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O “Spirit Box” é um dispositivo muito comentado atualmente, sobre tudo por conta dos canais de “caça-fantasmas”. Até mesmo, com muitos enganos, o “Canal Espírita” já abordou o assunto, conforme eu demostro neste vídeo. Mas o assunto não é novo: há muito tempo, pesquisadores da transcomunicação instrumental (TCI) dizem se utilizar de dispositivos eletrônicos para a comunicação dos Espíritos. Allan Bispo descreve o seguinte fato curioso:
Poderíamos dizer que o primeiro caso de voz paranormal gravada aconteceu no laboratório de física experimental da universidade católica de Milão, em 17 de setembro de 1952.
Ali, os padres Gemelli e Ernetti realizavam experiências com cantos gregorianos para eliminar os harmônicos. Naquela época não existiam gravadores com fitas, mas apenas com fios. Este fio se rompia com freqüência, então era necessário dar um nó finíssimo para não prejudicar o som.
Naquele dia, o fio acabara de se romper mais uma vez e o padre Gemelli, chateado, exclama: “oh, papai, me ajude”, como tinha por hábito de dizer há muitos anos, desde a morte de seu pai.
Uma vez feito o conserto, começaram a escutar o material gravado, porém, ao invés do canto gregoriano esperado, ouviram estupefatos a voz do pai: “claro que o ajudo e estou sempre com você”.
BISPO, Allan. “Transcomunicação Instrumental”. Disponível em https://www.harmoniaespiritual.com.br/2011/09/transcomunicacao-instrumental.html. Acessado em 19 de outubro de 2023.
Por esses e outros fatos, podemos constatar que a transcomunicação instrumental, mesmo através da “Spirit Box”, não é algo impossível. Na verdade, parece bastante factível. A questão, sempre, em se tratando de ciência, será saber analisar a tudo fria e metodologicamente, separando as coisas…
Interesses
A grande dificuldade, sempre, será saber analisar e separar o que é verdadeiro, sério, daquilo que não é. O problema não é novo: na época de Kardec os charlatães já faziam uso dos mais diversos tipos de truques e artifícios para ganharem fama e, quase sempre, dinheiro. Por isso Kardec sempre recomendou o sangue-frio na análise desses supostos fenômenos, nunca aceitando nada apressadamente. Os artigos “A floresta de Dodona e a estátua de Memnon”, da Revista Espírita de fevereiro de 1858, “Fraudes espíritas”, de abril de 1859 e “O músculo que range”, de junho de 1859, são recomendados nesse sentido1.
Esse problema, dos interesses por detrás dos supostos fenômenos, não se restringem à comunicação por instrumentos, somente. Abrange também as comunicações mediúnicas, infelizmente. Mas, atualmente, uma nova (má) contribuição veio somar nesse sentido: o surgimento de aplicativos que, supostamente, permitiriam a comunicação com os Espíritos.
Não está em nossas condições afirmar se os Espíritos podem ou não podem interagir por meio de um aplicativo de celular, simplesmente porque não existe estudo metodológico sobre isso. Sendo o Espiritismo uma ciência, isto é claro: o que não está desenvolvido pela metodologia científica não pode ser admitido, nem sumariamente descartado. Mas há um ponto relevante: os Espíritos não interagem diretamente sobre a matéria, isto é, não sem um médium de efeitos físicos que lhes permitam obter o fluido perispiritual animalizado (ectoplasma) para efetuar qualquer ação sobre a matéria. Tendo esse médium à disposição — muitas vezes, sem mesmo que este saiba — o Espírito age, por assim dizer, diretamente sobre a matéria. Desse modo, podemos afirmar, com segurança, que a comunicação via objetos (transcomunicação instrumental) é apenas mais uma opção e, talvez, a mais limitada delas.
A questão aqui é apontar para o fato de que, munidos de tais aplicativos e de falsas ideias, canais de vídeo no YouTube se transformaram em gigantescas fontes de lucros e de desinformação. Muitos desses canais, com centenas de milhares de seguidores, geram somas mensais de milhares de dólares aos seus donos, que parecem encontrar Espíritos “presos” em todo imóvel abandonado. Além disso, temos o próprio mercado de dispositivos e de aplicativos, que vivem da propaganda feita por esses canais. É uma verdadeira pirâmide de interesses, onde a caridade não encontra lugar.
Falsas suposições
Espíritos frequentam de preferência as ruínas
Por desconhecimento do Espiritismo, parte-se da falsa ideia de que os Espíritos sofredores estariam especialmente alocados em determinados lugares, como casas abandonadas e cemitérios. Isso é falso. Como o que consta em O Livro dos Médiuns a esse respeito é excelente por si só, recomendo a leitura do artigo “Lugares assombrados“, do qual destaco o seguinte excerto:
4.ª. Tem qualquer fundamento a crença de que os Espíritos frequentam de preferência as ruínas?
“Nenhum. Os Espíritos vão a tais lugares, como a todos os outros. A imaginação dos homens é que, despertada pelo aspecto lúgubre de certos sítios, atribui à presença dos Espíritos o que não passa, quase sempre, de efeito muito natural. Quantas vezes o medo não tem feito que se tome por fantasma a sombra de uma árvore e por espectros o grito de um animal, ou o sopro do vento? Os Espíritos gostam da presença dos homens; daí o preferirem os lugares habitados, aos lugares desertos.”
O que não quer dizer que não existam Espíritos que fiquem apegados aos lugares, sobretudo quando se tratam de suas antigas moradias. Triste realidade, que causa sofrimento ao Espírito com apego às ideias materialistas.
Somente se comunicam Espíritos sofredores
Ideia fixa entre os “caça-fantasmas” é a de que somente se comunicam Espíritos trevosos ou sofredores. Isso é falso. Por meio das manifestações físicas se comunicam Espíritos inferiores, mas isso não quer dizer que sejam maldosos ou que suas intenções sejam más. Muitas vezes querem apenas chamar a atenção ou mesmo agradecer. A Revista Espírita é repleta de fatos como esses, sendo um deles aquele contado no artigo “Um antigo carreteiro“, de dezembro de 1859.
Falar com Espíritos sofredores causa obsessão
Essa é outra ideia muito falsa que reina no movimento espírita em geral. O que causa obsessão é a livre aceitação da influência de outro Espírito, encarnado ou desencarnado. Desde que não se permita essa influência, por uma força moral maior, ela não ocorrerá. Não podemos, porém, apoiar as brincadeiras e as tolices feitas através das evocações dos Espíritos, o que somente poderá atrair Espíritos levianos ou mesmo maldosos (que, uma vez mais, somente encontrarão espaço para influenciação se encontrarem ressonância nas ideias e nas ações dos indivíduos).
Estranho fato é que um dos maiores fatores de instalação de uma obsessão é a aceitação cega do que dizem os Espíritos, coisa que a maior parte do Movimento Espírita moderno faz. Já tratamos sobre isso no artigo “Obsedados e Subjugados: os perigos do Espiritismo“.
Mais um fato: não é a evocação que atrai os Espíritos, mas o pensamento.
Os Espíritos que se comunicam estão “presos” à Terra
Ainda outra ideia exaustivamente repetida, e falsa, é a de que os Espíritos precisem de “resgate” e que, se isso não acontecer, ficarão “presos” à Terra. Até mesmo um grande canal como o “Canal Espírita” divulga essa falsa ideia, baseada em opiniões. Como demonstra O Livro dos Médiuns (e a Doutrina Espírita inteira) os Espíritos se dirigem por intermédio de sua vontade. Pela vontade e por conta de pouca compreensão e de apegos, podem se ater a pessoas, situações ou lugares. Quando mais elevados e mais desprendidos das ideias materialistas — algo a que o Espiritismo favorece substancialmente — mais facilmente se desprendem da matéria.
É fato que grande parte dos Espíritos que deixam a matéria, aqui na Terra, ainda é constituída de Espíritos pouco desenvolvidos e que permanecem preocupados e envolvidos com interesses mundanos. Mas não é assim com todos. Novamente, o estudo da Revista Espírita (1858 – 1869) prova este princípio.
Evocar Espíritos faz com que fiquem presos à Terra
Essa ideia, repetida pelo Luiz Fernando, no Canal Espírita, também não encontra base no Espiritismo. Na verdade, ela contradiz tudo o que anos de pesquisa séria demonstraram. Evocar os Espíritos (de maneira séria e com bons propósitos) é útil e natural e, em se tratando de Espíritos sofredores, os ajuda a raciocinarem e a justamente se desapegarem da matéria. É o inverso do que dizem aqueles que afirmam tal coisa.
Futilidade
Além da inutilidade e dos interesses, temos também a futilidade. Da mesma forma que acontecia com as brincadeiras do compasso e dos copos que andam, e evocação leviana e fútil dos Espíritos somente pode atrair Espíritos levianos e fúteis. Às vezes, algum Espírito maldoso busca pregar uma peça ou um susto. Outras vezes, se houver ressonância de ideias, pode encontrar alguém para obsedar.
Ausência de utilidade
Supondo que alguns desses eventos sejam comunicações genuínas e admitindo a possibilidade de que aconteçam, precisamos perguntar qual a utilidade delas, dado que somente podem ser realizadas por Espíritos inferiores? Ora, é fato que essas manifestações tiveram sua razão de ser, no passado, de modo a chamar a atenção para os fatos espíritas, mas será que hoje seriam necessárias (excetuando-se os casos muito particulares)? Perguntamos: por que não utilizarmos médiuns, que são ferramentas muito melhores e mais completas para essas comunicações?
É importante lembrar, também, que os Espíritos não podem interagir sobre a matéria diretamente, sem o concurso de um médium, ainda que inconsciente disso. Isso está evidenciado em O Livro dos Médiuns ou guia dos médiuns e dos evocadores > Segunda parte — Das manifestações espíritas > Capítulo V — Das manifestações físicas espontâneas > Arremesso de objetos. Assim, refletimos: já que o médium é indispensável, não seria mais lógico torná-los boas ferramentas, pelo estudo, ao invés de remeter os Espíritos a manifestações físicas?
Além disso, temos que destacar que, afastados os erros e a charlatanice, existem os fenômenos materiais genuínos de Espíritos apegados às ideias materialistas que, por isso, não conseguem encontrar melhor rumo após deixarem o corpo. Ainda aqui, nota-se que, pela ausência de conhecimento do Espiritismo, os indivíduos bem-intencionados, munidos de suas “Spirit Box”, deixam de ser muito mais úteis, pois não sabem lidar com tal fato. Baseiam-se nas falsas ideias vigentes e muito pouco ou nada agregam para auxiliar na mudança de pensamentos daquele Espírito.
Importância do Espiritismo
O Espiritismo, como doutrina científica, é o resultado de anos de pesquisas sérias e metodológicas sobre as manifestações dos Espíritos. Não é algo que alguém tenha tirado de suas próprias ideias e dito “eu digo que é assim”. Pelo contrário: esse estudo levou, por diversas vezes, a que os indivíduos, inclusive Kardec, fossem contrariados em suas hipóteses.
Por esse motivo, estudá-lo é essencial para quem quer que queira fazer o bem com menos erros e praticar a comunicação com Espíritos sadia e útil como ela deve ser.
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- Todo o estudo da Revista Espírita é importante, é evidente [↩]