O Canal Espírita e o Espiritismo
O “Canal Espírita”, do Luiz Fernando Amaral, no Youtube, é um canal que já abarca quase oitocentos mil seguidores, com milhares de visualizações. Por seu tamanho e pela expressividade que ele tem nesse meio, é preocupante ver, por ali, a circulação e a divulgação de certas ideias até mesmo contrárias à Doutrina Espírita.
De forma alguma duvido das boas intenções do Luiz Fernando. Só não entendo o porquê da resistência em estudar e divulgar o Espiritismo como ele realmente seja, já que esse conhecimento nos ajuda a errarmos menos e sermos mais úteis.
Ao deixar Kardec, deixamos de lado os esforços do próprio Espírito de Verdade
Muitos não pensam que, ao deixarem Kardec de lado para ficarem com “novidades” não provenientes do método científico, deixam de lado os esforços de Espíritos superiores e do próprio Espírito de Verdade, quem coordenou a iniciativa do nascimento da Doutrina Espírita. Não se trata da opinião de um homem, mas do Consolador prometido por Jesus. Kardec não terminou em sua posição por acaso: foi planejado por um esforço superior. O método por ele desenvolvido — a concordância universal submetida ao critério da razão — é necessário e não pode ser abandonado!
Ora, queremos tratar o Espiritismo como algo menor? Como um “esforçosinho” de menor importância, superado pelas meras ideias de qualquer um que venha dar a sua opinião? Ora, espíritas, botemos a mão na consciência!
Não sou da opinião, porque não é um fato, de que o Espiritismo tenha sido encerrado com Kardec; contudo, por se tratar de uma ciência, para ser continuado, carece necessariamente do método científico, de forma que não podemos simplesmente aceitar ideias e comunicações quaisquer como se fossem verdeiras, não importa por qual médium sejam dadas ou qual nome o Espírito apresente.
Da mesma forma, não podemos simplesmente descartar comunicações dos Espíritos fora da codificação. Uma vez mais: precisamos de método científico e racional, e não apenas de aceitação ou negação cegas.
Falsas ideias, oriundas de opiniões isoladas
O Luiz Fernando, no Canal Espírita, dentre alguns vídeos em que retorna a Kardec, frequentemente faz vídeos divulgando e reforçando falsas ideias que se infiltraram no meio Espírita. Contamos, dentre elas, aquelas ligadas ao karma ou mesmo ao “exílio” de Espíritos, além das ideias ligadas ao Umbral, psicografias genéricas não verificadas, colônias espirituais de animais, etc. Ideias que o estudo do Espiritismo rapidamente demonstra como incertas ou enganosas. E qual é o problema disso?
O problema é que, lenta e persistentemente, as ideias aceitas cegamente vão minando o Espiritismo e atrapalhando cada vez mais seu progresso e seu real potencial de alavancar a humanidade. Por falta de conhecimento e de compromisso com a ciência nascida dos esforços de Espíritos elevados, mas também por apego às ideias nascidas nos romances, permite-se que Espíritos pouco inferiores, ou mesmo imperfeitos, espalhem suas ideias danosas no meio Espírita.
Allan Kardec foi enfático em demonstrar, como resultado de seus longos anos de estudos, que os Espíritos, após deixarem o corpo, continuam sendo quem eram. Muitos, a grande maioria, continuam carregando falsas ideias e apegos. Não ganham a plena ciência sobre o mundo dos Espíritos simplesmente por deixarem o corpo. Outros são inimigos declarados do Espiritismo, porque encontram nele a demolição das ideias às quais se apegam, por ignorância. Esse é o motivo de muitos deles apresentarem ideias contrárias àquilo que ficou demonstrado pelo estudo de milhares de evocações e comunicações de milhares de Espíritos, por milhares de médiuns, por toda parte.
Relutância em estudar
Mas o Luiz Fernando, no Canal Espírita, infelizmente parece escolher apenas relutar, e digo isso pela forma com que já me respondeu ao destacar incongruências entre o Espiritismo e certas ideias por ele divulgadas, nascidas de opiniões isoladas. Recentemente, gravou um vídeo criticando quem recomende voltar a Kardec, porque parece lhe ser mais agradável divulgar ideias nascidas de romances e supostas psicografias não verificadas. Ao invés de decidir abrir a Revista Espírita e estudar, escolhe rebater afetadamente as críticas aos seus vídeos com ideias contrárias ao Espiritismo e se arvora sob a ideia de que, sendo médium, estaria sendo guiado por bons Espíritos apenas. Além disso, tenta formar a ideia de que criticá-lo é dar azo a “baixas vibrações”.
Sim, nós precisamos retomar o desenvolvimento da ciência espírita. Mas, para isso, precisamos primeiramente retomá-la como ciência, compreendendo seus princípios e seus métodos, desenvolvidos às custas da saúde e dos recursos de Kardec, por anos a fio. Hoje, pela renitência em estudar, erra-se nas coisas mais pífias, mais absurdas, enquanto tão simples seriam de serem evitadas com um estudo mais cuidadoso do Espiritismo.
Uma vez mais, recomendamos a todos que voltem a estudar a Revista Espírita e as demais obras de Kardec, principalmente quando se fala para muitos. Mesmo estudando, às vezes erramos, mas ao menos não teremos nossa consciência nos acusando de não termos procurado conhecer o conhecimento que insistentemente nos batia à porta e que, hoje, está a três cliques de distância.
Desejo que o colega seja tocado em sua consciência o quanto antes. Tem um potencial gigantesco em seu canal. Só falta utilizar desse potencial para espalhar o Espiritismo de verdade, afastado das falsas ideias. Além disso, espero que ele deixe de levar essas questões para o lado pessoal, principalmente quando se trata de uma ciência. Eu mesmo recebo muitas críticas e mesmo agradeço por elas, pois são frequentes oportunidades de novamente consultar a consciência sobre o que eu faço, nunca me arvorando sob a ideia de que eu estaria isento de erros por acreditar que somente bons Espíritos estariam ao meu redor.
“Você quer fazer o bem, não duvido. Quer falar do Espiritismo, porque entende ser um conteúdo bom. Mas o Espiritismo que conhece é o dos romances, e não o original. Reproduz, assim, ideias nascidas das opiniões isoladas de certos Espíritos, muitas vezes incompletas, enganosas e até contrárias ao Espiritismo e à razão. O efeito é contrário: longe de ajudar as pessoas a subir degraus, muitas vezes as afasta da escada.
O Espiritismo existe nas obras de Kardec, bem descrito na Revista Espírita, e foi desenvolvido sobre método científico. Não foi concluído, mas, para ser desenvolvido, precisa do mesmo método.”
Paulo Degering R. Junior
Se os espíritas soubessem o que é o Centro Espírita, quais são realmente a sua função e a sua significação, o Espiritismo seria hoje o mais importante movimento cultural e espiritual da Terra. Temos no Brasil – e isso é um consenso universal – o maior, mais ativo e produtivo movimento espírita do planeta. A expansão do Espiritismo em nossa terra é incessante e prossegue em ritmo acelerado. Mas o que fazemos, em todo este vasto continente espírita, é um imenso esforço de igrejificar o Espiritismo, de emparelhá-lo com as religiões decadentes e ultrapassadas, formando por toda parte núcleos místicos e, portanto, fanáticos, desligados da realidade imediata.
José Herculano Pires — O Centro Espírita