatamente isso em sua comunicação publicada na RE de 1859:

Jamais vos esqueçais de que o Espírito, seja qual for o seu grau de adiantamento e a sua situação, como reencarnado ou na erraticidade, está sempre colocado entre um superior, que o guia e aperfeiçoa, e um inferior, perante o qual tem os mesmos deveres a cumprir.

Kardec, Allan. Revista Espírita 1859 (pp. 476)

E ele ainda acrescenta:

Sede, pois, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do bolso o óbolo que dais friamente àquele que ousa pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos de vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instrui-os e moralizai-os. Sede mansos e benevolentes para com tudo que vos seja inferior. Sede-o mesmo perante os seres mais ínfimos da Criação, e tereis obedecido à Lei de Deus.

Kardec, Allan. Revista Espírita 1859 (p. 477)

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Entendemos, a partir dos ensinamentos de São Vicente de Paula, que nós não devemos nos preocupar em que ponto da Escala Espírita nosso Espírito estamos, mas em como podemos contribuir para acelerar o nosso progresso e o progresso de todos os que se encontram na nossa jornada!




Perturbação Imediata Após Morte

Todos nascemos! Todos vamos morrer!

Desta verdade da vida, vem a preocupação do momento da morte. São sempre assuntos recorrentes.

Neste artigo, não pretendemos encerrar o assunto, muito pelo contrário! Estamos somente trazendo uma parte bem pequena desse vasto assunto. Afinal, todos vamos experimentar este acontecimento.

Os Espíritos explicaram que, no momento da morte, nem todos os Espíritos passam pelos mesmo processo. Cada ser é uma consciência diferente da outra. Assim, O Livro dos Espíritos traz as seguintes conclusões em seu capítulo III – Retorno da Vida Corpórea à Vida Espiritual:

163. Deixando o corpo, a alma tem imediata consciência de si mesma? – Consciência imediata não é o termo: ela fica perturbada por algum tempo.

164. Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo? – Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria.

Comentário: Aqui fica evidente que cada pessoa experimenta um tipo de percepção da morte, segundo aquilo que vivenciou na matéria.

Agora, nesta pergunta 165, Allan Kardec consegue aprofundar mais na natureza da perturbação, assim como descrever melhor o que os Espíritos ensinaram em suas comunicações. Notem que não há nada com um tempo determinado. Esta parte da resposta, no nosso entender, é a mais esclarecedora.

165. O conhecimento do Espiritismo exerce alguma influência sobre a duração maior
ou menor da perturbação? – Uma grande influência, pois o Espírito compreende antecipadamente a sua situação: mas a prática do bem e a pureza de consciência são o que exerce maior influência.

Kardec continua explicando, no mesmo item, como o Espirito experimenta esses primeiros momentos:

“No momento da morte, tudo, a princípio, é confuso; a alma necessita de algum tempo para se reconhecer; sente-se como atordoada, no mesmo estado de um homem que saísse de um sono profundo e procurasse compreender a situação. A lucidez das ideias e a memória do passado voltam, à medida que se extingue a influência da matéria e que se dissipa essa espécie de nevoeiro que lhe turva os pensamentos.

A duração da perturbação de após morte é muito variável: pode ser de algumas horas, como de muitos meses e mesmo de muitos anos. Aqueles em que é menos longa são os que se identificaram durante a vida com seu estado futuro, porque estão compreendem imediatamente a sua posição.

Comentário: Parece que ele dá uma espécie de conselho na parte em que destacamos do texto.

“Essa perturbação apresenta circunstâncias particulares, segundo o caráter dos indivíduos e sobretudo de acordo com o gênero de morte. Nas mortes violentas, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito é surpreendido, espanta-se, não acredita que esteja morto e sustenta teimosamente que não morreu. Não obstante, vê o seu corpo, sabe que é dele, mas não compreende que esteja separado. Procura as pessoas de sua afeição, dirige-se a elas e não entende por que não o ouvem. Esta ilusão se mantém até o completo desprendimento do Espírito, e somente então ele reconhece o seu estado e compreende que não faz mais parte do mundo dos vivos.”

Comentário: Há vários relatos de Espíritos que comparecem em seu funeral, que não entendem o motivo de estarem deitados dentro do caixão. Ficam completamente perdidos!

“Esse fenômeno é facilmente explicável. Surpreendido pela morte imprevista, o Espírito fica aturdido com a brusca mudança que nele se opera. Para ele, a morte é ainda sinônimo de destruição, de aniquilamento; ora, como continua a pensar, como ainda vê e escuta, não se considera morto. E o que aumenta a sua ilusão é o fato de se ver num corpo semelhante ao que deixou na Terra, cuja natureza etérea ainda não teve tempo de verificar. Ele o julga sólido e compacto como o primeiro, e quando se chama a sua atenção para esse ponto, admira-se de não poder apalpá-lo. Assemelha-se este fenômeno ao dos sonâmbulos inexperientes, que não creem estar dormindo. Para eles, o sono é sinônimo de suspensão das faculdades; ora, como pensam livremente e podem ver, não acham que estejam dormindo. Alguns Espíritos apresentam esta particularidade, embora a morte não os tenha colhido inopinadamente; mas ela é sempre mais generalizada entre os que, apesar de doentes, não pensavam em morrer. Vê-se então o espetáculo singular de um Espírito que assiste os próprios funerais como os de um estranho, deles falando como de uma coisa que não lhe dissesse respeito, até o momento de compreender a verdade.”

Comentário: O Espírito confunde seu envoltório espiritual( perispírito) com o seu corpo carnal, de modo que não percebe que não tem mais corpo carnal!

A perturbação que se segue à morte nada tem de penosa para o homem de bem: é calma e em tudo semelhante à que acompanha um despertar tranquilo. Para aquele cuja consciência não está pura é cheia de ansiedades e angústias.

Comentário: Mais uma vez, os esclarecimentos dos Espíritos nos dão as dicas de como tornar o momento da morte tão mais brando!

Surpreendentemente, no último parágrafo deste capítulo, Kardec diz de forma clara sobre os desencarnes coletivos ocorridos em acidentes ou catástrofes!

“Nos casos de morte coletiva observou-se que todos os que perecem ao mesmo tempo, nem sempre se reveem imediatamente. Na perturbação que se segue à morte, cada um vai para o seu lado ou somente se preocupa com aqueles que lhe interessam.”

Kardec, O Livro dos Espíritos, item 165

Comentário: Se um ser humano morrer ao mesmo tempo no mesmo acidente não quer dizer muito no momento do desencarne! Cada Espírito persegue os seus interesses segundo sua evolução.

Não pretendemos encerrar o assunto! Afinal, pelo que você leu até aqui, nada é conclusivo, pois cada um tem suas particularidades! Ao longo da codificação de Kardec, há muitas descrições desse momento e mais explicações que os Espíritos trouxeram.

Mas de uma coisa nunca vamos escapar: do momento da morte!




E depois da morte?

A pergunta sempre frequente é: O que será que acontece no futuro do nosso Espírito? O que nos acontece depois da morte? Será que vamos para o Céu Iluminado? Ou será que o Inferno é nosso destino? Quem decide para onde seguimos? Será que encontramos os seres que nos são caros?

O ser humano sempre perseguiu a ideia do que ocorrerá no futuro do seu Espírito. E talvez seja a pergunta mais frequente no meio espírita.

O estudo aprofundado do livro O Céu e O Inferno, ou a Justiça Divina Segundo o Espiritismo, nos faz entender cada vez mais a Doutrina Espírita. Na primeira parte, seu capítulo VIII sob o título As Penas Futuras Segundo o Espiritismo praticamente encontramos a compilação de toda Doutrina tornando-o como se fosse seu coração, ou seja, a parte principal. Ali existe uma série de 25 itens onde cada um foi desenvolvido ao longo de todo a obra, menos, claro dA Genese, que foi publicada após. Os 25 itens elucidam o que acontece ao nosso Espírito após o desencarne. As explicações vieram através de inúmeros Espíritos desencarnados em milhares de comunicações, de vários lugares do mundo, por muitos mediuns distintos. Kardec, através da Revista Espírita, mostrou uma quantidade considerável das comunicações.

A particularidade desse livro é justamente trazer , diante desse material todo, as conclusões de todas as comunicações estudadas. Além disso, na segunda parte do livro, é apresentado muitas dessas mensagens. O conteúdo dessas, publicadas no livro O Céu e o Inferno, é assunto para outro momento.

Voltemos ao capítulo VIII da primeira parte do livro. Ele começa fazendo importantes considerações, que colocamos aqui na integra:

Estando a sorte das almas nas mãos de Deus, ninguém pode neste mundo, por sua própria
autoridade, decretar o código penal divino. Qualquer teoria não é mais que uma hipótese que
só tem o valor de uma opinião pessoal e, por isso mesmo, pode ser mais ou menos engenhosa,
racional, bizarra ou ridícula. Somente a sanção dos fatos pode conferir-lhe autoridade,
fazendo-a passar à condição de princípio.

Na ausência de fatos apropriados para definir sua concepção acerca da vida futura, os
homens deram curso à sua imaginação e criaram essa diversidade de sistemas de que
compartilharam, e compartilham ainda, as crenças. Se alguns homens de elite, em diversas
épocas, entreviram um lado da verdade, a massa ignorante permaneceu sob o império dos
preconceitos que geralmente lhe eram impostos. A doutrina das penas eternas está nesse
número. Essa doutrina teve sua época; hoje ela é repelida pela razão. O que colocar em seu
lugar? Um sistema substituído por outro sistema, ainda que mais racional, sempre terá apenas
maior probabilidade, mas não a certeza. É por isso que o homem, chegado a este período
intelectual que lhe permite refletir e comparar, não encontrando nada que satisfaça
completamente sua razão e responda às suas aspirações, vacila indeciso. Uns, apavorados
pela responsabilidade do futuro e querendo gozar o presente sem constrangimento, procuram enganar-se e proclamam o nada após a morte, crendo assim manter a consciência tranquila;
outros estão na perplexidade da dúvida; o maior número crê em algo, mas não sabe
exatamente no que crê.
Um dos resultados do desenvolvimento das ideias e dos conhecimentos adquiridos é o
método científico96. O homem quer crer, mas quer saber por que crê. Ele não se deixa mais
levar por palavras. Sua razão vigorosa quer algo mais substancial que teorias. Em uma
palavra, ele necessita dos fatos.
Deus, então, julgando que a humanidade saiu da infância, e que o homem está hoje maduro
para compreender verdades de uma ordem mais elevada, permite que a vida espiritual lhe seja
revelada por fatos que põem um termo às suas incertezas, fazendo cair os andaimes das
hipóteses97. É a realidade após a ilusão.
A Doutrina Espírita, no que se refere às penas futuras, não é mais fundada sobre uma teoria
preconcebida do que suas outras partes. Em tudo ela se apoia sobre observações, sendo isso o
que lhe dá autoridade. Ninguém então imaginou que as almas, após a morte, devessem se
encontrar nesta ou naquela situação. São os próprios seres que deixaram a Terra que vêm hoje
– com a permissão de Deus e porque a humanidade entra numa nova fase – nos iniciar nos
mistérios da vida futura, descrever sua posição feliz ou infeliz, suas impressões e sua transformação na morte do corpo. Os espíritos vêm hoje, em suma, completar nesse ponto o ensino do Cristo.
Não se trata aqui da relação de apenas um espírito que poderia ver as coisas somente de seu
ponto de vista, sob um único aspecto, ou ainda estar dominado pelos preconceitos terrestres,
nem de uma revelação feita a um único indivíduo que poderia se deixar enganar pelas
aparências, nem de uma visão extática que se presta às ilusões e é com frequência apenas o
reflexo de uma imaginação exaltada98, mas de inúmeros intermediários disseminados sobre
todos os pontos do globo, de tal sorte que a revelação não é privilégio de ninguém, que cada
um pode ao mesmo tempo ver e observar, e que ninguém é obrigado a crer pela fé de outrem.
As leis que daí decorrem são deduzidas apenas da concordância dessa imensidade de
observações; esse é o caráter essencial e especial da Doutrina Espírita99. Jamais um princípio
geral é retirado de um fato isolado ou da afirmação de um único espírito, ou do ensinamento dado a um único indivíduo, ou de uma opinião pessoal. Qual seria o homem que poderia crer-
se suficientemente justo para medir a justiça de Deus?

Os numerosos exemplos citados nesta obra para estabelecer a sorte futura da alma poderiam
ser multiplicados ao infinito, mas, como cada um pode observar outros análogos, seria
suficiente de certa forma dar os tipos das diversas situações. Dessas observações, podem-se
deduzir as condições de felicidade ou infelicidade na vida futura; elas provam que a
penalidade não falta a nenhuma prevaricação e que, conquanto não seja eterno, o castigo não
é menos terrível segundo as circunstâncias.

Allan Kardec, O Céu e o Inferno

Nota: Allan Kardec define os pressupostos da ciência espírita. Toda teoria, seja proposta por um homem ou um espírito, é uma opinião pessoal. As hipóteses vão do engenhoso ao ridículo. Por isso, o Espiritismo se fundamenta na observação dos fatos, em milhares de depoimentos, para extrair deles os princípios gerais, confirmando o ensinamento dos bons espíritos. É a universalidade do ensino dos espíritos. (Nota 94 de O Céu e o Inferno do editor Paulo Henrique de Figueiredo)

Observem como essa introdução explana o pensamento científico baseado totalmente nos fatos. Não há dogma, não há profetas, não há fantasia.

Depois dessa criteriosa introdução, Allan Kardec segue enumerando os princípios gerais que os muitos Espíritos deram. Eles aparecem de forma progressiva. Eles os definiu como a representação da lei da justiça divina.

Segundo estudamos, não há um sistema estático, um padrão geral onde o futuro seja um Céu Iluminado ou as Escuridão das trevas do Inferno. Mas se voce, leitor, fizer o estudo, vai conseguir chegar às suas próprias conclusões.

Nós o convidamos a leitura e reflexão! Vale muito a leitura.




Bicorporeidade

Será possível alguém estar em dois lugares ao mesmo tempo? Claro que sim! Esse fenômeno se chama BICORPORIEDADE. É o que trata este artigo da Revista Espírita de dezembro de 1858.

Fonte: Filme Bilocation (2013) https://www.nichi-eidomain.com/bilocation-2013/

Trata-se da história de um jovem que se deita, sem sair de casa, vai até Londres onde se reune a seus amigos, toma café, brinca e depois volta para seu lar, sem nada se lembrar.

Resumidamente, assim aconteceu:

Um correspondente do interior da França enviou uma carta dizendo que, depois que, “por ordem dos Espíritos”, magnetizou seu filho, ele se tornou médium muito raro.

Um caso, em especial, chamou-lhe a atenção: o filho, após ler em um livro de Barão Du Potet sobre a aventura de um doutor da América, cujo Espírito foi visitar um amigo a grande distância, disse ao seu guia que gostaria de fazer o mesmo. Seu guia disse-lhe, então: Amanhã é domingo. Não és obrigado a te levantares cedo para trabalhar. Dormirás às oito horas e irás passear em Londres até as oito e meia. Sexta-feira próxima receberás uma carta de teus amigos, censurando-te por teres ficado tão pouco tempo com eles.

Disse o pai: Efetivamente, no dia seguinte, pela manhã, à hora indicada, ele caiu num sono profundo. Despertei-o às oito e meia. Ele não se lembrava de nada. De minha parte nada lhe disse, esperando os acontecimentos.

E como prometido, uma carta chegou pelos correios: “o carteiro veio entregar uma carta de Londres, na qual os amigos de meu filho censuravam-no por ter passado com eles apenas alguns minutos, no domingo anterior, das oito às oito e meia, com uma porção de detalhes que seria longo aqui relatar, entre os quais o fato singular de ter tomado o café da manhã com eles”

Tendo sido contado o fato acima, um dos assistentes disse que a História narra diversos casos semelhantes. Citou Santo Afonso de Liguori, que foi canonizado antes do tempo exigido, por se haver mostrado simultaneamente em dois lugares diferentes, o que foi considerado como um milagre.

Fonte em: https://www.imagensbonitas.com.br/2017/07/santo-afonso-maria-de-ligorio.html

Na primeira, de aspecto religioso, Afonso saiu do convento de Ciorani para Pagani e ao mesmo tempo foi visto atendendo confissões na igreja redentorista de Ciorani.

Na segunda ocasião de cunho religioso o Santo pregava missões populares em Amalfi, Italia. Foi em 1756. Durante a missão, foi visto simultaneamente pregar na catedral de Amalfi e atender confissões na casa em que os missionários estavam alojados.

Antonio Benedetto Maria Tannoia (II, c. 44), seu biógrafo, comenta: “Um anjo, querendo dar prosseguimento a seu zelo em acolher os pecadores, quis substituí-lo no púlpito”.

Na terceira ocasião, esta de cunho social, o santo estava em Nápoles e simultaneamente em Pagani, onde todos os sábados costumava ajudar uma ex-prostituta que conseguira converter. Isto aconteceu em 1759.
A última ocasião reveste-se de cunho político-religioso. No dia 22 de setembro de 1774, Afonso encontrava-se em Arienzo, um lugarejo de sua diocese de Santa Ágata dei Goti, para onde se dirigia naqueles dias em que fazia muito frio. Ao mesmo tempo foi visto em Roma, ao lado do leito de morte do Papa Clemente XIV, assistindo-o. (Esse caso foi documentado pela Igreja Católica).

Observação: A Igreja diz que a “bi locação” é uma manifestação extraordinária do poder de Deus, consistindo na presença corporal de uma pessoa, ao mesmo tempo, em dois ou mais lugares. Fisicamente, a bi locação é impossível aos seres materiais, pela própria natureza das coisas.

Também existem alguns relatos de bicorporiedade de Santo Antônio de Pádua. O mais famoso dele foi na ocasião da acusação que seu pai sofreu de assassinato: Certa vez, pregando em Pádua, o santo sentiu forte intuição de que sua presença era necessária em Lisboa naquele exato momento. Sentou-se ao lado do púlpito e, como já havia feito uma vez, cobriu a cabeça com o capeio, o capuz dos franciscanos. Apareceu em seguida no Tribunal de Lisboa, onde fez a defesa contundente do pai. Para provar a inocência de seu genitor, rumou acompanhado das autoridades ao cemitério. Para assombro dos presentes, ressuscitou a vítima, que inocentou o acusado de qualquer responsabilidade por sua morte. Permitiu então, que o assassinado, retornasse ao seu descanso. Logo depois, muito além, recobrou a consciência e retomou sua pregação.

Fonte: https://joseleitos.org.br/por-que-santo-antonio-entrou-na-historia-da-congregacao-sociedade-joseleitos-de-cristo/

A primeira vez que isso aconteceu foi em Limoges, sul da França, no ano de 1226. Na Quinta-feira Santa, o frei pregava na Igreja de São Pedro. No mesmo instante, a alguns quilômetros dali, seus irmãos franciscanos já cantavam as matinas no convento. Por ter o cargo de Custódio cabia a ele a responsabilidade de ler uma lição do ofício para os seus irmãos.

No exato momento em que deveria estar presente no convento, o frei interrompeu seu sermão e se recostou no púlpito, cobrindo o rosto com o capuz. Para surpresa dos frades menores, a voz do frei português soou entre o coro dos franciscanos. Cantou a lição e cumpriu sua tarefa junto a seus irmãos, para em seguida desaparecer e despertar de seu aparente cochilo na Igreja de São Pedro.

Assim, para começar a esclarecer o fenomeno, Kardec fez a evocação do mencionado anteriormente Santo Afonso de Liguori. Foram feitas as seguintes perguntas:

1. ─ O fato pelo qual fostes canonizado é real? ─ Sim.

2. ─ Esse fenômeno é excepcional?─ Não. Ele pode apresentar-se em todos os indivíduos desmaterializados.

3. ─ Era motivo justo para vos canonizarem? ─ Sim, pois que por minha virtude eu me havia elevado para Deus. Sem isso eu não teria podido transportar-me simultaneamente para dois lugares diferentes.

4. ─ Todos os indivíduos com os quais ocorrem esses fenômenos merecem ser canonizados? ─ Não, pois nem todos são igualmente virtuosos.

Comentário: Liguori faleceu em 1787 – bastante recente, em termos de vida espírita. Na época de sua evocação, apresenta pensamentos ainda bastante imbuídos das ideias católicas. Acabamos de ver, e em OLM Kardec dá outros exemplos, que a bi corporeidade parece não depender tanto assim de uma virtuosidade tão elevada. É preciso ter certeza se era mesmo esse fenômeno, ou se foi apenas o caso de outra pessoa, vidente, ver o Espírito semidesligado do corpo adormecido.

5. ─ Poderíeis dar-nos uma explicação desse fenômeno? Sim. Quando o homem, por sua virtude, se acha completamente desmaterializado; quando elevou sua alma para Deus, pode aparecer simultaneamente em dois lugares, do seguinte modo: Sentindo vir o sono, o Espírito encarnado pode pedir a Deus para se transportar a um lugar qualquer. Seu Espírito ou sua alma, como queirais chamar, então abandona o seu corpo, seguido de uma parte de seu perispírito e deixa a matéria imunda num estado vizinho ao da morte. Digo vizinho ao da morte porque fica no corpo um laço que liga o perispírito e a alma à matéria, e esse laço não pode ser definido. O corpo então aparece no lugar desejado. Creio que é tudo o que desejais saber.

Comentário: mais uma vez, uma grande quantidade de conceitos que têm, no fundo, as ideias católicas como influência determinantes.:” Pedir a Deus”,” Matéria imunda”, ” Vizinho à morte”. Ao mesmo tempo, caracteriza a veracidade da comunicação.

Observação: A resposta a questão 5 caracteriza uma certa ambiguidade na comunicação em relação a resposta da questão 2, pois se a bi corporiedade pode se manifestar em todos os indivíduos materializados, nem só os virtuosos o conseguem.

6. ─ Isto não nos dá a explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito. – Achando-se desprendido da matéria, conforme o seu grau de elevação, o Espírito pode tornar a matéria tangível.

7. ─ Entretanto, certas aparições tangíveis de mãos e de outras partes do corpo devem-se evidentemente a Espíritos inferiores. – São Espíritos superiores que se servem dos inferiores a fim de provar o fato.

Observação: Se for exato que os Espíritos superiores se servem de inferiores a fim de provar o fato, explicaria o porquê de os Espíritos inferiores não poderem se materializar sob formas monstruosas, para assustar o povo. Explicaria o “Deus não permitiria”! Mais explicações clique aqui neste artigo

8. O sono do corpo é indispensável para que o Espírito apareça noutros lugares? – A alma pode dividir-se quando se sente transportada a um lugar diferente daquele onde se acha o seu corpo.

9. Que aconteceria a um homem mergulhado em sono profundo e cujo Espírito aparecesse alhures, se fosse despertado subitamente? – Isto não aconteceria, porque se alguém tivesse o intuito de despertá-lo, o Espírito preveria a intenção e voltaria ao corpo, tendo em vista que o Espírito lê o pensamento.

Divisão é um termo inexato. Melhor dizer que a alma, isto é, o períspirito, pode se estender para outros lugares, quando se tem essa capacidade.

O perispírito, estando estendido, não abandona jamais o corpo, senão por sua morte. É possível entender que, por isso, o Espírito, estando distante, perceba o que acontece ao redor do corpo.

Depois que essa comunicação nos foi dada, vários fatos do mesmo gênero, cuja fonte é autentica, nos foram contados, e entre eles há muito recentes, que ocorreram por assim dizer no nosso meio, e que se apresentaram com as circunstancias mais singulares. As explicações , às quais deram lugar, alargaram singularmente o campo das observações psicológicas.

Na RE de agosto de 1859, lemos o seguinte:

Comunicações – O Sr. Allan Kardec anuncia que viu o Sr. W… filho, de Boulogne-Sur-Mer, que foi questão na revista de dezembro de 1858, a propósito de um artigo sobre o fenômeno de bicorporiedade, e que lhe confirmou o fato de sua presença simultânea em Boulogne e em Londres.

O Espiritismo, a seu turno, vem dar a sua teoria. Ele se apoia na psicologia experimental; ele estuda a alma, não só durante a vida, mas após a morte; ele a observa em estado de isolamento; ele a vê agir em liberdade, ao passo que a filosofia ordinária só a vê em união com o corpo, submetida aos entraves da matéria, razão pela qual muitas vezes confunde causa e efeito.

AK, em RE maio de 1864




Ensinamentos de Sacerdote Egípcio

Nesse artigo, que apresenta a evocação do Espírito de Mehemet Ali (Maomé Ali), Kardec explora um questionamento a respeito da encarnação desse Espírito como um sacerdote egípcio, na época dos faraós.

Pexels – David McEachan – 71241

Na edição de abril de 1858, Kardec evocou esse Espírito. Na ocasião, ele revelou que foi um sacerdote na época do antigo Egito. Mais detalhes clique aqui

Importante lembrar que na primeira comunicação, em abril, esse Espírito demonstrou não ser elevado. Não era maldoso, mas ainda estava na “roda das imperfeições”. Por isso, em sua fala, apresenta alguma impaciência e falta de benevolência.

Vamos, aqui, destacar algumas partes da longa conversa – evocação que entendemos como principais:

1. ─ Em nome de Deus Todo-Poderoso, peço ao Espírito de Mehemet-Ali que venha comunicar-se conosco. ─ Sim; sei a razão.

2. ─ Prometestes vir até nós, a fim de instruir-nos. Teríeis a bondade de ouvir-nos e de nos responder? ─ Não prometo, pois não assumi esse compromisso.

Curioso como as características do Espírito evocado aparecem com clareza conforme a comunicação se desenvolve. Aqui mostra claramente ser um Espirito não superior.(clique aqui para mais características)

Os Espíritos superiores são sempre bons e benevolentes; em seu palavreado jamais encontramos acrimônia, arrogância, aspereza, orgulho, fanfarronice ou a estólida presunção. Falam com simplicidade, aconselham e se retiram quando não são ouvidos.

Kardec, Allan. Revista espírita: outubro: 1858

3. ─ Substituamos o prometestes por fizeste-nos esperar. ─ Quereis dizer: para satisfazer à vossa curiosidade. Não importa! Prestar-me-ei um pouco.

Comentário: Kardec segue realizando as perguntas que julgava necessárias para avaliar o estado de conhecimentos e de intenções daquele Espírito, confrontando a ciência com suas respostas. Muito provavelmente testando o Espirito

4. ─ Considerando-se que vivestes ao tempo dos faraós, poderíeis dizer-nos com que fim foram construídas as pirâmides?  ─ São sepulcros; sepulcros e templos. Ali se davam grandes manifestações.

5. ─ Tinham elas também um objetivo científico? ─ Não. O interesse religioso absorvia tudo.

12. ─ Sob o duplo ponto de vista de Deus e da alma, tinham os sacerdotes ideias mais sãs que o povo? ─ Sim. Eles tinham a luz em suas mãos e conquanto a escondessem dos outros, ainda a viam.

Comentário: Aqui fica claro como religiões são usadas para controlar o povo, subjulgando-o, completamente sem autonomia do indivíduo. Percebe-se claramente que os sacerdotes sabiam e ensinavam os iniciados, mas não instruíam a população. Até hoje é assim.

14. ─ Qual a origem do culto prestado aos animais? ─ Eles queriam desviar o homem de Deus e rebaixá-lo sob si próprio, dando-lhe como deuses seres inferiores.

pexels – Lady Escabia – 3199399

15. ─ Até certo ponto compreende-se o culto dos animais úteis; mas não se compreende o de animais imundos e prejudiciais, como as serpentes, os crocodilos etc. ─ O homem adora aquilo que teme. Era um jugo para o povo. Os sacerdotes não podiam crer em deuses feitos por suas mãos!

Comentário: Os sacerdotes sabiam os ensinamentos e os guardavam para um círculo pequeno de iniciados. Eles não instruíam o povo para poder subjugá-los. Isso mostra como as religiões não são autônomas.

18. ─ Como conciliar o respeito dos egípcios pelos mortos com o seu desprezo e o horror que tinham por aqueles que os enterravam e mumificavam?  ─ O cadáver era um instrumento de manifestações. Segundo pensavam, o Espírito voltava ao corpo que havia animado. Como um dos instrumentos do culto, o cadáver era sagrado e o desprezo perseguia aquele que ousava violar a santidade da morte.

Comentário: Interessante: o indivíduo, ensinado assim, morria acreditando nisso. Portanto, conquanto encontrava seu corpo conservado, continuava ali, se manifestando. Poderia ser, dessa forma, um entrave ao seu progresso, o que leva a concluir que seria melhor morrer como parte do povo. Da mesma forma que, ainda hoje, existem aqueles que ficam junto ao caixão não querendo deixá-lo, por acreditarem nesse mesmo dogma modernizado ( não podemos esquecer que o Cristianismo trouxe muitos destes dogmas egípcios aqui citados para suas crenças).

19. ─ A conservação do corpo permitia maior quantidade de manifestações? ─ Mais longas, isto é, o Espírito voltava por mais tempo, desde que o instrumento fosse dócil.

23. ─ O ensino dado nos mistérios tinha por fim único a revelação das coisas extra-humanas ou também eram ensinados os preceitos da moral e do amor ao próximo? ─ Tudo isto estava muito corrompido. O propósito dos sacerdotes era dominar e não instruir.

Comentário: Até hoje embalsamam o corpo! É um apego muito grande à matéria!