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Algumas pessoas, avessas à ideia da existência da alma ou do Espírito, dizem, do Espiritismo (sem conhecê-lo): é apenas uma crença, e nada mais! Pedimos encarecidamente que essas pessoas provem o que dizem e que, além disso, substituam o Espiritismo, na sua eventual derrocada, por algo melhor.
Este artigo tem ligação com o artigo precedente, sobre as lives de Daniel Gontijo que refletem muitas inverdades sobre o Espiritismo.
Allan Kardec, na Revista Espírita de setembro de 1860, já falava sobre esse assunto, com uma elegância e uma propriedade de fazerem inveja a qualquer um:
Para combatê-la [à Doutrina Espírita] com eficácia, ele só tem um meio, que lhe indicamos com prazer. Não se destrói uma árvore cortando-lhe os galhos, mas a raiz. É necessário, pois, atacar o Espiritismo pela raiz e não pelos ramos, que renascem à medida que são cortados. Ora, as raízes do Espiritismo, deste desvario do século dezenove, para nos servirmos de sua expressão, são a alma e os seus atributos. Que prove, portanto, que a alma não existe e não pode existir, porque sem almas não há mais Espíritos. Quando tiver provado isto, o Espiritismo não terá mais razão de ser e nós nos confessaremos vencidos. Se o seu ceticismo não vai a tanto, que prove, não por uma simples negação, mas por uma demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica ou qualquer outra:
1. ─ Que o ser que pensa durante a vida não mais pensa após a morte;
2. ─ Que, se pensa, não mais deve querer comunicar-se com aqueles a quem amou;
3. ─ Que, se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;
4. ─ Que, se está ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco;
5. ─ Que, por seu envoltório fluídico, não pode agir sobre a matéria inerte;
6. ─ Que, se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser animado;
7. ─ Que, se pode agir sobre um ser animado, não pode dirigir-lhe a mão para escrever;
8. ─ Que, podendo fazê-lo escrever, não pode responder às suas perguntas e lhe transmitir o seu pensamento.
Quando os adversários do Espiritismo nos tiverem demonstrado ser isto impossível, baseados em razões tão patentes quanto aquelas pelas quais Galileu demonstrou que não é o Sol que gira em torno da Terra, então poderemos dizer que suas dúvidas são fundadas. Infelizmente, até este dia, toda a sua argumentação se reduz a isto: não creio; logo, é impossível. Sem dúvida dirão que a nós cabe provar a realidade das manifestações; nós lhas provamos pelos fatos e pelo raciocínio. Se não admitem nem uns nem o outro e se negam o que veem, a eles cabe provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis.
Repetimos, portanto, as mesmas recomendações de Kardec e solicitamos que consigam provar, peremptoriamente, que o Espírito não existe e não pode existir ou que, do contrário, que ele existe, mas não pode se relacionar conosco. Até lá (aguardamos essa prova há mais de 150 anos), ficaremos com os princípios lúcidos, lógicos, racionais e, acima de tudo, de inatacável elevação e consequências morais, que o Espiritismo nos dá – com o benefício, ainda, de sabermos que isso não nasceu como fruto das ideias pré-concebidas de ninguém.
Adiciono as palavras de Kardec em O Céu e o Inferno (versão original, não adulterada):
Pela crença no nada, o homem inevitavelmente concentra seu pensamento na vida presente. Não haveria, com efeito, por que se preocupar com um futuro do qual nada se espera. Essa preocupação exclusiva com o presente o leva naturalmente a pensar em si antes de tudo; é, portanto, o mais poderoso estímulo ao egoísmo. O incrédulo é coerente quando chega à conclusão: “Desfrutemos enquanto aqui estamos, desfrutemos o máximo possível, pois, depois de nós, tudo estará acabado; gozemos depressa, porque não sabemos quanto tempo durará”, assim como a esta outra, bem mais grave aliás para a sociedade: “Desfrutemos, não importa à custa de quem; cada um por si; a felicidade, cá embaixo, é do mais astuto”. Se o escrúpulo religioso restringe a ação de alguns, que freio terão aqueles que em nada creem? Para estes, a lei humana somente alcança os tolos, e por isso dedicam seu talento a maneiras de dela se esquivarem. Se há uma doutrina nociva e antissocial é certamente a do neantismo1, porque rompe os verdadeiros laços de solidariedade e de fraternidade, alicerce das relações sociais.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, 3a edição (original). Editora FEAL
Pedimos, então, que, se não puderem provar que o Espiritismo seja apenas uma crença, ao menos possam produzir algo melhor em seu lugar: algo que faça o ser humano não focar toda a sua energia em regozijar o presente, em detrimento de outros; que o leve a agir de maneira caridosa com seu semelhante, empregando seus recursos em nome do bem e não do acúmulo; que faça o indivíduo abandonar as lamentáveis ideias do suicídio, não por medo de um castigo, mas pela compreensão do motivo de estarmos aqui e pela maneira de ver as dificuldades por outros olhos. Além disso, que possam substituí-lo por uma outra crença (usando a palavra que eles usam), que dê à mãe a consolação de saber que seu filho, morto quando ainda tentava superar certos erros, não está perdido, e que seus esforços não foram em vão. Que, aliás, não provoque na humanidade a descrença no esforço em se melhorar, coisa que o dogmatismo materialista tem produzido com muita força. Que faça, enfim, o ser humano respeitar a todos, a despeito de etnia, sexo, cor, idade, classe social, e que não produza justamente o contrário de tudo isso, como o materialismo tem produzido, chegando ao ponto de dar base às lamentáveis ideias de genocídio, como aquele realizado por Hitler.
Aguardamos avidamente para conhecer essa nova doutrina.
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- Neantismo (néantisme). Segundo essa ideia metafísica do nada, não haveria lei moral ou direito natural, nem existência após a morte, portanto nada a temer ou esperar. A escolha estaria ligada ao resultado e não à intenção de uma ação, consagrando a postura egoísta. Na época de Allan Kardec havia poucos partidários, mas desde o século 20, a comunidade científica e a cultural em geral adotaram esse relativismo moral ou incredulidade enquanto senso comum, sendo que as instituições sociais se estruturaram pelo individualismo. (N. do E.) [↩]