Federação Espírita Brasileira: é tempo de recolocar as coisas em seu devido lugar!

O que se conhece de Espiritismo no Brasil passa, necessariamente, pela imagem de um Movimento Espírita formado majoritariamente pela influência da Federação Espírita Brasileira. Contudo, quanto mais estudamos, mas estranhamos a distância inquestionável desse Movimento com o Espiritismo original. Começamos a nos perguntar, então: “o que aconteceu?”. Informações recentemente descobertas nos colocaram a par daquilo que, para alguns, já é muito claro, há muito tempo.

Tudo começou com a leitura de Ponto Final: o reencontro do Espiritismo com Allan Kardec, de Wilson Garcia. O fato inconteste, finalmente vem dar luz às nossas dúvidas: a Federação Espírita Brasileira é uma instituição de tradição e raízes roustainguistas, desde seus primeiros passos!

Roustaing

Roustaing — Jean-Baptiste Roustaing — para quem não sabe, foi um poderoso advogado à época de Kardec. Resumidamente, passou a receber comunicações espíritas através de uma médium — sim, apenas uma médium. Nessas comunicações, “os Espíritos” (provavelmente era apenas um) apresentavam-se como sendo os quatro evangelistas e diziam que ele, Roustaing, era o Revelador das Revelações. Não é necessário dizer que isso era uma flagrante mistificação, é? Diremos: isso era uma flagrante mistificação, facilmente reconhecida por alguém que conhecesse profundamente a ciência espírita. Esse alguém, Kardec, critica a obra transmitida por esses Espíritos, “Os Evangelhos”, e, assim, tocando no orgulho e na vaidade gritantes daquele senhor, cria um novo inimigo.

Dentre os dogmas admitidos por esse senhor, estava a ideia de que um Espírito que erra muito é enviado para um planeta inferior, onde encarnaria como uma lesma (“criptógamos carnudos”). Havia também o dogma da queda pelo pecado, onde o ser humano somente teria que encarnar após cometer um erro e, assim, adquirir uma culpa que o projetaria a um castigo, pela encarnação — a mesma ideia inserida na adulteração de O Céu e o Inferno — bem como o dogma de que Jesus era apenas um agênere, ou seja, jamais encarnou entre nós.

Ideias místicas, por alguma razão que não compreendemos, agradam a muitos, por mais complicadas e sem sentido que possam nos parecer, frente à inquebrantável cristalinidade do Espiritismo. Assim, essas ideias encontraram coro ainda em território Francês, inclusive por Leymarrie, responsável maior pela adulteração dos propósitos da Sociedade Anônima e da Revista Espírita, após a morte de Kardec. Logo, essas ideias foram importadas para solo brasileiro, onde se fundou o Grupo Sayão ((Antônio Luis Sayão, esse mesmo, cultuado pela FEB)), ou Grupo dos Humildes, ou Grupo Ismael. Nesse grupo, aliás, comunicava-se o Espírito do “Anjo” Ismael, reproduzindo diversos absurdos misticistas, o mesmo “Anjo” Ismael que aparece em “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho”, uma obra provavelmente adulterada e repleta de absurdos misticistas e mesmo de mentiras. Desse grupo fazia parte, também, o tão conhecido Dr. Bezerra de Menezes. É.

FEB, roustainguista

Antes do Grupo Sayão, fundou-se o Grupo Confúcio. A esse Grupo pertenceram, entre outros, o Dr. Siqueira Dias, Dr. Francisco Leite de Bittencourt Sampaio, Dr. Antonio da Silva Neto, Dr. Joaquim Carlos Travassos, Prof. Casimir Lieutaud. Muitos desses vocês verão no material disponibilizado, declarando sua “fé” em Roustaing e nos seus quatro Evangelhos. A esse grupo seguiu a Sociedade de Estudos Espíritas “Deus, Cristo e Caridade”, fundada em março de 1876. “Deus, Cristo e Caridade” é, até hoje, o lema da FEB.

“Acedendo Bezerra de Menezes em aceitar a Presidência da Federação, em 1895, o ‘Grupo Ismael’ acompanhou o apóstolo, apoiou-o na direção da Casa e integrou-se a ela”, conforme se lê no portal da própria FEB (A FEB – Origens), acessado em 23/06/2024. Assim, passou a dominar a FEB um grupo roustainguista, que se estabeleceu e criou raízes que atravessariam o século XX, adentrariam o século XXI e, nos primeiros anos desse, em 2018, embora deixassem o estatuto febiano, que anteriormente obrigavam o estudo e a disseminação dessas obras, continuaram em suas entranhas, posto até hoje essa instituição não ter assumido publicamente seus desvios e se comprometido à reparação.

O coordenador da Assessoria jurídica do CFN, Francisco Ferraz Batista, apresentou o resultado dos processos havidos na 29o Vara Cível da Comarca do Rio de Janeiro, sobre a retirada, do Estatuto da FEB, da parte do item referente à divulgação e estudo das obras de J.B Roustaing. Os resultados foram favoráveis à FEB, para a retirada do referido trecho do item do seu Estatuto, o que deverá ocorrer, formalmente, em reunião da Assembleia Geral.

FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA. Conselho Federativo Nacional. Ata da Reunião Ordinária do CFN – 2018. Disponível em: https://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2019/01/CFN_FEB_Ata_da_Reuniao_Ordinaria_de_2018.pdf. Acesso em: 24 jun. 2024.

Julio Nogueira, no artigo “Breve exame dos estatutos da FEB ((NOGUEIRA, Julio. Breve exame dos estatutos da FEB. Disponível em: http://www.telma.org.br/artigos/breve-exame-dos-estatutos-da-federacao-espirita-brasileira-1883-1924-mudanca-de-orientacao-inicial-inclusao-de-roustaing-so-realizada-na-reforma-estatutaria-de-1917-criacao-de-sistema-de-poder-exclusivista-que-nao-nasce-do-consenso-ent. Acesso em: 24 jun. 2024.))”, explica bem sobre o estatuto febiano e suas relações com Roustaing.

A FEB deixou o roustainguismo?

A retirada desse trecho do estatuto da FEB obviamente não retirou Roustaing de suas entranhas, posto que continua constando a obrigatoriedade do estudo de “Brasil, Coração do Mundo”, obra que, como dissemos, provavelmente adulterada, continua sustentando a mentira sobre Roustaing, destacada por nós em negrito:

“Segundo os planos de trabalho do mundo invisível, o grande missionário, no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente para coadjuvá-lo, nas individualidades de João-Batista Roustaing, que organizaria o trabalho da fé; de Léon Denis, que efetuaria o desdobramento filosófico”.

CAMPOS, Humberto de. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB – Federação Espírita Brasileira, 1938. Disponível em: https://files.comunidades.net/portaldoespirito/Brasil_Coracao_do_Mundo_Patria_do_Evangelho.pdf. Acesso em: 24 jun. 2024.

É assim que, “para ser espírita”, na generalidade dos centros espíritas em que se pise, te direcionarão à catequização febiana, estudando o “Espiritismo” não nas obras de Kardec, mas nas apostilas da Federação Espírita Brasileira, onde, trazendo como obra básica a provavelmente adulterada “Brasil, Coração do Mundo”, valida-se ao mesmo tempo a mentira sobre a figura de Roustaing e o misticismo do “anjo” Ismael. Valida-se, por conseguinte, toda a tradição febiana e o descarte de toda a metodologia e toda a organização necessárias para a continuidade do desenvolvimento do Espiritismo, substituindo-se toda a ciência espírita pela crença cega nos Espíritos e nas personalidades chanceladas pela FEB…

Cita Sérgio Aleixo:

Conforme prevê o assim chamado “Pacto Áureo” (05/10/1949), “cabe aos espíritas do Brasil porem em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de maneira a acelerar a marcha evolutiva do Espiritismo”. Pois bem! Isto passou ao art. 63 do estatuto da Casa-Máter do rustenismo no mundo, que registra:

O Conselho [Federativo Nacional da F.E.B.] fará sentir a todas as sociedades espíritas do Brasil que lhes cabe pôr em prática a exposição contida no livro Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, de Francisco Cândido Xavier.

Entre outras piadas de além-túmulo, no capítulo I desta obra, “a amargura divina” de Jesus “empolga” toda uma “formosa assembleia de querubins e arcanjos” e ele, “que dirige este globo”,[1] não sabe sequer onde é o Brasil.

ALEIXO, Sérgio. O roustainguismo nas obras de Chico Xavier. Disponível em: https://memoriaspirito.wordpress.com/roustainguismo-herculano-pires/roustainguismo-chico-xavier-sergio-aleixo/. Acesso em: 24 jun. 2024.

Poderíamos estender este artigo longamente, demonstrando que os presidentes dessa instituição sempre foram roustainguistas; que a FEB, várias vezes, conforme se lê em O Reformador, colocou Roustaing acima de Kardec; que a FEB, no início do século XX, publicou a obra Os Evangelhos, de Roustaing, trazendo, no prefácio, uma verdadeira afronta a Kardec, ao Espiritismo e aos espíritas confessos. Deixaremos essa constatação a cargo do prezado leitor, que encontrará no material aqui disponibilizado, obtido em grande parte do próprio site da FEB (no Google, pesquise assim: “site:febnet.org.br Roustaing”), a prova do que ora dizemos. Limitamo-nos a destacar a seguinte imagem, obtida de um documento oriundo do site da própria FEB:

https://www.febnet.org.br/ba/file/Horarios/3_feira_O_Evangelho.pdf

Importante também destacar que, no domínio da FEB, consta um glossário, “Espiritismo de A a Z”, constando a explicação de termos e vocábulos — à luz do Espiritismo, óbvio? Não. À sombra de Roustaing:

http://www.sistemas.febnet.org.br/site/az/AZ-Vocabulos-e-Conceitos.php?CodVoc=380&L=3&busca=&CodLivro=

Movimento Espírita afastado do Espiritismo

Ocuparemo-nos, porém, de avaliar os efeitos de um Movimento Espírita formado pela FEB:

Espíritas que desconhecem o Espiritismo; espíritas que têm medo dos Espíritos; espíritas que não evocam os Espíritos, questionando as comunicações evidentemente enganosas; espíritas que creem cegamente nas comunicações dos Espíritos, aceitando tudo à guisa de “complemento doutrinário”; espíritas que não praticam a mediunidade no lar, crendo que isso atrairia obsessores e que – um absurdo – somente no centro espírita teriam proteção dos bons Espíritos, que se eles não fossem aos lares dos bem intencionados; espíritas, enfim, que reproduzem as diversas falsas ideias, colhidas das comunicações aceitas cegamente e das opiniões de médiuns idolatrados, provocando verdadeiro vexame ao Espiritismo e dando munição aos seus críticos.

Devemos citar que, dentre esses médiuns idolatrados, figura Divaldo Franco, que, nas palavras de Augusto dos Anjos:

Divaldo Pereira Franco, o primeiro vintém, por mais de uma vez fez a mim, pessoalmente, a afirmativa de que não há como explicar os Evangelhos senão à luz da “Revelação da Revelação”. Seria uma posição reservada, apenas para meu conhecimento particular? Claro que não. Antes que tudo porque os homens de bem não têm por vezo, sob nenhum pretexto, formar posições dúbias, uma pública e outra para os amigos particulares. Esse comportamento anfibológico não cabe nos espíritos de boa moral. Depois, porque a mesma afirmativa o estimado médium baiano já a fez da tribuna, a plenos pulmões, do alto da autoridade e da retumbância que lhe reconhecemos e que tanto têm servido à iluminação espiritual de nós todos, espíritas do Brasil e de fora do Brasil. Para prová-lo, transcrevo a seguir, «verbo ad verbum», as mais recentes palavras de Divaldo Pereira Franco pro- nunciadas do alto da tribuna do Grupo Espírita Fabiano (um dos mais sérios e bem orientados grupos que existem na Guanabara), na noite do dia 6 de Outubro de 1969, estando como de costume superlotado o auditório. Eis o trecho da memorável alocução, gravada em fita magnética, com o conhecimento do orador:

“Durante muitos anos eu não entendia. Eu fui a Roustaing, que é a minha fonte inexaurível de estudo evangélico! Há quase vinte anos que eu leio o benfeitor João Batista Roustaing, meditando na sua palavrazinha, nas belas informações da Sra. Collignon, provindas da Espiritualidade. Mas é de uma interpretação maravilhosa!”

ANJOS, Luciano dos. Um gosto e 4 vinténs. Reformador, Rio de Janeiro, p. 9-11, jan. 1970. Extraído do livro A Posição Zero.

Infelizmente, esse não foi o único caso de um médium idolatrado ou de suas psicografias defendendo a figura de Roustaing e suas ideias, como poderão constatar neste artigo. Lembramos que, aqui, estamos discutindo ideias, e não julgando pessoas.

É evidente que, embora nem todo o Movimento Espírita seja filiado à FEB, os tentáculos do roustainguismo e do misticismo envolveram todo o Movimento Espírita Brasileiro. Infelizmente, esses tentáculos também atravessaram os oceanos…

Plano de Campanha

Vemos, enfim, cumprida a “profecia” realizada em 1867 e apresentada na Revista Espírita de agosto do mesmo ano, artigo “Plano de Campanha”:

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade… Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, esforçar-se-ão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

A tão desejada unidade do Movimento Espírita não se dará pela afiliação a uma instituição que mais se assemelha ao clero católico. Não. Isso, aliás, contraria os planos para o Espiritismo, idealizados por Kardec na Revista Espírita de dezembro de 1868 — Constituição Transitória do Espiritismo. Essa unidade somente se dará entre aqueles que, de boa vontade, mergulharem no estudo da ciência espírita, voltando a, depois disso, praticarem a mediunidade no lar, em pequenos grupos, harmoniosos, coesos, realizando a análise das comunicações e das evocações. Esses grupos, espalhados por toda parte, colaborando entre si, sem nenhuma submissão ao controle de uma instituição, mas, sim, ao controle da generalidade dos ensinamentos dos Espíritos, submetidos ao crivo da razão, poderão, então, voltar a trabalhar no desenvolvimento doutrinário. Não antes, não sem isso.

Por isso, destacamos a necessidade da formação de grupos de estudos – no lar, pela internet, no centro espírita – para o estudo dedicado das obras de Kardec não adulteradas e das obras de contextualização. Deixamos, aqui, nossa modesta colaboração nesse sentido: Projeto Semear — Formação de Grupos de Estudos.

No dia em que a Federação Espírita Brasileira assumir seu desvio, comprometendo-se à reparação e subtraindo-se ao propósito de determinar os rumos do Espiritismo no Brasil, voltaremos a valorizá-la. Não antes, não sem isso.




Projeto Semear — Formação de Grupos de Estudos

Boas-vindas

Bem-vindos a esta jornada, amigos de Kardec! Que satisfação vê-los aqui, almas queridas, buscando o aprendizado tão importante e do qual os espíritas se desviaram, há muito….

Atentem para a formação deste grupo ou dos demais. A iniciativa é seria e o assunto é grave. Os inimigos da doutrina novamente se agitam, pois que ela volta, agora, com toda a força, para cumprir aquilo que se propôs, há mais de um século. A humanidade grita: meu Deus, onde as respostas? Não encontrando a felicidade almejada, dia após dia, sem conseguir respostas satisfatórias, lançam-se às penúrias do materialismo desenfreado, do sensualismo, dos vícios e, muitos, não suportando ou não tendo maiores perspectivas, terminam por tirar a própria vida, para descobrir, afinal, que de nada isso adiantou.

O assunto, veem, é grave, e grave é a responsabilidade de todos os que se retiram do estudo, por orgulho e vaidade, para dar aos outros o lúgubre aspecto das opiniões construídas sobre distorções e adulterações.

É chegada a hora, meus amigos, de restabelecer aquilo que ficou para trás. É chegada a hora de multiplicar esforços e de semear, por toda a parte. Mas, atenção, pois os inimigos do bem, tristes indivíduos que ainda não conseguiram perceber o buraco que cavam para eles mesmos caírem, tentarão se estabelecer entre vocês. Mantenham-se em guarda, portanto, e não se esquivem da responsabilidade de manter a harmonia no grupo, abordando cada um que traga desarmonia ou desordem.

Confiem neste grupo, O Legado de Allan Kardec, que tem a particularidade de ser um raro grupo, neste planeta, formado com tanta identidade, tanta harmonia, tantos propósitos sérios, estabelecidos no passado, de trabalhar pela recuperação dessa Doutrina esquecida.

Sejam preces ambulantes, por suas disposições internas e pela aplicação dos princípios aprendidos às suas próprias vidas, e manterão, junto a vocês, a companhia de bons Espíritos, encarnados ou desencarnados. Não esqueçam: os bons Espíritos, seus anjos guardiões ou Espíritos protetores, abençoam esta empreitada e estarão junto a cada um de vocês, inspirando-os e intuindo-os.

União, fé, amor e caridade: este, o lema que cada indivíduo deve carregar no peito, aplicado em todo o seu entendimento e em toda a sua extensão, a si e no contato com os demais.

União: a unidade garantida pelos propósitos legítimos e pelo entendimento adequado do Espiritismo

Fé: a fé raciocinada, tão esquecida pelo Movimento Espírita, construída do entendimento racional, sem dúvidas possíveis, dos princípios da Doutrina Espírita.

Amor: o amor ao próximo, como a si mesmo. É necessário paciência e perseverança consigo mesmo, além de reconhecimento dos passos já dados, do caminho já percorrido. O mesmo deve ser aplicado aos demais.

Caridade: a caridade verdadeira é o dever moral, cumprido sem esperança de premiação ou reconhecimento. É o compartilhar, o aprender e o ensinar. Esse é o bem, a felicidade, e é por retirar-se desse papel que o indivíduo se lança nos despenhadeiros do personalismo, do egoísmo, do orgulho.

Orientações gerais

  1. A ideia é auxiliar na formação de um novo grupo ou mais, onde os participantes cuidarão de se organizarem a esse respeito. Nós daremos toda a orientação e o suporte necessários. Precisamos que uma ou mais pessoas se apresentem como iniciadores do núcleo central do grupo, de maneira pró-ativa.
  2. A proposta é que vocês criem um ou mais grupos, organizando-se entre vocês. Estaremos, junto ao meu grupo, no papel de apoiadores e orientadores.
  3. Pontualmente, poderemos elaborar estudos especiais, com a participação do Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec, ou de vocês conosco.
  4. Comecem estudando “Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo” e “Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal”, de Paulo Henrique de Figueiredo. Alternativamente, assistam aos vídeos destacados no tópico Materiais para estudos.
  5. Estimulamos que vocês comecem necessariamente pelo estudo da Revista Espírita. Após o estudo dos dois primeiros anos, enquanto continuam esse estudo, poderão ver a necessidade de criar um novo horário para estudar O Livro dos Médiuns. Nesse ponto, vocês estarão muito mais maduros para esse estudo.
  6. O estudo deve ser ao-vivo, por vídeo ou pessoalmente. WhatsApp é ferramenta de apoio.
  7. Não devem existir professores. Todos devem se colocar na condição de estudante que não conhece nada do Espiritismo. Foi assim que começamos.
  8. Sugestão:

    • Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo.
    • Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo.
    • No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim o grupo sai da leitura maçante.
    • Quem não fizer o estudo antes acabará tendo a possibilidade de não entender adequadamente o conteúdo. Isso é um estímulo ao estudo.
    • Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos.
    • As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, poderão ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições;

  9. Criem regras. Vejam as nossas sugestões no tópico seguinte, Sugestão de regras.
  10. Aprendam a não sistematizar conclusões sobre os artigos da Revista Espírita. Kardec deixa bem claro quando um estudo qualquer está devidamente concluído, ao menos de momento. Muitos artigos são apresentados como hipóteses, apenas.
  11. Criem documentos no Google Drive com o conteúdo de cada estudo, e façam um estudo prévio, fazendo anotações e comentários nesse documento. Isso ajuda a enriquecer o aprendizado.
  12. Não visem números. Prefiram qualidade. Estudem em pequenos grupos, coesos, harmoniosos, e não tenham medo de chamar a atenção, com firmeza e caridade, daqueles que eventualmente destoem das regras e da harmonia do grupo.
  13. Deixem os romances mediúnicos e demais obras de lado. O estudo das obras de contextualização e das obras de Kardec já lhes tomará bons anos.
  14. Não busquem Espiritismo prático (reuniões mediúnicas), de início. Se houverem médiuns entre vocês, sobretudo com a mediunidade muito aflorada, é importante formar um grupo à parte, ainda mais coeso e harmonioso. Muitos cuidados serão necessários. Nesse caso, não deixem de buscar apoio em nós.
  15. Sobretudo, não se esqueçam de manter contato conosco. Cuidaremos de registrar sua(s) iniciativa(s) em nosso site e ficaremos muito felizes de podermos trocar experiências e aprendizados com vocês.
  16. Evitem apenas produzir longos vídeos para o Youtube. Foquem, principalmente, conforme o aprendizado for se estabelecendo, em produzir vídeos curtos e, principalmente, textos em blogs, de maneira colaborativa (textos em blogs são facilmente encontrados em pesquisas do Google).
  17. À medida do possível, envolvam também os jovens nesse trabalho de aprendizado, seja nos seus próprios grupos, seja incentivando-os a formarem novos grupos. Espalhem esse propósito.

Sugestão de regras

Estudos da Revista Espírita, em grupo

OBJETIVO DO GRUPO

  • O nosso principal objetivo é conhecer o Espiritismo em sua essência e aplicar esse conhecimento em nossas próprias vidas. Ao mesmo tempo, porém, desejamos fazer isso de uma forma simples, clara e amistosa, de modo que nossos estudos sejam facilmente entendidos pelo público, razão pela qual realizamos um estudo prévio e a elaboração de um conteúdo, de forma que possamos extrair o melhor de cada assunto.
  • Após cada estudo, visamos produzir artigos, neste site, que complementem e formalizem o estudo, mas que também permitam a inclusão de deficientes auditivos. É por isso, principalmente, que os estudos precisam ser simples e, em simultâneo, profundos como possível.
  • Diferentemente de outros estudos do Espiritismo, que partem de obras conclusivas, nós estamos partindo de um periódico que demonstra o método de exploração, de raciocínio e de dedução de Allan Kardec, na construção do Espiritismo (aqui entendido na parte humana dessa ciência). Existe um enorme ganho em fazer assim, mas não estamos desatentos aos assuntos que precisam ser complementados com conclusões posteriores, de modo a não ficarem “capengas”, como é o caso da teoria dos fluidos, abandonada por Kardec em sua obra final, A Gênese.
  • A Revista Espírita, diferentemente de outras obras, é um periódico que combina:

    • assuntos e “causos” da época — que, longe de serem desinteressantes, serviam para dar suporte à Doutrina, baseado no cotidiano dos fatos espíritas vivenciados dentre a população mundial, mas que, do ponto de vista atual, muitas vezes não tem muita relevância para o nosso estudo
    • escritos muito mais densos e bem elaborados por Kardec, com extrema perspicácia, que pouco a pouco, e de forma muito organizada, vão construindo toda essa ciência que é o Espiritismo — ciência desconhecida e esquecida atualmente.

  • A importância da Revista Espírita não é apenas moral, mas também prática. Ao estudá-la, vemos uma constante construção de conhecimentos, ao mesmo tempo em que constantemente vemos uma desconstrução de falsos conceitos atuais, como você precisa entender no artigo “O que é a Revista Espírita e como estudá-la?. Eis mais um motivo para o formato do nosso estudo, pois os falsos conceitos não se quebram aos golpes.
  • O Espiritismo precisa ser resgatado e conhecido em sua essência, tanto moral como prática, de modo que possamos retomar os estudos dessa Doutrina, junto aos Espíritos. Esse estudo tem um importantíssimo papel nesse sentido.
  • Hoje sabemos, afinal, que essa ciência não andava sozinha: muito longe disso, ela era um desenvolvimento do Espiritualismo Racional e uma “irmã gêmea”, como disse Kardec, do Magnetismo. É por isso que, oportunamente, abordamos esses conhecimentos, de forma simples, prática e pontual, já que, para se aprofundar sobre esses dois temas, recomendamos sempre a leitura das obras Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo e Mesmer: a ciência negada do magnetismo animal, ambas de Paulo Henrique de Figueiredo, dentre outras (veja nossa lista de obras recomendadas).

Premissas

  • Neste grupo, partimos da conclusão que as duas últimas obras de Kardec, O Céu e o Inferno e A Gênese, foram adulteradas. Podemos indicar o porque de termos chegado a essa conclusão, mas não discutiremos sobre isso, posto que os fatos estão aí para cada um verificar.
  • Neste grupo, estuda-se o Espiritismo com base nas obras de Kardec, necessariamente. Isso não quer dizer que outras obras e outros autores não possam ser tratados, mas isso se fará desde que o que se busque seja a busca pela compreensão e pela aproximação, baseando-se no Espiritismo, e não para mero confronto.
  • A premissa mais básica de todas é o estudo. Ter lido aleatoriamente O Livro dos Espíritos ou O Evangelho Segundo o Espiritismo não é estudo. Estamos longe de ter abarcado o entendimento da doutrina por completo, mas existem pontos fundamentais que carecem de dedicação para serem compreendidos. Conte com o grupo para indicar e sugerir caminhos e conteúdos de importância.

REGRAS TÉCNICAS

  1. Entre nos nossos grupos do WhatsApp e do Telegram. É por eles que manteremos a comunicação direta com os demais integrantes. Se tiver os dois, entre nos dois.
  2. Não será dado a ninguém o direito de dar palavras finais sobre aquilo que não está devidamente estabelecido na Doutrina. Será, contudo, tomado o cuidado de, para cumprir essa regra, não recair em falta às regras n. 4, 5 e 6.
  3. Assim como Kardec tratava as opiniões de Espíritos desencarnados, tratamos as opiniões das almas encarnadas, isto é, aquilo que é apenas uma opinião, será tratado apenas como uma simples opinião e dela não faremos sistemas.
  4. Devemos evitar que qualquer tema que fuja daquele principal ou qualquer ponto de discórdia seja extenuadamente abordado durante o estudo, para não haver desvios e monopólio de palavras ou opiniões. O que fazer, nesses casos: buscar estudar, em Kardec, o assunto em questão e apresentar, em nova oportunidade, os resultados encontrados. O desrespeito a essa regra de bom-tom será prontamente interrompido por intercessão dos administradores.
  5. Todos têm a liberdade de chegar às suas próprias conclusões, levados pela própria razão, resguardados os objetivos do estudo e a base doutrinária. Por exemplo, o tema sobre a existência de colônias espirituais não está devidamente consolidado, mas a questão da reencarnação está. Se aquilo que está consolidado, na Doutrina, não foi aceito pela razão de determinada pessoa, ela com certeza se sentirá inclinada a deixar os estudos, já que não lhe falam à razão. O que não será aceito será a sistematização de opiniões pessoais no Grupo, conforme exposto acima.
  6. Não serão abordados temas políticos e religiosos (este, no sentido em que possa trazer qualquer inquietação ou humilhação. Lembramos que o Espiritismo está aberto a pessoas de todas as crenças). Aqui, parafraseamos Kardec, em Viagem Espírita em 1862:

[…] deve-se abster, nas reuniões, de discutir dogmas particulares, o que, certamente, melindraria certas consciências, ao passo que as questões de moral são de todas as religiões e de todos os países. O Espiritismo é um terreno neutro, sobre o qual todas as opiniões religiosas podem encontrar-se e se dar as mãos. Ora, a desunião poderia nascer da controvérsia. Não vos esqueçais de que a desunião é um dos meios pelos quais os inimigos do Espiritismo buscam atacá-lo; é com esse objetivo que muitas vezes eles induzem certos grupos a se ocuparem de questões irritantes ou comprometedoras, sob o pretexto especioso de que não se deve colocar a luz sob o alqueire. Não vos deixeis prender nessa armadilha, e que os dirigentes de grupos sejam firmes para repelirem todas as sugestões deste gênero, se não quiserem passar por cúmplices dessas maquinações”.

  1. O grupo não visa, atualmente, realizar qualquer tipo de “trabalho mediúnico”, o que, se um dia acontecer, demandará a criação de reuniões particulares e com os devidos cuidados para tanto.
  2. Pelo mesmo motivo acima, não vemos necessidade de sermos tão restritivos quanto às novas adesões, isto é, os novos aderentes não carecem de serem versados em Espiritismo, mas devem, de sua própria parte, fazerem estudos basilares necessários, quando não conhecerem a essência da Doutrina Espírita (que não é aquela adquirida pela leitura de romances). Recomendamos, para esse fim, ao menos a leitura das brochuras O que é o Espiritismo e Espiritismo em sua expressão mais simples.
  3. Nossas reuniões de estudo são transmitidas ao vivo no Youtube, ou são gravadas para posterior publicação nessa plataforma e em outras. Todo aquele que participar dos estudos deve estar ciente e de acordo com esse ponto fundamental.
  4. O Grupo faz uso do site https://www.geolegadodeallankardec.com.br e das plataformas virtuais diversas para divulgar o Espiritismo. Quem se sentir interessado em fazer parte disso, criando textos que possam auxiliar, devem contatar os administradores do Grupo.
  5. Todas as mídias digitais contam com outros colaboradores, igualmente colocados em função de administração, que possam cuidar do prosseguimento na eventual ausência, por tempo limitado ou indefinida, de minha parte.
  6. Tomaremos a liberdade de interromper qualquer áudio ou câmera que esteja atrapalhando a reunião.
  7. Ao participar da sala de reunião do Zoom, você está ciente que terá seu áudio e/ou vídeo compartilhados publicamente através da Internet (mais informações no formulário de inscrição, abaixo).
  8. O horário oficial de início dos estudos, com a transmissão via YouTube, é as 19:25.
  9. O período permitido para a entrada de participantes, na sala de espera (onde aprovaremos ou não sua entrada, segundo o preenchimento ou não do formulário abaixo) vai das 19:10 às 19:25. Depois disso, a permissão de entrada ficará exclusivamente sob critério dos anfitriões do grupo.
  10. A previsão de término da reunião é por volta de 20:40, às vezes se estendendo um pouquinho a mais.
  11. Antes de entrar, certifique-se de estar em ambiente favorável à participação, tanto visualmente quanto sonoramente, além de estar vestido adequadamente.
  12. De preferência, use um computador para a participação, onde será mais fácil interagir pelo chat do grupo.
  13. Por questões de organização, a reunião no Zoom e seus conteúdos didáticos são conduzidos por um integrante, que coordenará as participações de um e outro que desejem se expressar.
  14. Ao tomar a palavra, cuide para não estender demais o assunto para áreas que fujam do tema principal. Lembre-se: são 11 anos de Revista a abordar, dentre artigos acessórios e artigos fundamentais, muitas vezes com conteúdos intrinsecamente ligados entre edições diferentes, e, ainda por cima, junto aos conteúdos doutrinários complementares, tanto de Kardec, como de outros autores. Não queremos correr, mas não podemos perder tempo.
  15. Todos aqueles que desejem participar ativamente, questionando ou opinando sobre os artigos em pauta, devem observar a seguinte organização:

Fazer a leitura dos artigos relacionados ao tema ANTES da reunião de estudos. Isso permitirá que você sempre esteja a par dos assuntos, à medida que puderem ser abordados conforme o tempo disponível e a extensão de cada assunto. Reiteramos: a Revista Espírita, para estudos em grupo, não é algo que possa ser lido linha-a-linha, sem uma leitura prévia, já que muitos assuntos apresentam uma extensão formidável.

Sugestão:

  1. Dividir os assuntos do mês entre nós, onde cada um vai ficar especificamente responsável pela “apresentação” de um artigo. 
  2. Todos terão sua responsabilidade de buscar ler tudo. 
  3. No momento da reunião, o responsável vai destacar o que entendeu, os pontos de interesse, as dúvidas, pode fazer perguntas para estimular, etc. Assim a gente sai da leitura maçante
  4. Os estudos vistos como de atenção especial poderão ser vistos tb de maneira especial, com contribuição de todos, como foi o caso do remorso e como poderá ser o caso, talvez, da frenologia (RE60/jun)
  5. As evocações e as comunicações espontâneas, bem como os textos de importância especial, cremos que devem ser lidos na íntegra, mas, se estudados da forma proposta, trarão muito mais contribuições.

22. Não se desmotive caso precise se afastar por algum tempo ou caso não possa estar sempre presente. Isso acontece com todos. Continue os estudos de sua parte e volte assim que possível.

23. Reitero, por fim, o nosso objetivo de construção sobre o diálogo. Assim, nos ajude a estabelecer esse diálogo, utilizando as redes sociais para isso também.

Preencha o formulário seguinte com os dados necessários para sua admissão na reunião. Não aceitaremos entradas de pessoas não registradas.

Materiais para estudos

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1861 > Dezembro > Organização do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1868 > Dezembro > Constituição transitória do Espiritismo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Plano de campanha – Era nova – Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos — 1867 > Agosto > Dissertações espíritas > Os Espiões

O que é a Revista Espírita e como estudá-la? – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

Obras Recomendadas – Grupo de Estudos O Legado de Allan Kardec

O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

Andragogia

AUTONOMIA – A HISTÓRIA JAMAIS CONTADA DO ESPIRITISMO – Paulo Henrique de Figueiredo

Seminário: “Magnetismo” com Paulo Henrique Figueiredo

O Bem e o Mal, Castigos e Recompensas, Sombra e Luz – Paulo Henrique de Figueiredo – 1a Parte

Link para download de todos os PDFs das obras de Kardec:

Allan Kardec Brasil

Como pesquisar nos PDFs: https://www.youtube.com/watch?v=kgjdgIiHLJk

Contato (Paulo): Clique aqui.

Foto de Greta Hoffman : https://www.pexels.com/pt-br/foto/jardim-fazenda-sitio-chacara-7728883/




A mais dura comunicação mediúnica recebida por Kardec: Plano de campanha contra o Espiritismo

No dia 10 de novembro de 1867, pelo médium Sr. T…, Kardec recebeu uma comunicação muito séria, a respeito do papel dos inimigos na luta contra o Espiritismo. Reproduzimos o artigo abaixo, na íntegra, dada a sua importância para todos os seriamente interessados no Espiritismo, já que ela demonstra os artifícios do plano de campanha contra o Espiritismo.

Plano de campanha — Era nova — Considerações sobre o sonambulismo espontâneo

(Paris, 10 de novembro de 1867 — Médium: Sr. T… Em sono espontâneo)

NOTA: Nessa sessão, nenhuma pergunta prévia provocara o assunto que foi tratado. A princípio o médium se havia ocupado de saúde, depois, pouco a pouco, viu-se conduzido às reflexões cuja análise damos a seguir. Ele falou durante cerca de uma hora, sem interrupção.

Os progressos do Espiritismo causam aos seus inimigos um terror que eles não podem dissimular. No começo brincaram com as mesas girantes, sem pensar que acariciavam uma criança que devia crescer… A criança cresceu… então eles pressentiram o seu futuro e disseram para si mesmos que em breve estariam com a razão… Mas, como se costuma dizer, o menino tinha vida dura. Resistiu a todos os ataques, aos anátemas, às perseguições, mesmo às troças. Semelhante a certos grãos que o vento carrega, produziu inúmeros renovos… Para cada um que destruíam, surgiam cem outros.

A princípio empregaram contra ele as armas de outra época, as que outrora davam resultado contra as ideias novas, porque essas ideias eram apenas clarões esparsos que tinham dificuldade de vir à luz através da ignorância, e que ainda não tinham criado raízes nas massas… hoje é outra coisa; tudo mudou: os costumes, as ideias, o caráter, as crenças; a Humanidade não mais se emociona com as ameaças que amedrontam as crianças; o diabo, tão temido por nossos avós, já não mete medo: rimos dele.

Sim, as armas antigas entortaram-se na couraça do progresso. É como se, em nossos dias, um exército quisesse atacar uma praça-forte guarnecida de canhões, com as flechas, os aríetes e as catapultas dos nossos antepassados.

Os inimigos do Espiritismo viram, pela experiência, a inutilidade das armas carcomidas do passado contra a ideia regeneradora; longe de prejudicá-lo, seus esforços só serviam para dar-lhe autoridade.

Para lutar com vantagem contra as ideias do século, seria preciso estar à altura do século; às doutrinas progressistas seria necessário opor doutrinas ainda mais progressistas, pois mas o menos não pode vencer o mais.

Então, não podendo triunfar pela violência, recorreram à astúcia, a arma dos que têm consciência de sua fraqueza… De lobos, fizeram-se cordeiros, para se introduzirem no aprisco e aí semear a desordem, a divisão, a confusão. Porque chegaram a lançar a perturbação nalgumas fileiras, cedo de mais se julgaram senhores da praça. Nem por isto os adeptos isolados deixaram de continuar sua obra, e diariamente, a ideia abre o seu caminho sem muito alarido… Eles é que fizeram o alarido… Não a vedes perpassar tudo, nos jornais, nos livros, no teatro e mesmo na cátedra? Ela trabalha todas as consciências; ela arrasta os Espíritos para novos horizontes; é encontrada no estado de intuição mesmo naqueles que dela não ouviram falar. Eis um fato que ninguém pode negar e que a cada dia se torna mais evidente. Não é a prova de que a ideia é irresistível e que ela é um sinal dos tempos?

Aniquilá-lo é, pois, uma coisa impossível, porque seria preciso aniquilá-lo não num ponto, mas no mundo inteiro; e depois, as ideias não são levadas nas asas do vento? E como atingi-las? Pode-se pegar pacotes de mercadorias na alfândega, mas as ideias são intangíveis.

Que fazer, então? Tentar apoderar-se delas, para acomodá-las à sua vontade… Pois bem! É o partido pelo qual se decidiram. Disseram de si para si: O Espiritismo é o precursor de uma revolução moral inevitável; antes que ela se realize completamente, tratemos de desviá-la em nosso proveito; façamos de maneira que aconteça com ela como com certas revoluções políticas; desnaturando o seu espírito, poder-se-ia imprimir-lhe outro curso.

Assim, o plano de campanha está mudado… Vereis formarem-se reuniões espíritas cujo objetivo confessado será a defesa da Doutrina, e cujo objetivo secreto será a sua destruição; supostos médiuns que terão comunicações encomendadas, adequadas ao fim que se propõem; publicações que, sob o manto do Espiritismo, esforçar-se-ão para o demolir; doutrinas que lhe tomarão algumas ideias, mas com o pensamento de suplantá-lo. Eis a luta, a verdadeira luta que ele terá de sustentar, e que será perseguida encarniçadamente, mas da qual ele sairá vitorioso e mais forte.

Que podem os homens contra a vontade de Deus? É possível desconhecê-la ante o que se passa? Seu dedo não é visível nesse progresso que desafia todos os ataques, nesses fenômenos que surgem de todos os lados como um protesto, como um desmentido dado a todas as negações?… A vida dos homens, a sorte da Humanidade não está em suas mãos?… Cegos!… Eles não contam com a nova geração que se ergue e que diariamente supera a geração que se vai… Ainda alguns anos e esta terá desaparecido, não deixando depois de si senão a lembrança de suas tentativas insensatas para deter o impulso do espírito humano, que avança a despeito de tudo… Eles não contam com os acontecimentos que vão apressar o desabrochar do novo período humanitário… com apoios que se vão erguer em favor da nova doutrina cuja voz poderosa imporá silêncio aos seus detratores por sua autoridade.

Oh! Como estará mudada a face do mundo para aqueles que virem o começo do próximo século!… Quanta ruína eles verão em sua retaguarda, e que esplêndidos horizontes abrir-se-ão à sua frente!… Será como a aurora afugentando as sombras da noite… Aos ruídos, aos tumultos, aos rugidos da tempestade sucederão cantos de alegria; depois das angústias, os homens renascerão para a esperança… Sim! O século XX será um século abençoado, porque verá a era nova anunciada pelo Cristo.

NOTA: Aqui o médium para, dominado por indizível emoção, e como que esgotado de fadiga. Após alguns minutos de repouso, durante os quais parece voltar ao grau de sonambulismo ordinário, ele retoma:

─ O que eu vos dizia eu então? ─ Vós nos faláveis do novo plano de campanha dos adversários do Espiritismo; depois falastes da era nova. ─ Continuo.

Enquanto esperam, disputam o terreno palmo a palmo. Eles renunciaram pouco mais ou menos às armas de outros tempos, cuja ineficácia reconheceram; agora ensaiam as que são onipotentes neste século de egoísmo, de orgulho e de cupidez: o ouro, a sedução do amor-próprio. Junto aos que são inacessíveis ao medo, exploram a vaidade, as necessidades terrenas. Aquele que resistiu à ameaça, às vezes dá ouvidos complacentes à adulação, ao gosto do bem-estar material… Prometem pão ao que o não o tem; trabalho ao artesão; freguesia ao negociante; promoção ao empregado; honras aos ambiciosos, se renunciarem às suas crenças. Ferem-no em sua posição, em seus meios de existência, em suas afeições, se forem indóceis; depois, a miragem do ouro produz sobre alguns o seu efeito ordinário. Entre esses encontram-se, necessariamente, alguns caracteres fracos que sucumbem à tentação. Há os que caem na armadilha de boa-fé, porque a mão que os manobra se esconde… Há também, e muitos, que cedem à dura necessidade, mas que não pensam menos nisso; sua renúncia é apenas aparente; eles se vergam, mas para se erguerem na primeira ocasião… Outros, aqueles que no mais alto grau têm a verdadeira coragem da fé, enfrentam o perigo resolutamente; esses vencem sempre, porque são sustentados pelos bons Espíritos… Alguns, ah!… mas estes jamais foram espíritas de coração… preferem o ouro da Terra ao ouro do Céu; eles ficam, pela forma, ligados à doutrina, e sob esse manto, apenas servem melhor à causa de seus inimigos… É uma triste troca que eles fazem, e que pagarão bem caro!

Nos tempos de cruéis provas que ides atravessar, felizes aqueles sobre os quais se estender a proteção dos bons Espíritos, porque jamais ela foi tão necessária!… Orai pelos irmãos desgarrados, a fim de que aproveitem os curtos instantes de moratória que lhes são concedidos, antes que a justiça do Altíssimo pese sobre eles… Quando eles virem rebentar a tempestade, mais de um pedirá graça!… Mas lhes será respondido: Que fizestes dos nossos ensinamentos? Como médiuns, não escrevestes centenas de vezes a vossa própria condenação?… Tivestes a luz e não a aproveitastes! Nós vos tínhamos dado um abrigo; por que o abandonastes? Sofrei, pois, a sorte daqueles que preferistes. Se vosso coração tivesse sido tocado por nossas palavras, teríeis ficado firmes no caminho do bem que vos era traçado; se tivésseis tido fé, teríeis resistido às seduções estendidas ao vosso amor-próprio e à vossa vaidade. Então acreditastes poder no-las impor, como aos homens, por falsas aparências? Sabei, se duvidastes, que não há um só movimento da alma que não tenha seu contragolpe no mundo dos Espíritos.

Credes que seja por nada que se desenvolve a faculdade da vidência em tão grande número de pessoas? Que seja para oferecer um alimento à curiosidade que hoje tantos médiuns adormecem espontaneamente em sono de êxtase? Não. Desenganei-vos. Esta faculdade, que há tanto tempo vos é anunciada, é um sinal característico dos tempos que são chegados; é um prelúdio da transformação, porque, como vos foi dito, este deve ser um dos atributos da nova geração. Essa geração, mais depurada moralmente, sê-lo-á também fisicamente. A mediunidade, sob todas as formas, será mais ou menos geral, e a comunhão com os Espíritos um estado, por assim dizer, normal.

Deus envia a faculdade de vidência nesses momentos de crise e de transição, para dar aos seus fiéis servidores um meio de frustrar a trama de seus inimigos, porque os maus pensamentos que eles julgam escondidos na sombra dos refolhos da consciência, repercutem nessas almas sensíveis como num Espelho, e se desvelam por si mesmos. Aquele que só emite bons pensamentos não teme que os conheçam.

Feliz aquele que pode dizer: Lede em minha alma como num livro aberto.

OBSERVAÇÃO: O sonambulismo espontâneo, do qual já falamos, não é, com efeito, senão uma forma de mediunidade vidente, cujo desenvolvimento era anunciado há já algum tempo, assim como o aparecimento de novas aptidões mediúnicas. É notável que em todos os momentos de crise geral ou de perseguição, as pessoas dotadas dessa faculdade são mais numerosas do que nos tempos normais. Houve muitos no momento da revolução; os Calvinistas das Cévènes, perseguidos como animais selvagens, tinham numerosos videntes que os advertiam do que se passava ao longe; por este fato, e por ironia, eram qualificados de iluminados; hoje começa-se a compreender que a visão à distância e independente dos órgãos da visão pode bem ser um dos atributos da natureza humana, e o Espiritismo a explica pela faculdade expansiva e pelas propriedades da alma. Os fatos deste gênero de tal modo se multiplicaram, que já nos admiramos menos; o que outrora a alguns parecia milagre ou sortilégio é hoje considerado como efeito natural. É uma das mil vias pelas quais penetra o Espiritismo, de sorte que, se estancam uma fonte, ele ressurge por outros caminhos.

Então, esta faculdade não é nova, mas ela tende a se generalizar, sem dúvida pelo motivo indicado na comunicação acima, mas também como meio de provar aos incrédulos a existência do princípio espiritual. No dizer dos Espíritos, ela se tornaria mesmo endêmica, o que naturalmente se explicaria pela transformação moral da Humanidade, transformação que deverá produzir no organismo modificações que facilitarão a expansão da alma.

Como outras faculdades mediúnicas, esta pode ser explorada pelo charlatanismo. Assim, é bom manter-se em guarda contra a charlatanice que, por um motivo qualquer, poderia tentar simulá-la e, por todos os meios possíveis, assegurar-se a boa-fé dos que dizem possuí-la. Além do desinteresse material e moral e da honorabilidade notória da pessoa, que são as primeiras garantias, convém observar com cuidado as condições e as circunstâncias nas quais se produz o fenômeno e ver se nada oferecem de suspeito.




O livro A Gênese, de Allan Kardec, foi mesmo adulterado?

Há poucos dias, no canal Grupo Espírita Educare, foi publicado um vídeo muito bem elaborado, por sinal, feito com muito esmero e de aparência estética de fazer inveja. Esse vídeo, intitulado “O LIVRO “A GÊNESE” FOI MESMO ADULTERADO?”, traz, a despeito de tanto esmero, informações pela metade, deixando de lado detalhes tão indispensáveis para a legítima discussão do caso sobre a obra derradeira de Allan Kardec.

No vídeo, citam o seguinte trecho de uma psicografia a Kardec, a respeito das alterações que ele desejava produzir em A Gênese:

“Permita-me alguns conselhos pessoais sobre a sua obra A Gênese. Penso, como você, que ela deve sofrer certas modificações que a farão ganhar valor sob o aspecto metódico; […] esta revisão é um trabalho sério, e peço que você não espere muito para realizá-la.”

Há, porém, algo substancial, existente nesse trecho por eles omitido (nas reticências entre colchetes) e que leva, não por acaso, o espectador a uma conclusão errada: a recomendação, repetida, do Espírito comunicante para que Kardec nada removesse no que concerne à Doutrina e às ideias que apareciam pela primeira vez:

Conselhos sobre A Gênese

22 de fevereiro de 1868.
Médium M. Desliens.

Permita-me alguns conselhos pessoais sobre o seu livro A Gênese. Eu acho que, como você faz, ele deve passar por um rearranjo que o fará ganhar valor em termos metódicos; mas também lhe aconselho a rever certas comparações dos primeiros capítulos, que, sem serem imprecisas, podem ser ambíguas, e que podem ser usadas contra você no arremate das palavras. Não quero indicá-los de uma maneira mais especial, mas, analisando cuidadosamente o segundo e terceiro capítulos, eles certamente o surpreenderão. Nós cuidamos da sua pesquisa. É apenas uma questão de detalhe, sem dúvida, mas os detalhes às vezes têm sua importância; é por isso que achei útil chamar sua atenção para esse lado.

Pergunta. Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Resposta. Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos; mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza.

Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é o terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes. É um trabalho sério para esta revisão, e peço-lhe que não espere demasiado tarde para o fazer, é melhor que esteja preparado antes da hora do que se tivesse que esperar depois de si.
Acima de tudo, não se apresse. Apesar da aparente contradição das minhas palavras, você me entende sem dúvida. Comece a trabalhar prontamente, mas não fique por muito tempo. Tome seu tempo; as ideias serão mais claras e o corpo ganhará menos fadiga.

Você pode baixar o conteúdo original dessa carta clicando aqui.

Kardec contrariou os sábios conselhos do Espírito?

Ora, a adulteração de A Gênese produziu justamente isso: removeu trechos importantes, que comprometem o entendimento, deixando de fora ideias doutrinárias e conduzindo o leitor a um entendimento, por vezes, contrário ao da versão anterior – o mesmo que fizeram com a adulteração de O Céu e o Inferno.

Cita Henri Netto, no artigo “À procura da dúvida: onde está a verdade?”:

Os textos “novos”, ainda que pareçam ser verdadeiros (porque as mãos inteligentes que mexeram nas edições, postumamente, pinçaram textos contidos nos fascículos da “Revue Spirite” (publicada de janeiro de 1858 a abril de 1869, pelo próprio Kardec), buscaram, quando em conjunto às demais, sem lastro em qualquer publicação de Kardec, a “aparência de verdade”. Há trechos absurdos que contrariam não só outras teses apresentadas e reforçadas por Kardec ao longo de sua produção literária, coerente e sequencial, mas, também, o próprio corpo doutrinário (princípios e fundamentos). A maior delas, sem sombra de dúvida, foi criar uma dúvida, que não existia na versão original (primeira a quarta edições de “A Gênese”), sobre a natureza física, material do corpo de Jesus. Neste sentido, a eliminação do item 67, do Capitulo XV, da obra citada, e a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Cita também Paulo Henrique de Figueiredo em “Autonomia”:

Há uma questão inicial de Allan Kardec, bastante objetiva:

– Na reimpressão que vamos fazer, gostaria de acrescentar algumas coisas, sem aumentar o volume. Você acha que existem partes que poderiam ser removidas sem inconveniência?

Ou seja, era de iniciativa de Allan Kardec fazer uma modificação em sua obra, mas qual? Ele desejava acrescentar mais algumas coisas! Não tirar. E desejava fazer isso sem aumentar o volume do livro. O motivo de sua pergunta a Demeure está em saber se seria possível fazer isso, segundo a visão do Espírito. E a resposta é bastante objetiva e determinante. Ele respondeu, por meio do médium, enquanto Kardec anotava na folha:

– Minha opinião é que não há absolutamente nada para tirar como doutrina; tudo é útil e satisfatório em todos os aspectos. Mas também acredito que você poderia, sem inconveniência, condensar ainda mais certas ideias que não precisam de desenvolvimento para serem compreendidas, já tendo sido esboçadas em outro lugar; em seu trabalho de reorganização, você conseguirá isso facilmente.

Tirar alguma coisa? Nada quanto à Doutrina. Demeure foi bastante claro, mas ainda detalhou mais sua proposta:

Devemos deixar intactas todas as teorias que aparecem pela primeira vez aos olhos do público; não retire nada como ideias, repito, mas corte apenas, aqui e ali, desenvolvimentos que não acrescentam nada à clareza. Você será mais conciso, sem dúvida, mas igualmente compreensível, e é no terreno assim adquirido que você poderá ter que adicionar elementos novos e urgentes.

Definitivamente não é o que encontramos na versão adulterada da obra de 1872! Foram centenas de supressões. Palavras, frases, parágrafos e até partes inteiras foram retiradas, algumas alterando o sentido do restante do texto. Basta dizer que a teoria sobre a conquista progressiva do livre-arbítrio, após o Espírito elaborar a consciência de si mesmo durante centenas de vidas, foi retirada depois de cuidadosamente elaborada por Kardec durante muitos anos, na Revista Espírita, e finalmente apresentada na obra A Gênese. Antes, o instinto dominava sozinho, mas a inteligência começa a se desenvolver, e aos poucos o instinto se enfraquece, então escreveu originalmente Kardec: “Com a inteligência racional, nasce o livre-arbítrio que o homem usa à sua vontade: então somente, para ele, começa a responsabilidade de seus atos” (KARDEC, [1868] 2018, p. 100). Esse importante trecho, fundamental para a Teoria Moral Espírita, foi deliberadamente retirado, contra a vontade de Kardec e as recomendações dos Espíritos, fato que agora comprovamos! Nas páginas desta obra detalhamos diversas dessas infames e criminosas falsificações.

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo. Editora FEAL.

Não bastasse, há um extenso trabalho de pesquisa, produzido por Marco Milani, demonstrando o fato de que a adulteração removeu diversas ideias doutrinárias importantes, bem como adicionou ideias exíguas, comprometendo o entendimento da obra no conjunto e no detalhe:

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/03/alteracoes-ocorridas-no-cap-1-da-5-ed.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/05/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/09/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5_15.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/02/comentarios-sobre-as-alteracoes-do-cap.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2020/03/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5a.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/01/natureza-e-materia-nao-sao-sinonimos.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/09/comentarios-sobre-o-capitulo-xv-de.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2019/11/comentarios-sobre-as-alteracoes-da-5.html

https://educadorespirita1.blogspot.com/2018/12/inconsistencias-doutrinarias-da-5.html

Como fica provado, foram removidas diversas ideias doutrinárias, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado a essas questões.

Não se quer o diálogo para chegar à verdade, mas a imposição

Quando Leymarie criou o livro Obras Póstumas, inseriu nele a psicografia apresentada anteriormente, porém, adulterada, removendo justamente os conselhos do Espírito para que nada, no concerne à Doutrina, fosse removido. Tudo para dar crédito à sua versão a quinta edição de A Gênese foi mesmo produzida por Allan Kardec. Agora, no vídeo citado, o canal Grupo Espírita Educare faz o mesmo, mas não para por aí.

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique. Foi assim que, finalmente, ocultaram do público meus comentários feitos nesse vídeo:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois fui ocultado no canal. Aparentemente, não desejam dialogar sobre os fatos e as evidências, ditas por eles, “sumariamente desclassificadas”.

Vemos, portanto, que a peça de animação é apenas mais uma tentativa de conduzir o público à conclusão que eles desejam, mesmo que para isso tenham que omitir informações importantes e fazer afirmações rasas. Por nossa vez, depois de tanto incentivar o leitor ao estudo da obra O Legado de Allan Kardec, de Simoni Privato (link abaixo), só podemos desejar que cada um chegue às suas próprias conclusões, frente aos fatos e às evidências, que existem de sobra, a despeito da falácia do grupo CSI do Espiritismo de que todos os argumentos contrários teriam sido derrubados (sic).

Live: Gênese Adulterada – análise doutrinária das alterações entre as edições




O canal Mesa Girante e as adulterações em O Céu e o Inferno

Recentemente o canal Mesa Girante, no Youtube, produziu um vídeo onde aborda outro vídeo, de Paulo Henrique de Figueiredo, falando sobre a obra “Nem Céu, Nem Inferno”, de cerca de 3 anos atrás. A obra trata do fato jurídico ((São fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.)) da adulteração de O Céu e o Inferno e do contexto da trama de traição ao redor de Kardec.

Nesse vídeo, o autor do canal Mesa Girante trata de, debochadamente, tentar invalidar a importância da obra por supostas precipitações de Paulo Henrique ao tratar do tema, no vídeo. Pergunto-me por que é que ele, o dono do canal Mesa Girante, não se dedicou primeiramente a ler essa obra, o que teria enriquecido demais o debate? Por que é que ele se concentrou apenas naquilo que lhe pareceu incongruente, pelas falas de Paulo Henrique, sem dar atenção aos demais pontos de relevância da obra? Digo isso porque eu mesmo o procurei, através dos comentários, para demonstrar que a adulteração de O Céu e o Inferno é o produto inquestionável dos dogmas roustainguistas, além do fato jurídico.

No dia seguinte, eu produzi um vídeo, sob efeito de uma irritação pela maneira como o tema foi abordado, com tom de deboche e sem nenhuma intenção de cooperação, e sim de competição, já que não foi procurar Paulo Henrique para conversar sobre as divergências de entendimentos. Esse vídeo, que eu produzi, eu resolvi apagar, pois acabei tratando com afetação um tema onde não deve haver absolutamente nada disso. Em lugar desse vídeo, gravei um novo, onde falo sobre o foco central da adulteração, como você pode ver ao final deste artigo.

Acontece, porém, que, assim que gravei, chegou ao meu conhecimento uma live com Lucas Sampaio, co-autor do livro Nem Céu, Nem Inferno, onde ele explica em detalhes todas as questões envolvidas nesse tema da adulteração. O conteúdo é muito explicativo por si só, de maneira que reproduzo abaixo o mesmo vídeo e aproveito para tecer comentários sobre seu conteúdo.

Comentários sobre a live do Lucas Sampaio

  • É fato jurídico as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra.
  • Kardec estava, sim, fazendo revisões nessas obras, preparando novas edições. Isso está registrado em cartas. Contudo, menos de um mês depois da carta onde cita o trabalho de tradução para o alemão, existe uma carta de Kardec para um amigo seu, dizendo que, por problemas de saúde, ele precisou suspender todas as atividades que não fossem estritamente necessárias.
  • Os Espíritos, evocados por Kardec, dizem que ele não deveria suprimir nada nas novas edições. Foi feito justamente o contrário nas edições publicadas após sua morte, com a supressão de pontos importantes nas obras.
  • A psicografia original, onde os Espíritos diziam a Kardec para não suprimir nada nas novas edições, foi adulterada por Leymarrie em Obras Póstumas, retirando justamente esse conselho, para dar credibilidade à 5a edição de A Gênese. Isso se deu após a denúncia de Henry Sausse.
  • Os negacionistas dos fatos jurídicos e das evidências de adulteração chegam a usar depoimentos de pessoas ligadas a Leymarie para sustentar suas teses.
  • É importantíssimo ler a obra O Legado de Allan Kardec, que traz diversas evidências sobre os fatos acerca da adulteração de A Gênese.
  • Fala-se em registros contábeis da Sociedade, assinados pela esposa de Kardec, três anos após sua morte, onde estariam registrados os custos de impressão de O Céu e o Inferno a fevereiro de 1869. Faz sentido fazer contabilidade de algo passado à criação da Sociedade Anônima (empresa)? Faz sentido confiar em documentos da Sociedade Anônima, a mesma que deu o golpe post-mortem em Kardec? Como veremos a seguir, os documentos oficiais mostram que a obra não foi impressa naquela data.
  • Foi encontrada, nos registros legais da Biblioteca Nacional, a declaração de impressor n. 8.584 com pedido de autorização do tipógrafo Rouge registrado em 9/7/1869 para imprimir 2.000 exemplares da mesma quarta edição de O Céu e o Inferno, conforme a página 294 do documento F/18(II)/128, mais de três meses após a desencarnação de Allan Kardec.
  • Na Revista Espírita de junho de 1869, foi publicado, pela Sociedade Anônima, o artigo de título “À venda em 1° de junho de 1869”, tratando da edição que ficou pronta somente em 19 do mês seguinte. E o aviso ainda explica:

Quarta edição de O Céu e o Inferno ou a justiça divina segundo o Espiritismo, contendo numerosos exemplos sobre a situação dos Espíritos no mundo espiritual e na Terra; 1 vol. in-12, preço: 3 fr. 50.

Observação – A parte doutrinária desta nova edição, inteiramente revista e corrigida por Allan Kardec, passou por modificações significativas. Alguns capítulos em particular foram inteiramente reformulados e consideravelmente aumentados.

(SOCIEDADE ANÔNIMA, [RE] 1869, jul., p. 224)

  • Tudo indica que Amelie, com mais de 70 anos, em luto, foi enganada pela Sociedade Anônima, e confiou no que diziam ou apresentavam a ela. Berthe Froppo menciona que ela acreditava que a S.A. iria vender os livro de Kardec a preços populares (e fizeram o contrário). A doce Gabi, como a chamava Kardec, entregou tudo, crendo que o melhor seria feito, pois não tinha um espírito de liderança. Foi afastada de qualquer papel de decisão da S.A. Foi, em suma, ludibriada. Não se opôs às novas edições, pois sabia que seu marido trabalhava sobre elas. Escolheu entregar à S.A. toda a obra de Kardec, pois pensava, seguindo os propósitos de Kardec, que o Espiritismo deveria ser de todos, e não mais centralizado em ninguém. Era a promessa da Sociedade, finalmente não cumprida.
  • Existe uma falta de vontade (e aqui eu reitero: inclusive pelo CSI do Espiritismo e do dono do canal Mesa Girante) em fazer um estudo cuidadoso e aplicado, inclusive comparativo. Não: fica-se girando apenas na superfície das afirmações e das negações simplórias, numa sanha de negar o que vemos estar óbvio aos nossos olhos.
  • As teses de negação não respeitam o fato jurídico; não se importam com os planos de Kardec para o futuro do Espiritismo; não se importam com os vários golpes sofridos por Kardec e pelo Espiritismo; não se importam com o golpe à unidade de método e de organização, necessárias à continuidade doutrinária; não fazem análises doutrinárias sobre o conteúdo anterior e as alterações; não se importam com o fato de a Sociedade Anônima haver incendiado um grande número de manuscritos de Kardec, após sua morte; não falam do verdadeiro complô sendo formado ao redor de Kardec, por Roustaing e seus seguidores; não trazem à luz os incontáveis fatos e evidências dos interesses contrários ao bem, por pessoas ao redor de Kardec.

    Não, e nem podem, pois dar atenção ao fato dos descalabros sofridos por Kardec e pelo Espiritismo seria alimentar os argumentos da adulteração, o que não seria do interesse deles. Pelo contrário: esforçam-se por colocar dúvida injustificável sobre pessoas como Berthe Froppo, amiga íntima do casal Kardec, que fez algumas graves denúncias contra Leymarie e a sociedade anônima! Não, para eles o testemunho de Froppo não vale, mas valem as alegações do adulterador, Leymarie, e sua esposa, além dos demais envolvidos, por interesse, em seus negócios espíritas!

  • O prefácio de A Gênese e a introdução do capítulo 8º de O Céu e o Inferno (3a edição) tratam justamente do método do Espiritismo, que o protege de se transformar em um sistema pessoal, o que incomodava sobremaneira Roustaing e Pezzani, seu amigo pessoal, que tinham suas próprias concepções do que deveria ser o Espiritismo. Será acaso que tanto um como outro foram removidos nas novas edições?
  • Os trechos removidos na adulteração de A Gênese denunciam exatamente como pensam e agem os inimigos da verdadeira ideia.
  • Cada um dos 25 itens do capítulo VIII de O Céu e o Inferno tinham fundamentação no restante da obra. Na 4a edição, adulterada, muitos itens perderam essa correspondência, conforme se demonstra em O Céu e o Inferno, da editora FEAL (clique aqui para baixar gratuitamente).

Live com Lucas Sampaio sobre as Adulterações nas obras de Kardec

Vídeo do meu canal falando sobre o vídeo do canal Mesa Girante




A mais forte evidência de adulteração de O Céu e o Inferno, de Allan Kardec

São fatos jurídicos incontestes as adulterações de A Gênese e O Céu e o Inferno, pela mera questão de terem sido lançadas edições, com alterações, após a morte do autor e sem o depósito legal – assim afirmam ao menos quatro operadores jurídicos especializados: Simoni Privato, Júlio Nogueira, Lucas Sampaio e Marcelo Henrique. Esse fato legal está acima de qualquer cogitação e, por conta disso, federações espíritas de outros países, em respeito à lei, voltaram à terceira edição da obra. Infelizmente, a Federação Espírita Brasileira, tendo muito a recapitular ao tomar essa atitude (já que os textos original de O Céu e o Inferno e A Gênese contraditam uma infinidade de erros que povoam a generalidade das publicações por ela editadas e impressas) ainda reluta contra esses fatos, baseando-se em argumentações de leigos em matéria de direito autoral.

Além do fato jurídico e do necessário respeito à lei, pelo estudo, acabamos de identificar mais uma evidência, talvez a mais determinante de todas, da adulteração de O Céu e o Inferno, obra de Allan Kardec, justamente na parte que exprimia a filosofia doutrinária em sua mais clara e pura face.

Em O Livro dos Espíritos, Kardec trata da questão dos Espíritos que escolheram sempre o caminho do bem (tratamos disso também no artigo “Reforma Íntima e Espiritismo“:

Existem Espíritos que sempre escolheram o caminho do bem

121. Por que é que alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal?

“Não têm eles o livre-arbítrio? Deus não criou Espíritos maus; criou-os simples e ignorantes, isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus, assim se tornaram por vontade própria.”

133. Têm necessidade de encarnação os Espíritos que desde o princípio seguiram o caminho do bem?

“Todos são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, conseguintemente sem mérito.”

a) — Mas, então, de que serve aos Espíritos terem seguido o caminho do bem, se isso não os isenta dos sofrimentos da vida corporal?

Chegam mais depressa ao fim. Ademais, as aflições da vida são muitas vezes a consequência da imperfeição do Espírito. Quanto menos imperfeições, tanto menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”

O Livro dos Espíritos. Grifos nossos.

Confirmados pelos Espíritos, existem aqueles que sempre escolheram o caminho do bem, o que não os livra da necessidade de encarnar, para seu desenvolvimento. Assim, não têm o que expiar, dado que a expiação é a escolha consciente de provas e oportunidades que lhes ajudem a desapegar de imperfeições conscientemente adquiridas (lembrando que errar, meramente, não é adquirir imperfeições, desde que o erro seja superado pelo aprendizado. O que gera imperfeições é a repetição consciente do erro).

Além disso, é mais que lógico que aquele que tenha superado, através da expiação, uma imperfeição adquirida, não tem mais o que expiar, exceto caso desenvolva novas imperfeições. Ainda assim, ele pode necessitar nascer em um planeta como a Terra, simplesmente porque suas necessidades atuais demandam ou porque escolha encarnar em missão. O próprio Jesus Cristo é o exemplo máximo desse último caso e, mesmo sendo um Espírito puro, ainda assim enfrentou as vicissitudes da matéria, sem ter nada o que expiar. Vejam aonde leva a admissão dessas falsas ideias: ao dogma de Espíritos criados à parte e que nunca estiveram, em realidade, entre nós (um dogma sustentado por Roustaing)!

Forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno

E aqui chegamos à mais forte evidência da adulteração de O Céu e O Inferno, que, na edição lançada após a morte de Kardec, introduziu dois itens no capítulo VIII (que se tornou capítulo VII):

9.º — Toda falta cometida, todo mal realizado, é uma dívida contraída que deve ser paga; se não o for numa existência, sê-lo-á na seguinte ou nas seguintes, porque todas as existências são solidárias umas das outras. Aquele que a quita na existência presente não terá de pagar uma segunda vez.

10.º — O Espírito sofre a pena de suas imperfeições, seja no mundo espiritual, seja no mundo corporal. Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas, seja na existência presente, seja nas precedentes.

O Céu e o Inferno, quarta edição. FEB. Grifos meus.

Esses dois itens, repito, não existiam na terceira edição da obra, lançada e impressa por Kardec em vida. Admitir que Kardec tenha incluído esses itens nessa edição, em especial o item 10, seria admitir que Kardec entrou em contradição com tudo o que havia desenvolvido até então.

Para dar suporte a essa falsa ideia, os seguintes parágrafos foram removidos na adulteração, no capítulo IX (antigo capítulo X):

Nos primeiros estágios de sua existência, os espíritos estão sujeitos à encarnação material, que é necessária ao seu desenvolvimento, até que tenham chegado a um certo grau. O número das encarnações é indeterminado, e subordina-se à rapidez do progresso, que ocorre na razão direta do trabalho e da boa vontade do espírito, que age sempre em função de seu livre-arbítrio. Aqueles que, por sua incúria, negligência, obstinação ou má vontade permanecem mais tempo nas classes inferiores, sofrem disso as consequências, e o hábito do mal dificulta-lhes a saída desse estado. Um dia, porém, cansam-se dessa existência penosa e dos sofrimentos daí decorrentes. É então que, ao comparar sua situação à dos bons espíritos, compreendem que seu interesse está no bem, procurando então melhorar-se, mas o fazem por vontade pró- pria, sem que a isso sejam forçados. Estão submetidos à lei do progresso por conta de sua aptidão a progredir, mas não o fazem contra a própria vontade. Fornece-lhes Deus incessantemente os meios de progredir, mas são livres para se aproveitarem destes ou não. Se o progresso fosse obrigatório, nenhum mérito os espíritos teriam, e Deus quer que tenham todos o mérito de suas obras, não privilegiando ninguém com o primeiro lugar, posto franqueado a todos, mas que o alcançam somente através dos próprios esforços. Os anjos mais elevados conquistaram sua posição percorrendo, como os demais, a rota comum. Todos, do topo à base, pertenceram ou pertencem ainda à humanidade.

Os homens são, assim, espíritos encarnados mais ou menos adiantados, e os espíritos são as almas dos homens que deixaram seu invólucro material. A vida espiritual é a vida normal do espírito. O corpo não é senão uma vestimenta temporária, apropriada às funções que devem exercer na Terra, tal como o guerreiro veste a armadura e a cota de malha para o momento do combate, delas despindo-se após a batalha, para eventualmente vesti-las de novo quando chegada a hora de uma nova luta. A vida corporal é o combate que os espíritos devem enfrentar para avançar, para o que se revestem dessa armadura que é para eles ao mesmo tempo um instrumento de ação, mas também um embaraço.

Ao encarnarem, os espíritos trazem suas qualidades inerentes. Os espíritos imperfeitos constituem, portanto, os homens imperfeitos; aqueles mais adiantados, bons, inteligentes, instruídos, são os homens instintivamente bons, inteligentes e aptos a adquirir com facilidade novos conhecimentos. Da mesma forma, os homens, ao morrer, fornecem ao mundo espiritual espíritos bons ou maus, adiantados ou atrasados. O mundo corporal e o mundo espiritual suprem-se assim constantemente um ao outro.

Entre os maus espíritos há os que têm toda a perversidade dos demônios, aos quais pode-se aplicar perfeitamente a imagem que se faz desses últimos. Quando encarnados, constituem os homens perversos e astuciosos que se comprazem no mal, parecendo criados para a desgraça de todos os que são atraídos para sua intimidade, e dos quais pode-se dizer – sem que isso constitua ofensa – que são demônios encarnados.

Tendo alcançado um certo grau de purificação, os espíritos recebem missões compatíveis com seu adiantamento, desempenhando dessa forma todas as funções atribuídas aos anjos de diferentes ordens. Como Deus criou desde sempre, também desde sempre houve espíritos suficientes para atender a todas as necessidades do governo do Universo. Uma só espécie de seres inteligentes, submetidos à lei do progresso, é, portanto, suficiente para tudo. Essa unidade na criação, juntamente à ideia de que todos têm uma mesma origem comum, o mesmo caminho para percorrer, e que se elevam todos por seu mérito próprio, corresponde muito melhor à justiça de Deus do que à criação de espécies diferentes, mais ou menos favorecidas por dons naturais, equivalentes a privilégios.

O Céu e o Inferno – Editora FEAL

Mais evidências da ideia original

Apresento, a seguir, mais alguns trechos da obra de Kardec que evidenciam o verdadeiro entendimento sobre o assunto (a encarnação não é resultado exclusivo da expiação):

“Segundo um sistema que tem algo de especioso à primeira vista, os Espíritos não teriam sido criados para se encarnarem e a encarnação não seria senão o resultado de sua falta. Tal sistema cai pela mera consideração de que se nenhum Espírito tivesse falido, não haveria homens na Terra, nem em outros mundos. Ora, como a presença do homem é necessária para o melhoramento material dos mundos; como ele concorre por sua inteligência e sua atividade para a obra geral, ele é uma das engrenagens essenciais da Criação. Deus não podia subordinar a realização desta parte de sua obra à queda eventual de suas criaturas, a menos que contasse para tanto com um número sempre suficiente de culpados para fornecer operários aos mundos criados e por criar. O bom-senso repele tal ideia.”

KARDEC. Revista espírita — 1863 > junho > Do príncipio da não-retrogradação do Espírito. Grifos nossos.

Nesse artigo, nesse trecho, Kardec está evidentemente refutando, de maneira firme, a mesma ideia transmitida nos Quatro Evangelhos de Roustaing (que somente seria lançado em 1865), de que a encarnação se daria apenas para expiação, isto é, quando o Espírito é “culpado”:

A ideia da encarnação como castigo, dissemos, é uma ideia totalmente ligada aos dogmas de Roustaing:

N. 59. Que é o que devemos pensar da opinião que se formula assim: “Do mesmo modo que, para o Espírito em estado de formação, a materialização nos reinos mineral e vegetal e nas espécies intermediárias e igualmente a encarnação no reino animal e nas espécies intermediárias é uma necessidade e não um castigo resultante de falta cometida, também, para o Espírito formado, que já tem inteligência independente, consciência de suas faculdades, consciência e liberdade de seus atos, livre arbítrio e que se encontra no estado de inocência e ignorância, a encarnação, primeiro, em terras primitivas, depois, nos mundos inferiores e superiores, até que haja atingido a perfeição, é uma necessidade e não um castigo”?

Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa.

O Espírito não é humanizado, também já o explicamos, antes que a primeira falta o tenha sujeitado à encarnação humana. Só então ele é preparado, como igualmente já o mostramos, para lhe sofrer as conseqüências.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I

É fácil observar a semelhança dessa ideia com aquele introduzida na 4a edição de O Céu e o Inferno: a de que a encarnação somente se dá quando o Espírito é culpado de um erro anterior.

Continuemos com as evidências da ideia original de Kardec e da Doutrina:

132. Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?

“Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação […]

O Livro dos Espíritos

Para uns, é expiação; para outros, missão. “Para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação“, ou seja, a expiação, tratada no meio religoso como um processo de remissão de pecados pelos castigos divino, aqui, para o Espiritismo, é apenas o processo de aprendizado e de desenvolvimento do Espírito.

Contudo, a fatalidade não é uma palavra vã. Existe na posição que o homem ocupa na Terra e nas funções que aí desempenha, em conseqüência do gênero de vida que seu Espírito escolheu como prova, expiação ou missão. Ele sofre fatalmente todas as vicissitudes dessa existência e todas as tendências boas ou más, que lhe são inerentes.

O Livro dos Espíritos

O Espírito sofre as vicissitudes da exisência escolhida pelo Espírito, como prova, expiação ou missão.

  1. É um castigo a encarnação e somente os Espíritos culpados estão sujeitos a sofrê-la?

A passagem dos Espíritos pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária, a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma preferência, uma injustiça. Mas, a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do livre-arbítrio. Os que desempenham com zelo essa tarefa transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros graus da iniciação e mais cedo gozam do fruto de seus labores. Os que, ao contrário, usam mal da liberdade que Deus lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem, podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação, caso em que ela se lhes torna um castigo. — S. Luís. (Paris, 1859.)

KARDEC. O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo IV — Ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo > Instruções dos Espíritos. > Necessidades da encarnação. > 25. Grifos nossos.

Evidentemente, os Espíritos demonstram que a encarnação é necessária a todos, de maneira que, enquanto se desenvolvem, fazem sua parte na Criação.

Os exemplos de castigos imediatos são menos raros do que se crê. Se se remontasse à fonte de todas as vicissitudes da vida, ver-se-ia aí, quase sempre, a conseqüência natural de alguma falta cometida. O homem recebe, a cada instante, terríveis lições das quais infelizmente bem pouco aproveita.

Revista Espírita, 1864

Quase sempre as fontes de todas as vicissitudes da vida remontam à consequencia natural de alguma falta cometida.

[O homem de bem] Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas a decepções, são provas ou expiações, e as aceita sem murmurar.

O Evangelho Segundo o Espiritismo

Todas as vicissitudes da vida são provas ou expiações. Prova: tudo aquilo que nos serve ao aprendizado, todas as dificuldades da vida. Expiação: certos gêneros de provas, escolhidas para o exercício de desapego de uma imperfeição adquirida.

“Esta pergunta dos discípulos “É o pecado deste homem a causa de nascer cego” indica a intuição de uma existência anterior. Caso contrário, não teria sentido, porque o pecado que seria a causa de uma enfermidade de nascença deveria ter sido cometido antes do nascimento e, por consequência, em uma existência anterior. Se Jesus tivesse visto aí uma ideia falsa ele teria dito: “Como esse homem teria podido pecar antes de estar entre nós?” Em lugar disso ele lhes disse que, se o homem é cego, não significa que tenha pecado, mas, a fim de que o poder de Deus brilhe nele; é como dizer que ele devia ser o instrumento de uma manifestação do poder de Deus. Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso, porque Deus, que é justo, não poderia lhe impor um sofrimento sem compensação.”

KARDEC, Allan. A Gênese. 4a edição. “Cego de Nascença”. Grifos nossos.

Nesse trecho, onde Kardec trata da cura da cegueira, feita por Jesus, ele faz a seguinte observação: “Se isso não era uma expiação do passado, é uma prova de que devia servir a seu progresso“. Ora, isso quer dizer que, para ele, e de acordo com o Espiritismo, as vicissitudes não se dão apenas como expiação, mas também como ferramenta de aprendizado. Esse trecho consta inclusive da 5a edição de A Gênese (a edição adulterada), e Kardec não pode ter se contradito em suas ideias em cada uma das obras. Esse não é o Kardec que conhecemos.

Motivo da adulteração

Todo aquele que está investigando o assunto seriamente, e que investigou também a adulteração de A Gênese, perceberá algo em comum entre as duas adulterações: o princípio do dogma da encarnação como o resultado do castigo pelo pecado – dogma fortemente limitador e aprisionante, repercutido por Roustaing e ensinado pelos Espíritos mistificadores que com ele se comunicavam, através da médium Emilie Collignon. Contra a sua teoria, existe um simples detalhe: Jesus.

Jesus, o Espírito mais evoluído que já encarnou entre nós, não tinha nada a “pagar”, posto que era Espírito puro. Como resolver esse problema? Dizendo que Jesus não encarnou, mas que, em verdade, foi um agênere, isto é, um Espírito materializado, que simplesmente nos enganou ao longo de sua trajetória.

O ponto é que, em O Céu e o Inferno, foram removidas as ideias doutrinárias que demonstravam a encarnação como necessária a todos, bons e maus, e foi acrescentada a ideia de que tudo o que passamos é fruto de expiações de erros de vidas passadas (item 10, cap. 7, Código Penal da Vida Futura); já na adulteração de A Gênese, não por acaso, o item 67 do capítulo XV foi removido, e, como demonstra Henri Netto,

[…] a renumeração do item 68 como se fosse o 67, oculta a apreciação lógica (ainda que em termos de suposições) sobre o destino do envoltório corporal de Yeshua, após o seu sepultamento. Qual seria a razão de Kardec, depois de repelir a tese docetista (“corpo fluídico” de Jesus), e afirmar a sua natureza humana, para suprimir suas judiciosas considerações acerca do tema?

NETTO, Henri. À procura da dúvida: onde está a verdade? Publicado no site Espiritismo com Kardec – ECK, em 24/12/2023. Disponível em comkardec.net.br/a-procura-da-duvida-onde-esta-a-verdade-por-henri-netto

Ou seja: em A Gênese, para dar suporte às adulterações de O Céu e o Inferno, atacou-se a ideia que demonstra, pelo exemplo inequívoco, que a encarnação não serve apenas para expiação (acrescentando-se aqui que expiação é o ato consciente da escolha de provas visando o retorno ao bem, para os Espíritos que, em minoria, escolheram o apego ao erro e, assim, desenvolveram imperfeições). Removeu-se uma ideia doutrinária, ainda que a recomendação do Espírito, que se comunicou a Kardec sobre o assunto da nova edição, tenha sido de não remover absolutamente nada que fosse relacionado às ideias doutrinárias.

Conclusão

De duas, uma: ou Kardec fez essa alteração, ou ele não fez essa alteração. Se ele mesmo fez essa alteração, então contradisse todo seu entendimento anterior e, além disso, demonstra um estado de saúde mental alterado, já que contradisse essa ideia n’A Gênese, inclusive em sua quinta edição, como demonstramos acima.

Ora, sabendo que Kardec deixa muito claro seu entendimento de que a encarnação não pode ser resultado exclusivo da expiação e conhecendo seu estado de saúde mental sadio, até o dia de sua morte, podemos chegar a apenas uma conclusão: essa obra foi adulterada.

A alteração é muito clara: “Todas as misérias, todas as vicissitudes que suportamos na vida corporal são decorrentes de nossas imperfeições, expiações de faltas cometidas”. Isso é claramente a ideia de Roustaing, e a essência desse capítulo foi perdida com a alteração, para implantar os mesmos dogmas que esse senhor aceitava e defendia:

“Não; a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo, já o dissemos. E o castigo não pode preceder a culpa”.

ROUSTAING, Jean B. Quatro Evangelhos, Tomo I, item 59

Muitos dirão, ainda, que o item 16 do cap. VII de O Céu e o Inferno (a versão adulterada) encerra o mesmo princípio removido do item 8, original:

16.º — O arrependimento é o primeiro passo para o aperfeiçoamento; mas sozinho não basta; são precisas ainda a expiação e a reparação.

Arrependimento, expiação e reparação são as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências.

O arrependimento suaviza as dores da expiação, dando esperança e preparando as vias da reabilitação; mas somente a reparação pode anular o efeito, destruindo a causa; o perdão seria uma graça e não uma anulação.

Contudo, perguntamos: em que se torna a arrependimento, a expiação e a reparação, quando submetidas às ideias inseridas pelas adulterações, senão no cumprimento de uma sentença ou de um castigo? Em que se torna o erro, parte do aprendizado, senão em uma condenação? E, vendo sob esse ângulo, perguntamos: o indivíduo que é levado a pensar dessa maneira, como age ante à vida? Age austeramente, buscando superar o erro, ou, crendo-se condenado, se submete à inação ou, pior, descamba por mais erros ainda? E ante ao próximo, que sofre as vicissitudes da vida? Vê nele um irmão que requer o nosso apoio, um ser capaz de superar suas dificuldades pelo aprendizado, ou vê nele mais um condenado, sobre o qual nada se pode fazer, já que cumpre sua sentença? Finalmente: tudo isso leva ao estado de cooperação, em busca do progresso, ou leva ao materialismo e ao egoísmo?

São perguntas que cada um se deve fazer, de posse do conhecimento que, para mim, demorou três anos para ser clarificado e estabelecido. Quem sabe, com tudo isso, eu possa ajudar a diminuir esse tempo para você.

Inimigos do bem se esforçam por retardá-lo

É muito evidente que o capítulo mais importante de O Céu e o Inferno, justamente aquele que continha a essência da filosofia doutrinária, foi propositadamente adulterado. As ideias originalmente estabelecidas foram completamente remodeladas segundo dogmas ligados à ideia da queda pelo pecado, atrasando, por mais de 150 anos, o desenvolvimento do Espiritismo na face da Terra. Chega. Agora é hora de recuperar e de estudar. Recomendamos a leitura das nossas Obras Recomendadas.

Os esforços daqueles que tentam obter o domínio da verdade estão ligados às concepções de velho mundo. São Espíritos ainda incapazes de compreender a essência do Espiritismo e que, conscientemente ou não, lutam contra suas ideias de autonomia e de liberdade. Como diria Kardec, deixemos que o tempo se encarregue deles.

Dizem eles terem provado sumariamente a não adulteração e, assim, refutado todas as evidências em contrário. Assim sendo, peço a esses indivíduos que expliquem essa alteração ilógica e contraditória a toda a doutrina.

Como agem os sacerdotes

Para Leymarie, os fatos e a discussão sobre eles não importavam. Para manter a sua versão, visava dominar a verdade com subterfúgios diversos. Tentava tomar domínio da opinião espírita e escondia tudo o que pudesse depor contra suas ideias. Assim agem, também, aqueles que contrariam os fatos da adulteração com o “canto de sereia”, como diria Marcelo Henrique.

Há poucos dias, comentei no vídeo ” O Livro A Gênese foi mesmo adulterado?”, publicado no canal Grupo Espírita Revelare, no Youtube:

Não por acaso, meus comentários não aparecem para mais ninguém, pois estou oculto no canal.




Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

O seguinte artigo contém os conteúdos gentilmente disponibilizados pelo Centro Espírita Nosso Lar – Casas André Luiz, e correspondem ao evento recentemente realizado por Paulo Henrique de Figueiredo sobre o tema em destaque.

A apresentação pode ser facilmente baixada através deste link e também pode ser ouvida em Podcast, cujo áudio disponibilizamos a seguir.


A seguir estão os tópicos da palestra, que podem ser verificados na apresentação disponibilizada e no áudio acima exposto.

ENCONTRO COM A CULTURA ESPÍRITA – Allan Kardec e a revolução moral da humanidade

Paulo Henrique de Figueiredo – 28 e 29 out 2023




O carma não existe: as leis da alma segundo o Espiritismo

Conforme a obra original de Allan Kardec, O Céu e o Inferno, antes da adulteração ((A obra original, da Editora FEAL, pode ser baixada clicando aqui )), as leis da alma são simples, lógicas e totalmente condizentes com a bondade divina. Não existe carma, lei do retorno, etc.

Resumidamente:

Felicidade e Infelicidade

Alegria, dor, prazer, medo, tristeza, são emoções geradas por reações fisiológicas. Bons e maus Espíritos passam por todas elas, de maneira que pode-se ser bom e estar triste ou mau e estar alegre.

Felicidade e infelicidade são condições do Espírito. Felicidade é estar no bem — única coisa existente na Criação Divina — correspondente a estar no estado de colaboração: aprender, auxiliar, ajudar, ensinar.

A caridade verdadeira, portanto, é fazer o bem por dever moral, sem esperar retorno nem tentar controlar o resultado. Por isso Kardec diz que o lema do Espiritismo seria “fora da caridade não há salvação”.

O problema é persistir no erro

No processo do desenvolvimento, errar faz parte, sendo oriundo da escolha, da tentativa. O problema é persistir no erro, por vontade.

Quando o indivíduo persiste no erro, por agradar suas falsas ideias, se afasta do bem. Surgem o orgulho, o egoísmo e todas as demais imperfeições deles oriundas. Nem todo mundo faz isso.

Ao repetir o erro, o indivíduo adquire uma imperfeição que nele se instala. Afastado do bem, onde existe a felicidade, torna-se infeliz, pois não pode encontrar satisfação. Pode estar alegre, distraído pelas coisas da matéria, mas não é feliz. Não raro, chega a cometer o sui…

É nesse estado que o mal existe, e apenas nele: para o indivíduo afastado do bem, ENQUANTO estiver afastado do bem.

A consciência: nosso único juiz e carrasco

A lei divina está gravada em nossa consciência (O Livro dos Espíritos, q. 621). O indivíduo fica nesse estado, sabendo que está errando, mas ignorando a consciência, por mais ou menos tempo, até que ela desperta por algum motivo.

Quando a consciência desperta, vem o remorso, a consciência de ter cometido o erro. Isso traz grande sofrimento moral e, pior ainda, quando se erra por vontade.

O sofrimento moral causado pelo remorso dura quanto tempo o Espírito se recusar ao arrependimento sincero. Pode durar séculos.

O arrependimento reconduz o Espírito à felicidade

Quando o Espírito se arrepende sinceramente, o sofrimento moral acaba e a felicidade ressurge com a vontade de retornar ao bem, com decisão. Chega a necessidade da reparação.

A reparação consiste na ESCOLHA de uma nova encarnação, com certas provas e oportunidades, visando superar a imperfeição criada pela própria vontade. Isso é a expiação, não sendo, portanto, um castigo divino.

Reparar não significa NECESSARIAMENTE renascer com suas vítimas, pois elas podem já estar muito longe, enquanto você ficou pra trás, apegado ao erro. Reparar é corrigir o desvio tomado, no esforço do desapego.

Dessa maneira, vemos que a autonomia e o livre-arbítrio são a única regra da lei divina. Tudo de acordo com nossas escolhas e nosso tempo, dentro da lei divina. Mas a Lei determina que todos alcançaremos a felicidade, sem exceção.

Ensinamentos de Jesus

Vemos, aí, a figura da parábola do filho pródigo: a despeito dos alertas do pai, o filho vai ao mundo dos prazeres. Perde tudo, entra no remorso, sofre, se arrepende e, então, volta ao lar, humilhado…

Seu pai o recebe não com um castigo, mas de braços abertos, E AINDA DÁ UMA FESTA, para então RETOMAR O TRABALHO. Seu filho já teve a punição, causada por sua própria consciência, verdadeiro juiz e carrasco de nós mesmos.

Jesus sempre demonstrou um Deus de amor pleno, e não um Deus de vingança. Foi assim com o ladrão pregado na cruz ao lado, foi assim com a mulher adúltera e com tantos outros…

O Espiritismo, como resultado da ciência espírita, apenas reforça o que Jesus já demonstrava: não existe carma, não existe um Deus punitivo. A punição é feita pelo próprio indivíduo, por decidir se afastar do bem.

O verdadeiro Espiritismo não ensina carma, não julga o passado do indivíduo com base nos seus sofrimentos físicos presentes, não afirma que o sofrimento físico seja merecimento ou resgate de débitos.

Livros Recomendados

– O Céu e o Inferno, da editora FEAL (edição não adulterada – link na bio)

– Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Herinque de Figueiredo

– Nem Céu, Nem Inferno: as leis da alma segundo o Espiritismo, de Paulo Herinque de Figueiredo e Lucas Sampaio


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Enchentes no Rio Grande do Sul: resgate coletivo? Débitos de outras vidas? Carma? O que diz o Espiritismo?

Mais uma vez, com certa inquietação, nos vemos obrigados a vir a público defender as vítimas desses desastres e suas famílias, bem como o Espiritismo, dos verdadeiros absurdos proferidos por certas bocas irresponsáveis. Desta vez, não escaparam as vítimas desse terrível desastre relacionado às enchentes no Rio Grande do Sul:

Ou seja: a ideia, para esses indivíduos descuidados, é que as pessoas que perderam suas vidas ou que sofreram os efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul, seriam Espíritos culpados, envolvidos com a Guerra dos Farrapos e que, agora, estariam “pagando seus débitos” através desse sofrimento. Terrível pensamento, ausente de caridade, de lógica e de racionalidade, proferido por indivíduos muito carentes do verdadeiro conhecimento do Espiritismo! Esquecem, eles, que muitos dos soldados envolvidos em todas as batalhas sequer queriam estar lá? Que foram obrigados a matar para não morrer?

Já falamos diversas vezes sobre o tema, direcionando o presado leitor à apreciação dos artigos seguintes:

Limitamo-nos, aqui, a reforçar que faz parte de nosso estágio evolutivo, encarnados neste planeta, estarmos sujeitos às calamidades naturais, que acometem bons e maus, sem distinção, provocando mudanças, aprendizado, etc. e que, conforme demonstrado nos artigos citados, nossa relação com Deus não é de débito e crédito, erro e castigo, etc.

Cabe recuperar, aqui, as questões importantes e claras sobre o tema, conforme O Livro dos Espíritos:

737. Com que fim fere Deus a humanidade por meio de flagelos destruidores?

“Para fazê-la progredir mais depressa. Já não dissemos ser a destruição uma necessidade para a regeneração moral dos Espíritos, que, em cada nova existência, sobem um degrau na escala do aperfeiçoamento? Preciso é que se veja o objetivo, para que os resultados possam ser apreciados. Somente do vosso ponto de vista pessoal os apreciais; daí vem que os qualificais de flagelos, por efeito do prejuízo que vos causam. Essas subversões, porém, são frequentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos.” (744.)

738. Para conseguir a melhora da humanidade não podia Deus empregar outros meios, que não os flagelos destruidores?

“Sim, e os emprega diariamente, pois que deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e do mal. O homem, porém, não se aproveita desses meios. Necessário, portanto, se torna que seja castigado no seu orgulho e que se lhe faça sentir a sua fraqueza.”

a) — Mas nesses flagelos tanto sucumbe o homem de bem como o perverso. Será justo isso?

“Durante a vida, o homem tudo refere ao seu corpo; entretanto, de maneira diversa pensa depois da morte. Ora, conforme temos dito, a vida do corpo bem pouca coisa é. Um século no vosso mundo não passa de um relâmpago na eternidade. Logo, nada são os sofrimentos de alguns dias ou de alguns meses, de que tanto vos queixais. Representam um ensino que se vos dá e que vos servirá no futuro. Os Espíritos, que preexistem e sobrevivem a tudo, formam o mundo real (85). Esses os filhos de Deus e o objeto de toda a sua solicitude. Os corpos são meros disfarces com que eles aparecem no mundo. Por ocasião das grandes calamidades que dizimam os homens, o espetáculo é semelhante ao de um exército cujos soldados, durante a guerra, ficassem com seus uniformes estragados, rotos, ou perdidos. O general se preocupa mais com seus soldados do que com os uniformes deles.”

b) — Mas nem por isso as vítimas desses flagelos deixam de o ser.

“Se considerásseis a vida qual ela é, e quão pouca coisa representa com relação ao infinito, menos importância daríeis a isso. Em outra vida, essas vítimas acharão ampla compensação aos seus sofrimentos, se souberem suportá-los sem murmurar.”

Venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida. A única diferença, em caso de flagelo, é que maior número parte ao mesmo tempo.

Se, pelo pensamento, pudéssemos elevar-nos de maneira a contemplar toda a humanidade e abrangê-la em seu conjunto, esses tão terríveis flagelos não nos pareceriam mais do que passageiras tempestades no destino do mundo.

739. Têm os flagelos destruidores utilidade do ponto de vista físico, não obstante os males que ocasionam?

“Têm; mudam, por vezes, as condições de uma região. Mas em muitos casos o bem que deles resulta só as gerações vindouras o experimentam.”

740. Não serão os flagelos, igualmente, provas morais para o homem, provas que os põem a braços com as mais aflitivas necessidades?

“Os flagelos são provas que dão ao homem ocasião de exercitar a sua inteligência, de demonstrar sua paciência e resignação ante a vontade de Deus, e que lhe oferecem ensejo de manifestar seus sentimentos de abnegação, de desinteresse e de amor ao próximo, se não estiver dominado pelo egoísmo.”

Voltamos a reforçar: o Espiritismo demonstra que não existe carma, lei do retorno, Deus punitivo, etc. Oferecemos nossas preces por todas as vítimas dessas tragédias, declaramos nossa perplexidade ante aqueles que estão deliberadamente dificultando o trabalho de salvamento, realizado pelos cidadãos, e pedimos a Deus que possa iluminar o pensamento desses que zombam da tragédia ou desejam o mal para os outros, pois o caminho de retorno ao bem lhes será custoso.

Nossos sinceros sentimentos às vítimas fatais das enchentes no Rio Grande do Sul e àqueles que tudo perderam. Que não percam de vista, jamais, o que seja o verdadeiro bem, cuja face temos visto nas atitudes dos cidadãos ali atuando.




O Duplo Conceito do Bem e do Mal

Este artigo O Duplo Conceito do Bem e do Mal é continuação do artigo A Verdade que Liberta

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O duplo conceito do bem e o mal é uma ideia falsa: fazer o que é certo considera-se agir no bem, enquanto errar é visto como agir no mal. Consequentemente, cada falha cometida pela pessoa acompanha uma auto condenação, como se cometesse um ato maligno. Na realidade, é natural cometer erros ao realizarmos qualquer atividade que ainda não dominamos em nossas vidas; isso não é maldade, mas simplesmente um erro.

Assim, através dessa mentalidade falsa, a pessoa acredita que é melhor evitar os erros. Mas como pode evitar erros? “Faça o que estou mandando” é o falam tanto os líderes religiosos quanto os acadêmicos, que exigem obediência cega. Na academia, frequentemente se ouve: “Faça o que estou dizendo.” “Você é incapaz, eu sei o que é melhor!” “Aprenda comigo e repita minhas palavras!” (HETERONOMIA). Porém, decorar e impor não leva ao aprendizado, pois cada indivíduo tem sua própria maneira de aprender, de compreender; uns mais rápidos, outros menos; as habilidades diferem de indivíduo para indivíduo; quem disse haver apenas uma maneira certa?

O verdadeiro progresso reside em cada um compreender as razões pelas quais as coisas não funcionam. Logo, é impossível alcançar algo sem tentar. Infelizmente, nós nos condicionamos a temer o erro como um pecado, paralisando as pessoas, impedindo-as de tentar e, consequentemente, de evoluir. Essa noção é absurda; é uma falsa ideia!

Allan Kardec estabeleceu que o Espiritismo é uma Ciência Filosófica, uma classificação na Academia do século XIX. Naquela época, as Ciências dividiam-se entre Ciências Naturais e Ciências Filosóficas, estas últimas incluía os espiritualistas. Nessa época, discutia-se todas essas ideias filosóficas. Surpreendentemente, ao revisitar os textos acadêmicos daquele século, descobrimos o espiritualismo científico, que, junto ao Espiritismo, tem o potencial de construir um novo mundo.

No livro “O Céu e o Inferno”, o Espiritismo explica que o duplo conceito do bem e do mal não estão personificados em Deus e no Diabo, nem se resumem à exclusiva divisão entre os salvos e os condenados. Todavia, essa falsa dicotomia desvia a humanidade do caminho correto.

Não há uma batalha entre o bem e o mal; qualquer afirmação contrária é enganosa, pois o Mal é uma ilusão que se dissipa quando compreendido(AUTONOMIA). A compreensão é a ferramenta do Bem.

Toda a criação existe em função da lei divina, os ministros de Deus organizam os mundos, a vida e as humanidades segundo o caminho do bem. Mas o espírito humano precisa agir no bem pela compreensão da verdade, de forma livre e desinteressada, ou seja, precisa superar a falsa ideia por seu esforço, conquistando a fé sustentada pela razão: a fé racional!

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Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.




Se o Espiritismo é apenas uma crença, pedimos que provem!

Algumas pessoas, avessas à ideia da existência da alma ou do Espírito, dizem, do Espiritismo (sem conhecê-lo): é apenas uma crença, e nada mais! Pedimos encarecidamente que essas pessoas provem o que dizem e que, além disso, substituam o Espiritismo, na sua eventual derrocada, por algo melhor.

Este artigo tem ligação com o artigo precedente, sobre as lives de Daniel Gontijo que refletem muitas inverdades sobre o Espiritismo.

Allan Kardec, na Revista Espírita de setembro de 1860, já falava sobre esse assunto, com uma elegância e uma propriedade de fazerem inveja a qualquer um:

Para combatê-la [à Doutrina Espírita] com eficácia, ele só tem um meio, que lhe indicamos com prazer. Não se destrói uma árvore cortando-lhe os galhos, mas a raiz. É necessário, pois, atacar o Espiritismo pela raiz e não pelos ramos, que renascem à medida que são cortados. Ora, as raízes do Espiritismo, deste desvario do século dezenove, para nos servirmos de sua expressão, são a alma e os seus atributos. Que prove, portanto, que a alma não existe e não pode existir, porque sem almas não há mais Espíritos. Quando tiver provado isto, o Espiritismo não terá mais razão de ser e nós nos confessaremos vencidos. Se o seu ceticismo não vai a tanto, que prove, não por uma simples negação, mas por uma demonstração matemática, física, química, mecânica, fisiológica ou qualquer outra:

1. ─ Que o ser que pensa durante a vida não mais pensa após a morte;

2. ─ Que, se pensa, não mais deve querer comunicar-se com aqueles a quem amou;

3. ─ Que, se pode estar em toda parte, não pode estar ao nosso lado;

4. ─ Que, se está ao nosso lado, não pode comunicar-se conosco;

5. ─ Que, por seu envoltório fluídico, não pode agir sobre a matéria inerte;

6. ─ Que, se pode agir sobre a matéria inerte, não pode agir sobre um ser animado;

7. ─ Que, se pode agir sobre um ser animado, não pode dirigir-lhe a mão para escrever;

8. ─ Que, podendo fazê-lo escrever, não pode responder às suas perguntas e lhe transmitir o seu pensamento.

Quando os adversários do Espiritismo nos tiverem demonstrado ser isto impossível, baseados em razões tão patentes quanto aquelas pelas quais Galileu demonstrou que não é o Sol que gira em torno da Terra, então poderemos dizer que suas dúvidas são fundadas. Infelizmente, até este dia, toda a sua argumentação se reduz a isto: não creio; logo, é impossível. Sem dúvida dirão que a nós cabe provar a realidade das manifestações; nós lhas provamos pelos fatos e pelo raciocínio. Se não admitem nem uns nem o outro e se negam o que veem, a eles cabe provar que o nosso raciocínio é falso e que os fatos são impossíveis.

Repetimos, portanto, as mesmas recomendações de Kardec e solicitamos que consigam provar, peremptoriamente, que o Espírito não existe e não pode existir ou que, do contrário, que ele existe, mas não pode se relacionar conosco. Até lá (aguardamos essa prova há mais de 150 anos), ficaremos com os princípios lúcidos, lógicos, racionais e, acima de tudo, de inatacável elevação e consequências morais, que o Espiritismo nos dá – com o benefício, ainda, de sabermos que isso não nasceu como fruto das ideias pré-concebidas de ninguém.

Adiciono as palavras de Kardec em O Céu e o Inferno (versão original, não adulterada):

Pela crença no nada, o homem inevitavelmente concentra seu pensamento na vida presente. Não haveria, com efeito, por que se preocupar com um futuro do qual nada se espera. Essa preocupação exclusiva com o presente o leva naturalmente a pensar em si antes de tudo; é, portanto, o mais poderoso estímulo ao egoísmo. O incrédulo é coerente quando chega à conclusão: “Desfrutemos enquanto aqui estamos, desfrutemos o máximo possível, pois, depois de nós, tudo estará acabado; gozemos depressa, porque não sabemos quanto tempo durará”, assim como a esta outra, bem mais grave aliás para a sociedade: “Desfrutemos, não importa à custa de quem; cada um por si; a felicidade, cá embaixo, é do mais astuto”. Se o escrúpulo religioso restringe a ação de alguns, que freio terão aqueles que em nada creem? Para estes, a lei humana somente alcança os tolos, e por isso dedicam seu talento a maneiras de dela se esquivarem. Se há uma doutrina nociva e antissocial é certamente a do neantismo ((Neantismo (néantisme). Segundo essa ideia metafísica do nada, não haveria lei moral ou direito natural, nem existência após a morte, portanto nada a temer ou esperar. A escolha estaria ligada ao resultado e não à intenção de uma ação, consagrando a postura egoísta. Na época de Allan Kardec havia poucos partidários, mas desde o século 20, a comunidade científica e a cultural em geral adotaram esse relativismo moral ou incredulidade enquanto senso comum, sendo que as instituições sociais se estruturaram pelo individualismo. (N. do E.) )), porque rompe os verdadeiros laços de solidariedade e de fraternidade, alicerce das relações sociais.

KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno, 3a edição (original). Editora FEAL

Pedimos, então, que, se não puderem provar que o Espiritismo seja apenas uma crença, ao menos possam produzir algo melhor em seu lugar: algo que faça o ser humano não focar toda a sua energia em regozijar o presente, em detrimento de outros; que o leve a agir de maneira caridosa com seu semelhante, empregando seus recursos em nome do bem e não do acúmulo; que faça o indivíduo abandonar as lamentáveis ideias do suicídio, não por medo de um castigo, mas pela compreensão do motivo de estarmos aqui e pela maneira de ver as dificuldades por outros olhos. Além disso, que possam substituí-lo por uma outra crença (usando a palavra que eles usam), que dê à mãe a consolação de saber que seu filho, morto quando ainda tentava superar certos erros, não está perdido, e que seus esforços não foram em vão. Que, aliás, não provoque na humanidade a descrença no esforço em se melhorar, coisa que o dogmatismo materialista tem produzido com muita força. Que faça, enfim, o ser humano respeitar a todos, a despeito de etnia, sexo, cor, idade, classe social, e que não produza justamente o contrário de tudo isso, como o materialismo tem produzido, chegando ao ponto de dar base às lamentáveis ideias de genocídio, como aquele realizado por Hitler.

Aguardamos avidamente para conhecer essa nova doutrina.




A Verdade que Liberta

Continuação do artigo O Domínio pela Mentira e Violência

Jesus veio nos trazer a verdade que nos liberta! Ele mencionou o diabo na Bíblia, mas será que ele acreditava na existência literal do diabo? A palavra “Diabo” está escrita na Bíblia, mas seu significado vai além do literal.

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Na verdade, tudo se resume à interpretação. Deus e Diabo são representações do Bem e do Mal, respectivamente. No entanto, encarar o Diabo como puramente malévolo é uma concepção equivocada. O Diabo não é uma entidade; ele reside naqueles que abraçam essa falsa ideia. A Mal não tem forma, não é uma entidade real. Ninguém é inerentemente mal. Existe alguém verdadeiramente maligno neste mundo? Não, porque o mal é uma concepção falsa que sustenta um hábito. Quando alguém muda sua mentalidade, ela deixa de agir no mal, mas superar o hábito é um processo demorado. No entanto, nunca se supera se a mentalidade não mudar.

O que realmente transformará o mundo é a educação genuína – não aquela que apenas perpetua ideias falsas, que decora ensinamentos, mas sim aquela que compreendida, que liberta. As armas do bem são a compreensão e a explicação. Como posso fazer você entender que o futuro do mundo está na cooperação? Simplesmente explicando e cooperando incessantemente, sem se preocupar com os resultados.

Estamos introduzindo um novo hábito no mundo. Ao vencermos a falsa ideia do mal, veremos uma renovação global, oferecendo novas oportunidades para todos. Não há Espírito que não vá, mais cedo ou mais tarde, optar pelo caminho do bem. No entanto, o bem não é imposto; cada um deve alcançá-lo com seu próprio esforço.

O verdadeiro entendimento nos libertará dessa falsa dicotomia entre bem e mal, levando-nos a uma vida de cooperação e harmonia. A passagem a seguir de Jesus é reveladora:

42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso pai, amar-me-íeis. Eu vim de Deus e vou [para Deus]. Pois não vim por mim mesmo, mas foi Ele que me enviou. “


Bíblia – Volume I: Novo testamento – Os quatro evangelhos – Evangelho de João (pp. 470-471). Companhia das Letras. Edição do Kindle. Trad. Frederico Lourenço

Jesus disse que foi enviado por Deus e não por meios próprios. Ele veio para ensinar a Lei da Deus.

43 Por que razão não percebeis o meu discurso? Porque não conseguis ouvir a minha palavra.

Idem

A ciência avança principalmente pela mudança de paradigma, isto é, a mudança de ideias. ((Paradigma procede do grego “paradigma”, que significa “exemplo” ou “modelo”. Inicialmente, era aplicado na gramática (para definir o seu uso num determinado contexto) e na retórica (para se referir a uma parábola ou a uma fábula). A partir da década de 60, começou a ser empregue para definir um modelo ou um padrão em qualquer disciplina científica ou contexto epistemológico. fonte: clique aqui)) . Temos que compreender como é a nova ideia. Assim, depois que ela faz sentido, nós a testamos e quando verificamos sua coerência, nós a adotamos. A chave é compartilhar a nova ideia.
Mas isso não significa que todos se tornarão superiores, esse não é a ideia do mundo. As crianças não precisam estudar na escola apenas para obter as melhores notas, gerando competição entre elas. Cada uma deve buscar aprender mais do que sabia antes, pois somos todos espíritos em estágios diferentes de evolução. Há espíritos muito inteligentes no nosso mundo porque já passaram mais tempo experimentando os mundo. No entanto, os inteligentes não são superiores aos simples, pois em outras existências já foram simples como eles. Eles vieram para nosso mundo porque se sentiram mais preparados lá. Os espíritos inteligentes não são malévolos ou demoníacos; no entanto, devem cultivar a simplicidade para servir e contribuir, não para serem servidos. Este é o grande lema do mundo.

Para avançarmos em direção à felicidade neste mundo, precisamos ajudar a remover as vendas dos olhos daqueles que estão cegos pela falsa ideia. No entanto, eles não aceitarão facilmente agir por todos. Assim, alguns partem para outro mundo, onde podem progredir ajudar os outros muitos a progredirem tecnologicamente mais rapidamente e ter uma nova oportunidade de repensar suas escolhas. Não é um castigo ou punição ser enviado para outro mundo; é simplesmente uma consequência de uma escolha que não os permitiu evoluir. Se eles reconsiderarem suas atitudes no outro mundo, renovados, poderão retornar aqui.

Isso ocorreu em nosso mundo; os simples estavam na Terra quando chegaram os exilados. Eles receberam uma segunda chance ao virem para cá, mas agora precisam contribuir de forma útil para o avanço deste mundo. Infelizmente, muitos caíram na falsa ideia de que devem ser servidos, criando assim todas as ideias equivocadas que permeiam o mundo. Mas, sempre que tentamos explicar a verdade, por ser uma ideia falsa, eles resistem.

Esta é a última oportunidade tanto para mudar de mentalidade quanto para participar plenamente deste mundo. Aqueles que se recusam a cooperar não compreenderão a verdade através da força, da memorização de ordens ou da obediência cega. Somente através de esforço pessoal é que alguém poderá compreender.

44 Vós sois [filhos] do diabo, vosso pai; e quereis pôr em prática as vontades do vosso pai. Ele é homicida desde o princípio e não esteve nem está na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere a mentira, profere-a a partir dos seus; pois é mentiroso e é pai [da mentira]. 45 Eu porque digo a verdade não acreditais em mim. 46 Quem de vós me condena a respeito do erro? Se eu falo a verdade, por que razão não acreditais em mim? 47 Quem é de Deus ouve as palavras de Deus. É por isto que vós não me ouvis: porque não sois de Deus”.

Idem

Esta parte do Evangelho de João está apontando que o “diabo” está na falsa ideia de superioridade e pureza. Ao nos considerarmos puros e superiores, tendemos a julgar e condenar os outros que consideramos simples e inferiores. No entanto, o ato de julgar é, em si mesmo, uma falsa ideia: quando apontamos o erro em outra pessoa, na verdade estamos cometendo um equívoco, pois estamos julgando a pessoa em vez de seu comportamento específico. Isso equivale a considerar a pessoa como “o mal” e condená-la injustamente. Ninguém tem o direito de agir assim. Nem mesmo os espíritos benevolentes condenam os outros dessa maneira.

O mal se revela na distorção da lei divina, quando buscamos satisfazer nossos interesses pessoais à custa da submissão dos mais simples, sacrificando sua tranquilidade e felicidade. No entanto, devemos rejeitar a noção de superioridade devido ao nosso conhecimento.

Nesse contexto, nossa responsabilidade se torna ainda mais crucial! Aqueles que possuem conhecimento têm o dever não apenas de ajudar os menos instruídos, mas também de servir.

Devemos dedicar nossos esforços a disseminar o conhecimento e garantir que muitos o compreendam. O futuro do mundo está na cooperação, não na competição. Qualquer novo valor deve ser compartilhado globalmente para que todos possam se beneficiar.

48 Os judeus responderam e disseram-lhe: “Não dizemos bem que és samaritano e tens um demônio?”. 49 Respondeu-lhes Jesus: “Eu não tenho demônio, mas honro o meu Pai e vós me desonrais. 50 Eu não procuro a minha glória. Existe aquele que procura e julga. 51 Amém amém vos digo: se alguém observar a minha palavra, não verá a morte até a eternidade”.

Ibidem

Nesta parte, está expressado: “Você está contaminado pelo mal! E tem um diabo!” Se alguém já julga o outro um diabo, parece não haver solução. Quem é egoísta e arrogante rotula os outros como inferiores, sempre vendo o mal nos outros. Os fanáticos religiosos veem os diferentes como inferiores. Os materialistas julgam aqueles que pensam de forma diferente como inferiores. O cerne do problema é quando um indivíduo acredita ser superior e é teimoso em não mudar de ideia, mesmo quando confrontado com a verdade. A verdade o confronta, questionando sua autoimagem elevada.

Agora, se alguém se considera superior, só reconhecerá seu erro quando chegar a essa conclusão por conta própria. Muitas vezes, essa pessoa, no fundo, não acredita realmente em sua superioridade, por isso sente a necessidade de afirmá-la tão veementemente.

O único fator que nos torna iguais é nossa individualidade. Somos Espíritos únicos, cada um com diferentes experiências para desenvolver e compreender. No entanto, ter mais conhecimento não nos torna superiores aos outros. O que verdadeiramente define a evolução de um Espírito não é sua inteligência ou experiência, mas sua capacidade de compreender a lei de Deus. O objetivo do Espírito é dar o melhor de si mesmo.

Este artigo foi elaborado a partir de palestra proferida por Paulo Henrique de Figueiredo. Clique aqui para conhecê-la.

Continua em O Duplo Conceito do Bem e do Mal




Daniel Gontijo e os ex-espíritas

Daniel Gontijo, materialista e ateu, em seu canal do Youtube, intitulado “Prof. Daniel Gontijo”, escolheu dar destaque a análises muito superficiais sobre o Espiritismo, ciência filosófica que, infelizmente, ele não conhece. Para isso, faz quórum com “ex-espíritas”, pessoas que também não conhecem o Espiritismo, e acaba emitindo ou repercutindo opiniões que terminam por refletir uma falsa ideia da Doutrina Espírita, com base em opiniões colhidas na superfície dos reflexos que, infelizmente, o Movimento Espírita produz.

Daniel Gontijo é graduado em Psicologia pela Universidade FUMEC (2009), além de mestre (2013) e doutor (2019) em Neurociências pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Apesar de tantos títulos, age em maneira absolutamente contrária à do bom pesquisador, que somente emite opinião após buscar conhecer muito bem o assunto, coisa que ele nunca fez (ele mesmo diz, em seus vídeos: “lembro de tal coisa por cima, porque uma vez certa pessoa disse que tem algo mais ou menos assim em uma das Revistas Espíritas”).

Porque, em boa lógica, a crítica só tem valor quando o crítico é conhecedor daquilo de que fala. Zombar de uma coisa que se não conhece, que se não sondou com o escalpelo do observador consciencioso, não é criticar, é dar prova de leviandade e triste mostra de falta de critério.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos

Longe de minhas intenções, porém, buscar fazer uma imagem de um carrasco maldoso. Não, pelo contrário: Daniel se mostra como uma pessoa alegre e afável. É isso, porém, o que me parece mais incongruente, porque, dessa leveza, não parte a necessária tarefa do bom pesquisador, que a tudo investiga, a tudo analisa, para poder depois emitir uma opinião. Infelizmente, com o apoio da opinião de pessoas que nunca chegaram a conhecer o Espiritismo verdadeiro, baseia-se nos erros do Movimento Espírita para julgar o Espiritismo, assim como muitos, levianamente, julgam a Jesus pelos absurdos feitos em seu nome.

É interessante notar que o Daniel seja graduado em Psicologia, em primeiro lugar. Será que ele nunca ouviu falar, nem leu, que a Revista Espírita carrega o subtítulo “Jornal de estudos psicológicos” em sua capa? E, se viu, será que não se interessou nem por um momento em saber o porquê desse nome?

Com certeza, Daniel Gontijo não sabe que a Psicologia, no tempo de Kardec, estava inscrita sob os estudos do Espiritualismo Racional, na grade das Ciências Morais do ensino francês (que se espalhou pelo mundo): para isso, seria necessário ler Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo. Ele provavelmente não conhece a história do desenvolvimento dessas ciências através da observação racional, culminando na racional conclusão de que a Vontade seja o atributo essencial da alma. Muito menos deve saber que, muito antes de Kardec se colocar a investigar a ciência espírita, pesquisadores ligados ao magnetismo animal e ao Espiritualismo Racional já colhiam, em certos estudos com pessoas em transe hipnótico induzido, centenas de “cartas” atribuídas a outras personalidades já mortas, dando detalhes confirmados por familiares ainda vivos:

Os magnetizadores comprovaram muito cedo as relações dos sonâmbulos com seres invisíveis. Deleuze, discípulo de Mesmer, em sua correspondência mantida com o doutor G. P. Billot por mais de quatro anos, de março de 1829 até agosto de 1833, inicialmente foi relutante, mas por fim afirmou: “O magnetismo demonstra a espiritualidade da alma e a sua imortalidade; ele prova a possibilidade da comunicação das inteligências separadas da matéria com as que lhes estão ainda ligadas.” (BILLOT, 1839)

Por sua vez, Deleuze afirmou: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e a eles se venham manifestar, para lhes transmitir salutares conselhos. Acabo de ter disto um exemplo.” (Ibidem)

Foi com estas palavras que Deleuze introduziu a narração do caso de uma sonâmbula cujo falecido pai se manifestou por duas vezes a fim de aconselhá-la sobre a escolha do futuro marido da jovem. Em sua História crítica, ele já havia escrito: “Todos os sonâmbulos, deixados livres no transe, dizem-se esclarecidos e assistidos por um ser que lhes é desconhecido.” (DELEUZE, 1813) Por sua vez, Billot declarava receber instruções dos espíritos superiores, por intermédio dos magnetizados em transe sonambúlico, em suas pesquisas.

O tema da comunicação com os espíritos passou a fazer parte das discussões dos magnetizadores e das páginas de seus periódicos. Um estudo das obras de Chardel, Charpignon, Ricard, Teste e Aubin Gauthier revela diversas descrições de fenômenos experimentais que revelam a comunicação entre vivos e desencarnados.

Anos depois, o magnetizador Louis Alphonse Cahagnet (1809-1885), com coragem e determinação, conversou com os espíritos por meio de seus sonâmbulos em êxtase, principalmente Adèle Maginot, registrando em sua obra mais de cento e cinquenta atas assinadas por testemunhas que reconheceram a identidade dos espíritos comunicantes. Cahagnet antecipou em mais de dez anos esse instrumento de pesquisa da ciência espírita. Para Gabriel Delanne, “Era um lutador soberbo esse trabalhador, que teve a glória de se fazer o que foi: um dos pioneiros da verdade.” (DELLANE, 1899)

FIGUEIREDO, Paulo Henrique de. Autonomia: a história jamais contada do Espiritismo

Certamente, Daniel também não conhece os fatos que levaram a Psicologia a deixar o Espiritualismo Racional e a se organizar sob o materialismo dogmático, cheio de afirmações categóricas e não científicas! Ele com certeza ainda não conhece os fatos que levaram Comte a tornar-se inimigo de Victor Cousin, tendo, depois, conseguido o que tanto queria: afirmar seus dogmas, após a queda forçada do Espiritualismo Racional. Para ele, Daniel, hoje talvez seja descabido sequer imaginar a existência de um Espiritualismo Racional, mas ele existiu. Digo mais: abriu caminho ao Espiritismo, que é seu desenvolvimento, formado através das características mais básicas da ciência — a observação racional — e do axioma científico — todo efeito tem uma causa e todo efeito inteligente tem uma causa inteligente (restando saber que causa é essa, sendo mesmo possível e investigada a fraude).

Houvesse estudado as Revistas Espíritas, ainda que para concluir em contrário (já que, em ciências, pessoas podem chegar a conclusões ou teorias diferentes), veria que, de todas as discordâncias possíveis, não se pode afirmar o trabalho da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, conduzido por Allan Kardec, como algo raso, sem seriedade ou sem metodologia científica. Muito menos se poderia afirmar Kardec sendo ingênuo ou tolo, mas muito pelo contrário: veria todas as considerações cuidadosas de Kardec a esse respeito, algo, aliás, que ninguém mais depois dele soube fazer:

Sem dúvida, dizem alguns contraditores, vós estáveis imbuídos de tais ideias e por isso os Espíritos concordaram com vossa maneira de ver. É um erro que prova, mais uma vez, o perigo dos julgamentos apressados e sem exame. Se, antes de julgar, tais pessoas se tivessem dado ao trabalho de ler o que escrevemos sobre o Espiritismo, ter-se-iam poupado ao trabalho de uma objeção tão leviana. Repetiremos, pois, o que já dissemos a respeito, isto é, que quando a doutrina da reencarnação nos foi ensinada pelos Espíritos, ela estava tão longe de nosso pensamento, que havíamos construído um sistema completamente diferente sobre os antecedentes da alma, sistema aliás partilhado por muitas pessoas. Sobre este ponto, a doutrina dos Espíritos nos surpreendeu. Diremos mais: ela nos contrariou, porque derrubou as nossas próprias ideias. Como se vê, estava longe de ser um reflexo delas.

Isto não é tudo. Nós não cedemos ao primeiro choque. Combatemos; defendemos a nossa opinião; levantamos objeções e só nos rendemos ante a evidência e quando notamos a insuficiência de nosso sistema para resolver todas as questões relativas a esse problema.

KARDEC, Allan. Revista Espírita de novembro de 1858.

Encerro com a grande questão: será que Daniel Gontijo tem essa vontade de conhecer o que desconhece, ainda que termine concluindo de maneira divergente? Ou será que continuará dando “prova de leviandade e triste mostra de falta de critério”? Veremos.

Fiz uma análise em vídeo sobre o último caso do canal citado e sobre a resposta dele ao meu vídeo. Você pode conferir:

Foto de cottonbro studio: https://www.pexels.com/pt-br/foto/adulto-conselhos-orientacoes-assistencia-4100672/




Que fazem os Espíritos após a morte?

O que fazemos na vida além-túmulo? Essa é uma pergunta que muitos se fazem. Além disso, outra: “se não há colônias espirituais, então o que existe após a morte? Não pode ser nada.”

Allan Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, pela ocasião da morte do Sr. Sanson, faz uma linda prece, da qual extraímos o seguinte trecho:

Não tendes mais o véu que oculta, aos nossos olhos, os esplendores da vida futura; doravante, podereis contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda estamos mergulhados nas trevas. Ireis percorrer o espaço e visitar os mundos com toda liberdade, ao passo que nós rastejamos penosamente sobre a Terra, onde nos retém nosso corpo material, semelhante para nós a um pesado fardo. O horizonte do infinito vai se desenrolar diante de vós, e em presença de tanta grandeza compreendeis a vaidade de nossos desejos terrestres, de nossas ambições mundanas e das alegrias fúteis das quais os homens fazem suas delícias.

A morte não é, entre os homens, senão uma separação material de alguns instantes. Do lugar de exílio, onde nos retém ainda a vontade de Deus, assim como os deveres que temos a cumprir neste mundo, nós vos seguiremos, pelo pensamento, até o momento em que nos será permitido reunir-nos a vós, como vos reunistes com aqueles que vos precederam.

Se nós não podemos ir junto a vós, podeis vir perto de nós. Vinde, pois, entre aqueles que vos amam e que amastes; sustentai-os nas provas da vida; velai sobre aqueles que vos são queridos; protegei-os segundo o vosso poder, e abrandai seus lamentos pelo pensamento de que sois mais feliz agora, e a consoladora certeza de estar um dia reunidos a vós num mundo melhor.

KARDEC, Allan. Revista Espírita de maio de 1862

Decerto, a vida após a morte não se dá em um espaço vazio, já que o nada, nada é. A grande questão é que nossa mentalidade está tomada de uma materialização do mundo dos Espíritos, promovida sobretudo pela admissão irrefletidas das ideias do Espírito de André Luiz, apresentadas em Nosso Lar e outras.

Volte ao trecho anterior e preste atenção às ideias reverberadas por Kardec nessa singela e tocante prece: “[…] podereis contemplar novas maravilhas, ao passo que nós ainda estamos mergulhados nas trevas”; “Ireis percorrer o espaço e visitar os mundos com toda liberdade, ao passo que nós rastejamos penosamente sobre a Terra”; “o horizonte do infinito vai se desenrolar diante de vós, e em presença de tanta grandeza compreendeis a vaidade de nossos desejos terrestres, de nossas ambições mundanas e das alegrias fúteis das quais os homens fazem suas delícias.”

Muito longe do que buscam fazer, não existe uma relação de inerência entre as ideias de André Luiz e a Ciência Espírita, sobre um mundo pós-morte todo fantástico, onde até ônibus voador os Espíritos já relativamente tranquilos, passados da fase de perturbação, teriam que tomar. Caridade é dever moral e não aguarda recompensa. O Espírito desligado do materialismo serve à Criação, atuando no Espaço Infinito, colaborando para a execução das Leis Naturais, seja na Natureza, seja aprendendo e auxiliando, em contato com outros Espíritos, encarnados e desencarnados.

Antes do trecho acima, Kardec diz o seguinte:

“Deixastes o envoltório grosseiro, sujeito às vicissitudes e à morte, e não conservastes senão o envoltório etéreo, imperecível e inacessível aos sofrimentos. Se não viveis mais pelo corpo, viveis da vida dos Espíritos, e esta vida está isenta das misérias que afligem a Humanidade.”

Dor, fome, frio, calor, sede, medo, cansaço? Apenas para Espíritos apegados à materialidade, que criam essas falsas sensações, que não conseguem suprir, ao seu redor. Esta afirmação é muito importante, e vem não de Kardec, mas dos próprios Espíritos superiores:

970. Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?

“São tão variados como as causas que os determinaram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos o são ao de superioridade. Podem resumir-se assim: invejarem o que lhes falta para ser felizes e não o obterem; verem a felicidade e não a poderem alcançar; pesar, ciúme, raiva, desesperança quanto ao que os impede de ser ditosos; remorsos, ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não os podem satisfazer: eis o que os tortura.”

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.

Portanto, a ideia de uma “Colônia Espiritual”, criada por Espíritos Superiores, para satisfazer as falsas necessidades dos Espíritos apegados, inferiores, não só contraria o bom-senso, como também a própria Doutrina Espírita!

Lembremos, para terminar, que podemos encontrar, nas obras de Kardec, outros exemplos de Espíritos que, libertos da matéria, demonstram os afazeres do pós-morte, atuando no bem, para os Espíritos desapegados:

  • A Condessa Paula, apresentada em O Céu e o Inferno, abordada em artigo recente.
  • A Senhora Schwabenhauss, na Revista Espírita de setembro de 1858.
  • Os artigos O Gênio das Flores e Perguntas sobre o gênio das flores, na Revista Espírita de março de 1860.
  • O artigo O Anjo das Crianças, na Revista Espírita de abril de 1860.

Isso é o que podemos apresentar até o momento e que, baseando-nos ainda em A Gênese, podemos concluir por evidência suficiente da falsidade das ideias sistematizadas sobre “Colônias Espirituais”, onde se perpetuaria o egoísmo e a ideia da caridade por interesse. Lembramos que já fizemos um estudo mais extenso sobre a materialidade de além-túmulo, que você pode encontrar clicando aqui.