A dádiva da reencarnação
Muitas vezes nos pegamos perguntando: pra que reencarnar? Não poderíamos realizar todo o progresso no plano espiritual?
O Espiritismo, como em tudo aquilo que já nos é dado compreender, vem em nosso socorro, explicando mais esse ponto, na verdade fundamental para nossas vidas, posto que vemos tantos irmãos e, às vezes, nós mesmos, com pensamentos de esmorecimento e desistência. Quantos irmãos já não tiraram a própria vida do corpo, pelas vias do suicídio, interrompendo um planejamento reencarnatório tão importante para eles?
O que o Espiritismo nos ensina, prezado irmão ou irmã, é que, quando em Espírito, no estado de erraticidade, ou seja, no período entre uma encarnação e outra, nosso eu verdadeiro aflora com ênfase e transparência. Assim, nossas boas e más virtudes, incrustradas em nossas mentes, se mostram como eles são, e com maior verdade. É como se fôssemos um vaso de cristal que tem a água turva jogada fora e, então, passa a brilhar em sua clareza original, embora isso nem sempre mostre uma cristalidade de coração.
O Espírito que há tempos se degladia por conta de imperfeições morais – e até mesmo de vícios materiais – e que, de encarnação em encarnação, ainda não encontrou a decisão forte por sua mudança, ao desencarnar, passa a experimentar esse ambiente moral à sua disposição, já que se desloca, com a velocidade do pensamento, para as companhias e os ambientes que mais lhes apetecem. Assim, muitos Espíritos facilmente passam a inteirar as fileiras de Espíritos que agonizam na incompreensão de que, para dali saírem, basta a vontade firme, que até então, mesmo em vida física, muitas vezes não conseguiram ter.
Outrossim, há os casos dos Espíritos obsediados e perseguidos, dementados, muitas vezes, pela extensão de suas próprias culpa e incompreensão.
Vem, então, a oportunidade da reencarnação como valiosíssimo dispositivo que permite ao Espírito, pela obliteração da memória integral, retomada de fôlego e correção de imperfeições, sobretudo através do papel tão importante mas ainda tão esquecido dos pais ou cuidadores, desde a primeira infância material que o Espírito atravessa, fase na qual ele se torna mais dócil e maleável ao aprendizado – que deveria sempre ser feito nas bases do amor e da fraternidade, de forma construtiva e jamais violenta ou impositiva.
Mas, lembramos, a reencarnação, ou o planejamento reencarnatório, somente acontece de forma “impositiva” quando o Espírito ainda não tem a consciência desenvolvida a ponto de entender as necessidades para seu avanço. É nesse ponto que ele é constrangido a reencarnar, por Espíritos outros que, em nome da caridade, se dedicam a tal tarefa.
A partir do momento, contudo, em que o Espírito desenvolve sua própria consciência a respeito de suas próprias imperfeições e da necessidade de corrigi-las, passa a atuar positivamente nesse processo, muitas vezes solicitando uma nova encarnação, cheia de provas e expiações, com a finalidade de aprender e corrigir suas imperfeições.
Portanto, a encarnação, a vida atual, é uma dádiva divina, uma oportunidade abençoada para reajustarmos os fatores que, em nós mesmos, nos levam a errar e, por isso, a sofrer. Nunca foi e nunca será um castigo ou uma punição e, se nós mesmo não aumentarmos nossos sofrimentos por nossas próprias ações, conseguiremos passar pelas provas e expiações muitas vezes por nós escolhidas, pois jamais estaremos abandonados nessa empreitada e, além dos irmãos que nos assistem do plano espiritual, sempre haverão as pessoas, à nossa volta, prontas e, muitas vezes, devotadas a esse planejamento, para nos ajudar.
Queridos irmãos, espalhemos essa verdade tão simples e tão poderosa, a fim de que o irmão prestes a desistir da vida reconsidere sua posição e que não tenha que, apenas do plano espiritual, envolto em sofrimentos, olhar para trás e verificar que o sofrimento que atravessava estava prestes a acabar e que tinha muito a lhe auxiliaria a se modificar, para nunca mais sofrer daquela forma, se tivesse sua vontade muito firme e decidida. E, lembremos, sempre: todos nós chegaremos à felicidade e à perfeição, alguns mais rápido do que outros, pela ação de sua própria vontade:
133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem?
“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”
a) — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?
“Chegam mais depressa ao fim. Ademais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”
O Livro dos Espíritos
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